terça-feira, 29 de novembro de 2016

Dá-lhe Chape!

Ontem usei a palavra 'desastrosa' para o final de semana da Toro Rosso em Abu Dhabi. No dicionário, a palavra desastre significa 'evento que causa sofrimento e grande prejuízo' ou 'fracasso completo'. Para o que aconteceu com a Toro Rosso, foi um 'fracasso completo'. Já o que aconteceu hoje nas primeiras horas da manhã foi um evento de muito sofrimento.

A Chapecoense havia conquistado o Brasil com seu carisma de time pequeno e audacioso, sem medo de cara feia. Ao invés dos torcedores rivais terem raiva, passaram a admirar o alviverde catarinense. E a Chapecoense foi passando por cima dos obstáculos de forma guerreira, fascinando a todos pela forma como um time de uma cidade pequena do interior estava há três anos na Série A e, façanha das façanhas, estava na final da Copa Sul-Americana.

Em busca desse sonho, a Chapecoense encontrou seu destino num trágico acidente de avião na Colômbia. Das 77 pessoas à bordo, apenas seis sobreviveram, incluindo três jogadores. A delegação catarinense foi dizimada, além de convidados e jornalistas. Do Fox Sports, faleceram o grande narrador Deva Pascovich, o comentarista Paulo Julio Clement, o repórter Vitorino Chermont e o ex-jogador Mario Sérgio. Desde pequeno acompanho futebol, junto com as corridas, e vi Mario Sergio ainda com a barba negra comentando futebol na TV Bandeirantes. Lembro dele estreando no Corinthians em 1993 como técnico e até o meu Ceará em 2010, numa passagem que não deixou saudades. Basta ler revistas antigas que se tratava de um grande jogador.

Como torcedor, alguns desses jogadores vi in loco e outros acompanhei atentamente, como foi o caso do William Thiego, quando esse vestiu a camisa do Ceará em 2012 como titular. Devo ter assistido umas 20 partidas dele naquele ano e chamava atenção como era um bom jogador. Do Kempes não lembro muito, fora os gols perdidos. Sonhava que o Ceará contratasse Bruno Rangel, além do veterano Cléber Santana no meio campo. Em 2014, assisti um emocionante Ceará x Chapecoense aqui no PV pela Copa do Brasil, num 1x1 suado. Se não me engano, com gol do Bruno Rangel. Passei o dia triste. Quando meu primo postou um link no grupo da família do whatts, custei a acreditar, mas as notícias, infelizmente eram reais.

Um choque para todos que gostam do esporte. Como li num dos vários textos colocados ao longo do dia, quando um avião cai, todos caem um pouco. Sonhos se acabam. O sonho da Chapecoense acabou, mas acabou o sonho do jogador de futebol, do jornalista, do empresário, do piloto de avião, do comissário de bordo. Acabou o sonho de muitas famílias.

O elenco atual da Chapecoense acabou, mas a Chapecoense se tornou um gigante. O mundo do futebol passou a conhecer a pequena cidade do interior de Santa Catarina que acolheu um clube que conquistou o Brasil não com conquistas, mas com simpatia e uma boa audácia. O mundo passou a conhecer o grito de 'Dá-lhe Chape!' 

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Figura(ABU): Nico Rosberg

Subestimado por muitos pela falta de carisma e não ser um piloto superdotado, Nico Rosberg provou nesse domingo que o trabalho também garante títulos. O alemão da Mercedes sofreu um duro golpe quando Lewis Hamilton nadou de braçada em 2015, sendo que Nico sofria um problema pessoal por causa das complicações da gravidez de sua esposa. Rosberg veio para 2016 mais focado do que nunca, enquanto Hamilton ainda parecia estar comemorando o tricampeonato e quanto o inglês acordou, Nico havia aproveitado todas as chances que apareceram e tinha quatro vitórias consecutivas. A Mercedes dominaria novamente e por isso, 2016 seria outra luta particular entre Nico e Lewis. Completamente inverso do seu companheiro de equipe, Hamilton conseguiu uma grande recuperação, novamente testando o foco, trabalho e a mentalidade de Nico Rosberg. O alemão deu a resposta conseguindo outra sequência de vitórias, deixando Hamilton numa situação complicada, onde não dependeria mais de si para ser tetracampeão. Foi nesse momento em que as maiores virtudes de Nico Rosberg apareceram. O alemão teve auto-controle em ver Hamilton vencer e cortar sua boa vantagem nas corridas finais, para manter o controle do campeonato nas suas mãos. Nico só precisava de um terceiro lugar para ser campeão em Abu Dhabi e fazer isso com uma Mercedes parecia ser uma brincadeira de criança. Porém, as circunstâncias da prova de ontem fizeram com que Nico Rosberg sofresse um pouco mais do que o devido para conseguir o primeiro título. Hamilton, sem sair um milímetro sequer do que fala o regulamento, imprimiu um ritmo lento de corrida para que os demais pilotos alcançassem Rosberg, mas o alemão se manteve focado. Quando precisou enfrentar o temido Max Verstappen, mesmo com um carro superior, Rosberg foi lá e conseguiu uma bela ultrapassagem. Apesar do massacre psicológico imposto por Hamilton, Nico Rosberg sobreviveu e se tornou o segundo filho de campeão mundial a repetir o feito do pai. Como dito mais cedo, Nico não é nenhum extra-classe, como é Hamilton, Vettel ou Alonso, mas usou as armas que tinha para derrotar o inglês com o mesmo carro. Ele tem menos vitórias do que Hamilton? É menos piloto do que Hamilton? Não importa. Na pontuação final do campeonato, Nico Rosberg tem cinco pontos a mais e é o merecido campeão de 2016.

