Sempre que há uma mudança drástica nos regulamentos técnicos, há a expectativa de uma mexida no status quo da F1, contudo, isso normalmente muda de bastão quem está dominando a categoria. Foi assim de 1997 para 1998 e de 2013 para 2014. Se a F1 estava cansada de um forte domínio, na verdade teve que se acostumar com outro. Após um 2021 inesquecível, a F1 vivia expectativa de um novo regulamento que prometia mais equilíbrio, mas o que se viu foi a Mercedes, que dominou a F1 por oito anos, entregar o bastão para a Red Bull, que quebrou recordes com Max Verstappen em 2022. Chegou 2023 e nos parcos três dias de testes pré-temporada, a Red Bull se mostrou tão ou mais forte do que no ano anterior. Ligou-se a luz vermelha, que nesse caso, não se trata do cabaré de Maria Boa em Natal, como diria o mítico Francisco Diá. A F1 teria um novo domínio? A apertada classificação no sábado deu esperanças aos fãs, mas no domingo Red Bull e Max Verstappen acabou com toda a brincadeira, com uma vitória daquelas que somente uma hecatombe histórica pode tirar o tricampeonato do neerlandês.
A primeira corrida da temporada 2023 da F1 não foi das mais empolgantes, com muitas equipes ainda meio que testando seus carros em meio a uma pré-temporada ridiculamente curta, mas muitas respostas foram dadas. Se nesses falados três dias ninguém sabia como as equipes iam para a pista, no que tange peso, pneus e regime do motor, no Bahrein todo mundo estava correndo ao máximo, mesmo que ainda aprendendo suas máquinas. E foi um show da Red Bull. O único percalço ocorreu na largada, quando Sérgio Pérez saiu mal, foi atacado por Leclerc e os dois quase levaram Carlos Sainz à roldão. Por sorte, ninguém teve um único toque sequer, mas Leclerc, que guardou um jogo de pneus macios novos, superou Pérez, que tentou aqui e ali, mas rapidamente o chicano percebeu que não valeria a pena arriscar uma ultrapassagem. Um dos indicadores da pré-temporada foi que a Ferrari tinha sérios problemas de desgaste de pneus, tanto que Leclerc preferiu nem tentar a pole no sábado. Porém, se Charles se aproveitou na largada, durante o primeiro stint de nada serviu para o monegasco ir para cima de Max. O neerlandês simplesmente não deu uma chance sequer a ninguém no começo da noite barenita. Certa vez perguntaram à Max se ele ficaria incomodado em dominar uma temporada de F1, no que Verstappen disse que não teria qualquer problema. E Verstappen vem mostrando isso na prática. Ele simplesmente ignorou seus adversários, raramente ficando menos de 10s de frente para quem quer que fosse o segundo colocado. Na primeira rodada de paradas, a Red Bull optou em calçar seus pilotos com pneus macios e foi assim que Pérez atacou Leclerc para conseguir a segunda posição e disparar. Havia o risco de algum Safety-Car estragar a festa austríaca, mas o SC virtual veio justamente por causa de Leclerc, que abandonou com o motor quebrado, enquanto nos boxes Piero Lardi Ferrari quase comia seu fone. A vitória da Red Bull ficava ainda mais fácil, com Max e Checo completando uma fácil dobradinha na frente.
