segunda-feira, 29 de maio de 2017

Figura(MON): Ferrari

Foram necessários longos dezesseis anos, mas finalmente a Ferrari venceu no charmoso Grande Prêmio de Mônaco. Mais. Além de vencer com Sebastian Vettel, ainda completou a dobradinha com um chateado Kimi Raikkonen, que largou na pole, mas ao ficar menos tempos na pista do que Vettel no primeiro stint, acabou ultrapassado pelo companheiro de equipe, ficando com a segunda posição, garantindo a primeira dobradinha da Ferrari em nove anos. Após um longo tempo como coadjuvante na F1, finalmente a Ferrari voltou a ter o melhor carro e a dominação em Mônaco, com dobradinha no grid e na corrida confirma que a Ferrari é a favorito nesse ano.

Figurão(MON): Lewis Hamilton

Lewis Hamilton somente se destacou nas apertadas ruas de Monte Carlo quando teve um excelente carro nas mãos e o próprio inglês já admitiu que não é um dos maiores fãs da pista monegasca. As duas vitórias do inglês vieram quando tinha o melhor carro, algo que não aconteceu esse ano. A Mercedes não foi capaz de dar à Hamilton o melhor carro do pelotão e Lewis acabou se perdendo durante todo o final de semana, apesar de ter liderado o primeiro treino livre, mas daí em diante, Hamilton apenas caiu, culminando com a péssima classificação. Hamilton reclamava constantemente da aderência do seu carro na classificação e no final do Q2 ainda não tinha um tempo competitivo e quando se preparava para uma tentativa final, o inglês foi atrapalhado por um acidente de Stoffel Vandoorne, logo à sua frente, e teve que se conformar com o 14º tempo do dia, apesar de Lewis ainda ganhar um posto por causa da punição de Button. Porém, em Mônaco, por melhor que seja seu carro, a classificação é praticamente tudo e a corrida de Hamilton estava arruinada antes mesmo de se completar um metro da prova. Graças a superioridade do seu conjunto aos demais que estava próximo nas primeiras voltas, Hamilton foi capaz de ganhar cinco posições quando retardou sua parada e teve um mínimo de pista livre, aproveitando para andar mais rápido do que os pilotos a sua volta. O sétimo lugar é muito pouco para um piloto do calibre de Lewis Hamilton, que luta pelo título contra um piloto forte como Vettel, que está no melhor carro da temporada.

domingo, 28 de maio de 2017

Nasceu de novo

Há quem não acredita em Deus, mas só Deus para salvar Scott Dixon desse gravíssimo acidente. Bastava que seu carro batesse um pouquinho mais à frente no muro e agora estaríamos lamentando uma tragédia...

Omedetou Sato-san

Numa 500 Milhas cheia de estrelas, um piloto que já foi criticado por ser desastrado acabou faturando uma prova que poderia ser trágica, pelo terrível acidente de Scott Dixon. Ninguém jamais poderá duvidar da velocidade de Takuma Sato e em 2012 ele quase venceu as 500 Milhas, após um ataque banzai em cima de Dario Franchitti na última volta, mas em 2017 Sato se aproveitou da ótima forma da Andretti e do motor Honda (pelo menos os que chegaram ao fim...) para escrever seu nome na história da famosa prova de Indiana.

Como não poderia deixar de ser, a grande estrela da corrida foi Fernando Alonso e o espanhol não decepcionou. Na primeira parte da corrida, onde os pilotos ainda estão se acomodando na preparação para a parte mais importante da prova, as famosas 50 últimas voltas, Alonso deu um show e liderou por várias voltas as 500 Milhas, mostrando o quanto é diferenciado. Não devemos esquecer que essa não era apenas sua estreia em Indianápolis, mas também a primeira vez de Alonso um oval! Quando a corrida entrou em sua fase derradeira e ninguém alivia para ninguém, Alonso foi perdendo rendimento, mas o espanhol nunca saiu do top-10 e estava em sétimo quando o motor Honda quebrou, seguindo o que já havia acontecido com Ryan Hunter-Reay e Charlie Kimball. Não deixa de ser irônico que do outro lado do Atlântico, Alonso tenha sua corrida estragada por um motor Honda, mas a exibição de Alonso em Indianápolis marcou essa edição das 500 Milhas.

Assim como marcou o gravíssimo acidente do pole Scott Dixon. Jay Howard estava dando espaço para Hunter-Reay lhe colocar uma volta e acabou saindo da linha ideal e batendo. O inglês foi para o meio da pista e Dixon o acertou em cheio. O neozelandês alçou voo e por muito pouco ele não começou a conversar com Pedro quando seu carro bateu no muro de cabeça para baixo, apenas alguns centímetros atrás do capacete de Dixon. Por incrível que pareça, Scott saiu andando do carro, mas ele comemorará o dia 28 de maio como o seu segundo nascimento, pois hoje ele escapou milagrosamente!

Como sempre ocorre em Indianápolis, a prova se definiu nas últimas voltas e com nomes, digamos, que apostadores nunca jogariam suas fichas. Max Chilton tinha boas chances de vitória e liderou algumas voltas no final, seguido por Ed Jones e Helio Castroneves. O brasileiro da Penske já tinha escapado do forte acidente de Dixon quando passou, literalmente, debaixo do carro do escocês. Resumindo, sua cota de sorte já tinha acabado, além de um carro que se comportava muito bem no trânsito, mas sofria com ar limpo. A Penske não andou bem em nenhum momento dos treinos da Indy, mas na corrida, todos os seus carros estavam no top-10, liderados por Helio. Um pequeno big-one fez com que Power e Newgarden, entre outros, saíssem da prova já nas voltas finais. A Andretti liderou com Alonso e Hunter-Reay, vítimas do motor Honda, mas ainda havia um terceiro piloto muito forte. Takuma Sato só entrou na Andretti por causa da sua relação quase umbilical com a Honda, mas o japonês sempre andou forte nos treinos e estava na briga pela vitória.

Quando a corrida ficou num mano a mano entre Castroneves e Sato, era esperado que Takuma fizesse alguma besteira, como em 2012 e o experiente Helio vencesse, mas Sato assumiu a ponta, se aproveitando do ponto fraco do carro da Penske e partiu para uma comemorada e inesperada vitória. Castroneves teve que se conformar com a segunda posição. Para quem acompanha o blog, sabe que não sou dos maiores fãs do paulista, mas é inegável o quanto Castroneves cresce em Indianápolis, porém, ele se igualar à AJ Foyt, Al Unser Sr e Rick Mears seria uma heresia para a história das 500 Milhas. Helio é grande em Indiana, mas não limpa as sapatilhas desses gigantes da história do automobilismo.

Já contando com 40 anos de idade, Takuma Sato voltou a baila dos grandes. O japonês saiu da F1 pelas portas dos fundos e parecia superado por Kamui Kobayashi, chamado de mito por muitos, mas com as mesmas características de Sato: muita velocidade e acidentes. Se na década de 1990 havia a dúvida se quem era o melhor japonês (Satoru Nakajima ou Aguri Suzuki), essa vitória nas 500 Milhas de Indianápolis coloca Sato não apenas na frente de Kobayashi como o grande piloto japonês da atualidade, como também o maior piloto nipônica da história. Traduzindo o título, Parabéns Sato!  

Master Vettel

Após sua vitória hoje em Mônaco, Vettel foi chamado de 'Master Vettel' pela Ferrari, indicando claramente quem é piloto mais querido pela scuderia em 2017, para grande desgosto de Kimi Raikkonen, que demonstrou claramente não ter ficado muito feliz com a estratégia da Ferrari em deixar Vettel na pista por mais tempo do que ele, garantindo ao alemão tempo com pista livre para marcar ótimos tempos e garantir a primeira posição quando saiu dos boxes, estratégia parecida com a de Daniel Ricciardo, que retardou sua única parada para pular de quinto para terceiro, se recuperando um pouco da pataquada que a Red Bull fez com ele ano passado.

Como sempre Mônaco nos trouxe uma corrida longa, sem ultrapassagens e que somente com problemas fora da pista trazendo alguma emoção à prova, o que não deixou de acontecer, como no assustador acidente de Pascal Wehrlein, que capotou na Portier e apesar da cena não muito bonita, o alemão estava bem. Ao contrário do que aconteceu em Barcelona, os seis pilotos das três principais equipes chegaram ao fim da corrida, mas num fato histórico, pela primeira vez desde que o regulamento mudou em 2014, nenhum piloto da Mercedes subiu ao pódio, mesmo com ambos terminando a prova. Bottas foi quarto, com Hamilton fazendo o arroz com feijão para terminar em sétimo. Até o momento da parada, os seis primeiros do grid de largada eram exatamente os mesmos. Raikkonen liderava Vettel, que trazia Bottas, Verstappen e Ricciardo, com um ótimo Carlos Sainz já mais para trás. A Ferrari já indicava que dominaria a prova, mas quando a parada decisiva se aproximou, ficava também claro que Vettel tinha um ritmo melhor e que Kimi segurava o alemão, a ponto de Bottas, trazendo consigo as duas Red Bulls, se aproximaram, fazendo com que os cinco primeiros andassem próximos. Com a baixa degradação dos pneus em Mônaco, quem parasse mais tarde poderia ganhar posições com pista livre. A Ferrari percebeu isso e quinze anos depois da tristemente histórica ordem de equipe à Barrichello em Zeltweg, os italianos preferiram usar da estratégia e trazer Raikkonen primeiro, deixando Vettel com pista livre para marcar duas voltas voadoras e assumir a ponta da corrida, praticamente garantindo a vitória naquele momento. Apesar da dobradinha e garantir a primeira vitória em Mônaco desde 2001, a Ferrari agora terá que lidar com um piloto de temperamento difícil e que quando desmotivado, caí assustadoramente de desempenho. Quando Raikkonen perdeu a ponta da corrida, seus tempos de voltas desabaram a ponto de ser pressionado por Ricciardo antes do acidente de Wehrlein. A cara do finlandês no pódio dizia muito mais do que qualquer das poucas palavras do que ele poderia dizer no pós-corrida. Vendo o exemplo da Williams, que perde pontos com um piloto muito abaixo do nível, a Ferrari poderá perder um importante aliado na briga pelo título com Hamilton, mas Vettel conseguiu uma pequena disparada no campeonato, mesmo que num futuro próximo perderá posições no grid pela troca de um componente do seu motor.