Figurão(ABU): Toro Rosso

A segunda equipe da Red Bull teve uma jornada em Abu Dhabi próxima da desastrosa. No meio da briga entre Red Bull e Renault no ano passado, a Toro Rosso acabou pagando o pato ao ter que usar um motor Ferrari 2015 sem nenhuma atualização durante 2016. Se o motor era bom e casava bem com o ótimo chassi da equipe italiana no começo da temporada, ao longo do ano o propulsor da Ferrari do ano passado foi ficando cada vez mais para trás e Carlos Sainz, principal piloto da equipe, junto com o despejado Daniil Kvyat foram perdendo rendimento a ponto de ficarem longe dos pontos na maioria das provas, quando, principalmente o espanhol, sempre brigavam pelos últimos pontos do pelotão.. Nessa última corrida do ano, a Toro Rosso teve inúmeros problemas com seus dois carros a ponto da equipe ficar de fora do Q2, com o reconhecidamente talentoso Sainz saindo da última fila. A corrida foi tão medíocre quanto os treinos. Kvyat abandonou com problemas mecânicos e voltou para os boxes de bicicleta, numa cena enigmática para um russo que começou o ano na Red Bull e chegou a subir no pódio, mas acabou o ano de forma melancólica. No meio do pelotão, Sainz acabou vítima do péssimo Jolyon Palmer e abandonou a corrida quando foi abalroado pelo inglês. A experiência de usar um motor antiquado se mostrou uma péssima ideia e a Toro Rosso só pedirá uma coisa para a matriz em 2017: um motor de nova geração.

domingo, 27 de novembro de 2016

Na dose certa

Nico Rosberg não é um extra-classe ou um piloto dotado de uma habilidade fora do comum. Porém, passados quase nove meses desde a primeira corrida da temporada 2016, ninguém há de dizer que Nico não mereceu o título desse ano na F1. Numa das decisões mais dramáticas dos últimos tempos, Rosberg se tornou o segundo piloto a repetir o feito do pai e se sagrar campeão, se valendo de uma frieza fora do comum quando se viu em meio à armadilha posta por Lewis Hamilton, mas como sempre acontece nesses momentos, mostrando porquê merece ser campeão ao ultrapassar o temido Max Verstappen quando foi necessário.

A corrida em Abu Dhabi, muito pela característica da pista, não foi um primor de emoção, como aconteceu em Interlagos, mas como toda decisão que se preze, a prova de hoje foi marcada pela tensão e uma dramaticidade incrível nas voltas finais, muito por causa da atitude de Lewis Hamilton. Já aparecem alguns queixas do comportamento do inglês, mas Lewis não saiu em nenhum momento da linha do regulamento e usou as únicas armas que tinha para tentar conquistar o título. Na decisão da MotoGP em 2013, Jorge Lorenzo tentou fazer o mesmo com Marc Márquez na última corrida, diminuindo seu ritmo para que Márquez, com boa vantagem na ocasião, perdesse posições e o campeonato, mas logo o espanhol da Yamaha desistiu dessa tática e partiu para uma vitória incontestável, enquanto Márquez conseguia seu primeiro título na MotoGP. Hamilton foi mais tenaz do que Lorenzo e manteve sua tática 'Operação Tartaruga' até a última volta, tornando o final da corrida uma das mais dramáticas decisões dos últimos tempos. Hamilton tinha ritmo para andar até 1s mais rápido do que vinha imprimindo, mas o inglês fez de tudo para enervar o seu rival pelo título, mas Nico Rosberg mostrou sua maior virtude, além de vantagem mais destacada frente à Hamilton: a mentalidade forte. Apesar da tática imposta por Hamilton, em nenhum momento Nico Rosberg esteve numa posição em que seu título estaria em voga. A combinação das 55 voltas sempre mostravam Rosberg com o título. No único momento em que Nico teve que mostrar serviço, foi quando Max Verstappen mudou de estratégia e ficou entre as duas Mercedes, com Rosberg em terceiro, enquanto Raikkonen vinha perigosamente em quarto. Com Hamilton mais lento, Nico sentiu que poderia ser superado pelo piloto da Ferrari e perder o controle da corrida e do título. Nesse pouco tempo de F1, Max Verstappen já é um dos pilotos mais temidos da F1, principalmente no embate 'corpo a corpo', mas com o holandês já perdendo rendimento por causa dos pneus, Rosberg usou o potencial do seu carro e meteu a faca entre os dentes, partindo para cima do moleque holandês e efetuando a ultrapassagem que o deixou definitivamente atrás de Hamilton até o final da corrida. Era uma marcação homem a homem, como imaginado, mas Rosberg acabou caindo na armadilha de Hamilton, ficando atrás do companheiro de equipe, não querendo arriscar, mas vendo crescer em seus retrovisores outros pilotos, como Vettel e o próprio Verstappen.

Nico não esmoreceu. Ficou firme atrás de Hamilton, não tentando uma ultrapassagem que poderia resultar num toque, no que poderia ser o que Lewis queria, e soube se defender dos ataques de Vettel, que foi quem mais ameaçou a Mercedes com seus pneus mais macios e novos no final da prova. Nico se tornou o 33º piloto a vencer um campeonato na F1 e deu à Alemanha o 12º título nos últimos 23 anos, uma hegemonia parecida que o Brasil exerceu na F1 nos 1980. Porém, se em 2017 provavelmente não haverá nenhum brasileiro na F1, a Alemanha tem vários pilotos chegando forte nas categorias de base e na própria F1, como Pascal Wehrlein. Desde 2014, a Mercedes venceu todos os títulos possíveis na F1, mas Toto Wolff e Niki Lauda tiveram bastante trabalho com as desventuras de Rosberg e Hamilton. Depois da corrida era nítido o desconforto entre os dois. O cumprimento de Hamilton com Nico foi um dos mais protocolares da história, enquanto na sala pré-pódio, os dois não se olhavam e na foto em que os três pilotos do pódio tiraram com Bernie Ecclestone, Hamilton botou as mãos para trás para não abraçar Rosberg. Lembrando o domínio da Ferrari no começo da década passada, havia um grande desnível entre os pilotos, fazendo com que Michael Schumacher nadasse de braçada. Hoje, mesmo com Lewis Hamilton sendo nitidamente mais rápido do que Nico Rosberg, o alemão soube usar suas armas para derrotar o seu rival e hoje desafeto. E o melhor de tudo é que os dois ainda tem contrato por dois anos com a Mercedes.

Quem se aproveitou da tática de Hamilton foi Sebastian Vettel, que fez uma ótima corrida para voltar ao pódio (desta vez valendo!) e quase decidir o campeonato. Com os dois carros da Mercedes num ritmo tão lento, Vettel aproveitou para mudar a estratégia, colocando pneus supermacios no fim da prova e partir para cima de todos, ultrapassando Raikkonen e os dois carros da Red Bull para tentar a vitória, algo que Nico Rosberg, primeiro obstáculo de Vettel, conseguiu evitar. A Ferrari acaba 2016 sem nenhuma vitória, quando se esperava brigar pelo título, e atrás da Red Bull. Raikkonen conseguiu uma ótima largada e fez o primeiro stint em terceiro, mas acabou perdendo rendimento para terminar num solitário sexto lugar. Max Verstappen fez outra corrida de recuperação após rodar na primeira volta após toque com Hulkenberg, mas logo o holandês estava na briga pelo pódio e pela vitória, sendo o único piloto do pelotão da frente a tentar a estratégia de uma parada. Mesmo com pneus mais gastos, o holandês chegou em quarto, colado nos três primeiros e sua agressividade foi sempre um fator na briga pelo campeonato. Hoje, é uma temeridade para os outros pilotos entrar numa briga com Verstappen. Apesar de toda a simpatia (o vídeo em que 'aprende' dança do ventre é impagável), Daniel Ricciardo está um nível abaixo de Verstappen e tendo uma temporada inteira ao lado do holandês, o australiano tende a ser engolido por Max em 2017. Numa corrida apática, após o bom terceiro lugar no grid, Ricciardo não conseguiu usar seus pneus mais novos para atacar Verstappen. Na verdade, mesmo com pneus mais gastos, foi o holandês que estava brigando com Mercedes e Vettel, enquanto Ricciardo se conformava com uma quinta posição abaixo das expectativas.

