quarta-feira, 28 de abril de 2010

História: 35 anos do Grande Prêmio da Espanha de 1975


"Eu não quero correr." Emerson Fittipaldi era o atual Campeão Mundial de F1 e por isso tinha a moral suficiente para dizer isso. Porém, a atitude corajosa do brasileiro, em conjunto com todos os membros da GPDA tinha razão de ser: segurança. Os níveis de segurança da Formula 1 na década de 70 eram precárias e o circuito de rua em Montjuich era o maior exemplo do descaso dos organizadores com relação ao mínimo bem estar dos pilotos, as principais estrelas do evento. Os guard-rails, única barreira entre uma tragédia, estavam soltos na Espanha e alguns eram ridiculamente presos com arames. Na sexta-feira os líderes da GPDA, Emerson Fittipaldi e Graham Hill, anunciaram que os pilotos estavam de greve enquanto melhorias urgentes fossem feitos no circuito, literalmente, improvisado nos arredores de Barcelona. Assustados com a atitude de seus pilotos, os chefes de equipes mandaram seus mecânicos para ajudar a organização do evento e fazer consertos paliativos no traçado espanhol.

Se a adesão à greve foi quase geral na sexta-feira, no sábado as coisas não caminharam tão bem para os pilotos revoltos. A organização da corrida espanhol prometeu ações legais e Franco em pessoa prometeu reter todos os produtos da Philip Morris se Emerson Fittipaldi não corresse. A pressão foi grande demais e os pilotos foram forçados a fazer a Classificação em uma pista sem nenhuma condição de segurança. Em forma de protesto, Fittipaldi deu apenas três voltas lentas e marcou o último tempo daquele dia. E prometeu não correr.

Grid:
1) Lauda (Ferrari) - 1:23.4
2) Regazzoni (Ferrari) - 1:23.5
3) Hunt (Hesketh) - 1:23.8
4) Andretti (Parnelli) - 1:23.9
5) Brambilla (March) - 1:24.2
6) Watson (Surtees) - 1:24.3
7) Depailler (Tyrrell) - 1:24.4
8) Pryce (Shadow) - 1:24.5
9) Stommelen (Hill) - 1:24.7
10) Jarier (Shadow) - 1:25.0

O dia 27 de abril de 1975 estava perfeito na cidade de Barcelona, mas extremamente nebuloso no paddock da F1. Os pilotos ainda mostravam descontentamento com a situação e Emerson cumpriu sua promessa. Ele largou, apenas para fazer parte da corrida e evitar maiores problemas para a McLaren e seu patrocinador principal, mas abandonou no final da primeira volta. Aquele dia de abril tinha tudo para dar errado e começou de forma esquisita, como um aviso funesto. O desastrado Vittorio Brambilla tentou mais uma de suas manobras otimistas e acabou tocando em Mario Andretti, que largava em sua melhor posição na temporada com a novata Parnelli, e o ítalo-americano acabou tocando na traseira de Lauda, que foi jogado para cima do carro de Regazzoni. Após dominar a primeira fila, a Ferrari estava fora na primeira curva.

Apesar de ter levado pancado de todos os lados, Andretti não apenas permanecia na pista, como havia subido para a 2º posição, atrás de James Hunt, que capitalizou os problemas da Ferrari e liderava a prova. Rolf Stommelen, um alemão que fazia muito sucesso em corridas de Esporte-Protótipo, graças aos problemas dos outros, já aparecia numa ótima quarta posição, atrás do também surpreendente Watson. Na quarta volta, Jody Scheckter tentava uma corrida de recuperação após largar em 13º e vinha ganhando posições constantemente até ver seu motor estourar, só que o sul-africano não abandonou sozinho, pois o óleo deixado pelo seu carro fez Mark Donohue e o estreante Alan Jones baterem. Hunt liderava, mas o inglês acabou deslizando no óleo deixado por Scheckter e também abandonaria apenas três voltas depois.

A corrida estava para lá de esquisita. Em apenas sete voltas, nove carros haviam abandonado a disputa e quem liderava era um piloto numa equipe novata (Andretti), seguido por dois pilotos talentosos (Watson e Stommelen), mas com carros reconhecidamente ruins e de grandes campeões do passado (Surtees e Hill). Na verdade, os incidentes na largada ainda causariam vítimas e Watson abandonou com problemas seríssimos de vibração, seguido logo depois por Andretti, com a suspensão quebrada. Stommelen liderava de forma inacreditável, mas começava a ser pressionado pela Brabham de José Carlos Pace, o primeiro piloto do pelotão dianteiro da F1. Os dois estavam bem à frente dos demais e protagonizaram uma disputa empolgante pela primeira posição. Então, veio a tragédia.

Na volta 26, Stommelen vinha à frente de Pace quando sua asa traseira se soltou sem aviso. O carro do alemão alçou voo e Pace, sem ter o que fazer, atingiu com força o bólido de Stommelen. Isso fez com que o carro descontrolado de Stommelen fosse jogado para o outro lado da pista a alta velocidade, mas nesse ponto o guard-rail não estava fixado corretamente. Da maneira que os pilotos avisavam desde sábado. O Hill de Stommelen atravessou o guard-rail e atingiu fotógrafos e pessoas que estavam ao lado do rail. Quem viu a cena nunca se esqueceu a visão de pessoas despedaçadas no chão. Milagrosamente Stommelen não foi a sexta vítima fatal daquele dia, mas a organização espanhola estava tão atarantada, que demorou quatro voltas para paralizar a corrida e nesse meio tempo Jochen Mass ultrapassava Jacky Ickx e recebia a bandeirada em primeiro, vencendo, de forma triste, sua primeira corrida na F1 e quebrando um jejum de 14 anos sem uma vitória alemã. Outro ponto histórico desta corrida de péssimas lembranças foi o meio ponto, já que a corrida foi terminada antes da metade, de Lella Lombardi, a única mulher até agora a conseguir esse feito. Chegando em sua casa na Suíça após abandonar a corrida na Espanha, Emerson Fittipaldi era perguntado sobre a tragédia. Sem saber o que havia acabado de acontecer, Emerson não mostrou nenhuma alegria em ter razão de não ter corrido naquele dia.

Chegada:
1) Mass
2) Ickx
3) Reutemann
4) Jarier
5) Brambilla
6) Lombardi

Um comentário:

  1. Esse GP da Espanha de 1975 foi o último realizado no circuito de rua de Montjuich, pois este circuito foi excluído definitivamente do circo da Fórmula 1 e Barcelona demorou dezesseis anos para ser palco da F-1 em terras espanholas. Foi também o último GP da Espanha sob o tacão da ditadura fascista de Francisco Franco, pois o reles tirano morreu em 20 de Novembro daquele mesmo ano.

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