domingo, 26 de março de 2023

Domínio diferente

 


A temporada 2023 da F1 tende a ser um domínio daqueles avassaladores, onde Red Bull e Max Verstappen podem bater recordes de vitórias e antecedência de título. Na MotoGP podemos também ver um domínio, mas de forma diferente da F1. Não há grandes diferenças, deverá haver uma maior flexibilidade de vencedores e lutas por todo o pelotão, mas ninguém pode negar que a Ducati está com a faca e o queijo na mão para bisar o título do ano passando, tendo seu principal piloto Francesco Bagnaia como grande favorito ao bicampeonato. Nesse domingo em Portimão, Bagnaia controlou a corrida a seu bel prazer, vencendo com certa tranquilidade a abertura do campeonato, tendo Maverick Viñales da Aprilia a única moto não-Ducati entre os cinco primeiros.

A corrida desse domingo em terras lusitanas não foi das mais empolgantes na luta pela primeira posição, principalmente com a presepada de Marc Márquez. O piloto da Honda tinha conseguido uma miraculosa pole no sábado, mas todos apostavam que Márquez seria engolido pelo pelotão de motos da Ducati e da Aprilia. Logo na largada o piloto Miguel Oliveira conseguiu uma saída relâmpago e se colocou na ponta, seguido por Jorge Martin e Bagnaia, bastante cuidadoso nos primeiros movimentos, principalmente vendo o comportamento de Márquez nos primeiros metros, que se tocou com Martin e quase caiu no meio do pelotão. Ainda no início da corrida, Bagnaia foi para a ponta, enquanto Oliveira liderava um compacto segundo pelotão. Márquez conquistou seus títulos andando sempre no limite e isso faz parte do DNA do espanhol, mas tendo nas mãos uma moto problemática, Marc parece ainda mais ansioso do que o normal. Na freada para a curva 3, Márquez teve uma pane mental, bateu em Martin e acertou em cheio Oliveira, para desgosto da torcida local, que ficou uma arara com a manobra atabalhoada de Márquez que não apenas tirou o piloto local, como o deixou alguns minutos no chão. Márquez foi recebido à palavrões nos boxes e depois foi pedir desculpa ao dono da equipe de Oliveira, que foi levado ao hospital, mas uma imagem o mostrou consciente.

Bagnaia então passou a controlar a corrida. Maverick Viñales largou bem e se aproveitou do melê proporcionado por Márquez para subir para segundo, chegando a ficar menos de 1s de Bagnaia várias vezes, mas o piloto da Ducati simplesmente não deu chances de nenhuma tentativa de Maverick. Foi uma corrida de campeão e com o novo formato de Sprint Race, Bagnaia varreu o final de semana português e já abre razoáveis doze pontos no campeonato. Com os dois ponteiros se distanciando, a briga pelo terceiro lugar ficou animada até a metade da prova, com as Ducatis satélites brigando a dupla da KTM. Marco Bezzecchi se destacou desse pelotão e chegou a esboçar uma aproximação em cima de Viñales, mas o jovem italiano recebeu de bom grado o terceiro lugar. Já Alex Márquez usou e abusou da potência de sua Ducati 2022 contra as KTM's de Binder e Miller, mas o espanhol não capaz de segurar o ataque da Ducati 2023 de Zarco, que teve um final de corrida agressivo e foi premiado com o quarto lugar após várias ultrapassagens. Aleix Espargaró largou mal e esteve longe do seu companheiro de equipe, mas chegou nessa briga pelo quarto lugar, mesmo que tarde demais e acabou em nono, superado por Quartararo quando errou.

O francês da Yamaha também largou mal, demorou a escalar o pelotão pela falta de velocidade final de sua moto, restando à Quartararo o oitavo lugar, sendo a primeira moto japonesa do pelotão. A melhor Honda foi de Rins em décimo, graças também a queda (mais uma) de Martin, que tentava se recuperar após a besteira de Márquez. Mir foi uma decepção e ficou como a pior Honda do dia, enquanto Franco Morbidelli, que terminou em último, pode estar fazendo sua última temporada na Yamaha se repetir outra corrida pífia (mais uma) como a de hoje. 

A força da Ducati fica explícita com as quatro motos entre os cinco primeiros, de quatro equipes diferentes. Por sinal, os cinco primeiros colocados foram ocupados por motos italianas. Foi um show da Ducati nessa primeira etapa da MotoGP, algo que deverá se repetir ao longo do ano, com Francesco Bagnaia, mais relaxado após conquistar seu primeiro título, como grande favorito.

sábado, 25 de março de 2023

Primeiras impressões

 


A MotoGP inaugurou uma era nesse sábado com a nova corrida Sprint. Antes que alguém venha dizer que a MotoGP estaria se 'inspirando' na F1, aviso aos navegantes que o Mundial de Superbike tem baterias duplas desde sempre e que nos últimos anos incluiu uma 'Sprint Race' no domingo, totalizando três provas no total. E foi na Superbike, do qual a Dorna também administra, que surgiu a Sprint Race na MotoGP, duplicando o número de provas. Duplicando também o risco de acidentes e contusões.

Pela manhã Marc Márquez conseguiu uma pole miraculosa, superando por muito pouco o favorito Francesco Bagnaia, que alegou ter sido atrapalhado em sua volta decisiva. A Sprint Race da MotoGP, ao contrário da F1, não define o grid da corrida principal, ou seja, Márquez largou na pole hoje e largará amanhã também. Como sempre, a MotoGP entregou um bom show, com boas ultrapassagens e uma corrida empolgante, definida apenas na última volta. Francesco Bagnaia conhece o seu potencial e de sua Ducati, por isso não se importou muito em ficar no pelotão dianteiro, sendo ultrapassado por Jorge Martin e Jack Miller, surpreendendo em sua estreia na KTM. Márquez ainda liderou a primeira volta, mas bastou a reta dos boxes para ser engolido pelas Ducatis. Um pelotão de sete motos contendo os pilotos citados, além do trio da Aprilia, o local Miguel Oliveira e os pilotos de fábrica, Aleix Espargaró e Maverick Viñales. Martin, conhecido por ser um voraz devorador de pneus, se estabeleceu na ponta, mas quando Bagnaia abriu uma pequena diferença para o grupo atrás deles, o italiano se concentrou em Martin e com os pneus do espanhol já em petição de miséria, Bagnaia apenas se aproveitou de um erro de Jorge para vencer e colocar seu nome como primeiro vencedor da Sprint Race da história.

Márquez completou o pódio após um erro de Oliveira na última volta, mas ficou claro que Marc está andando bem acima do potencial da Honda. Joan Mir cometeu um erro estúpido na primeira volta e caiu, enquanto os pilotos da LCR ficaram fora da zona de pontos, por sinal, Quartararo também. O francês largou mal e foi vítima da privação de sentidos de Mir, mostrando que a Yamaha, assim como a Honda, ficou bem para trás em comparação às motos europeias. Como os pilotos não tinham tempo a perder, houveram alguns acidentes, mas o preocupante foi mesmo com Bastianini, que foi atingido por Marini e caiu com força no chão, sendo levado de maca da pista. Fica a pergunta: é justo um piloto de ponta ter sua temporada, que mal começou, atrapalhada por uma corrida pela metade?

Não faltou emoção, como era de se esperar, na Sprint Race, mas Bastianini e os mecânicos que consertarão algumas motos nesse sábado para domingo não terão boas lembranças do início dessa nova era da MotoGP.

quinta-feira, 23 de março de 2023

Dopietta de Pecco?