A Force India confirmou a ótima quarta posição no Mundial de Construtores colocado seus dois carros em sétimo e oitavo, refletindo o potencial da equipe hindu hoje. Felipe Massa terminou sua carreira fazendo o possível com que tem em mãos e recebeu sua última bandeirada da F1 em nono. Uma despedida menos emocionante do que as cenas vistas em Interlagos, mas Felipe saiu da F1 pela porta da frente e de cabeça erguida, o mesmo acontecendo com Jenson Button. Do jeito que a F1 tem cada vez menos 'playboys', há cada vez menos 'gentlemans' e Jenson Button talvez seja um dos últimos dessa estirpe de piloto. Piloto extremamente técnico e suave na pilotagem, a atitude de Button fora das pista garantiu ao inglês admiração de todos. Sua 305º corrida terminou mais cedo por causa de um raro erro de Jenson, mas o piloto da McLaren também teve uma despedida digna e com aplausos de pé. Se Massa teve a sorte de uma safety-car fazer com que todos se concentrassem na sua despedida, Button o fez com a corrida rolando e por isso, não teve uma despedida parecida, algo que nas circunstâncias que aconteceram com Massa em Interlagos, certamente aconteceria com Button em Abu Dhabi. Hoje, apenas Kimi Raikkonen e Fernando Alonso da geração que surgiu no começo do século 21 ainda está na F1. Alonso marcou o último ponto do ano, sendo que o espanhol cada vez mais dá pistas que 2017 poderá ser seu último ano na F1. 

A Hass, que começou tão bem o ano, ficou perto de pontuar com Grosjean. A escolha da Renault em renovar com Jolyon Palmer ficou extremamente questionável pelo acidente ridículo em que o inglês se meteu quando acertou a traseira da Carlos Sainz de forma infantil, apesar de achar que o espanhol freou mais cedo do que o normal na ocasião. A Sauber deve levantar as mãos para os céus com a chuva em Interlagos, pois em Abu Dhabi a equipe ficou atrás da Manor e se não fosse a punição de Palmer, seria a última a receber a bandeirada. Apesar de todo o looby em cima de Nasr, mais uma vez o brasileiro ficou atrás de Ericsson, piloto de técnica questionável. Mesmo conseguindo os dois pontos da Sauber que fez a equipe ficar em décimo no Mundial de Construtores, Nasr só ficará na F1 em 2017 se Ecclestone forçar muito que a Sauber fique com o piloto, pois o Banco do Brasil anunciou que não patrocinará mais Nasr na F1. Com Wehrlein incomodado pela Mercedes ter preferido Ocon, o colocando na cobiçada vaga da Force India, o alemão brigou forte com o companheiro de equipe, fazendo a Manor chegar na frente da Sauber na corrida. A Toro Rosso teve um final de semana terrível, onde sempre andou nas últimas posições e abandonou com seus dois pilotos.

E já no final de novembro (antigamente era em outubro...), a F1 se despede de 2016 sagrando um campeão diferente. Nico Rosberg não tem o carisma dos grandes campeões, mas seus números são inegáveis: ele é digno detentor de um título. Essa derrota pode ser boa para Hamilton, pois mesmo com três títulos mundias, havia o porém de nunca ter derrotado um campeão mundial. Agora não tem mais. A corrida em Abu Dhabi também marcou o fim dessa Era na F1, onde é mais importante ser eficiente do que ser rápido, no que desagradou muita gente, forçando a F1 rever alguns conceitos e mudar radicalmente os carros para 2017. Porém, com o potencial que tem, a Mercedes é a favorita a reagir mais rapidamente à essas mudanças e tentar manter seu domínio. E com Hamilton mordido e Rosberg motivado, podemos ver outro round dessa disputa que vai se tornando interessante nos livros de história da F1.

sábado, 26 de novembro de 2016

Primeiro round na normalidade

Como esperado, Lewis Hamilton fez o que dele se esperava: pole absoluta em Abu Dhabi. Numa situação delicada com relação ao campeonato, o inglês da Mercedes está fazendo direitinho o que dele espera, preparando-se para vencer nos Emirados Árabes e esperar qual será o destino de Nico Rosberg, que está com a faca e o queijo na mão para garantir o primeiro título da carreira. Assim como o companheiro de equipe, Rosberg está fazendo o que dele se espera, se esgueirando para manter a posição normal da Mercedes, que é dominar a primeira fila e mantendo-se assim, sem muitas lorotas, o alemão é campeão.

O treino foi tão sem sal como a pista de Abu Dhabi. Os resultados foram todos normais nas 22 posições do grid, talvez com a exceção da Toro Rosso, que teve problemas nos treinos livres e pouco ficou na pista, resultando em seus pilotos ficando no Q1, incluindo Carlos Sainz amargando a última fila. A opção de usar o motor Ferrari 2015 cobrou seu preço e a Toro Rosso não pôde utilizar o bom chassi e os bons pilotos que tem na segunda metade da temporada. Alerta para a Sauber, que em 2017 usará motores Ferrari 2016. Com o futuro cada vez mais nebuloso na F1, Felipe Nasr superou o já garantido Ericsson no grid, mas onde estará em 2017 é um grande incógnita, o mesmo acontecendo com o automobilismo brasileiro. Massa e Button foram bastante focalizados durante a transmissão, no que foi a última classificação de ambos. Massa superou Bottas e foi ao Q3, enquanto Button ficou atrás de Alonso. Ambos marcaram positivamente a F1 nos seus longos anos de F1.