Um ano depois de perder uma corrida ganha por um erro da Red Bull, Ricciardo conseguiu ter uma pequena compensação com uma estratégia certeira hoje. Chateado por ter largado em quinto, o australiano fez seu dever de casa ao perseguir de perto Verstappen e quando seu companheiro de equipe foi para a sua parada, Daniel apertou o ritmo e fez o undercut não apenas em cima de Verstappen, mas também de Bottas. Apesar do susto na relargada, quando bateu levemente na Saint Devote, Ricciardo segurou sua terceira posição e ainda encostou novamente em Raikkonen, o qual começava a pressionar quando apareceu o safety-car. Verstappen mostrou sua face de menino mimado quando xingou bastante ao saber que não apenas ficou atrás de Bottas, como fora ultrapassado por Ricciardo, perdendo qualquer chance de pódio. A Mercedes viveu hoje um momento em que foi a terceira força em Monte Carlo. Bottas fez o possível, perseguiu de perto Vettel quando este encostou em Raikkonen  no começo da prova e a Mercedes foi rápida em trazer Valtteri para os boxes quando Verstappen parou, impedindo que o holandês surgisse na frente, mas os carros prateados não tiveram ritmo hoje para bater a Ferrari e nas condições especiais de Mônaco, ficou sempre pressionada pela Red Bull. Para quem diz que Hamilton fez uma grande corrida, o que ele fez hoje não foi muito mais do que sua mera obrigação. Sem ter como ultrapassar, o inglês simplesmente retardou sua parada ao máximo e com as demais equipes fora as três grandes muito atrás em termos de desempenho, Lewis ganhou as seis posições na corrida nesse momento onde andou sozinho na pista. Sem ultrapassagens e ainda não foi o suficiente para ficar à frente de um ótimo Carlos Sainz, que fez uma corrida solitária na maior parte do tempo, mas conseguiu um sólido sexto lugar.

O pelotão intermediário sofreu várias percas durante a corrida, com Hulkenberg abandonando no início com o câmbio quebrado e vários incidentes, que fez a Force India perder sua invencibilidade na temporada 2017, onde vinha pontuando com seus dois pilotos, mas acabou fora dos pontos, mesmo com eles terminando a corrida. Pérez bateu duas vezes com Kvyat e foi o último a receber a bandeirada, mas ainda teve tempo de colocar seu nome em Monte Carlo ao bater o recorde da pista. Ocon, que já havia batido nos treinos livres, ainda sofreu com um pneu furado, que o colocou em penúltimo na pista. Grosjean sempre andou na zona de pontuação e mesmo superado por Hamilton, terminou em oitavo com Haas, enquanto Magnussen fechou a zona de pontuação, mesmo tendo feito uma parada a mais do o companheiro de equipe. Felipe Massa fez uma corrida dentro das possibilidades, onde não errou e com os problemas alheios, terminou na zona de pontuação. A McLaren perdeu a melhor chance de pontuar esse ano quando Stoffel Vandoorne, correndo em décimo, errou na Saint Devote, enquanto brigava com Pérez. Button foi ainda pior, ao bater em Pascal Wehrlein numa manobra para lá de otimista e capotando o alemão, que ficou numa situação perigosa, mas sem problemas para Pascal. Antes da corrida, Button falou para Alonso que mijaria no carro do espanhol. Acabou fazendo merda... O dia da Sauber terminou quando Marcus Ericsson conseguiu a proeza de bater durante o período de safety-car, só lembrando que foi para um piloto desse nível que Felipe Nasr ficou para trás ano passado. Porém, não seria surpresa se o brasileiro fizesse um retorno ainda em 2017. Palmer está bastante ameaçado na Renault e sua corrida medíocre de hoje não deve ter ajudado muito, o mesmo acontecendo com Stroll, que fez outra corrida abaixo do aceitável com a Williams.

A F1 mais rápida desse ano já mostrou suas contraindicações quando o asfalto na Saint Devote começou a se soltar, fazendo com que os pilotos tivessem que andar com cuidado no local. Foi uma corrida típica de Mônaco e se não fosse pelos incidentes, seria uma corrida extremamente sem graça, mas como houve problemas, acabou sendo um pouco divertida. Quem mais se divertiu foi Vettel, que começa a escapar na liderança do campeonato, mas fica a dúvida de como será o comportamento de Raikkonen daqui para frente e se a má atuação da Mercedes hoje foi apenas pontual ou o começo de uma tendência.

sábado, 27 de maio de 2017

Cheia de manias

Normalmente Mônaco não é melhor corrida para se assistir, mas não restam dúvidas que a pista monegasca tem suas particularidades e isso nos traz surpresas, como a de hoje. A pole de Kimi Raikkonen após 128 corridas faz com que a temporada 2017 conheça seu quarto poleman diferente antes mesmo da metade do ano. Mas quem poderia prever Lewis Hamilton largando apenas em 14º, que virará 13º com a punição de Button, amanhã, em condições absolutamente normais? O inglês foi definitivamente atrapalhado pela outra surpresa do dia, quando Stoffel Vandoorne estampou o guard-rail no setor das piscinas, quando o belga se preparava para colocar a claudicante McLaren entre os seis primeiros.

A classificação em Mônaco foi incrivelmente próxima no Q1, onde os dezesseis primeiros ficaram separados por menos de 1s, ficando de fora dessa turma a dupla da Sauber e os horríveis Jolyon Palmer e Lance Stroll. Se o canadense não corre perigo pela grana injetada na Williams, conta-se que Palmer pode estar fazendo sua última corrida com a Renault por motivos óbvios, pois a performance do inglês em 2017 é muito abaixo do medíocre, o mesmo acontecendo com Stroll, que tomou mais de 1s de Massa e comparado com o outro novato Ocon, que bateu no terceiro treino livre, mas voltou à pista para ir ao Q2, a situação de Lance fica ainda mais feia. Hamilton já havia dado sinais que não estava com o melhor dos acertos quando foi apenas nono no Q1, mas Lewis parecia ter um carro ainda pior no Q2 e todas as atenções se voltaram ao que o piloto da Mercedes poderia fazer com um carro problemático. Bem na sua última volta, Hamilton viu Vandoorne bater logo à sua frente, o deixando numa incômoda 14º posição.

O desempenho da McLaren foi outro capítulo interessante de hoje. Os carros laranjas andaram sempre bem, com o retornado Button andando no ritmo de Vandoorne, mas com o belga sempre à frente, mas o jovem piloto da McLaren experimentou o mesmo veneno dos outros novatos e bateu no final do Q2, quando tinha um tempo que confortavelmente o colocava no Q3, junto de Button, numa cena inédita em 2017. Porém, Button já terá que trocar de motor e uma batida como essa é imprevisível para o carro e a moral de Stoffel, que vinha tendo um ótimo final de semana. Outro que vinha andando forte era Raikkonen. O finlandês era sempre o mais rápido nas sessões da classificação, mas era esperado que Vettel pudesse roubar a posição de Kimi, mas nem o alemão, muito menos Bottas, foram capazes de superar Raikkonen, que garantiu a pole após longo inverno.

A briga pela pole foi apertada, com menos de cinco centésimos separando os três primeiros, enquanto a Red Bull acabou de fora da briga, mas com Verstappen apenas dois décimos atrás, em quarto. Carlos Sainz comemorou o sexto lugar, próximo de Ricciardo. Massa vacilou no Q2 e acabou sem tempo pela bandeira amarela causada por Vandoorne. Enquanto isso, na transmissão do Sportv, o trio dava um verdadeiro show de horrores, com erros de avaliação e históricos. Max Wilson esteve particularmente 'inspirado', com comparações históricas esdrúxulas. Comparar a Lotus/1987 com a atual Toro Rosso foi de uma ridiculosidade absurda. Senna foi gigante e não precisa que venham aumentar seus belos feitos na história da F1. Mesmo criticado, Galvão/Reginaldo fez muita falta hoje!