 


A MotoGP inicia a temporada 2023 nesse final de semana no belíssimo circuito de Portimão, onde todas as equipes fizeram seus últimos testes e teve Francesco Bagnaia como grande destaque. O atual campeão liderou os testes demonstrando uma certa facilidade, consolidando o hoje domínio da Ducati frente às demais. Porém, ao contrário da F1, não se pode apostar de antemão que Pecco será o campeão, como está sendo feito com Verstappen. Se há apenas duas Red Bulls na F1, há nada mais, nada menos, do que oito Ducatis no pelotão, todos tendo ótimos pilotos atrás do guidão. Notadamente mais talentosos, mas sem ter uma Ducati nas mãos, Fabio Quartararo e Marc Márquez tentarão se meter entre as Ducatis e impedir o bicampeonato de Pecco.

Ano passado Bagnaia chegou a ter mais de noventa pontos de desvantagem para Quartararo no meio do campeonato. A Ducati tinha, sim, a melhor moto, mas faltava uma maior consistência tanto de Bagnaia como da própria Desmodedici. Porém, Pecco colocou a cabeça no lugar, chegou a ter quatro vitórias consecutivas e simplesmente evaporou a vantagem de Fabio, que parecia impotente com uma Yamaha com sérios déficits de velocidade final. Correndo tendo muita pressão em si, Bagnaia ainda cometeu alguns pequenos erros na segunda metade do ano, mas conseguiu o esperado título da Ducati, que amargava um jejum de exatos quinze anos, ainda nos tempos de Casey Stoner. Bagnaia foi ajudado pelo pelotão de Ducatis, que tiravam pontos de Quartararo, mas são esses pilotos que podem fazer frente ao italiano de Turim em 2023.

Na equipe oficial, Jack Miller levou sua irreverência, velocidade e quedas para a KTM. Miller conseguia andar no nível de Bagnaia, mas faltava constância e o australiano se dava muito bem com Pecco. Não é muito o caso de Enea Bastianini. O piloto da equipe Gresini surpreendeu ao levar a equipe, que era a quarta na ordem de forças da Ducati, a vencer corridas e conseguir um ótimo terceiro lugar no campeonato. Com a saída de Miller, a luta pelo posto de companheiro de equipe ficou aberta entre Enea e Jorge Martin, com vantagem inicial para o espanhol, mas Bastianini superou facilmente o espanhol e sua imensa velocidade, além de uma voracidade fora do comum pelos pneus, atrapalhando as corridas de Martin. Bastianini demonstrou algumas vezes que não iria baixar a cabeça para Bagnaia e chegou a tirar uma vitória importante de Pecco na linha de chegada. Com os Pecco e Enea juntos, é esperado que a turma da Ducati saiba administrar bem os seus dois pilotos para não entregarem o ouro aos rivais.

Para sorte da Ducati, as três equipes satélites vem muito fortes, particularmente a Pramac, que manteve um chateado Martin e Johan Zarco, ainda procurando sua primeira vitória na MotoGP. A Gresini substituiu Bastianini por Alex Márquez, que andou muito bem nos testes, mas o jovem ainda vive à sombra do irmão-gênio. A terceira equipe tem Marco Bezzecchi e Luca Marini, irmão de Valentino Rossi e muito provavelmente o principal motivo de estar na equipe do mano famoso. Em seu ano de estreia Bezzechi mostrou ótimos momentos e pode surpreender Marini e todo o esquadrão da Ducati  em 2023.

Após muitas especulações, Fabio Quartararo deu um voto de confiança à Yamaha e permaneceu no time japonês, que ainda procura manter a docilidade da máquina, mas com mais velocidade nas retas. Fabio não se mostrou muito satisfeito nos testes e se ano passado lhe faltou apoio dos demais pilotos da Yamaha, esse ano será ainda mais difícil. Franco Morbidelli terá um ano decisivo e outro ano pífio poderá ser definitivo em sua carreira. A Yamaha perdeu sua equipe satélite para a Aprilia e terá apenas dois pilotos no grid. Aproveitando das benesses de não ter bons resultados nos últimos anos, a Aprilia deu um grande salto em 2022, mas talvez tenha faltado piloto. Aleix Espargaró é um ótimo acertador de motos, mas falta algo mais ao espanhol para pensar em título, que venceu pela primeira vez na carreira, mas perdeu muito fôlego no fim do ano. Mavetick Viñales, claramente mais talentoso do que Aleix, tentará aproveitar essa deixa para tomar as rédeas da equipe e aproveitar essa segunda chance, após ser considerado o anti-Márquez em determinado momento da carreira.

A Honda, acostumada a títulos e vitórias, amargou um ano terrível em 2023, ficando em último no Mundial de Construtores. Refém do talento absurdo de Marc Márquez, a Honda ficou na dependência de Márquez tirar coelhos da cartola, mas desde o famigerado acidente em Jerez em 2020, isso não mais aconteceu. Após quatro cirurgias e já contando com 30 anos, Márquez tentará levar a Honda nas costas novamente, circundado pelos dois órfãos da Suzuki, Joan Mir na equipe oficial e Alex Rins na equipe satélite. A KTM ainda sofre com a inconsistência de sua moto e por isso trouxe dois pilotos experientes para ajudar Brad Binder a voltar a vencer. Após dois anos ruins na Honda, Pol Espargaró retornou à KTM, indo para a segunda equipe da marca, a GasGas, enquanto Miller ficará na equipe principal.

Por incrível que pareça, a MotoGP é pródiga em domínios e nos últimos vinte e cinco anos tivemos Doohan, Rossi e Márquez se tornando multi-campeões, mas muito se falava que esses títulos vinham pelo talento dessas três lendas. Pela primeira vez em muitos anos, a MotoGP pode voltar a ter um domínio, mas devido a uma montadora, tendo o atual campeão Pecco Bagnaia como ponta da espada. 

segunda-feira, 20 de março de 2023

Figura(ARS): Red Bull

 Foi uma atuação apoteótica! E para desespero dos rivais, a dobradinha da Red Bull pode se tornar algo bastante recorrente nessa temporada. Sergio Pérez aproveitou bem a chance que teve, quando Max Verstappen teve um problema durante a classificação e largou apenas em 15º. O mexicano capitalizou o infortúnio do neerlandês e só não liderou de ponta a ponta por causa de uma má largada, a segunda consecutiva, perdendo a liderança para Alonso, mas Checo rapidamente a recuperou. Nem o aparecimento do Safety-Car, que tirou as chances de Pérez vencer em 2022, foi capaz de tirar a calma de Checo, que administrou a segunda metade da corrida sem maiores problemas para vencer pela quinta vez em sua carreira na F1. Já Max Verstappen precisou de meia corrida para aparecer entre os seis primeiros, sem fazer ultrapassagens ousadas ou imprimir um ritmo agressivo. A superioridade da Red Bull fez todo o serviço e quando o SC apareceu, ajudou sobremaneira Verstappen, que subiu para quarto e rapidamente completou a dobradinha da Red Bull. Houve uma certa tensão se haveria uma briga entre os dois pilotos e problemas foram relatados por ambos via rádio, mas no fim a Red Bull completou a segunda dobradinha consecutiva com a sensação de que virá outras mais. No novo pódio na Arábia Saudita, a cúpula da equipe ficou acima dos pilotos, numa espécie de sinal, com a Red Bull lá no alto, vendo seus rivais lá de cima, totalmente inalcançável em 2023.