A disputa particular entre os pilotos da Mercedes não foi das mais emocionantes, pois Lewis Hamilton era sempre bem mais rápido do que Nico Rosberg, chegando a 1s no Q1. Hamilton conseguiu a pole com uma certa facilidade, sendo o único a alcançar a casa de 1:38. A corrida de amanhã terá dois pontos cruciais. O primeiro será a largada, pois a posição de pista dos pilotos da Mercedes após a primeira curva será decisivo de como cada um deles enfrentará a corrida, além do que, ficando atrás de uma Red Bull ou Ferrari, muito equilibradas nesse final de semana, pode significar a fuga do outro piloto rumo à vitória. Outro ponto será como Hamilton se comportará se manter a primeira posição. O inglês já tem a vitória praticamente assegurada, mas isso não basta para o tetra. Lewis diminuirá seu ritmo para deixar Nico à mercê dos pilotos de Red Bull e Ferrari? Será que um safety-car mudará o status quo da situação, como aconteceu em 2010? Toda a tensão dissipará amanhã e o campeão de 2016 será conhecido.  

domingo, 20 de novembro de 2016

Igualando lendas

Apesar das inúmeras vitórias e os seis títulos conquistados até ontem, Jimmie Johnson tinha um papel controverso na história da Nascar. Seu estilo de pilotagem suave e sem maiores 'sujeiras', além de sua falta de carisma fora das pistas, fazia de Johnson um 'patinho feio' dentro das grandes lendas da Nascar. Até a corrida de Homestead, Johnson tinha apenas as duas lendas Richard Petty e Dale Earnhardt como os únicos com mais títulos do que ele. Petty e Earnhardt tinham carisma de sobra e no caso do Intimidador, um estilo de pilotagem selvagem que lhe garantiu milhares de fãs.  Além do mais, dizia-se que Jimmie Johnson usava a genialidade do seu chefe de mecânicos Chad Knaus e todo o potencial da polêmica equipe Hendrick para enfileirar títulos e vitórias. Assim, qualquer um é campeão da Nascar, certo? Errado!

Mesmo não sendo dos pilotos mais carismáticos e tendo uma pilotagem pragmática, Jimmie Johnson tem seu lugar reservado dentre as lendas da Nascar e hoje deu um show para conquistar seu sétimo título, se igualando às lendas Petty e Earnhardt. No tenebroso sistema do Chase, Johnson tinha como adversários o atual campeão Kyle Busch, o já veterano Carl Edwards e o talentoso Joe Logano, os dois últimos ainda em busca do primeiro título. E a corrida não começou nada animadora para Johnson, quando seu carro não passou na última inspeção da Nascar e de forma inesperada, o então hexacampeão teria que largar em 40º e último lugar. O piloto da Hendrick imprimiu um ritmo alucinante nas primeiras voltas, chegando a ganhar dez posições somente na primeira volta!

A corrida se arrastava no ritmo da Nascar, com os pilotos se revezando na liderança de acordo com o acerto dos carros em longas ou curtas sessões em bandeira verde, além das amarelas. Quando Johnson chegou ao top-10, seus rivais já se encontravam lá. Edwards era o piloto com o mesmo retrospecto no oval próximo de Miami, mas os quatro rivais teimavam a andar próximos. Mesmo conseguindo uma incrível recuperação, Johnson parecia o que tinha menos carro dos quatro. Somente o imponderável poderia dar o hepta para Johnson. E ele veio nas dez últimas voltas.

Uma bandeira amarela forçou uma relargada, com Edwards largando em segundo, com o outsider Kyle Larson na frente. Já contando com 37 anos e dois vice-campeonatos nas costas, Edwards relargou mal e possibilitou à Logano ir por dentro, algo que o experiente Edwards se desesperou quando viu um dos seus rivais lhe tomar o título tão perto do final e fechou Logano. O resultado foi Edwards batendo forte e causando um 'Big One' que resultou numa bandeira vermelha. Logano escapou com danos menores, mas parecia ser o favorecido, quando colocou pneus novos para a nova relargada e estava logo atrás de Busch e Johnson. Realmente Logano ganhou várias posições na relargada, mas o último lance de sorte (de campeão) de Johnson foi a péssima relargada de Kyle Busch, que fez Johnson assumir a segunda posição e quando já via Logano no retrovisor a bandeira amarela deu as caras novamente.

Na bandeira verde final, Johnson largou tão bem que ultrapassou o dominante Larson e venceu a prova que lhe garantiu a entrada no quesito Lenda Viva do esporte. Largando em último e sem ter o melhor carro do pelotão, Jimme Johnson conseguiu um feito histórico hoje. Mesmo sem ter o carisma de Tony Stewart, que se aposentou hoje numa corrida discretíssima, Johnson mostrou que merece estar no meio das lendas da Nascar.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

The end

Trinta e seis anos depois de realizar o seu sonho de ter uma equipe na F1, Ron Dennis encerrou seu vínculo com a McLaren ontem, numa decisão já esperada por todos. Quando chegou à F1 em 1980 como dono de equipe, o jovem Dennis, de 33 anos, era conhecido por seu vanguardismo e sua gestão com mão de ferro na McLaren. Não demorou muito para que a McLaren, que apenas claudicava desde o título de James Hunt em 1976, se tornasse uma potência em toda a década de 1980, com cinco títulos de pilotos, além de viver de perto a intensa rivalidade entre Senna e Prost. Quando chegou a década de 1990 e a McLaren perdeu o seu reinado para a Williams, Dennis foi esperto o suficiente para assinar um contrato excepcional com a Mercedes e garantir outro período de domínio na virada do século, até Schumacher e a Ferrari massacrar todo mundo. Por ironia do destino, o vanguardista Dennis parecia perder seu toque de Midas na medida em que as equipes de F1 deixaram de ser oficinas hi-tech para se tornarem grandes corporações, onde milhões de euros jorram todo ano na equipe, se quiser ser competitiva. Prestes a completar 70 anos, Ron Dennis se tornava obsoleto. A McLaren viu a Mercedes comprar uma equipe para si. Conseguir uma parceria superdimensionada com a Honda e até o momento fracassada. Perder patrocinadores. A ainda gigante McLaren percebeu que o seu grande arquiteto precisava sair de cena para poder continuar grande. E Ron Dennis, com sua arrogância e antipatia, saiu pela porta de trás da equipe que ajudou a se tornar a gigante que é hoje.   

Que pena...