A corrida amanhã pode ser a procissão de sempre, mas poderá contar histórias interessantes. Com a má performance de Hamilton, Vettel poderá se preocupar apenas em marcar bons pontos, enquanto Raikkonen poderá voltar a vencer, trazendo a imprevisibilidade necessária numa boa temporada e numa pista cheia de manias. Dididiê.    

sexta-feira, 26 de maio de 2017

História: 15 anos do Grande Prêmio da Mônaco de 2002

As duas semanas entre a corrida austríaca e o glamoroso Grande Prêmio de Mônaco foi dominado por um único assunto: a inacreditável ordem de equipe da Ferrari na Áustria. Rubens Barrichello dominou a corrida em Zeltweg para na última volta ceder sua vitória para Schumacher, que constrangido pelas vaias da torcida, venceu a prova. Não se falou sobre outra coisa e a Ferrari ficou numa situação indefensável, apesar das tentativas infrutíferas de Jean Todt. Foi uma as duas semanas mais ácidas da F1 nos últimos quinze anos. Mônaco era um circuito único e que alguns pilotos andavam bem, como Schumacher (vencedor cinco vezes), Irvine, Fisichella e Salo. Mesmo com as polêmicas, a Ferrari demonstrava não estar nem aí para as críticas e para mostrar sua superioridade, testou em três lugares diferentes (Jerez, Mugello e Fiorano) nos últimos dias na tentativa de melhorar ainda mais o F2002 e humilhar suas rivais, como estava fazendo até então.

Juan Pablo Montoya ficou com a sua segunda pole da temporada à frente de David Coulthard e Michael Schumacher. Foi uma classificação emocionante, onde Montoya conseguiu a pole em sua última tentativa, colocando quatro décimos em cima de Coulthard, enquanto os cinco primeiros colocados melhoraram o tempo da pole de 2001. Vários pilotos foram atrapalhados pelo tráfego, incluindo Barrichello, Ralf Schumacher e Trulli. A Toyota surpreendia ao colocar seus dois carros no top-10, enquanto Felipe Massa estreava em Monte Carlo colocando meio segundo em cima do seu experiente companheiro de equipe, Nick Heidfeld.

Grid:
1) Montoya (Williams) - 1:16.676
2) Coulthard (McLaren) - 1:17.068
3) M.Schumacher (Ferrari) - 1:17.118
4) R.Schumacher (Williams) - 1:17.274
5) Barrichello (Ferrari) - 1:17.357
6) Raikkonen (McLaren) - 1:17.660
7) Trulli (Renault) - 1:17.710
8) Button (Renault) - 1:18.132
9) Salo (Toyota) - 1:18.234
10) McNish (Toyota) - 1:18.292

O dia 26 de maio de 2002 tinha um sol radiante nas margens do Mediterrâneo, num dia perfeito para uma corrida de F1. Por mais que a posição de grid fosse importante em Mônaco, nas sete corridas anteriores o pole não havia vencido no principado e no apagar das luzes vermelhas, Montoya parecia corroborar essa tese ao largar mal e ser ultrapassado por Coulthard na primeira curva, enquanto Trulli pulava para um brilhante quinto lugar.

Coulthard parecia não ter o melhor carro daquele dia quinze anos atrás e por isso, logo uma fila de carros se formou atrás do escocês, com Montoya e os irmãos Schumacher andando juntos nas primeiras voltas da corrida. Foi uma prova tática, onde não faltaram acidentes, principalmente com os novatos. McNich bateu na volta 16, logo após foi a vez de Sato na 22 e depois foi a vez do horrível Alex Yoong estampar sua Minardi no guard-rail na volta 30. Todos eles novatos. No meio da corrida, a McLaren de Coulthard começou a soltar uma estranha fumaça, podendo indicar que a corrida de David seria curta, o que poderia ser cruel para ele, já que ele liderava. Porém, a fumaça acabou e depois da corrida a McLaren, contando muita vantagem com o arrogante Ron Dennis, dizia que o problema fora solucionado remotamente dos boxes. Como diria a propaganda, quanta tecnologia! Porém, a FIA não gostou muito dessa história e a partir de 2003 proibiu qualquer interação box-carro, que não passasse pelo piloto.

Com os quatro primeiros andando tão próximos, a corrida seria decida nos boxes. Schumacher foi o primeiro a parar, tentando dar o pulo do gato, mas o alemão só conseguiu ganhar a posição de Montoya, que logo cederia sua posição para Ralf. Ordem de equipe da Williams? Para azar do colombiano, seu motor BMW estava entregando a alma até estourar na volta 47. Após a parada, Ralf Schumacher perdeu rendimento dos pneus e ficou longe do seu irmão, que estava sempre a 1s de Coulthard. Após todo o problema em Zeltweg, Rubens Barrichello fazia uma corrida apática e na volta 42 ele tentou ultrapassagem para lá de otimista em cima de Kimi Raikkonen na freada da chicane do túnel, que fez o finlandês abandonar. Rubens foi punido pela batida e quando foi cumprir a punição, excedeu o limite de velocidade, terminando a corrida em sétimo, o que na época significava estar fora da zona de pontuação.

Ralf Schumacher tem problemas com seus pneus e faz uma segunda parada não programada, mas o alemão estava tão longe do quarto colocado Trulli, que ele manteve sua posição. Fisichella corria sozinho em quinto lugar com seu Jordan, enquanto Massa brigava fortemente com seu compatriota Enrique Bernoldi por posições intermediárias. Massa consegue uma manobra ousada na reta, mas acaba perdendo o ponto de freada e bateu na Saint-Devote. Ele se tornava o quarto novato a abandonar a corrida no guard-rail. Correndo em sexto, o veterano Frentzen se viu pressionado por um recuperado Barrichello nas voltas finais, mas o experiente alemão usou a estreiteza de Monte Carlo para se manter na zona de pontuação. Apesar de ter sempre um carro a menos de 1s do seu a corrida inteira, David Coulthard teve a frieza para controlar seus adversários e conseguir sua segunda vitória em Mônaco, quebrando um pouco o domínio da Ferrari, que viu Schumacher subir ao pódio mais uma vez. O alemão tinha subido ao pódio em todas as corridas até então, enquanto Ralf Schumacher completava o pódio mais de um minuto atrás de Coulthard e o último na mesma volta do líder. Após toda a polêmica em Zeltweg, a F1 teve uma típica corrida em Mônaco, onde apesar de um vencedor de certa forma surpreendente, não houve muitas emoções.

Chegada:
1) Coulthard
2) M.Schumacher
3) R.Schumacher
4) Trulli
5) Fisichella
6) Frentzen

terça-feira, 23 de maio de 2017

Rubinho

Poucos pilotos provocam tantos sentimentos ambíguos nas pessoas que acompanham a F1. Para os seus torcedores, ele só não foi campeão porque foi sacaneado pela Ferrari e, principalmente, por Michael Schumacher. Para os seus detratores, é o ‘Pé de Chinelo’, apelido ganho do programa Casseta e Planeta, além de representante-mor de memes de fatos lentos ou atrasados. A grande verdade é que Rubens Barrichello deixou uma marca indelével em sua longa passagem na F1 e alguns fatos mostram que o brasileiro, que está completando 45 anos hoje, foi um grande piloto de sua época, com feitos memoráveis, mas também  com algumas declarações infelizes.

Rubens Gonçalves Barrichello nasceu no dia 23 de maio de 1972 em São Paulo, muito próximo do circuito de Interlagos, onde acompanhava as corridas no quintal de sua avó, que depois entraria para o folclore da F1 por sempre saber como se comportava o instável clima próximo do circuito, que anualmente recebia a F1. Recebendo o mesmo nome do pai e do avô paterno, logo ele ficaria conhecido como ‘Rubinho’, apelido que o marcaria em toda a sua carreira, que começou quando Barrichello ficava cada vez mais apaixonado pelas corridas e também por acompanhar seu tio, Darcio dos Santos, piloto de relativo sucesso no automobilismo brasileiro nas décadas de 1970 e 1980 e hoje é dono de uma equipe na combalida F3 Sulamericana. Foi Darcio que ensinou Rubens Barrichello a andar de kart, quando este completou seis anos de idade. Quando completou nove anos, Rubens Barrichello iniciou as primeiras competições no kart, onde se tornaria um dos pilotos mais laureados da história do kartismo nacional, incluindo cinco títulos brasileiros e um sul-americano. Seu maior rival do kart foi Christian Fittipaldi, um ano mais velho, mas a briga fora das pistas era ainda mais intensa. Os pais dos dois, Rubens ‘Rubão’ Barrichello e Wilsinho Fittipaldi travavam discussões homéricas por causa das estripulias dos dois nas pistas enquanto, conta a lenda, as duas crianças brincavam juntas.