Figurão(ARS): FIA

 A sensação que passa é que a FIA ainda não superou a morte repentina de Charlie Whitting em 2019 e vive uma viuvez eterna para com o grande diretor de provas. Desde então a FIA se vê envolvida em polêmicas sem sentido, principalmente no escrutínio de punições dadas aos pilotos nas corridas ou em decisões de trazer ou não o Safety-Car. Nesse domingo na Arábia Saudita a FIA, que se manteve quieta no Bahrein, deu um show de horrores tendo como protagonistas, por coincidência, a dupla da Aston Martin. Lance Stroll teve um problema de motor ainda no começo da corrida e foi orientado pela equipe a parar seu carro imediatamente. Já contando com mais de cem corridas de F1, Stroll escolheu um lugar seguro para estacionar seu Aston Martin, onde um Safety-Car virtual, na pior das hipóteses, poderia resolver o problema de Lance. Porém, o Safety-Car real entrou em cena, mudando um pouco a cara da corrida. Perguntada o porquê da utilização do SC, a FIA respondeu que não estava claro onde Stroll estava. Fica a pergunta: a FIA só tem uma câmera em todo o circuito? Como se lambança pouca fosse bobagem, a FIA se superou no caso de Fernando Alonso. Com mais de vinte anos nas costas, Alonso estacionou seu carro no lugar errado do grid, numa clara infração e que rapidamente foi sancionada, dando tempo à Alonso poder superar a mancada. No entanto, ao cumprir a punição de 5s, o mecânico do macaco traseiro encostou na Aston Martin de Alonso. Ainda faltavam 35 (!) voltas para o fim, mas foi somente quando Alonso já tinha subido ao pódio quando veio o anúncio da punição de Fernando, fazendo-o perder o pódio. Sem qualquer chance para Alonso fazer algo na pista, enquanto George Russell nem subiu ao pódio. Insatisfeita, a Aston Martin recorreu e depois de três horas, quando Russell já estava com o troféu e provavelmente estava voltando para casa, a FIA resolveu mudar tudo e devolver o pódio para Alonso, aumentando ainda mais a confusão. Foi um dia nada bom para a FIA, que demonstrou estar bastante perdida.

domingo, 19 de março de 2023

Missão cumprida

 


Quando Max Verstappen teve problema no semi-eixo do seu Red Bull em meio ao Q2 nesse sábado, Sérgio Pérez ficou com uma missão bem clara para esse domingo na Arábia Saudita: vencer ou vencer. Com o melhor carro disparado do pelotão, Checo tinha que aproveitar o infortúnio de Max para voltar a vencer na F1, um ano depois de ter ficado com a pole no perigoso circuito de Jedá e ter perdido a vitória por causa de um Safety-Ca fora de hora. Novamente o SC atrapalhou o mexicano, que não largou bem, mas rapidamente deixou Alonso para trás, porém Pérez manteve um ritmo muito forte por boa parte da corrida e quando teve Verstappen em segundo, os 6s que abriu permitiu a ele administrar a corrida e vencer pela quinta vez na carreira, quarta num circuito de rua. Alonso fazia uma corrida incógnita, mas sua equipe pôs tudo a perder ao tocar no carro do espanhol enquanto Fernando era penalizado e tardiamente uma segunda punição deixou Alonso fora do pódio, que era seu lugar em condições normais, elevando George Russell ao terceiro posto.


Em certo momento da corrida, a transmissão da corrida resolveu focar na emocionante briga pela décima quinta posição entre Logan Sargeant e a dupla da McLaren. Só isso já explica bastante que a corrida na Arábia Saudita não foi das mais emocionantes. As duas semanas de intervalo entre as duas primeiras provas da F1 no Oriente Médio trouxe alguns questionamentos se o domínio da Red Bull era tão grande assim, afinal, Sakhir e Corniche são pistas muito diferentes e específicas. Será que Sakhir é uma pista que simplesmente potencializou os pontos fortes da Red Bull? O final de semana em Corniche respondeu com um sonoro 'não' à essa questionamento e jogou um verdadeiro balde de água fria a quem sonha com uma temporada emocionante pela frente. Se não fosse o problema com Verstappen no sábado, a corrida desse domingo seria ainda mais fácil para a Red Bull e muito provavelmente o neerlandês venceria. A quebra no carro de Max apenas aumentou a dificuldade da missão da Red Bull, enquanto Sérgio Pérez fez o básico para vencer pela primeira vez em 2023. A ótima largada de Fernando Alonso nem causou maiores sobressaltos para quem acompanhou a corrida, pois além de Alonso ter sido punido por ter encostado seu Aston Martin fora do colchete, o ritmo da Red Bull era nitidamente superior e rapidamente Pérez estava na ponta. Mesmo tendo cometido uma senhora besteira na largada, Alonso tem experiência o suficiente para não brigar com Pérez, como também se aproveitar por algumas voltas o DRS para 'puxa-lo' nas retas, o deixando o suficientes 5s longe de Russell, que era o tamanho de sua punição.


Mais atrás, Verstappen largou de forma convencional, se livrando de algum toque e quando a corrida se assentou, foi ultrapassando a todos que via pela frente, rapidamente chegando ao top-6, após ultrapassar Hamilton. Porém, um Safety-Car mudaria um pouco a cara da corrida e ajudaria sobremaneira Verstappen. Com alguns pilotos já tendo feito suas paradas, o SC fez com os líderes completassem suas paradas e, mais importante, deixasse Verstappen em quarto, colado no pelotão. Com apenas Alonso e Russell separando os dois carros da Red Bull, Pérez sabia que precisava de uma relargada perfeita e assim o fez, deixando Max tendo que lidar com dois carros nitidamente mais lentos, mas combativos, enquanto Checo tinha pista livre para abrir o máximo possível. Quando Max ultrapassou Alonso, Pérez tinha confortáveis 6s de vantagem, que o chicano administrou de forma aconchegante até a bandeirada. Contudo, ambos os pilotos reclamaram de problemas em seus carros, mas o mais importante foi a desconfiança explícita que Pérez nutre por Verstappen. Com Alonso já a longínquos 13s de distância, era até lógico a turma da Red Bull pedir a seus pilotos tirarem o pé. 'Mas Max irá fazê-lo?', perguntou Checo pelo rádio. A última volta de Max mostrou que nem tanto assim. Verstappen poderia estar ouvindo todos os barulhos do mundo no seu carro, mas ele economizou bateria para marcar a volta mais rápida da corrida na passagem derradeira e tirar o ponto de Pérez que o deixaria na ponta do campeonato. Mesmo com um final de semana intranquilo, Verstappen ainda conseguiu se manter na ponta no campeonato, mostrando muita competitividade, talvez maior do que o engenheiro de Pérez poderia prever...


Com a Red Bull tão superior aos demais, a corrida atrás dos austríacos foi bem animada, certo? Bom, basta dizer que após a relargada na metade da corrida, afora as ultrapassagens de Max, o pelotão permaneceu o mesmo, com Alonso liderando na frente de três pares: Mercedes, Ferrari e Alpine, nessa ordem. Foi uma corrida longe de empolgar os mais aguerridos fãs da F1, mas eles teriam outro motivo para estar desejando fazer outra coisa nessa tarde de domingo. Na quinzena anterior Esteban Ocon fez uma corrida horrorosa, cheia de punições e parece que Alonso quis imitar seu antigo companheiro de equipe. Assim como o francês, Alonso largou fora do lugar no grid e foi punido por isso. E como aconteceu com Ocon, quando foi cumprir a punição, Alonso foi derrubado por sua equipe e aqui vale uma crítica à FIA. No Bahrein, poucas voltas após a Alpine falhar em cumprir corretamente a punição para Ocon, a punição foi praticamente imediata. Nesse domingo, havia uma câmera bem atrás de Alonso no pit-stop e foi nítido que o mecânico do macaco traseiro encostou seu instrumento na traseira do carro de Alonso. Punição clara. Porém, a FIA esperou mais da metade da corrida para punir o espanhol, tirando dele toda a chance de reverter a punição, como fez no primeiro stint. Foi uma pisada de bola da FIA, assim como da Aston Martin, que perdeu um pódio fácil para Alonso, que comemoraria seu centésimo troféu, como ainda viu Lance Stroll provocar o único Safety-Car do dia ao ter um problema em sua unidade de potência. Com um carro tão bom, sair apenas com um quarto lugar é muito pouco para a Aston Martn.