Foi anunciado ontem o falecimento de Paul Rosche, engenheiro alemão totalmente ligado à BMW, que ajudou a construir motores famosos usando toques de sua genialidade, garantindo à marca bávara várias vitórias em inúmeras competições nos últimos 40 anos. O motor BMW turbo usado pela Brabham de Nelson Piquet na década de 1980 foi um dos mais icônicos dessa inesquecível Era da F1 e teve o toque de Rosche. Chefe do departamento de competições da BMW por vários anos, o último trabalho de Rosche foi a construção do motor BMW quando a marca voltou à F1 na virada do século. Paul Rosche morreu aos 82 anos na Alemanha.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Figura(BRA): Max Verstappen

Quando Ayrton Senna chegou na F1, principalmente quando estreou na Lotus e passou a estar mais de perto pela vitória, havia um incômodo geral por parte dos outros pilotos com o jovem paulistano por causa de sua impetuosidade, além de uma forma questionável (na época) de defender posições. Porém, ninguém podia negar a velocidade de Senna e antes de passar a ser admirado pelos seus pares quando veio os três títulos em quatro anos, Senna causava um sentimento de 'ame ou odeie' dentro do paddock da F1. Passados mais de trinta anos, Max Verstappen vem causando um rebuliço parecido dentro da F1 e quinze dias depois das pataquadas no México, o holandês fez uma corrida simplesmente histórica em Interlagos, debaixo de uma chuva forte e contínua. O piloto da Red Bull parecia ter apenas Lewis Hamilton como adversário para vencer a corrida em Interlagos, pois Max deixou Raikkonen e Rosberg para trás de forma constrangedora para os dois trintões. Porém, querendo dar o pulo do gato, a Red Bull chamou o holandês para os boxes e colocar pneus intermediários bem no momento em que a chuva aumentou. Um novo pit-stop foi necessário para colocar os pneus certo. E iniciar uma das pilotagens mais impressionantes dos últimos tempos. Largando atrás do safety-car em 16º, Max Verstappen começou uma recuperação nas dezesseis voltas seguintes que ficará para sempre na memória de quem assistiu o Grande Prêmio do Brasil do último domingo. Verstappen passava os demais pilotos, os melhores do mundo, numa pista encharcada e desconhecida para o holandês, como se os outros fossem amadores, enquanto o piloto da Red Bull parecia ter um novo tipo de pneu de chuva, que lhe fazia andar até 2s mais rápidos do que seus pares. Para sorte de Nico Rosberg no quesito campeonato, a corrida acabou e Verstappen terminou em terceiro lugar. Ninguém sabe o futuro, mas Max Verstappen vem se mostrando não apenas um futuro campeão e demolidor de recordes de precocidade, mas uma estrela gigante na história da F1.

Figurão(BRA): Williams

Na bonita despedida de Felipe Massa frente ao seu público, bem que a Williams poderia ter colaborado um pouco com o seu piloto e ter dado um carro melhor para o brasileiro ter se apresentado melhor em Interlagos. A quarta posição no segundo treino livre foi apenas uma ilusão, apenas para Massa aparecer bem nos jornais de sábado, mas já na classificação a triste realidade veio à tona com os dois pilotos da Williams, incluindo um dos protagonistas do final de semana, ficando de fora do Q3. Após a classificação, Massa falou bastante em chuva poder ajuda-lo na corrida, mas o brasileiro pareceu esquecer de dois pequenos detalhes. Um é que o próprio Massa nunca foi um virtuose na chuva. Outro é que a Williams, mesmo nos bons tempos, nunca teve um carro bom o suficiente em pista molhada. Imagina agora, em má fase. A chuva veio forte em Interlagos e a Williams, atrapalhada e tentando dar uma boa despedida para Massa no Brasil, colocou pneus intermediários nos carros dos seus dois pilotos, com resultados muito ruins para ambos. Pelo menos o acidente de Massa, claramente indesejado, propiciou a bela cena vista em Interlagos, com o piloto brasileiro sendo aclamado pelo público e pelas equipes. Porém, em resultados práticos, com Bottas fora dos pontos, a Williams se complicou de vez na luta com a Force India no Mundial de Construtores, já que Pérez perdeu o pódio por muito pouco e Hulkenberg pontuou bem. Num final de semana emocional por Felipe Massa, a Williams teve outro Grande Prêmio para esquecer e ficando cada vez mais para trás em relação à Force India, o time de Grove terá que se conformar com um quinto lugar no Mundial de Construtores, depois de dois terceiros lugares nas duas últimas temporadas e ter começado 2016 falando em brigar por vitórias. Porém, o final de ano se mostra o inverso para a Williams e se a equipe quiser tirar o quarto lugar da Force India no Mundial de Construtores em Abu Dhabi, corrida final de 2016, precisaria chover no deserto!

domingo, 13 de novembro de 2016

Respeito

Muitas pessoas, em variadas funções e áreas, conseguem sucesso, ganham dinheiro e podem até se tornar ricas ao longo de suas carreiras. Porém, suas atitudes podem fazer esse sucesso estéril, pois para algumas dessas pessoas lhe faltem algo que muitas pessoas que não conseguiram um terço do seu sucesso tem: respeito.

No esporte, não faltam supercampeões que são vaiados, enquanto atletas menos vitoriosos são aplaudidos por ontem passam. Felipe Massa vinha fazendo uma corrida ruim em sua despedida em Interlagos como piloto de F1. Felipe nunca foi um bom piloto na chuva e como a Williams também não é muito fã de corridas embaixo d'água, Massa estava fora da zona de pontuação, se arriscando com pneus intermediários numa pista muito molhada, até ser uma vítimas da Subida do Café e bater forte, acabando sua corrida.

Massa saiu do carro e na frente da torcida, começou uma das cenas mais emocionantes dos últimos tempos na F1. Mesmo tendo batido, Massa era ovacionado pela torcida, enquanto chorava e carregava a bandeira brasileira. Em sua volta aos boxes, enquanto a corrida estava novamente com o safety-car na pista por causa do seu acidente, Massa era recebido nos boxes sob aplausos de pé pela equipe Mercedes, Ferrari (onde correu vários anos) e por fim, pela Williams. Se cruzasse na frente do box de outras equipes, certamente Massa teria o mesmo tratamento. 

Felipe Massa não foi Campeão Mundial, mas talvez conseguiu algo mais importante do que mais um troféu em sua estante: o respeito da F1. 

Demorou, mas entregou

Nós, brasileiros, não temos muita noção do quão importante é Interlagos para o automobilismo mundial, do tamanho palco que a pista paulistana é. Mais uma vez, Interlagos foi palco de cenas emocionantes, uma grande corrida e muita confusão. E quase tudo isso não acontecia, por causa da chuva que caiu (e caiu forte) em São Paulo hoje, causando vários atrasos, mas quem ficou até o final, não deve ter se arrependido. As cenas de Felipe Massa quando este abandonou entrou para a história da F1, gostem ou não dele. A dobradinha da Mercedes foi eclipsada pelo impactante desempenho de Max Verstappen nas últimas voltas, quando saiu de 16º para 3º numa das performances mais emocionantes dos últimos tempos na F1. Não faltaram histórias para a edição 2016 do Grande Prêmio Barsil.