Assim que completou a idade mínima para se correr de carros, Rubens Barrichello estreou na F-Ford brasileira em 1989, com o forte patrocínio da Arisco, que o acompanharia por alguns anos. A estreia foi a melhor possível, com uma vitória no circuito de rua de Florianópolis. Rubens foi um dos melhores pilotos daquela temporada e terminou o campeonato em quarto, mas em alta e ainda em 1989 faz alguns testes na Europa, onde se muda no ano seguinte para competir na F-Opel. Correndo pela equipe Draco, Barrichello vence seis as onze corridas e se sagra campeão europeu, logo em sua estreia no Velho Mundo! O mundo acompanhava com atenção os passos de Rubens Barrichello e em 1991 ele se gradua à F3 Inglesa, correndo pela mítica equipe de Dick Bennett, a West Surrey, de tantos títulos conquistados, inclusive por brasileiros. A concorrência de Barrichello seria forte naquele ano. Gil de Ferran era um dos favoritos, mas a briga pelo título seria com outra futura estrela da F1: David Coulthard. O escocês foi o maior rival de Barrichello nas categorias de base na Inglaterra e os dois polarizaram a disputa, coadjuvados por Gil. Após quatro vitórias e uma disputa dura com o também badalado Coulthard, Rubens Barrichello vence um dos melhores campeonatos da história da F3 Inglesa. Aos 19 anos de idade, a chegada de Rubens à F1 não era se, mas quando. Várias equipes sondaram o brasileiro, mas este prefere passar um ano na F3000 em 1992. Mesmo convidado pelas melhores equipes da F3000 na época, Barrichello prefere a desconhecida equipe italiana Il Barone Rampante, porém, Rubens faz uma temporada brilhante, principalmente pelo equipamento que tinha nas mãos e termina o campeonato em terceiro.

Aos 20 anos de idade, Rubens Barrichello era a grande esperança brasileira na F1 e tinha um patrocinador forte. Acompanhando a ascensão fulminante do paulista, Ayrton Senna tratava Barrichello como o seu sucessor, inclusive patrocinando a ida de Rubens ao Campeonato Mundial de Kart. O tratamento de Senna para com Barrichello era de mentor e aprendiz e Rubens encarava isso muito bem, tratando Ayrton com muita reverência. Era o Chefe, por sinal, ainda hoje Barrichello se refere à Senna dessa forma. As categorias de base tinham ficado pequenas demais para Rubens e a F1 era o próximo passo. Contudo, esse passo seria polêmico e, conta-se, fora o primeiro erro de avaliação de Barrichello na F1, antes mesmo de estrear. Várias equipes grandes estavam de olho em Rubens, mas Barrichello escolheu a Jordan pela oportunidade de estrear logo, além de ter sido mais vantajoso comercialmente. Também patrocinado pela Arisco, Nelson Piquet queria que Barrichello corresse, mesmo que por um ano como piloto de testes, numa equipe grande, mas Rubens preferiu a Jordan, fazendo com que Nelson Piquet, também um grande apoiador de Barrichello antes desse fato, se tornasse um dos seus críticos mais ácidos. Contudo, os primeiros testes de Rubens com a Jordan foram encorajadores. A Jordan tinha feito uma má temporada em 1992, mas a troca dos motores Yamaha pelo Hart tinha trazido bons benefícios ao carro. No dia 14 de março de 1993 Rubens Barrichello largava em Kyalami para a sua primeira corrida, de uma carreira que seria incrivelmente rica de histórias e, principalmente, longa. Em Interlagos, pista que conhecia desde o berço, Rubens abandona com problemas de câmbio, iniciando uma série incrível de abandonos em sua pista favorita.

A próxima etapa seria em Donington Park, pista que Rubens Barrichello conhecia muito bem dos seus tempos na F3 Inglesa. Todos se lembram da incrível primeira volta de Ayrton Senna, mas Rubens não ficou muito atrás. Largando em 12º, Rubens Barrichello completou a primeira volta em... quarto! Foi uma demonstração pouco lembrada, mas magnífica de Barrichello, que abandonou no finalzinho da corrida por problemas na bomba de combustível. Conta a lenda que a Jordan acreditava que Rubinho não completaria o mesmo número de voltas da Williams e por isso colocou menos combustível no tanque. O começo de carreira de Barrichello na F1 era verdadeiramente surpreendente. A falta de potência do motor Hart frustrou várias corridas onde Barrichello poderia finalmente pontuar, mas Rubens superou os vários companheiros de equipe que ele teve em 1993, inclusive os experientes Ivan Capelli e Thierry Boutsen. Na penúltima etapa do campeonato, em Suzuka numa pista em condições variáveis entre molhada e seca, Barrichello marca seus primeiros pontos na F1 com um quinto lugar, superando seu novo companheiro de equipe, o irlandês Eddie Irvine. Horas depois, Barrichello tentava segurar Senna, que agredira Irvine pela insolência do irlandês quando o tricampeão foi interpela-lo por uma manobra durante a corrida, quando o retardatário Irvine passou o líder Senna. Mesmo marcando apenas dois pontos no campeonato, Barrichello tinha impressionado bastante a todos e o viam como futura estrela na F1.

Rubens permanece outro ano na Jordan, onde teria o irascível Irvine como companheiro de equipe. Mesmo a Jordan tendo claros problemas financeiros, o time constrói um bom carro para 1994 e Barrichello começo o ano de forma estupenda. Espantando um pouco a ‘Maldição de Interlagos’, Rubens termina a prova em quarto lugar, mesmo que boa parte do público já tinha ido embora, quando Senna rodou sozinho em sua perseguição à Schumacher. Na prova seguinte, Barrichello faz uma prova de espera, se aproveita dos infortúnios alheios para terminar a corrida em terceiro em Aida, seu primeiro pódio na F1 (com direito à infame sambadinha) e de forma inesperada, estava em segundo lugar no Mundial de Pilotos. Então, veio Ímola. Na sexta-feira, Barrichello erra na rápida Variante Bassa e sofre o seu pior acidente na carreira. Apesar da espetacularidade do acidente, Barrichello estava relativamente bem, apenas com o nariz quebrado, um problema no braço e um baita susto. No sábado, logo após falar com a Globo, Barrichello viu Roland Ratzenberger bater na curva Villeneuve e morrer horas depois. Ainda abalado, Rubens foi para a sua casa na Inglaterra no mesmo dia, onde recebeu a pior das notícias no domingo: seu protetor e incentivador Ayrton Senna havia morrido. Não restam dúvidas que aquilo foi um divisor de águas importante na vida e carreira de Rubens Barrichello. Se com Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet houve uma passagem de bastão tranquila, Barrichello e toda a nação brasileira via em choque uma passagem de bastão que seria verdadeiramente traumatizante a todos os envolvidos.

Rubens Barrichello foi um dos que carregaram o caixão de Ayrton Senna e aos 22 anos de idade, o paulista colocou em seus ombros uma pressão brutal de toda a torcida brasileira. Barrichello só marcaria pontos novamente no verão, com um quarto lugar em Silverstone. Em Spa, Rubens mostra mais uma vez que é um dos melhores pilotos em piso molhado e de forma surpreendente, consegue marcar a pole na tradicional pista belga. Na época, Rubens Barrichello se tornava o piloto mais jovem a marcar uma pole na história da F1, mas logo o brasileiro seria engolido por Schumacher durante a corrida, até abandonar. Rubens Barrichello termina o ano com um respeitável sexto lugar no Mundial de pilotos e Barrichello ficou próximo de assinar com a McLaren, mas em outra decisão duvidosa de Rubens, ele preferiu ficar na Jordan. Após os primeiros testes de pré-temporada, porém, a decisão de Barrichello parecia acertada. Eddie Jordan conseguira um vantajoso contrato com a Peugeot e com isso a Jordan se tornava uma equipe de fábrica. Rubens era um dos mais rápidos pilotos nos testes, fazendo o brasileiro insuflar a torcida brasileira dizendo que tinha reais chances de vencer em 1995. Muitas pessoas e a própria Globo entraram nessa onda de otimismo exagerado. Era comum equipes médias, como a própria Jordan, testar com pouco combustível para aparecer bem nos jornais e conseguir patrocinadores. O motor Peugeot havia fracassado fragorosamente em sua rápida passagem pela McLaren em 1994, fazendo com que Ron Dennis partisse para uma parceira de vinte anos com a Mercedes. Outro ponto era que a embreagem no pé estava virando, aos poucos, peça de museu na F1 e a maioria dos carros usavam apenas dois pedais (acelerador e freio). Barrichello preferia frear com o pé direito, mas com a barra de direção no meio, Rubens teve que mudar seu estilo de pilotagem, mas de forma inconsciente, Rubens pisava no freio levemente nas retas, não apenas tirando velocidade do carro, como superaquecendo o motor.

Ninguém sabia desses detalhes quando Rubens Barrichello pintou seu capacete em homenagem à Senna em Interlagos, para uma jornada onde tudo deu errado para o paulista. A temporada de 1995 foi uma das piores de Rubens Barrichello na F1. Foram dez abandonos em dezessete corridas e essa fama de ‘quebrador’ fez com que Barrichello rapidamente sofresse piadas no Brasil. Surgia o Rubens ‘Pé de Chinelo’. Se houve alguma trégua nessa má fase, foi em Montreal, onde se aproveitando dos vários abandonos, Barrichello consegue seu segundo pódio na F1 com uma segunda posição, logo à frente de Irvine. O irlandês se entendia melhor com o carro e pela primeira vez na F1, Barrichello era superado por companheiro de equipe, notadamente na classificação. Enquanto isso, a Ferrari começava o seu planejamento para voltar a vencer, resultando na dispensa de Gerhard Berger e Jean Alesi no final de 1995. Com muito dinheiro e a chegada de Michael Schumacher, a grande estrela da época, a Ferrari tinha muito potencial para os anos seguintes e Barrichello via uma boa chance de crescer na F1, mas o brasileiro foi preterido justamente por Irvine. Barrichello marcou apenas onze pontos e perdeu dois pódios certos quando o motor Peugeot quebrou na última volta em Budapeste.