Com as punições alonsianas, George Russell herdou um pódio inesperado, mesmo o inglês tendo largado em terceiro. A Mercedes se mostrou atrás da Aston Martin em ritmo de corrida e fez uma prova discreta, com Hamilton terminando em quinto. A Ferrari veio logo atrás, com Sainz na frente de Leclerc, sendo que o monegasco teve que pagar uma punição precoce por troca de peças do motor e apesar de largar com pneus macios, fez sua parada depois de Sainz, que largara com borracha média, denotando uma performance superior ao do companheiro de equipe. Contudo, quando Leclerc calçou os pneus duros, nada fez para superar Sainz, que fez outra corrida sem sal. A Alpine colocou seus dois pilotos no Q3 e os viu marcar pontos em oitavo e nono, numa corrida nem burocrática de ambos, mas que trouxe pontos para deixar os franceses como quinta força do ano nesse momento. Magnussen batalhou bastante com Tsunoda pelo último ponto do dia, só conseguindo a ultrapassagem decisiva nas voltas finais, para tristeza do nipônico, que pela segunda corrida consecutiva recebeu a bandeirada em 11º, um posto atrás dos pontos. A McLaren continua em seu calvário e chegou a ocupar as duas últimas posições com seus jovens pilotos, que devem estar se perguntando se era necessário brigar tanto para estar na McLaren, quando tiveram chances concretas de estar em outros lugares.


No final, Pérez se consolidou como um 'menino de rua' com mais uma vitória num circuito citadino, porém, o mexicano sabe muito bem que o triunfo veio muito pelo problema com Verstappen, que vinha dominando todo o final de semana até o Q2. A cúpula da Red Bull foi colocada acima do pódio hoje e é dessa posição que a equipe austríaca vê seus rivais em 2023: bem no alto, longe de serem alcançados.

domingo, 12 de março de 2023

Lone Star Jr

 


Mesmo nascendo no Kansas, ele usou orgulhosamente uma bandeira do Texas no seu capacete, donde surgiu seu apelido pela estrela branca em destaque no fundo azul, e esteve no circuito da Indy por mais de três décadas, se tornando um dos principais pilotos da categoria na década de 1970, além de ser um dos protagonistas da equipe McLaren, antes de se mudar para a equipe Chaparral, onde brilhou com um dos carros mais icônicos da Indy. Completando 85 anos no dia de hoje, vamos ver um pouco da carreira de Johnny Rutherford.


John Sherman Rutherford III nasceu no dia 12 de março de 1938 na cidade de Coffeyville, no Kansas, mas ainda muito jovem se mudou para o Texas e foi lá que Johnny se apaixonou pelo automobilismo. No final da década de 1950 Rutherford participava de pequenas corridas de Stock Cars, sem maior destaque. Sem muito dinheiro para financiar sua carreira, Johnny chegou a fazer bicos de motorista antes de estrear na IMCA (International Motor Contest Association) em 1961, onde começou a fazer sucesso em corridas Sprint e ainda em sua quarta temporada no automobilismo, Rutherford estreou nas 500 Milhas de Indianápolis em 1963. Piloto de tocada agressiva e muito rápido, Rutherford começou a se envolver em alguns acidentes graves, o que truncou seu início de carreira na Indy, onde venceu pela primeira vez em 1965, nas 250 Milhas de Atlanta. Um ano antes, Johnny escapou miraculosamente do acidente que matou Eddie Sachs e Dave MacDonald em Indianápolis. No início de 1966, Rutherford sofreu um sério acidente em Eldora, onde capotou seu carro e teve dois braços quebrados e outras fraturas, tirando o americano do restante da temporada.


Enquanto ainda esperava sua carreira embalar na Indy, Johnny Rutherford participava com sucesso de algumas corridas da Nascar, inclusive sendo o mais jovem a vencer uma corrida de classificação em Daytona em 1963, recorde que duraria quase dez anos. Após vencer o título da USAC Sprint Car em 1965, Rutherford só foi ganhar novamente notoriedade na Indy em 1970, quando conseguiu um surpreendente segundo lugar no grid para as 500 Milhas de Indianápolis, liderando as primeiras voltas. Na ocasião Johnny corria pela equipe do seu amigo Pat Patrick, mas em 1973 ele fez uma mudança que mudaria sua carreira. A McLaren ainda tentava o seu primeiro título na F1 e fazia sucesso no lucrativo campeonato da Can-Am, mas além da famosa corrida de Protótipos, o braço americano da McLaren tentava obter sucesso na Indy. Projetado por Gordon Coppuck e John Barnard, o McLaren M16 foi apresentado em janeiro de 1971 como o novo carro da McLaren para competir na Indy e logo o carro obteria bastante sucesso, se tornando um dos mais importantes da Indy e dando a primeira vitória para a equipe de Roger Penske nas 500 Milhas de Indianápolis, pelas mãos de Mark Donohue, em 1972. Porém, a equipe principal não ficou com o gostinho da vitória e contratou Rutherford como principal piloto em 1973. Logo de cara Johnny ficou com a pole das 500 Milhas daquele ano com direito a recorde, mas a edição de 1973 ficou marcada por vários acidentes graves, duas mortes e muita chuva, onde Rutherford terminou apenas em nono. Contudo, Johnny voltaria a vencer corridas na Indy após um hiato de oito anos, com vitórias em Ontario e Michigan, terminando o campeonato em terceiro.


Durante 1974, Rutherford não apenas conseguiu sua primeira vitória na Indy 500, mas também se tornou o primeiro piloto a vencer duas corridas de 500 milhas durante a mesma temporada, onde ficou em segundo lugar, derrotado por Bobby Unser. Para 1975 a boa forma de Rutherford permanecia, com mais quatro vitórias no campeonato, novamente vice-campeão e terminando em segundo nas 500 Milhas de Indianápolis, quando vinha um minuto atrás do vencedor Bobby Unser, mas a prova daquele ano terminou mais cedo por causa de uma chuva que caiu no Speedway quando faltavam vinte e seis voltas. E a chuva se fez presente em Indianápolis novamente em 1976, mas dessa vez foi Rutherford o grande favorecido. Largando na pole-position, Rutherford reassumiu a ponta da corrida na volta 80 e então a chuva veio com força na volta 103. Após uma espera de duas horas e com a pista prestes a ser liberada, a chuva voltou com força novamente e como mais da metade da corrida tinha sido completada, Johnny Rutherford foi declarado o vencedor. Na ocasião, com apenas 255 milhas completadas, aquela fora a edição mais curta da Indy 500, onde o tradicional e importante motor Offenhauser venceria pela última vez em Indianápolis. O ano de 1976 só não foi perfeito para Rutherford, por que mais uma vez o piloto da McLaren teve que se conformar com o vice-campeonato (o terceiro consecutivo), perdendo o título por muito pouco para Gordon Johncock, na última corrida em Phoenix.