Após alguns anos de ausência, a chuva foi parte importante do Grande Prêmio do Brasil, mas como fala a triste música 'Suplica Cearense', podia ter chovido, mas chovido de mansinho, pois o aguaceiro quase cancelou a prova, além de ter proporcionado várias cenas perigosas. A situação estava claramente complicada quando Romain Grosjean, que é um bom piloto, bateu seu carro quando se encaminhava para o grid. A corrida começou atrás do safety-car, causando revolta nas Redes Sociais. 'Pilotos frouxos', 'Acabaram com a F1' e coisas desse tipo foram vistas aos montes para quem acompanhava o Facebook enquanto a corrida era paralisada seguidamente. Provavelmente essas mesmas pessoas criticaram a mesma FIA que promoveu esse pára-corre-pára, quando a entidade deixou a corrida rolar em Suzuka/2014, tendo como resultado o trágico acidente de Jules Bianchi. Muitas vezes se traduzem insegurança como coisa de 'cabra macho'. Que as atitudes precipitadas e perigosas de outros tempos como 'bons tempos'. O acidente de Raikkonen, quando este rodou no meio da reta dos boxes, numa relargada estando em terceiro poderia ser trágico, tanto para o finlandês, como para quem poderia ter o azar de atingi-lo em cheio. Todo mundo quer corrida e emoção, mas não à custa da segurança dos pilotos e até mesmo das pessoas envolvidas na prova. 

Quando a corrida começou de verdade, Hamilton dominou a prova numa vitória de ponta a ponta, fazendo com que o inglês assumisse isoladamente o segundo lugar do ranking histórico de pilotos com mais vitórias na F1, superando Alain Prost. Além disso, Lewis finalmente venceu em Interlagos e como o inglês adora Senna, viu a torcida gritar o nome do seu ídolo no pódio. Apesar da clara felicidade, Hamilton sabe que agora o título saiu ainda mais de suas mãos. Mesmo em condições traiçoeiras, onde quase perdeu o controle do carro na Subida do Café, Rosberg fez a corrida com o regulamento debaixo do braço e agora pode ser terceiro colocado em Abu Dhabi para ser campeão, sendo que o carro que tem em mãos acabou de conquistar a quarta dobradinha consecutiva, demonstrando que a Mercedes simplesmente não teve rivais em 2016, principalmente nessa reta final de temporada. Hamilton agora depende do imponderável para ser tetracampeão, enquanto Nico Rosberg, numa corrida onde tudo podia dar errado, fez o que estava no seu script.

Se a Mercedes conseguiu mais uma dobradinha deve-se a um erro tático da Red Bull, que trouxe Max Verstappen na hora errada para os boxes, fazendo-o usar pneus intermediários, bem no momento em que a chuva aumentou. O holandês, que andou boa parte da corrida em segundo, caiu de 3º para 16º faltando poucas voltas para o fim e com a pista mais molhada do que algumas passagens antes. Algumas exibições são tão empolgantes, que acabam entrando na história e só o futuro dirá, mas podemos ter presenciado em Interlagos um verdadeiro marco na F1 para os próximos anos. A forma como Max Verstappen pilotou debaixo de chuva beirou o impossível, de tão genial que foi. O holandês passou quem via pela frente com uma facilidade que parecia que Max havia colocado pneus especiais, com uma aderência superior aos demais competidores. Verstappen deixou seu companheiro de equipe para trás de forma constrangedora para Ricciardo. Sendo que o australiano tinha trocado também seus pneus algumas voltas antes. Numa tática arriscada, Verstappen fazia uma trajetória por fora nas curvas rápidas, ganhando mais velocidade, mas havia um pequeno detalhe: esses locais onde Max estavam muito mais molhados que a linha de dentro. Porém, o holandês não se fez de rogado e passou por esses locais encharcados com a maestria de um piloto com o dobro de sua idade, passando Alonso e Vettel como se essas lendas fossem apenas aprendizes. Verstappen vibrou com o terceiro lugar, assim como a Red Bull, a torcida brasileira e toda a F1. Podemos ter visto que o atrevido holandês é verdadeiramente um gênio, que pode dominar a F1 nos anos vindouros.

Sérgio Pérez foi a última vítima de Verstappen e perdeu o lugar no pódio, que foi seu por boa parte da corrida. Vettel saiu da pista na Subida do Café, teve sorte em não bater, caiu para as últimas posições e ganhou vários lugares durante a corrida, mas empacou por várias voltas em Carlos Sainz, impedindo uma melhor posição para o piloto da Ferrari, mesmo que fosse difícil segurar Max nas voltas finais. A Subida do Café viu momentos tensos com Rosberg, Verstappen, Alonso e Vettel, além dos acidentes de Massa e Ericsson, mas também viu o momento pastelão da corrida, quando Jolyon Palmer bateu em Kvyat quando a corrida estava atrás do safety-car. A reação do russo no rádio chegou a ser hilária, com ele não sabendo por onde e por que tinha sido atingido! Hulkenberg foi outro que fez uma corrida de recuperação, mas acabou ficando atrás de Sainz, que fez uma bela corrida de oportunidade, voltando a marcar bons pontos após muito tempo. Falando em pontos, Felipe Nasr fez sua melhor corrida na F1 no momento mais oportuno possível, quando a sua situação na categoria para 2017 parece piorar a cada dia. Superado constantemente por Ericsson, o brasiliense esperou por uma corrida confusa como a de hoje para fazer um algo a mais, levando a sua limitada Sauber aos pontos, tirando a equipe do zero em 2016. Numa corrida corajosa, Nasr andou parte da corrida em sexto, mas quando a prova teve uma maior continuidade, o piloto da Sauber foi sendo alcançado por pilotos com carros melhores do que o dele, porém, Nasr ainda se manteve na zona de pontuação, ficando à frente de Esteban Ocon, da Manor, garantindo uma posição melhor para a Sauber no Mundial de Construtores, demonstrando a todos que merece a vaga na equipe em 2017. Ocon foi outro que provou que merece ser contratado pela Force India, perdendo a chance de marcar seu primeiro ponto na F1 quando foi ultrapassado nas voltas finais por Fernando Alonso. 