A carreira de Rubens Barrichello havia entrado numa encruzilhada no final de 1995. Preterido pela Ferrari, Rubens disse que não seria segundo piloto de Schumacher, que respondeu dizendo que o escolhido havia sido Irvine por que o irlandês tinha sido mais rápido naquele ano. E o pior era que o alemão estava certo. Barrichello usou seus patrocinadores para tentar um lugar na Benetton e na McLaren, mas as negociações não evoluíram. Um teste anti-doping positivo não ajudou a causa do paulista, mas logo Rubens seria inocentado. Com o crescimento da Indy, Barrichello chegou a pensar em seguir seu velho rival Christian Fittipaldi e atravessar o Atlântico, mas Rubens preferiu ficar mais um ano na Jordan. A equipe agora teria uma bela pintura dourada, mas o carro nitidamente não evoluiu. Em Interlagos, debaixo de chuva, Barrichello tem sua melhor corrida em 1996, onde lutou bravamente pelo terceiro lugar com Jean Alesi após largar em segundo e quando se aproximava de Michael Schumacher, o brasileiro viu seu Jordan ficar sem freios e abandonou após uma rodada. Foi uma temporada frustrante e sem pódios, ao contrário das anteriores. Rubens marcou vários pontos, principalmente no verão europeu, mas sempre esteve longe de brigar pela vitória, como era esperado quando a Jordan havia se associado à Peugeot. Barrichello resolve não renovar com a Jordan, que traz Ralf Schumacher para o seu lugar. Com apenas 24 anos, a carreira de Barrichello parecia fadada a ser igual ao seu rival Christian Fittipaldi, quando apareceu Jackie Stewart em sua vida. O escocês tinha uma das melhores equipes nas categorias de base da Inglaterra e após muitos títulos, Stewart entraria na F1 com o apoio da Ford.

Inicialmente Jackie queria Gil de Ferran, mas com o brasileiro se adaptando muito bem na Indy, Gil declina do convite e Stewart resolve investir em outro brasileiro que tinha andado muito bem nas categorias de base da Inglaterra. Desmotivado e sem muitas perspectivas, Barrichello agarra com as duas mãos o projeto da Stewart GP e em 1997 seria o principal piloto da equipe estreante. Os primeiros testes indicavam as dificuldades que Barrichello teria ao longo do ano. O carro era bom e o motor Ford tinha bastante potencial, mas a confiabilidade era muito ruim, com Rubens terminando duas de dezessete corridas naquele ano! Uma dessas chegadas, porém, seria muito comemorada. A Bridgestone fazia a sua estreia na F1 em 1997 e logo de cara constrói um pneu muito competitivo, principalmente em piso molhado. E choveu bastante em Monte Carlo. Normalmente Barrichello conseguia boas classificações nos sábado, mas problemas mecânicos o deixava na mão no domingo. Como seria uma corrida onde o motor não seria muito forçado, Rubens tinha boas perspectivas, ainda mais com os bons pneus que tinha. Barrichello faz algumas ultrapassagens, se aproveita da má escolha de pneus da Williams para terminar a corrida em segundo lugar, conquistando um pódio logo na estreia da Stewart. Esse seria o único momento de alegria da equipe, mas 1998 se provaria ainda pior. Com a radical mudança de regulamento, a Stewart não consegue projetar um carro tão bom quanto o primeiro e se o motor Ford parara de quebrar, o câmbio seria o calcanhar de Aquiles da equipe e isso apareceria logo na primeira corrida do ano, quando Rubens quebra o câmbio... na largada! Como na temporada anterior, o brasileiro sofreu bastante com a confiabilidade. Na Espanha, ele terminou em quinto lugar, resultado que repetiria no Canadá. Esses seriam seus únicos pontos em 1998. Apesar dos poucos resultados, Rubens Barrichello se mantinha com a moral alta na F1. Seu companheiro de equipe, Jan Magnussen, chegara com a fama de potencial campeão do mundo, mas Barrichello o derrotou inapelavelmente. No final do ano, Barrichello foi convidado pela Williams para capitanear o projeto da entrada da BMW a partir do ano 2000, mas Barrichello confiava que sanados os problemas de confiabilidade da Stewart, ele teria chance de vitórias. Outra escolha discutível...

No entanto, para muitos, Rubens Barrichello teria sua melhor temporada na F1 em 1999. Os níveis de confiabilidade da Stewart ainda não eram bons, mas o motor Ford se transformava num dos melhores da F1 e com um chassi equilibrado, Barrichello por várias vezes lutaria por pódios ao longo do ano. Em Interlagos, ele se classificou em terceiro no grid e assumiu a liderança na primeira curva. O brasileiro ponteou a corrida para delírio da torcida paulista, mas seu motor quebrou na quadragésima segunda volta. Ele já tinha marcado dois pontos na Austrália e ele terminou em terceiro lugar em Imola. No Grande Prêmio da França, ele reeditou sua performance do Grande Prêmio da Bélgica de 1994, quando ele aproveitou a chuva que caiu na classificação para conquistar uma impressionante pole. No domingo, a chuva caiu novamente no circuito de Magny-Cours e Rubens teve uma corrida fantástica, disputando posição com Coulthard, Hakkinen e Schumacher. Por causa da estratégia, Barrichello acabou superado por Hakkinen e o vencedor Frentzen. Rubens se classificava bem, conseguindo boas posições nos grids, então ele terminou em quinto em Budapeste e quarto em Monza. Além disso, em grande parte do ano ele dominou o seu novo companheiro de equipe, o veterano Johnny Herbert. Foi então que outra faceta apareceu para Rubens Barrichello. Em Nürburgring, onde o clima sempre foi um fator, Rubens cometeu erros em sua escolha de pneus, permitindo que seu companheiro de equipe passasse por ele e terminasse em primeiro, com Herbert dando a primeira e única vitória da Stewart. Barrichello teve de se contentar com um terceiro lugar, após muito pressionar a Prost de Trulli nas últimas voltas.

Com uma temporada tão forte, Rubens Barrichello se transformou num importante player na F1. Sem contrato para o ano 2000, choveram propostas para o brasileiro. A Ford resolvera comprar a Stewart, transformando o time em Jaguar e com o bom potencial da equipe, Barrichello poderia ser o primeiro piloto de uma equipe de fábrica e já com a experiência de uma vitória. A McLaren também se interessou, mas a tempestuosa relação entre Barrichello e Ron Dennis, que frustrou outras negociações no passado, praticamente descartou o brasileiro na equipe. Restava a Ferrari. Quatro anos após sua tentativa inicial, Barrichello finalmente se acertava com a Ferrari e aceitou o contrato oferecido por Jean Todt. Aos 27 anos, Rubens Barrichello tinha sua carreira relançada numa equipe verdadeiramente de ponta e fez renascer também no brasileiro a vontade de acompanhar a F1. A cobertura da F1 aumentou exponencialmente na virada do século. Mas haviam muitas perguntas que seriam respondidas ao longos dos seis anos em que Rubens Barrichello viveu na Ferrari. Quando Rubens criticou a Ferrari em 1995, dizendo que não seria o segundo piloto de Schumacher, a situação quatro anos depois era idêntica. Apesar de Eddie Irvine ter disputado o título de 1999 com Hakkinen por causa do acidente de Schumacher, o alemão era incontestavelmente o piloto número um da Ferrari e a grande estrela da equipe, afinal, ele trouxe consigo Ross Brawn e Rory Byrne, que fizeram a Ferrari a brigar novamente pelo título.  Quando foi apresentando, Barrichello disse que seria o piloto ‘1B’ da Ferrari. Outro ponto que trazia muita curiosidade no torcedor brasileiro era ver o comportamento de Barrichello frente à Schumacher. Muitos diziam que o paulista faria o mesmo que Senna em 1988, quando chegou na McLaren superando Prost. Outra questão era o terrível jejum de vinte anos sem títulos de pilotos da Ferrari, ocasionando uma pressão monumental numa equipe que já tinha o maior orçamento da F1.

A estreia de Barrichello na Ferrari foi muito boa, onde chegou a liderar a corrida em Melbourne, mas terminou em segundo, enquanto os dois carros da McLaren quebraram. A temporada 2000 foi um mano a mano entre Ferrari e McLaren. Rubens Barrichello ainda perseguia sua primeira vitória e quando conseguiu uma pole em Silverstone, todos pensaram que ele poderia consegui-lo, mas o paulista abandonaria, mais uma vez por causa de um problema hidráulico. Novamente velhos fantasmas de abandonos infestaram a vida de Barrichello. No meio do ano, a rádio Jovem Pan inventou uma musiquinha brincando com a situação de Rubens, que deixou o brasileiro muito irritado. Ironicamente, bem nessa semana, Rubens Barrichello lavou a alma. Tudo estava dando errado para Rubens no Grande Prêmio da Alemanha, com problemas em seu carro titular e uma chuva na classificação o colocando em 18º no grid. No entanto, no domingo, ele escalou o pelotão e no final da décima primeira volta ele já aparecia em terceiro lugar atrás dos McLarens quando a chuva apareceu com dez voltas para o fim. Hakkinen e Coulthard foram aos boxes colocar pneus de chuva, deixando Rubens na liderança. E para surpresa de todos, a chuva era menos intensa do que o esperado. Aos vinte e oito anos e depois de 124 corridas, um recorde, Rubens Barrichello finalmente conseguiu sua primeira vitória na F1. Suas lágrimas de alegria no pódio emocionaram a todos. Além disso, ele tinha apenas dez pontos de desvantagem para Schumacher no campeonato, que havia abandonado na primeira volta. Contudo, em Montreal, a Ferrari já dava mostras de quem era o seu preferido. Barrichello vinha em segundo e mais rápido do que Schumacher, quando a escuderia manda-o ficar na posição. Barrichello apenas ajuda Schumacher finalmente conquistar o título para a Ferrari no final do ano, enquanto Barrichello conseguia sua melhor temporada na F1 até então.