Todo esse sucesso de Rutherford com a McLaren aconteceu com o modelo M16, que foi substituído pelo modelo M24 em 1977. O carro tinha vários conceitos do M23 que dera os primeiros títulos da F1 (1974 e 1976) para a McLaren, além de trocar o velho Offenhauser pelo motor Cosworth DVX, versão americanizada do mítico Cosworth DFV que tanto sucesso fazia na F1. Rutherford permaneceu um piloto de ponta com o novo carro, mas não repetiria as vitórias em Indianápolis. No ano de 1978, a Indy vivia um momento de indefinição, com os donos de equipe cada vez mais interessados em colocar as mãos na organização do campeonato, enquanto a USAC e a IMS resistia. Com o surgimento da CART em 1979, a equipe McLaren resolveu focar na F1 no final daquela temporada após uma década muito forte da montadora na Indy, forçando Johnny Rutherford a procurar uma nova equipe para 1980. Ele se juntou ao texano Jim Hall, que estava construindo um carro revolucionário e que também entraria para a história da Indy: o modelo Chaparral 2K. Projetado pelo inglês John Barnard, o Chaparral 2K estreou em 1979 e era baseado nos carros de efeito-solo da Fórmula 1, além de ter o motor Cosworth DFV. Com o patrocínio mítico da Pennzoil e com um carro todo amarelo, Rutherford venceu pela terceira vez as 500 Milhas de Indianápolis em 1980 com certa facilidade, tamanha era a superioridade do carro. Rutherford conseguiu a pole, a volta mais rápida e o maior número de voltas lideradas em Indianápolis. Somado ao triunfo em Indiana, Rutherford venceria mais quatro corridas (Ontario, Mid-Ohio, Michigan e Milwakee) e finalmente venceria o campeonato da Indy.


Rutherford e Hall permaneceram com o Chaparral 2K para 1981, mas com o avanço das demais equipes, Johnny venceu apenas a abertura da temporada em Phoenix. Já contando com 43 anos, Johnny caminhava para o ocaso de sua longa carreira, enquanto o Chaparral 2K se aposentou em 1982 com várias vitórias no currículo. No ano seguinte Rutherford retornaria à equipe de Pat Patrick, onde teria como companheiro de equipe seu maior rival na Indy: Gordon Johncock. Durante os treinos para as 500 Milhas de 1983 Johnny sofreria um grave acidente, onde quebrou o pé esquerdo e o tornozelo direito, deixando-o de fora não apenas daquela edição, como de boa parte da temporada. Para 1984 Rutherford foi para a equipe Doug Shierson e acabou não se classificando para as 500 Milhas, mas ainda naquele ano ele fez algumas provas pela Penske, onde substituiu um contundido Rick Mears. As duas últimas vitórias de Rutherford na Indy aconteceram em 1985 e 1986 pela equipe de Alex Morales, sendo que ao vencer as 500 Milhas de Michigan, Johnny chegaria ao número de 27 vitórias na carreira, o colocando como o quarto maior vencedor da história da Indy até aquele momento. 


A última temporada completa da Indy de Johnny Rutherford foi em 1987 e a partir de 1988 ele apenas participaria de algumas corridas. Sua última largada em Indianápolis foi em 1988 pela equipe de A.J. Foyt, mas Johnny ainda tentaria se qualificar em 1989, 1990 e 1992, sem sucesso. Em 1994 Johnny Rutherford anunciou sua aposentadoria definitiva aos 56 anos de idade, com um cartel de três vitórias nas 500 Milhas de Indianápolis (1974, 1976, 1980), um título (1980) e 27 vitórias na Indy, numa carreira que atravessou três décadas. Enquanto tentava se qualificar para a sua 25º largada em Indianápolis, Johnny Rutherford se tornou comentarista e por muitos anos pilotou o pace-car da Indy, além de treinador de pilotos novatos em Indianápolis. Um dos grandes pilotos da Indy em todos os tempos, Johnny Rutherford pilotou carros históricos e com eles conseguiu um legado de sucesso.

Parabéns!

Johnny Rutherford

segunda-feira, 6 de março de 2023

Figura(BAH): Fernando Alonso

 Prestes a completar 42 anos de idade, Fernando Alonso curtiria bastante a famosa música de Sergio Reis: é panela velha que faz comida boa. Estreando pela ascendente Aston Martin, Alonso fez uma corrida sensacional, o que acabou por salvar o modorrento domínio da Red Bull no Bahrein. Alonso não largou bem e ainda foi alvo de fogo amigo, quando Stroll cometeu um característico erro e bateu em seu companheiro de equipe ainda na primeira volta. Porém, Alonso não baixou a guarda e provou todo o potencial mostrado pela Aston Martin nos testes pré-temporada, partindo para cima das duas Mercedes e em belas brigas, soube superar Russell e Hamilton com manobras de tirar do fôlego, ao mesmo tempo que foram claramente planejadas pelo espanhol. Com a quebra de Leclerc, Alonso viu que o pódio era possível e com o compatriota Sainz sofrendo com os pneus, Fernando partiu para cima da Ferrari e igualmente após uma luta muito forte e leal, Alonso soube tirar da cartola um terceiro lugar que fez todos levantarem a sobrancelha e provar que Alonso pode tornar a briga pelo lugar mais baixo do pódio um dos melhores momentos da F1 em 2023. Depois da corrida, a vibração dos mecânicos da Aston Martin provava toda a energia trazida por Alonso para a equipe. Piloto mais experiente do grid, Alonso foi um dos destaques dessa corrida e com toda a gana mostrada, deverá sê-lo mais vezes nessa temporada.

Figurão(BAH): Esteban Ocon

 Esteban Ocon começou nesse domingo sua sexta temporada na F1, mesmo que já corra na categoria desde 2016, como protegido da Mercedes e de Toto Wolff. Já contando com uma vitória na carreira e considerado um piloto conceituado, não se pode esperar mais de Ocon erros tão banais como que o francês cometeu na abertura da temporada 2023. Primeiro, Esteban parou seu Alpine no lugar errado no grid, ocasionando uma punição de 5s, que seria cumprida na primeira parada do francês, donde a Alpine se aproveitou para trocar a asa dianteira de Ocon. O francês pararia e deveria esperar 5s antes de tocarem no Alpine, mas os mecânicos se adiantaram meros quatro décimos, mas que foi o suficiente para Ocon tomar 10s de pênalti. Já estava ficando feio, mas Ocon só vacilou na primeira punição, mas não na inacreditável terceira punição, quando Esteban apertou o botão de desligar o limitador de velocidade antes da hora dentro dos pits e Ocon tomou um terceiro pênalti, destruindo de forma definitiva a corrida dele, que acabou abandonando quando Esteban corria nas últimas posições. Com Gasly pulando de último para os pontos, Ocon não poderá mais cometer erros tão banais se quiser superar seu companheiro de equipe e rival.

domingo, 5 de março de 2023

Aproveitando as chances

 


Marcus Ericsson saiu da F1 com a fama de pay-driver e que só lá esteve por causa dos bolsos fundos de sua família. Após alguns anos na Sauber, onde praticamente sustentou a equipe, que estava em estado de penúria, Ericsson foi dispensado quando surgiu no horizonte helvético um contrato com a Alfa Romeo. Sem nunca ter feito nada de impressionante na F1, Ericsson mudou seu foco para os Estados Unidos e foi para Indy, onde rapidamente conseguiu um desejado lugar na Ganassi, ainda usando os fundos de sua família. Sim, mesmo sendo uma equipe enorme, a Ganassi já teve que juntar uns trocados deixando um cockpit para alguém pagar as contas. Porém, Ericsson vai fazendo um trabalho acima das expectativas e após vencer as 500 Milhas de Indianápolis ano passado, o sueco iniciou a temporada 2023 vencendo, mesmo que em nenhum momento ele esteve com o melhor carro do pelotão, mas Ericsson soube aproveitar as chances quando elas surgiram.