Com a quebra de Leclerc, a briga pela terceira posição ficou bem animada e nela constava um Alonso inspirado, que usou até da malandragem de sua equipe para ter vantagem. A Aston Martin se preparou para a entrada de Stroll, mas como ninguém sabia se era o canadense a entrar, a Mercedes resolveu trazer Hamilton, que entrou nos boxes reclamando que os pneus estavam bons. 'Podemos levar um undercut de Alonso', respondeu Bono em sua voz inconfundível. Pena que a transmissão não mostrou a cara da Mercedes quando quem entrou nos pits foi Stroll, enquanto Alonso ficou na pista algumas voltas que se mostraram essenciais. Com todo mundo preferindo os duros, Alonso tinha a vantagem de ter pneus mais frescos e saiu à caça de Hamilton, numa luta emocionante, que acabou vencida pelo espanhol, isso depois de Fernando já ter dado um baile em Russell mais cedo na prova. Se não bastasse esse handicap, Alonso viu Sainz ter os pneus se desmanchando, provando que a Ferrari tem mais voracidade por borracha italiana que um moleque esgalamido após passar a tarde brincando. Alonso rapidamente encostou no compatriota, que diga-se de passagem, fez uma corrida bem mequetrefe. Sainz tentou resistir, mas quem poderia resistir a magia de Alonso? O bicampeão ultrapassou Sainz rumo a um comemorado pódio, além de lembrar de parabenizar Stroll por ter finalizado a corrida, mesmo tendo se quebrado inteiro numa queda de bicicleta na quinzena anterior. Alonso mostrou que sua magia permanece e que a Aston Martin virá muito forte para 2023, muito impulsionada pela energia de Alonso.
Hamilton fez uma boa largada e namorou com o pódio, mas após ser ultrapassado por Alonso, não soube ultrapassar um 'descalço' Sainz nas voltas finais, tendo que se conformar com a quinta posição. Já Russell lutou bastante na prova, mas foi ainda mais atrapalhado pela galhofa da Mercedes no meio da corrida e ao parar mais tarde do que Stroll, acabou ultrapassado pelo canadense, que mesmo tendo dificuldades em correr, ainda pôde marcar alguns pontinhos pela equipe e segurar Russell. Com a F1 tendo a Red Bull sozinha em seu mundo, não se pode mais dizer que o sétimo colocado é o melhor do resto, pois o trio Ferrari/Aston Martin/Mercedes estão claramente um passo atrás dos austríacos, mas um passo à frente dos demais. Portanto, com a quebra de Leclerc, o oitavo colocado Bottas foi o melhor do resto, com o nórdico da Alfa Romeo tendo feito uma corrida sólida, onde sua estratégia no primeiro stint o colocou à frente de Mercedes e Aston Martin por um breve momento. Se ano passado Zhou conseguiu acompanhar o já veterano Bottas, dessa vez o chinês mal apareceu na TV e ficou fora da zona de pontos. Após uma classificação terrível, Pierre Gasly se recuperou no domingo e numa prova muito boa, levou à Alpine aos pontos, sendo que o francês foi o piloto que mais ganhou posições no domingo. Totalmente o inverso aconteceu com Ocon, que fez uma corrida completamente mal-ajambrada, onde foi tantas vezes punido, que parecia que o francês seria um novato.
E falando em novatos, esse ano temos três novatos e o melhor da corrida foi o americano Logan Sargeant, que chegou a flertar com os pontos e andou próximo de Alexander Albon, que fechou a zona de pontuação, tendo que segurar Tsunoda nas voltas derradeiras. O companheiro de equipe Tsunoda, De Vries, mal apareceu na transmissão e não lutou para estar na zona de pontos, mas os prospectos da Alha Tauri eram bem sombrios, assim como a Williams, e hoje as duas escuderias brigaram pelo último pontinho, o mesmo não acontecendo com a Haas, que colocou Hulkenberg no Q3, e a grande decepção desse início de ano, a McLaren. Oscar Piastri foi o primeiro abandono do dia quando seu carro travou como um Google Chrome. Já Norris ocupou boa parte da prova a última posição, onde terminou, com um problema de pressão que tornou suas paradas mais longas, além da McLaren não ter tratado tão bem os pneus. Zak Brown terá um longo ano pela frente...
A Red Bull começou o ano mostrando que 2022 ainda não acabou para ela e tende a dominar mais uma vez a F1, com Max Verstappen mais inspirado do que nunca, rumo ao tricampeonato. Mesmo sendo apenas a primeira corrida de uma longa temporada de vinte e três provas, vai ser muito difícil Max perder o título na situação atual. Porém, com a entrada da Aston Martin na equação, ainda mais com Fernando Alonso lá, a briga pela terceira posição pode nos proporcionar bons momentos ao longo do ano. Pois lá na frente, outras dobradinhas, lideradas por Verstappen, deverão ser vistas mais vezes em 2023.
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