O ano de 2001 marca a chegada da Williams-BMW como postulante às vitórias. A mesma Williams-BMW que Barrichello desprezou em 1999. Com a McLaren sofrendo com uma ligeira decadência e a Williams ainda cometendo alguns erros, principalmente de confiabilidade, a Ferrari dominou completamente o ano, Barrichello conseguindo dez pódios em dezessete corridas, mas sem nenhuma vitória ou pole. O ano teve pontos negativos para Barrichello, como o evento em Interlagos, quando quase não largou por problemas em seu carro quando o levava ao grid e o posterior acidente com Ralf Schumacher, onde um descontrolado Barrichello teve toda a culpa ao acertar a traseira do alemão. Em Zeltweg, Schumacher brigava com Montoya e os dois acabaram saindo da pista. Barrichello assumia a segunda posição, atrás de Coulthard. Schumacher se recuperou e estava logo atrás de Rubens, que na penúltima volta é ordenado trocar de posição com o alemão. Barrichello só o faz na última volta, fazendo com que a Ferrari fosse muito criticada pela ordem de equipe. Perguntada se faria isso em caso de vitória, a Ferrari negou...

Precisando renovar o contrato com a Ferrari, que se encerraria no final de 2002, Barrichello se coloca claramente como apoiador da escuderia e de Schumacher, mas o brasileiro tem um início de campeonato azarado. Após conseguir uma bela pole na Austrália, acabou atingindo por trás por Ralf na primeira curva. Na Malásia e no Brasil, dois abandonos após estar brigando pela liderança. No Brasil, a Ferrari só tinha um novo F2002 pronto e mesmo correndo na casa de Barrichello, a Ferrari escolhe Schumacher a utilizar o novo carro, enquanto Rubens teria à disposição o carro velho, o F2001. A Ferrari F2002 foi um dos melhores carros já construídos na história da F1, com uma vantagem nítida sobre os demais. Se em 2001 Schumacher soube utilizar as fraquezas dos adversários, em 2002 ele massacrou a todos com um conjunto muito melhor do que os demais. Após um segundo lugar em Ímola na sua estreia com o F2002, onde Schumacher confessou ter usado o setup de Barrichello, Rubens quebrou novamente em Barcelona, antes da corrida em Zeltweg. Schumacher tinha um histórico praticamente perfeito contra os seus companheiros de equipe, mas na Áustria o alemão vinha sendo batido de forma inapelável por Rubens Barrichello. Seja em ritmo de classificação ou corrida, Barrichello tinha sido o mais rápido. No final da prova, com Schumacher se aproximando de Barrichello, o narrador Cléber Machado foi lembrado da troca de posições do ano anterior, ali mesmo na Áustria, mas ele nem ligou. ‘Hoje não, hoje não’. Na pista, na última volta, na reta de chegada, Barrichello encosta o carro para Schumacher passar. ‘Hoje sim...’

Foi um verdadeiro escândalo! O público vaiou a marmelada e Schumacher, tentando amenizar, colocou Barrichello no topo do pódio. Por várias semanas, só se falou dessa cena, que marcou para sempre a carreira de Rubens Barrichello. E o contrato de Rubens foi renovado até 2004, mas o estrago estava feito. Para sempre, Barrichello ficará conhecido por ter deixado Schumacher vencer. E na bandeirada, na frente de todos. Até hoje essa corrida, que completou quinze anos recentemente, é discutida, principalmente como cada um dos envolvidos se comportaram ou deveriam se comportar. Rubinho deveria desobedecer sua equipe, que lhe pagava um alto salário na época? O brasileiro deveria ter exposto sua equipe daquela forma? Schumacher não poderia ter recusado a vitória? E principalmente, qual seria o motivo da Ferrari ter dado uma ordem tão dispensável? O ano de 2002 talvez tenha sido o mais triste da F1 desde 1994, com a sombra do que havia acontecido em Zeltweg e Barrichello havia sido um triste protagonista. A Ferrari venceu de forma inapelável tudo a que tinha direito, com Barrichello vencendo mais três vezes, sendo que a última, por incrível que pareça, foi sem querer. Em Indianápolis, Schumacher dominou a prova e resolveu receber a bandeirada lado a lado com Barrichello, mas o alemão desacelerou demais e deixou Rubens passar. E tome vaia do público americano, mesmo que a troca de posição tenha ocorrido por erro de Schumacher, não por ordem de equipe.

Com Schumacher vencendo o seu quinto título ainda no verão, a FIA resolveu fazer várias mudanças no regulamento e por isso, 2003 foi um ano mais equilibrado, marcado pela guerra de pneus entre Bridgestone e Michelin. Rubens Barrichello tem um ano cheio de altos e baixos, onde o carro mais próximo dos rivais fez com que o paulista tivesse apenas alguns espasmos de superioridade. Foi nesse ano que Barrichello teve sua melhor atuação na F1, no Grande Prêmio da Inglaterra, com uma vitória categórica e uma ultrapassagem fabulosa em cima de Kimi Raikkonen. Em Interlagos, houve sua maior decepção em sua corrida caseira, quando ele abandonou com pane seca quando liderava. Em Hungaroring, Barrichello sofreu um acidente infame, quando sua roda traseira esquerda se soltou do seu carro sem aviso. A Ferrari acusou Barrichello de ter atacado as zebras de forma incorreta, trazendo grande indignação à imprensa brasileira. Muitas pessoas não aceitavam que Barrichello tivesse numa situação tão submissa dentro da Ferrari e o queriam fora da equipe. Surgiram propostas da Williams e da Toyota, mas Barrichello talvez esperasse que Schumacher se aposentasse logo e a Ferrari o recompensasse por sua lealdade. Antes de estrear na Ferrari, Barrichello se dizia o ‘futuro’ da Ferrari, mas Rubens se esqueceu que é apenas três anos mais jovem do que Schumacher. Em Suzuka, Barrichello venceu pela segunda vez no ano e garantiu o sexto título de Schumacher.

Porém, não tardou para a Ferrari voltar a dominar a F1. Se o F2003 GA não repetiu o F2002, o F2004 era uma arma tão potente quanto o invencível F2002. O cenário foi parecido, com Schumacher doutrinando o início da temporada para rapidamente conquistar o título, enquanto Rubens assegurava o vice-campeonato. E assim, "Schumi" venceu doze das primeiras treze corridas, não dando muita chance ao seu companheiro de equipe, que só foi conquistar suas primeiras vitórias (Itália e China) na metade final do campeonato. Com um carro muito superior aos demais, Barrichello passou por momentos embaraçosos, como o quarto lugar em Sepang e o sexto em Ímola, duas corridas onde Schumacher venceu com sobras. Quando Schumacher tem problemas nos treinos livres para o Grande Prêmio do Brasil, Barrichello parecia ter a chance que precisava para finalmente vencer em casa. A Ferrari focou em Rubens para lhe dar a vitória, mas o instável clima paulistano jogou contra Barrichello e após algumas opções erradas, ele teve que se contentar com um terceiro lugar, no que seria seu único pódio em Interlagos.

Quando 2005 chegou, parecia que nada poderia deter a Ferrari, mas quando a FIA impõe a proibição da troca de pneus, a Brisdgestone não se adapta e as equipes clientes da Michelin, principalmente Renault e McLaren dominam o ano. Nessas condições difíceis, Barrichello não pode fazer melhor do que alguns bons resultados. Após um segundo lugar na primeira corrida em Melbourne, Rubens abandona várias corridas. Em Ímola, o brasileiro tem seu primeiro abandono por problema mecânico em dois anos. Além disso, as relações com Schumacher começavam a deteriorar-se seriamente. Schumacher ultrapassou seu companheiro de equipe na freada do túnel de Mônaco na última volta da corrida, fazendo Barrichello reclamar bastante. No infame Grande Prêmio dos Estados Unidos, onde somente a Ferrari tinha carro para vencer após o abandono dos clientes da Michelin, Schumacher jogou pesado após uma parada e venceu, fazendo Barrichello soltar a pérola que era ‘apenas um brasileirinho contra esse mundo todo’. Enquanto isso, Jean Todt queria trazer Felipe Massa, que era empresariado pelo seu filho Nicolas. Na BAR, que era a equipe de fábrica da Honda, Gil de Ferran, amigo de longa data de Barrichello, assume a chefia da equipe e começa sondar Barrichello. Cansado de sua situação na Ferrari, mesmo tendo um dos melhores salários da F1 e um carro capaz de lhe dar vitórias, Barrichello resolve sair da Ferrari após seis turbulentos anos.