A abertura da temporada 2023 da Indy começou com um enorme susto quando um acidente envolvendo vários carros acabou ocasionando uma bandeira vermelha, incluindo uma forte batida que fez Devlin de Francesco sair voando. Nesse melê todo, Helio Castroneves foi envolvido, assim como seu companheiro de equipe Pagenaud e dois pilotos da Foyt. Isso aconteceu na segunda metade do grid, porque na primeira, Romain Grosjean dava um show no seu carro da Andretti. O francês liderou todo o primeiro stint com autoridade, mesmo usando os pneus macios, que simplesmente não funcionavam por muito tempo na abrasiva pista de rua de St Petersburg. Escoltado por Colton Herta no início, Grosjean soube administrar melhor os pneus, enquanto Hertinha perdeu tanto rendimento com os pneus macios, que não apenas perdeu contato com Grosjean, como foi escalado até realizar sua primeira parada. Porém, uma bandeira amarela mudou o status quo da corrida e mesmo saindo com os pneus macios, o vencedor do ano passado Scott McLaughlin surgiu na frente de Grosjean. Para sorte do piloto da Penske, a velha frase 'bandeira amarela traz bandeira amarela' se efetivou e houveram mais três intervenções, incluindo outro voo, agora com Kyle Kirkwood da Andretti, mas quem se machucou foi Jack Harvey, que saiu do carro sentido dores e foi para o hospital. Herta se envolvia num incidente com Will Power e acabava o final de semana no muro. A Andretti estava confiante no final de semana, tanto que se falava em dobradinha na corrida, mas a cada carro que abandonava, a câmera focalizava um Michael Andretti quase puxando os cabelos.

Quando houve uma maior fluidez, McLaughlin segurava com maestria Grosjean e logo os dois se destacavam dos demais, que tinha Pato O'Ward, Marcus Ericsson e Scott Dixon vindos mais distantes. Ainda restava uma parada para todos e querendo fazer o 'undercut', Grosjean parou primeiro, na esperança de ter os pneus aquecidos quando McLaughlin parasse. O neozelandês foi chamado na volta seguinte e saiu bem na frente de Grosjean. Logo após a saída dos pits em St Pete, há a reta oposta e com pneus mais quentes, Grosjean tentou a manobra ali, pois sabia que se Scott aquecesse seus pneus, dificilmente ultrapassaria o piloto da Penske. McLaughlin se colocou por dentro e não aliviou na freada, mas Grosjean tentou uma manobra banzai por fora. Após a corrida, McLaughlin assumiu a culpa, por ter deixado para frear tão por dentro com pneus frios, enquanto Grosjean dizia que 'aquilo não é corrida'. De qualquer maneira, os dois acabaram na barreira de pneus e Michael Andretti saía dos pits fumando numa quenga. O que não dá para negar foi que Grosjean foi otimista ao extremo em tentar uma ultrapassagem por fora num ponto tão perigoso e estreito. Mesmo que McLaughlin tenha errado, Romain arriscou demais quando tinha o melhor carro e os pontos da segunda posição podem fazer falta em setembro...

Com isso, Pato O'Ward assumiu a ponta e poderia salvar o dia da McLaren, que fez um papelão no outro lado do mundo na F1. Zak Brown deve ter ficado todo animado com as últimas voltas do seu pupilo liderando, mesmo com a dupla da Ganassi se aproximando perigosamente. Porém, na abertura da penúltima volta, O'Ward abanou seu McLaren na entrada da reta dos boxes e Ericsson ultrapassou graciosamente Pato, enquanto Brown deveria ter se levantado do sofá na mesma vibe de Michael Andretti. Depois da corrida O'Ward, com cara de pouquíssimos amigos, acusou um ligeiro problema no motor, que entrou no modo errado e permitiu a ultrapassagem decisiva de Ericsson.

Foi na sorte? Foi. Mas o automobilismo, assim como o esporte em geral, a sorte faz parte da definição ou não do vencedor e Marcus Ericsson estava sempre no pelotão da frente. Ele não tinha carro para brigar pela vitória, mas viu um a um seus rivais saindo do caminho e lhe estendendo o tapete para vencer na estreia da temporada 2023, com um desolado O'Ward em segundo, Dixon em terceiro e mais atrás, Alexander Rossi estreando de forma correta na McLaren em quarto. Calum Illott mostra que tem potencial para estar numa equipe grande ao sair de 22º no grid para quinto. Power foi punido pelo toque com Herta e ainda salvou um top10, enquanto Newgarden tentou uma tática diferente, mas seu motor entregou os pontos no final, quando estava atrás até mesmo de Power, numa corrida opaca do americano da Penske. Ericsson faz um trabalho digno e se aproveitando das chances que foram surgindo, lidera o campeonato da Indy em sua primeira corrida em 2023.

Início de mais um domínio?


 Sempre que há uma mudança drástica nos regulamentos técnicos, há a expectativa de uma mexida no status quo da F1, contudo, isso normalmente muda de bastão quem está dominando a categoria. Foi assim de 1997 para 1998 e de 2013 para 2014. Se a F1 estava cansada de um forte domínio, na verdade teve que se acostumar com outro. Após um 2021 inesquecível, a F1 vivia expectativa de um novo regulamento que prometia mais equilíbrio, mas o que se viu foi a Mercedes, que dominou a F1 por oito anos, entregar o bastão para a Red Bull, que quebrou recordes com Max Verstappen em 2022. Chegou 2023 e nos parcos três dias de testes pré-temporada, a Red Bull se mostrou tão ou mais forte do que no ano anterior. Ligou-se a luz vermelha, que nesse caso, não se trata do cabaré de Maria Boa em Natal, como diria o mítico Francisco Diá. A F1 teria um novo domínio? A apertada classificação no sábado deu esperanças aos fãs, mas no domingo Red Bull e Max Verstappen acabou com toda a brincadeira, com uma vitória daquelas que somente uma hecatombe histórica pode tirar o tricampeonato do neerlandês.


A primeira corrida da temporada 2023 da F1 não foi das mais empolgantes, com muitas equipes ainda meio que testando seus carros em meio a uma pré-temporada ridiculamente curta, mas muitas respostas foram dadas. Se nesses falados três dias ninguém sabia como as equipes iam para a pista, no que tange peso, pneus e regime do motor, no Bahrein todo mundo estava correndo ao máximo, mesmo que ainda aprendendo suas máquinas. E foi um show da Red Bull. O único percalço ocorreu na largada, quando Sérgio Pérez saiu mal, foi atacado por Leclerc e os dois quase levaram Carlos Sainz à roldão. Por sorte, ninguém teve um único toque sequer, mas Leclerc, que guardou um jogo de pneus macios novos, superou Pérez, que tentou aqui e ali, mas rapidamente o chicano percebeu que não valeria a pena arriscar uma ultrapassagem. Um dos indicadores da pré-temporada foi que a Ferrari tinha sérios problemas de desgaste de pneus, tanto que Leclerc preferiu nem tentar a pole no sábado. Porém, se Charles se aproveitou na largada, durante o primeiro stint de nada serviu para o monegasco ir para cima de Max. O neerlandês simplesmente não deu uma chance sequer a ninguém no começo da noite barenita. Certa vez perguntaram à Max se ele ficaria incomodado em dominar uma temporada de F1, no que Verstappen disse que não teria qualquer problema. E Verstappen vem mostrando isso na prática. Ele simplesmente ignorou seus adversários, raramente ficando menos de 10s de frente para quem quer que fosse o segundo colocado. Na primeira rodada de paradas, a Red Bull optou em calçar seus pilotos com pneus macios e foi assim que Pérez atacou Leclerc para conseguir a segunda posição e disparar. Havia o risco de algum Safety-Car estragar a festa austríaca, mas o SC virtual veio justamente por causa de Leclerc, que abandonou com o motor quebrado, enquanto nos boxes Piero Lardi Ferrari quase comia seu fone. A vitória da Red Bull ficava ainda mais fácil, com Max e Checo completando uma fácil dobradinha na frente.