A corrida propriamente dita demorou muito a acontecer, mas dificilmente alguém esquecerá dela tão cedo. Seja pela despedida de Massa (próximo post), pela dobradinha da Mercedes, pela exibição de Verstappen ou pela forte chuva. Muitos consideraram Rosberg sortudo pelo pit-stop do holandês, mas era bem capaz de Verstappen também ter ido para cima de Hamilton e numa briga entre dois pilotos agressivos, tudo poderia acontecer. Até mesmo a corrida sobrando para Rosberg ou até mesmo Lewis ter ficado em segundo e descontado menos pontos para Rosberg. A chuva atrasou e os torcedores até vaiaram, mas Interlagos mais uma vez foi palco de uma corrida para ficar na memória.

Despedida digna

Apesar de não ser dos pilotos mais populares do mundo, ninguém pode negar o talento de Jorge Lorenzo. O espanhol que se despede da Yamaha fez uma corrida sublime na última etapa de 2016 da MotoGP em Valencia, acabando com sua seca pessoal, além da própria Yamaha, que mesmo vencendo o Mundial de Construtores, já não vencia há muito tempo na MotoGP.

A corrida foi inteiramente dominada por Lorenzo, da primeira a última volta, numa rara vitória de ponta a ponta em 2016. Em condições normais de temperatura e pressão, Lorenzo é um piloto fortíssimo e numa corrida sem maiores intempéries como a de hoje, o espanhol dominou como normalmente faz: largando muito bem, imprimindo um ritmo alucinante nas primeiras voltas e administrando até a bandeirada. Saindo da Yamaha após nove temporadas, Lorenzo terá um grande desafio, que será domar a Ducati, algo que apenas Casey Stoner conseguiu, que mais uma vez mostrou uma potência absurda, que fez Iannone engolir seus adversários na reta dos boxes várias vezes, mas com uma velocidade de curva mais baixa do que as rivais japonesas, devido ao peso da moto e a pouco maneabilidade do chassi. Juntando a retomada brutal do motor italiano, Lorenzo terá muito trabalho em 2017, além de ter que aperfeiçoar sua pilotagem em condições fora do normal, pois durante uma temporada inteira, não haverá dias como o de hoje toda etapa do Mundial.

Se Lorenzo dominou sozinho e soberano lá na frente, sobrou emoção na disputa pela segunda posição, tendo como protagonistas Márquez, Iannone e Rossi, enquanto Maverick Viñales assistia tudo de perto, mas sem poder se meter muito na briga, pela falta de potência de sua Suzuki. Pulando de sétimo para segundo na largada, Iannone mostrava um ritmo agressivo para se manter na frente das mais equilibradas Yamaha e Honda de Rossi e Márquez, respectivamente. Para isso, Iannone usava a prodigiosa potência da Ducati na reta dos boxes, suficiente para ultrapassar quem estivesse na sua frente na saída da curva 14. Rossi lutou muito com o compatriota, mas foi Márquez, vindo de duas corridas erráticas após ter garantido o título no Japão, quem conseguiu superar Iannone e até mesmo ensaiar uma perseguição à Lorenzo, mas o espanhol da Yamaha já tinha aberto uma diferença boa o suficiente para não precisar se preocupar com Márquez. Com três títulos na MotoGP e tendo uma montadora como a Honda por trás, Márquez já parte como favorito para 2017, que praticamente se inicia nessa terça-feira, com o primeiro teste das motos de 2017 em Valencia mesmo. Após mudar sua mentalidade de 'tudo ou nada' em 2016, Márquez usou seu talento para garantir o espetáculo com várias vitórias durante o ano, com uma pilotagem mais cerebral, onde os pontos eram mais importantes do que tentar a vitória e no final amargar uma queda.

Mesmo com sua imensa velocidade, Iannone acabou preterido na Ducati pelo mais confiável Doviziozo, que fez uma corrida apagada após vencer na Malásia. Se repetisse corridas como a de hoje, certamente Iannone seria companheiro de equipe de Lorenzo na Ducati em 2017, mas suas quedas em profusão fizeram com que a Ducati preferisse a experiência e a confiabilidade de Doviziozo. De malas prontas para a Suzuki, que tem menos potência, mas é mais equilibrada, Iannone terá a difícil missão de substituir Maverick Viñales, que também não terá vida fácil em 2017, pois terá que substituir Lorenzo na Yamaha, e seus três títulos e 44 vitórias. Se Iannone botar na cabeça que terminar as corridas é importante e Viñales continuar seu desenvolvimento, ambos tem boas chances de cumprir um bom papel em suas novas equipes a partir do ano que vem. Rossi ficou com o segundo vice-campeonato seguido amargando um quarto lugar. A décima fica cada vez mais distante do mito italiano.

A MotoGP fecha as cortinas para uma temporada espetacular, mas 2017 também promete com as várias novidades que vem por aí, incluindo aí a chegada de vários novos talentos da Moto2, como o bicampeão Johann Zarco, o promissor Alex Rins, o espetacular Sam Lowes, além do questionável Jonas Folger. As mudanças nas equipes principais também dará um tempero todo especial para o próximo ano. Valencia viu uma corrida cheia de despedidas, mas longe de ser triste. Houve festa para todos os pilotos e equipes. Que venha 2017, pois 2016 deixou muitas saudades! 

sábado, 12 de novembro de 2016

Mais uma disputa particular

A falta de carisma de um e a falta de graça de outro faz com que a disputa para ver quem será o campeão de 2016 seja um pouco agridoce. Nico Rosberg (sem carisma) está correndo com o regulamento debaixo do braço, pois nas duas corridas que restam, o alemão nem precisa ser segundo colocado em todas, algo que com o carro que tem, facilita ainda mais a vida de Rosberg. Tudo o que Lewis Hamilton (sem graça) tem que fazer é vencer as corridas que restam e simplesmente secar seu rival. Na classificação de hoje, Hamilton fez seu papel e estará em primeiro amanhã à tarde, mas terá ao seu lado Nico Rosberg. Também em seu papel para conseguir seu primeiro título.

Após algum tempo, a chuva voltou a assustar a F1 em Interlagos, mas na classificação ficou só no susto mesmo e a Mercedes ficou com mais uma dobradinha. Hamilton dominou na sexta, Rosberg liderou no terceiro treino livre, mas o inglês virou o jogo na classificação, sendo mais rápido do que o companheiro de equipe nas três partes da classificação, mas sempre com os dois pilotos da Mercedes muito próximos. O time comandado por Toto Wolff e Niki Lauda fez de tudo para que Rosberg e Hamilton disputassem na pista com as condições mais idênticas possíveis, resumidamente, que seja tudo decidido na pista. Porém, há uma espécie de falta de sal em ambos os pilotos que faz a decisão de 2016 um pouco non-sense, apesar do claro favoritismo de Hamilton na corrida e de Rosberg no campeonato. Na briga pelo resto, Kimi Raikkonen foi um surpreendente terceiro colocado, enquanto os brasileiros não fizeram valer o fator casa, ficando ambos abaixo das expectativas.

