No ótimo livro 'Pilotos', onde os principais pilotos da história da F1 são retratados em perfis muito bem escritos, todos eles são separados em categorias. Um delas é o estilista. O estilista é o piloto que em condições perfeitas, é praticamente imbatível. Com um carro bem acertado, pista sem problemas e clima sem intempéries, esse tipo de piloto é praticamente imbatível, mesmo que ele não fosse tão forte no combate corpo a corpo. Fangio, Ascari, Fittipaldi e Piquet foram todos colocados nesse tipo de piloto. Porém, essa mesma característica de piloto cai como uma luva para Daniel Pedrosa. O pequeno espanhol, que já é um veterano na MotoGP, foi uma aposta da Honda desde o começo da carreira, mas já pode-se afirmar que foi uma aposta que não deu o resultado esperado. Três companheiros de equipe dele foram campeões, enquanto Pedrosa e seu estilo introspectivo foi saindo do rol dos grandes pilotos. Em Jerez, Dani encontrou as condições ideais para brilhar. Com uma moto muito bem acertada, um clima ensolarado, mas sem um calor malaio, uma largada perfeita e Pedrosa dominou de ponta a ponta a corrida em Jerez, conseguindo a importante marca de vencedor da corrida número 3000 do Mundial de Motovelocidade, onde a Honda dominou com Márquez completando a dobradinha da montadora nipônica, enquanto a Yamaha, dominadora da pista na Andaluzia nos últimos tempos, teve um final de semana esquecível.
O circuito de Jerez já conta com mais de trinta anos e se era moderna quando foi inaugurada, hoje é uma pista estreita para a velocidade das máquinas atuais. Somente pela localização se testa tanto na F1, mas ninguém pensa mais numa corrida lá, pois o resultado seria muito parecido com Sochi. Mesmo nas motos, Jerez não produz grandes corridas faz tempo. A corrida de hoje seguiu essa norma e mesmo com algumas ultrapassagens, para os padrões da MotoGP a corrida que terminou agora a pouco foi, no mínimo, morna. Pedrosa sempre foi caracterizado por ótimas largadas e o espanhol mostrou isso mais uma vez e quando contornou a primeira curva na frente, Pedrosa não teve praticamente mais trabalho. Foi uma vitória de ponta a ponta, num final de semana onde Daniel foi o mais rápido em todos os treinos e ficou com a pole, mesmo Márquez tendo tentado uma última volta kamikaze hoje. Apesar de Marc ser mais piloto que Dani, Pedrosa estava no seu dia e não deu qualquer chance ao seu companheiro de equipe, que chegou a baixa de 1s a diferença para Pedrosa, mas vendo a situação dos seus rivais pelo título, se lembrou do título ganho ano passado e preferiu garantir os vinte pontos do segundo lugar.
Se até ano passado a Yamaha dominava em Jerez, hoje a montadora dos diapasões teve uma atuação muito ruim. Maverick Viñales não esteve em nenhum momento em posição de pódio, enquanto Valentino Rossi confirmou, após várias demonstrações de talento nas três primeiras provas do ano, sua péssima pré-temporada e ficou apenas em décimo, andando 2s abaixo do ritmo do pelotão intermediário e quase foi alcançado por Scott Redding. Porém, Rossi se valeu do sexto lugar de Viñales para se manter na liderança por dois pontos, mas pela força da Honda e a velocidade de Viñales, Rossi deverá perder a liderança muito em breve. Johan Zarco salvou a honra da Yamaha e numa escolha arriscada de pneus, chegou a tomar a segunda posição de Márquez brevemente, mas foi perdendo rendimento até ser ultrapassado por Lorenzo. O espanhol da Ducati adora a pista de Jerez, o mesmo não acontecendo com a Ducati, que sempre andou mal no travado circuito andaluz. Porém, Lorenzo mostrou seu talento após uma má largada e foi escalando o pelotão até chegar em Zarco, brigar com o francês a segunda metade inteira e chegar ao seu primeiro pódio com a Ducati, o que foi uma vitória para Jorge, depois de atuações tão pobres de um tricampeão como ele. Doviziozo foi outro que fez uma grande corrida, onde saiu de 14º no grid para sexto, mostrando que 2017 virou todos os prognósticos anteriores sobre Jerez.
Se antes a Yamaha dominava em Jerez, esse ano Zarco salvou a horta por causa da escolha dos pneus, enquanto Viñales e Rossi erraram várias vezes. Numa das piores pistas para a Ducati, Lorenzo conseguiu superar as dificuldades de adaptação com a moto italiana e conseguiu seu primeiro pódio. E finalmente a Honda conseguiu uma dobradinha suprema e se não fosse a queda de Cruthlow, poderia até mesmo conseguido dominar todo o pódio. Márquez pensou no campeonato, mas o espanhol parecia não ter condições de atacar Pedrosa, que como um piloto estilista, quando está no seu dia, é praticamente imbatível.
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