Com a quebra de Leclerc, a briga pela terceira posição ficou bem animada e nela constava um Alonso inspirado, que usou até da malandragem de sua equipe para ter vantagem. A Aston Martin se preparou para a entrada de Stroll, mas como ninguém sabia se era o canadense a entrar, a Mercedes resolveu trazer Hamilton, que entrou nos boxes reclamando que os pneus estavam bons. 'Podemos levar um undercut de Alonso', respondeu Bono em sua voz inconfundível. Pena que a transmissão não mostrou a cara da Mercedes quando quem entrou nos pits foi Stroll, enquanto Alonso ficou na pista algumas voltas que se mostraram essenciais. Com todo mundo preferindo os duros, Alonso tinha a vantagem de ter pneus mais frescos e saiu à caça de Hamilton, numa luta emocionante, que acabou vencida pelo espanhol, isso depois de Fernando já ter dado um baile em Russell mais cedo na prova. Se não bastasse esse handicap, Alonso viu Sainz ter os pneus se desmanchando, provando que a Ferrari tem mais voracidade por borracha italiana que um moleque esgalamido após passar a tarde brincando. Alonso rapidamente encostou no compatriota, que diga-se de passagem, fez uma corrida bem mequetrefe. Sainz tentou resistir, mas quem poderia resistir a magia de Alonso? O bicampeão ultrapassou Sainz rumo a um comemorado pódio, além de lembrar de parabenizar Stroll por ter finalizado a corrida, mesmo tendo se quebrado inteiro numa queda de bicicleta na quinzena anterior. Alonso mostrou que sua magia permanece e que a Aston Martin virá muito forte para 2023, muito impulsionada pela energia de Alonso.


Hamilton fez uma boa largada e namorou com o pódio, mas após ser ultrapassado por Alonso, não soube ultrapassar um 'descalço' Sainz nas voltas finais, tendo que se conformar com a quinta posição. Já Russell lutou bastante na prova, mas foi ainda mais atrapalhado pela galhofa da Mercedes no meio da corrida e ao parar mais tarde do que Stroll, acabou ultrapassado pelo canadense, que mesmo tendo dificuldades em correr, ainda pôde marcar alguns pontinhos pela equipe e segurar Russell. Com a F1 tendo a Red Bull sozinha em seu mundo, não se pode mais dizer que o sétimo colocado é o melhor do resto, pois o trio Ferrari/Aston Martin/Mercedes estão claramente um passo atrás dos austríacos, mas um passo à frente dos demais. Portanto, com a quebra de Leclerc, o oitavo colocado Bottas foi o melhor do resto, com o nórdico da Alfa Romeo tendo feito uma corrida sólida, onde sua estratégia no primeiro stint o colocou à frente de Mercedes e Aston Martin por um breve momento. Se ano passado Zhou conseguiu acompanhar o já veterano Bottas, dessa vez o chinês mal apareceu na TV e ficou fora da zona de pontos. Após uma classificação terrível, Pierre Gasly se recuperou no domingo e numa prova muito boa, levou à Alpine aos pontos, sendo que o francês foi o piloto que mais ganhou posições no domingo. Totalmente o inverso aconteceu com Ocon, que fez uma corrida completamente mal-ajambrada, onde foi tantas vezes punido, que parecia que o francês seria um novato.


E falando em novatos, esse ano temos três novatos e o melhor da corrida foi o americano Logan Sargeant, que chegou a flertar com os pontos e andou próximo de Alexander Albon, que fechou a zona de pontuação, tendo que segurar Tsunoda nas voltas derradeiras. O companheiro de equipe Tsunoda, De Vries, mal apareceu na transmissão e não lutou para estar na zona de pontos, mas os prospectos da Alha Tauri eram bem sombrios, assim como a Williams, e hoje as duas escuderias brigaram pelo último pontinho, o mesmo não acontecendo com a Haas, que colocou Hulkenberg no Q3, e a grande decepção desse início de ano, a McLaren. Oscar Piastri foi o primeiro abandono do dia quando seu carro travou como um Google Chrome. Já Norris ocupou boa parte da prova a última posição, onde terminou, com um problema de pressão que tornou suas paradas mais longas, além da McLaren não ter tratado tão bem os pneus. Zak Brown terá um longo ano pela frente...


A Red Bull começou o ano mostrando que 2022 ainda não acabou para ela e tende a dominar mais uma vez a F1, com Max Verstappen mais inspirado do que nunca, rumo ao tricampeonato. Mesmo sendo apenas a primeira corrida de uma longa temporada de vinte e três provas, vai ser muito difícil Max perder o título na situação atual. Porém, com a entrada da Aston Martin na equação, ainda mais com Fernando Alonso lá, a briga pela terceira posição pode nos proporcionar bons momentos ao longo do ano. Pois lá na frente, outras dobradinhas, lideradas por Verstappen, deverão ser vistas mais vezes em 2023.

quinta-feira, 2 de março de 2023

Mais um começo


 Terminando a corrida da F1 no domingo, a Indy estará bem próxima da largada para a temporada 2023 no já tradicional palco de St Petersburg, na Flórida, um circuito de rua apertado e de complicadas ultrapassagens, onde a saudade das boas corridas da Indy é terminada por sete meses, mas que não responde quem é o grande favorito ao título.

Apesar da competitividade da Indy, a categoria tem seus pelotões bem definidos, com quatro equipes muito fortes e vários coadjuvantes. A principal equipe é a Penske e seu forte triunvirato. Atual campeão, Will Power mostrou uma gigantesca regularidade ano passado, onde o australiano teve vários momentos de azar nas classificações, mas no domingo Will fazia belas corridas de recuperação, marcando doze top-10 em dezessete corridas e mesmo com apenas uma vitória, Power garantiu o segundo título, saindo das características anteriores dele, onde Power mostrava muita velocidade e pouca consistência, principalmente nos ovais. Newgarden venceu cinco corridas, fez uma etapa derradeira em Laguna Seca de tirar o fôlego, mas o americano pecou pelos vários abandonos e acabou superado pelo companheiro de equipe. Josef já é um piloto consolidado e seus dois títulos e três vice-campeonatos nos últimos anos o colocam como um dos mais fortes candidatos de 2023, mas para Newgarden falta mesmo uma boa corrida em Indianápolis.

Scott McLaughlin teve um ano de estreia bem mequetrefe, mas em seu segundo ano o neozelandês provou que a exótica escolha de Roger Penske, que viu talento nele na V8 Supercars, uma categoria de turismo na Austrália que mais parece um antigo faroeste, se pagou completamente. Foram três vitórias em 2022 e a certeza que a curva de crescimento de Scott é bem maior do que seus companheiros de equipe. A equipe que vem dividindo os títulos com a Penske nos últimos anos é a Ganassi, com Scott Dixon liderando o time com seu talento gigantesco, mas felizmente a Ganassi não se resume apenas ao neozelandês. O problema é que o piloto escolhido para ser o futuro da equipe já está de saída. E pelas portas dos fundos. Alex Palou venceu o título em 2021, mas acabou assinando com a McLaren numa transação rumorosa e que acabou na justiça. No final, Palou cumprirá seu contrato com a Ganassi e ninguém sabe ao certo qual será o grau de motivação do espanhol para essa temporada derradeira e nem como a equipe o tratará. Marcus Ericsson venceu a Indy 500 ano passado com todos os méritos, mas o sueco ainda está longe de encantar, com alguns altos e muitos baixos. O quarto carro da Ganassi não terá mais Jimmie Johnson, que mesmo sendo uma lenda da Nascar, foi um verdadeiro fiasco na Indy. Com a saída de JJ, esse carro atrairá muitas atenções, pois terá Marcus Armstrong nos mistos e Takuma Sato nos ovais. O experiente japonês tentará principalmente o tricampeonato em Indianápolis, enquanto Armstrong, que vem da Nova Zelândia de Dixon, estará sendo treinado para ser o sucessor de Scott na Ganassi.