Rubens chega à BAR em 2006, que antes da temporada mudaria de nome para Honda, falando em título. Tendo 34 anos e mais de 200 corridas nas costas, Rubens já não é mais a esperança brasileira de substituir Ayrton Senna. Porém, a temporada de estreia na Honda não é nada boa. O classudo Jenson Button supera Barrichello e nas primeiras quatro corridas, o brasileiro só consegue dois pontos. Para piorar, mais uma vez Barrichello vê um companheiro de equipe vencer pela primeira vez na equipe, quando Button triunfa na Hungria. Mesmo marcando pontos de forma constante na metade final da temporada, Barrichello tinha metade dos pontos conquistados por Button e ainda via Felipe Massa conseguir algo que sempre perseguiu: vencer em Interlagos. Em 2007, a situação piora quando a Honda erra a mão e com uma pintura ambientalista, o time naufraga numa temporada onde esperava vencer. Nem Rubens ou Button ficam sequer perto dos objetivos da Honda e chegaram a ficar atrás da equipe B da Honda, a Super Aguri. Ao contrário dos prognósticos em que muitos colocavam o brasileiro fora da Honda e até mesmo da F1, Rubens Barrichello fica mais um ano na equipe. A Honda melhora levemente, mas nada que façam seus pilotos almejarem algo melhor do que conquistar pontos aqui e ali. Em Silverstone, debaixo de muita chuva, Rubens consegue um ótimo terceiro lugar. Ao seu lado, estava Lewis Hamilton, um piloto treze anos mais jovem e também fã de Senna. Quando olhava para o resto do grid, Barrichello não via mais ninguém que havia estreado com ele 1993. Para completar a situação, a Honda resolve deixar a F1 de uma hora para outra no final de 2008, ameaçando a continuidade de Barrichello na F1.

Em 2009 haveria uma grande mudança no regulamento e Ross Brawn sabia do potencial do novo carro e numa operação complexa, compra a equipe, fazendo surgir a Brawn GP, com a estrutura da antiga equipe Honda, incluindo os pilotos. Quando Button e Barrichello estrearam na pré-temporada, todos ficaram de queixo caído com a velocidade dos novos carros da Brawn. Muitos acusaram que o time estava apenas querendo aparecer, mas a realidade era que Ross Brawn tinha dado o pulo do gato com o novo regulamento e tinha, disparado, o melhor carro. Sem a política da Ferrari e tendo um companheiro de equipe mais acessível, Rubens Barrichello tinha a chance de sua vida, quando já contava com 37 anos de idade. Porém, Barrichello não se entendeu muito bem com os freios e Button venceu seis de sete corridas, praticamente definindo o título antes da metade do campeonato. Quando finalmente Barrichello se acertou com o conjunto, vencendo de forma metódica em Valencia e em Monza, já era tarde demais. Durante os treinos para o Grande Prêmio da Hungria, um dos amortecedores do carro de Barrichello se soltou e atingiu em cheio o capacete de Felipe Massa, que vinha logo atrás, deixando o piloto da Ferrari em coma. Massa nunca mais foi o mesmo piloto, apesar das negativas de Felipe de que o acidente o prejudicou. O que ninguém sabia era que a vitória de Barrichello em Valencia seria a última de um brasileiro na F1. Por falta de investimento para desenvolver o carro, a Brawn não segurou a emergente Red Bull e com Button apenas marcando de perto Barrichello até o fim do campeonato, o inglês se sagrou campeão e Rubens ainda perdeu o vice para Vettel.

Quando a Brawn foi vendida para a Mercedes, Barrichello saiu da equipe e finalmente aceitava correr pela Williams, após várias tentativas. Porém, era uma Williams diferente, sem apoio de fábrica e tentando se reerguer. Barrichello teria como companheiro de equipe o novato Nico Hulkenberg, quinze anos mais jovem do que ele. Quem estrearia também naquele ano era Bruno Senna, sobrinho do ídolo Ayrton. O início da temporada foi difícil para a Williams-Cosworth. Rubens, que facilmente levava vantagem sobre o seu companheiro de equipe, pôde trazer alguns pontos quando seu carro permitia. Ele terminou em quarto lugar em Valência e quinto em Silverstone. No Grande Prêmio da Hungria, Barrichello vinha com pneus melhores nas voltas finais e partia para cima de Schumacher, que reestreava de forma melancólica na Mercedes. Brigando pela décima posição, Barrichello põe por dentro e é fechado de forma criminosa por Schumacher, que acabaria punido pela manobra temerária. Na corrida seguinte, Rubens Barrichello completava seu 300º Grande Prêmio. Em Interlagos, novamente Rubens vê um companheiro de equipe brilhar, quando Hulkenberg consegue uma brilhante pole com piso molhado. Rubens permanece mais um ano na Williams, mas 2011 seria a pior temporada da histórica equipe. Barrichello marca apenas dois pontos e mesmo com quase 40 anos, ainda insistia em permanecer na F1. Como uma veterana atriz que não percebeu que o tempo passou e outras atrizes mais jovens e bonitas dominavam o palco, Barrichello teimava em se oferecer em ficar na F1, numa cena até grotesca para um piloto de sua história. Rubens não teve uma merecida festa de despedida e em seu adorado Interlagos, encerrou sua longa passagem na F1 com um 14º lugar. Ele seria substituído, ironicamente, por Bruno Senna na Williams. Foram 323 corridas, 11 vitórias, 14 poles, 17 voltas mais rápidas, 68 pódios, 658 pontos e dois vice-campeonatos (2002 e 2004).

Quase quinze anos depois de quase ir para a Indy, finalmente Rubens Barrichello estreou na categoria em 2012, ao lado do seu amigo, Tony Kanaan. Barrichello teve boas corridas, conquistou o prêmio de novato do ano, mas quando foi convidado pela TV Globo para comentar as corridas de F1, ele resolveu se aproximar da categoria novamente, tentando um lugar na categoria. A Globo percebeu isso rapidamente e dispensou Rubinho em 2014. Ainda em 2012 ele começou a correr na Stock Car e no ano seguinte fez sua primeira temporada completa, para se tornar campeão em 2015, 23 anos depois de seu último título. Hoje Rubens Barrichello corre ainda competitivamente pela Stock, enquanto seus dois filhos, Fernando e Eduardo correm de kart. Rubens é casado há vinte anos com Silvana Giaffone, que vem de uma família de automobilistas. O próprio Rubens Barrichello admite que não esperava ser lembrado como o piloto com mais corridas na história da F1. Ele queria ter sido campeão, sonho que perseguiu algumas vezes até de forma inocente. Quando marcou o melhor tempo da pré-temporada de 2011 com a Williams, ele falou em título, quando era claro como o céu é azul que não era possível. Quando foram anunciadas as mudanças de regulamento de 1998, ele perguntou se música da vitória estava pronta. Foram declarações como essa que fizeram Rubens cair no ridículo muitas vezes. Sua obsessão em falar de Senna também o atrapalhou bastante, pois dava a sensação de se comparar ao incomparável tricampeão. Logicamente que os seis anos que passou na Ferrari serão mais lembrados no livro que Barrichello diz um dia lançar. Os anos ao lado de Schumacher deterioram uma relação que foi sempre forçada, onde Barrichello queria demonstrar que não estava abaixo do alemão, quando era nítido que Schumacher era bem superior ao brasileiro em todos os quesitos de um grande piloto. Mesmo muitas vezes superando seus companheiros de equipe, Barrichello viu Herbert vencer na Stewart, Button vencer com a Honda e Hulkenberg ser pole na Williams. Porém, a Ferrari dominou como nunca havia feito exatamente nos anos em que Rubens Barrichello lá esteve e isso não deve ser encarado como uma coincidência. Se muitas vezes esteve em situações desagradáveis dentro da scuderia, Rubens ajudou bastante numa das maiores dominações da história da F1. Só não conseguiu o que queria por que lá havia um alemão.

Parabéns!
Rubens Barrichello

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Que pena...

Quando criança eu era louco por corridas e me impressionava bastante, mesmo que a cobertura por aqui fosse muito restrita, o Mundial de Motovelocidade. O balé dos pilotos e até mesmo as quedas espetaculares me chamavam a atenção. Eram tempos de Rainey e Schwantz, muito provavelmente fazendo gostar de todos os pilotos americanos. Talvez por isso eu gostasse tanto de Nicky Hayden. Ele não tinha a magia de Valentino Rossi ou o talento dos espanhóis, mas por ser compatriota de Wayne Rainey e Kevin Schwantz, eu gostava de Hayden. E torci muito por ele quando conquistou seu único título na MotoGP em 2006.

Medíocre? Não existem, em duas ou quatro rodas, campeões mundiais medíocres. Hayden conquistou seu título usando as armas que tinha nas mãos, derrotando um monstro sagrado chamado Valentino Rossi na última etapa, onde tudo estava a favor do italiano, além de ter superado um piloto mais talentoso do que ele com a mesma moto, apesar de ser um novato, que era Daniel Pedrosa. Hayden era um batalhador, consistente e, como dizem os americanos, um nice guy.