A Andretti sonha alto em conseguir um lugar na F1 e talvez por isso tenha perdido o foco na Indy, inclusive com corridas em que seus pilotos se eliminaram. A Andretti tem em mãos talvez o maior talento da Indy, Colton Herta, que tem um longo contrato com a Andretti pensando na F1, em que quase se transferiu ano passado. Ninguém duvida do talento de Herta, mas ainda lhe falta consistência e o tempo vai passando e Colton ainda não brigou seriamente pelo título. Romain Grosjean mostrou velocidade, mas também muitas trapalhadas, lembrando seus piores momentos na F1, mas ao menos se viu livre de Rossi, com quem não se dava, entrando no lugar Kyle Kirkwood, um jovem piloto das canteras da Andretti e bastante promissor. Devlin Defrancesco paga as contas da equipe e isso diz muito do canadense na equipe. Com a Andretti patinando, a McLaren vai se consolidando como a quarta força da Indy, mas com potencial de passar a Andretti rapidamente. O time tem outro diamante bruto de talento, que é Pato O'Ward, mexicano que já mostrou muita velocidade e brigou pelo título em 2021, mas deu um passo atrás ano passado, talvez pensando na F1. Enquanto Palou não vem, a equipe manteve Rosenqvist na equipe, enquanto se expandiu para um terceiro carro para Alexander Rossi, que veio corrido da Andretti após ter desentendimentos com seus companheiros de equipe, sem contar que Rossi vem devendo nos últimos anos, mas a McLaren contará com a sua experiência. Tony Kanaan anunciou que as 500 Milhas será sua última corrida na Indy e ele a fará pela McLaren, num quarto carro.

As demais equipes são coadjuvantes, com destaque para a Rahal e seu trio de bons pilotos, com o veterano Graham Rahal, o promissor Christian Lundgaard e Jack Harvey. A equipe Carpenter contará com o talentoso Rinus Veekay para liderar a equipe e terminar a sina que o time só anda bem em ovais. A equipe Juncos manteve o talentoso Callum Ilott e imitando Roger Penske, trouxe do turismo o segundo piloto, o argentino e compatriota do chefe, Agustin Canapino. A tradicional Foyt trouxe o maluquinho Santino Ferrucci, enquanto a Dale Coyne terá David Malukas. A Meyer Shank tem uma dupla de pilotos que mais parece uma filial do INSS, mas Simon Pagenaud e Helio Castroneves tentarão reverter uma temporada ruim de um time, que recebe apoio da Andretti e com a equipe colocando suas forças na F1, sobrou quase nada para a equipe filial. Porém, nunca é bom subestimar Helio em Indianápolis. E só.

Como se vê, não faltam bons pilotos e a Indy terá um grid forte e sortido para a temporada. Muitos exageram dizendo que a Indy já estão tão forte como nos áureos anos 1990, mas isso não passa de um exagero, porém, não se pode negar a qualidade do grid, com alguns pilotos oriundos da Europa, além de jovens talentos americanos. Se não está como nos velhos tempos, pelo menos não se pode negar que a Indy terá corridas emocionantes e um campeonato sem grandes favoritos pela frente.

Vai começar!

 


Foram três meses de muita especulação, algumas picuinhas fora das pistas e uma mini-pré-temporada no Bahrein antes que estivéssemos na esperada primeira 'Race Week' de 2023. A F1 começará nesse domingo no Bahrein com a expectativa de 23 corridas emocionantes e briga acirrada pelo título. Será?

Com o constante corte de testes na F1, o início de 2023 teve uma pré-temporada de apenas três dias, onde as equipes só podiam ter um carro na pista o dia inteiro. Vai chegar o tempo em que os carros serão construídos e imediatamente colocados no primeiro treino livre... Os pilotos reclamaram e mesmo que se houvesse o dobro de tempo para testar os mesmos personagens continuaria reclamando por mais tempo de pista, porém dessa vez os pilotos da F1 tem razão em reclamar. Com tão escasso tempo, as equipes obviamente usaram da cautela para evitar qualquer quebra e mesmo andando a 60-80% do seu potencial, cada quilômetro conta para as equipes obterem o máximo possível de informações dos novos carros.

Se as pré-temporadas anteriores já colocavam mais dúvidas do que respostas antes da F1 aportar em sua primeira prova do ano, três dias não responde a muitas perguntas, porém, algumas coisas estão bem claras. Além de um baita piloto, Max Verstappen não se furta em ser sincero, doa a quem doer. Pois o neerlandês não escondeu que o novo carro da Red Bull está melhor do que o da temporada passada. Pérez ficou com o tempo mais rápido no apanhado dos três dias, mas outros pontos fazem da Red Bull se tornar a favoritassa de 2023, inclusive com direito a domínio parecido com o de 2022. Ou até maior! Fala-se que a Red Bull está em torno de três décimos de segundo na frente da Ferrari, mas que essa diferença pode ser até mesmo mais larga. A Ferrari completou três dias tranquilos, onde apenas o desgaste de pneus ainda preocupa, mas nada que faça Fred Vasseur perder ainda mais cabelos, porém, isso pode ser insuficiente para alcançar a Red Bull.

A Mercedes apostou novamente na sua lateral zero-pod e se o poirposing diminuiu, o carro continua com muito arrasto, foi um dos poucos a quebrar e esteve longe de impressionar pela velocidade. Hamilton e Russell começam o ano reticentes com um carro que parece bom apenas para brigar com a Ferrari para ser segundo colocado, com os italianos um pouco à frente no momento.

O pelotão intermediário está uma briga de foice no escuro, com destaque especial para a Aston Martin, que mostrou velocidade e consistência com Alonso e Felipe Drugovich, que substituiu Lance Stroll enquanto este se recuperava de uma queda de bicicleta. O brasileiro fez um bom trabalho, mas Stroll acabou sendo o escolhido como o piloto a estrear na equipe verde, que pelos números mostrados no Bahrein, pode liderar o pelotão intermediário e há quem diga que incomodará até mesmo a Mercedes! Outra equipe que se mostrou forte foi a Alfa Romeo, que teria consertado os problemas que lhe afligiram em 2022, como o problema de refrigeração que resultou em tantos abandonos, além da estabilidade traseira, tornando a pilotagem mais tranquila para Bottas e Zhou. Alpha Tauri, Haas e Williams fizeram o papel que delas era esperado, mesmo que a equipe júnior da Red Bull tenha sido envolvida numa suposta venda, mas que foi negada pela Red Bull nessa semana.

Ano passado Alpine e McLaren brigaram pela liderança do pelotão intermediário. São duas equipes estruturadas e experientes, sendo que uma é apoiada diretamente por uma montadora de tradição. Para completar, Alpine e McLaren se envolveram numa briga fora das pistas por Oscar Piastri, vencida pelos ingleses. Porém, os três dias de pré-temporada não foram nada animadores para ambas as equipes. A Alpine simplesmente não mostrou velocidade em nenhum momento e mesmo assim não foi a equipe que mais acumulou quilometragem, porém, a McLaren parece estar numa situação ainda pior, com um carro mal nascido a ponto do próprio Andrea Stella já ter declarado que a pré-temporada não teve os resultados esperados, fazendo com que Lando Norris, que sabe que tem talento e velocidade para brigar mais à frente, ter socado um muro nos boxes de frustração. Já Piastri deve estar pensando que para onde fosse, a situação não era tão boa em sua estreia.

Porém, ninguém sabe o quão pesado os carros marcaram seus melhores tempos, nem se usavam todo o potencial do complicado motor. A Red Bull é a grande favorita para essa primeira corrida, mas devido às punições de quebra do teto orçamentário em 2021, terá algumas restrições no túnel de vento que poderá frear o desenvolvimento do carro. Será o suficiente para atrapalhar a caminhada de Verstappen rumo ao terceiro título?