Dói ver um piloto que vi crescer desde que foi anunciado de forma surpreendente pela Honda no final de 2002 para subir direto da MotoGP vindo do AMA Superbike, como havia acontecido com Rainey e Schwantz. Ele tinha 21 anos de idade na época, praticamente a minha idade. Mesmo não sendo mais uma criança, ainda me vejo fazendo e realizado muitas coisas e de repente um cara da sua idade falecer impressiona.

Desde que foi anunciado o seu acidente, a situação de Nicky Hayden sempre foi desesperançosa. Era uma questão de tempo e a agonia do americano não durou muito. O Kentucky Kid pode não ter sido o mais talentoso, o mais veloz, mas foi um dos caras mais legais a ser campeão mundial. 

domingo, 21 de maio de 2017

A velha magia de Rossi

Valentino Rossi caiu na última volta do Grande Prêmio da França, no segundo erro do italiano da Yamaha nesse mesma volta. Quando perdeu a liderança ao errar no meio da volta, Rossi trincou os dentes e tentou um bote final em cima de Maverick Viñales, mas acabou encontrando o chão sagrado de Le Mans e acabou no zero em sua luta pelo título. Dois erros incaracterísticos, mas nem por isso tira o mérito da grande corrida que Valentino Rossi fez nesse domingo, lembrando os velhos tempos onde cozinhava Sete Gibernau a corrida inteira para dar o bote fatal nas últimas voltas, deixando o espanhol com a cara no chão. Mais de dez anos após esses tempos, Rossi repetiu a tática e quase venceu, mas Maverick Viñales é outro tipo de piloto, além de muito mais jovem, não cedendo aos jogos mentais de Rossi e garantindo a liderança do campeonato.

Até o ataque final de Rossi, a corrida pertencia ao anfitrião Johan Zarco. O francês da Yamaha Tech 3 fazia uma corrida formidável em Le Mans, como se fosse um veterano da MotoGP, mas apenas em sua quinta corrida na categoria, Zarco andou de igual para igual com pilotos bem mais experientes do que ele e melhor equipados, pois Johan usa uma Yamaha 2016, enquanto Viñales e Rossi montam Yamaha triscando de novas. Zarco fez uma ótima largada, assumiu a liderança, foi ultrapassado por Viñales e permaneceu a corrida inteira no pelotão da frente, separando os pilotos de fábrica da Yamaha. Foi então que começou o show de Rossi. O italiano vinha numa tocada tranquila, onde não era atacado e parecia até mesmo conformado com a terceira posição. Os tempos onde Rossi dava botes nos finais de corrida haviam ficado para trás, mas Vale fez uma corrida como nos seus tempos doutrinadores e após ultrapassar Zarco já no final da corrida, partiu com tudo para cima de Viñales, que chegou a errar, mas não cedia uma milímetro sequer para o companheiro de equipe. Se a corrida tinha sido até mesmo próxima, mas bastante morna, esquentou no final e como nos tempos das brigas com Gibernau, Rossi efetuou a ultrapassagem nas últimas voltas. Porém, se Gibernau abaixava a cabeça e era derrotado, principalmente mentalmente, Viñales não se fez de rogado e se manteve colado em Rossi. Foi então que Valentino errou duas vezes, a segunda o levando ao chão, entregando de bandeja a liderança do campeonato à Maverick, enquanto Zarco garantia o seu primeiro pódio na MotoGP.

Daniel Pedrosa fez uma boa corrida de recuperação, após uma classificação bisonha, onde largou em 13º. Pedrosa foi subindo o pelotão e quando já se aproximava de Márquez, o espanhol caiu na sua frente e com a queda de Rossi no final, Pedrosa assumiu o terceiro posto e a segunda posição no mundial, mesmo que um pouco distante de Viñales. Marc Márquez já começava a ficar distante da briga entre as Yamahas, mas ficar zerado na pontuação era tudo o que o espanhol não precisava. Mais pontos perdidos e a defesa do título ficando cada vez mais difícil para Márquez, principalmente com a Yamaha tão forte. A Ducati ficou mesmo como terceira força, com Doviziozo terminando em quarto e Lorenzo em sexto, após o espanhol decepcionar na classificação e largar em 18º.

Como aconteceu semana passada na F1, a queda de Rossi proporcionou choro de crianças na arquibancada. Valentino Rossi é uma lenda e talvez nem precisasse mais estar correndo para provar alguma coisa. Rossi já provou tudo o que tinha que provar e com o tempo chegando, há pilotos mais velozes do que ele. Porém, Vale permanece na MotoGP para nos contemplar com sua magia. Viñales venceu, Zarco brilhou, mas o nome da corrida foi, mais uma vez nos últimos 21 anos, Valentino Rossi.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

História: 25 anos do Grande Prêmio de San Marino de 1992

A quinta etapa da temporada de 1992 chegava à Ímola para a corrida caseira da Ferrari, mas quem estava mais à vontade no ano era a Williams. Com um carro nitidamente muito superior às demais, nem mesmo a chuva em Barcelona impediu Nigel Mansell dominar outra corrida e manter o 100% de aproveitamento. Enquanto Lotus e Minardi estreavam novos carros, Patrese teve um grande susto quando bateu forte na temida Tamburello e mesmo saindo do carro ileso, o italiano foi levado ao hospital por precaução.

Com um carro tão mais rápido do que os demais, Mansell ficou com a pole novamente, a sua quinta na temporada, mas talvez ainda sentindo a pancada na Tamburello, Patrese ficou apenas dois décimos à frente de Senna, que mais uma vez era o melhor do resto. Ou o primeiro dos mortais. Numa demonstração o quanto as equipes estavam em níveis estanque, as três primeiras filas eram ocupadas, na ordem, por Williams, McLaren, Benetton e Ferrari, com cada dupla ocupando uma fila e o primeiro piloto na frente. Mesmo correndo em casa, a Ferrari não conseguia diminuir a péssima temporada que estava enfrentando.

Grid:
1) Mansell (Williams) - 1:21.842
2) Patrese (Williams) - 1:22.895
3) Senna (McLaren) - 1:23.086
4) Berger (McLaren) - 1:23.418
5) Schumacher (Benetton) - 1:23.701
6) Brundle (Benetton) - 1:23.904
7) Alesi (Ferrari) - 1:23.970
8) Capelli (Ferrari) - 1:24.192
9) Alboreto (Footwork) - 1:24.706
10) Boutsen (Ligier) - 1:25.043

O dia 16 de maio de 1992 amanheceu com sol forte na Emilia-Romagna, espantando a chuva que caiu forte em Barcelona ou mesmo um ano antes ali mesmo, em Ímola, bagunçando a corrida. Porém, a temperatura estava mais alta do que o normal, podendo trazer alguns problemas aos pilotos. A primeira largada foi abortada quando Wendlinger e Capelli ficaram parados no grid. Na largada que valeu, Mansell saiu muito bem e manteve a ponta, enquanto Senna sai melhor do que Patrese, mas leva o troco ainda durante a Tamburello, enquanto Schumacher perdia três posições após ficar preso atrás de Berger.

O ritmo da Williams era avassalador e em três voltas, Senna já se encontrava 8s atrás de Mansell. Era o prenúncio de outro passeio dominical de Mansell, enquanto os dois pilotos da Benetton brigavam forte pelo quinto lugar, após Berger passar Brundle e este ser atacado por Schumacher. O dia da Ferrari piorava quando Capelli, já atrasado pela largada, rodava na Acqua Minerale e abandonava. Contratado como o próximo grande piloto italiano, Capelli decepcionava em sua estreia numa equipe grande. Ainda pressionando seu companheiro de equipe, Schumacher acaba rodando na volta 20 na Rivazza, batendo de traseira na barreira de pneus. O alemão retorna aos boxes lentamente apenas o mecânico da Benetton notar que a suspensão traseira estava quebrada e mesmo Michael ainda voltando a pista, ele abandonaria mais tarde. Game Over para Schummy. Exatamente nesse momento os pilotos procuravam os boxes para seus pit-stops. 

Alesi retardou ao máximo sua parada, assumindo a terceira posição, mas logo o francês estava sobre ataque cerrado dos dois carros da McLaren. Na volta 40 Senna consegue a ultrapassagem na freada da Tosa, mas Berger tenta pegar uma carona do companheiro de equipe e acaba batendo em Alesi, acabando de vez com o dia da Ferrari, além de ser mais um abandono para o austríaco. Mesmo sendo o piloto melhor preparado fisicamente da F1, os pneus desgastados de Senna, mais o calor forte, fez com que o brasileiro sofresse nas voltas finais, porém, o esforço do tricampeão significava que ele estava mais de 50s atrás de Mansell. Em outra corrida sem emoção, Mansell venceu pela quinta vez consecutiva, sendo o primeiro piloto a conseguir cinco vitórias nas cinco primeiras corridas na história da F1. Após receber a bandeirada, Senna ficou no carro completamente exausto, repetindo as cenas de Interlagos no ano anterior. Apenas Mansell e Patrese subiram ao pódio. Na metade de maio de 1992, todos já sabiam que Nigel Mansell seria o campeão do ano.

Chegada:
1) Mansell
2) Patrese
3) Senna
4) Brundle
5) Alboreto
6) Martini