Num GP Brasil cheio de anúncios, a situação de Felipe Nasr não é das melhores, com o brasiliense mais uma vez tomando tempo de Marcus Ericsson e, pior, largando em último na frente de sua torcida e seus patrocinadores. Vinte anos atrás, Nasr seria uma espécie de Ricardo Rosset, que entrou e saiu da F1 sem ser notado. Mas a carência de brasileiros na F1 faz com que todos procurem qualidades em Nasr, mesmo os resultados não mostrando exatamente uma bela passagem do brasileiro na F1, num 2016 terrível para Felipe. Renault (Palmer), Force India (Ocon) e Haas (Magnussen) anunciaram seus pilotos nesse final de semana, com isso sobraram para Nasr as vagas na Sauber (onde está) e na Manor, os fecha-grid da F1 e que dificilmente irão mudar esse status em 2017. A Sauber ainda se recupera da crise econômica que passou e incrivelmente manterá Monisha Katelborn, responsável pela bancarrota da equipe, mesmo com a compra da escuderia por um grupo de investimento. Já a Manor tem uma ligação cada vez maior com a Mercedes, no qual Nasr não tem o mínimo contato. O futuro do Brasil na F1 é sombrio. Massa ficou de fora do Q3, mas ainda foi aplaudido pela torcida. Nos próximos tempos, a comparação com Rubens Barrichello e Felipe Massa aumentará bastante, mas o segundo tem uma boa vantagem no quesito aposentadoria. Enquanto Massa foi homenageado por toda a F1, passando até mesmo pela torcida que tanto o criticou em alguns momentos, Barrichello foi praticamente enxotado da F1 e por alguns anos, ainda tentou voltar forçando a barra.

Assim como Spa, Interlagos conta com a instabilidade climática para animar sua corrida e a expectativa para amanhã é de chuva. Quem ganha com isso é Hamilton, que hoje fez sua 60° pole na carreira, pois além de melhor piloto, fará com que Rosberg saía de sua zona de conforto, pois em condições normais, o alemão não teria muito trabalho para ficar com o título em corridas até mesmo burocráticas. Por isso, nessa disputa particular sem muitos arroubos de emoção, Nico Rosberg terá que olhar muito para o lado da represa amanhã...

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O doutor

Jonathan Palmer foi o típico caso de um piloto que não entregou tudo que dele se esperava, ainda mais sendo inglês, onde sempre há a torcida para que um compatriota seu se torne uma estrela na F1. Porém, se dentro das pistas Palmer não conseguiu grandes coisas, fora dela o inglês que recém completou 60 anos ganhou muito dinheiro e obteve um grande sucesso.

Jonathan Charles Palmer nasceu no dia 7 de novembro de 1956 em Lewishan, na Inglaterra, onde teve uma boa educação a ponto de ter se formado em medicina e ter trabalhado por algum tempo como médico em hospitais na Inglaterra. Enquanto estudava medicina, Palmer participava de corridas amadoras com sucesso, fazendo com que Jonathan abandonasse a promissora carreira de médico para se aventurar no automobilismo. Por causa de sua breve passagem na medicina, por algum tempo Palmer ficou conhecido como 'The Doctor'. Em 1979, já com 23 anos, Palmer entrou na F-Ford Inglesa e o inglês fez um bom papel, a ponto de ser contratado pela equipe de Dick Benett, a melhor da F3 Inglesa, em 1981. Mesmo ainda sendo um novato, Palmer dominou o campeonato e venceu o tradicional certame inglês com oito vitórias e sete poles. Isso fez levantar as sobrancelhas dos ingleses, ávidos em colocar bons pilotos na F1.

Ainda em 1982 Palmer conseguiu um primeiro teste com a Williams, onde logo se tornaria piloto de teste da equipe, enquanto estreava na F2 Europeia na equipe de fábrica da Ralt. Em ano de aprendizado, Palmer consegue um nono lugar no campeonato, tendo como melhor resultado um terceiro lugar em Donington Park. Mais preparado na F2, Palmer domina o campeonato e com seis vitórias, se sagrou campeão europeu de F2 em 1983. A Williams entrega à Palmer um terceiro carro no Grande Prêmio da Europa em Brands Hatch e o inglês, levando-se em conta as limitações dos motores aspirados na época e ter sido sua primeira corrida, consegue levar seu carro até o fim. Com o título da F2 debaixo do braço, Palmer esperava um bom lugar na F1 em 1984. Ledo engano. A Williams tinha contrato com Keke Rosberg e Jacques Laffite até o final de 1984 e Jonathan teria que se conformar com um contrato com a RAM, dona do pior carro do ano. Ao lado do atrapalhado Philippe Alliot, Palmer não largou nenhuma vez no top-20, viu a bandeirada apenas quatro vezes e não pontuou. Porém, se na F1 as coisas não foram muito felizes, no Mundial de Marcas Palmer conseguiu uma vitória nos 1000 km de Brands Hatch, ao lado de Jan Lammers. Na F1, Palmer sai da RAM e vai para uma equipe novata: a Zakspeed. O time alemão usou a experiência de Palmer em acertar carros dos tempos de piloto de testes da Williams, mas os resultados foram parcos em 1985, onde o time participou apenas de algumas corridas. 

A carismática Zakspeed novamente teria Palmer como único piloto em 1986, mas fazendo parte de todas as corridas, além de ter um segundo piloto em algumas provas, mas os resultados continuavam a não aparecer. Palmer teve que reviver seus dotes de médico no acidente que encerrou a carreira de Jacques Laffite em Brands Hatch, onde o inglês foi o primeiro que chegou ao carro do francês. Ainda bem cotado pelos títulos nas categorias de base e as boas corridas no Mundial de Marcas, Palmer chegou a negociar com a McLaren em 1987, mas o inglês acabou contratado pela Tyrrell, onde participaria de um campeonato a parte. Balestre queria acabar com os motores turbo e fazia isso de forma gradual, motivando equipes menores a abraçar os motores aspirados, criando até mesmo um campeonato a parte. A melhor equipe ficaria com o troféu Colin Chapman. O melhor piloto, com o troféu Jim Clark. Esse seria o melhor momento de Palmer na F1. A Tyrrell era claramente a melhor equipe com motores aspirados e por isso, Palmer disputou com seu companheiro de equipe Philippe Streiff o título simbólico. Contudo, Palmer fez mais e no cômputo geral, marcou seus primeiros pontos na F1 no Grande Prêmio de Mônaco, com um quinto lugar. Numa pista em que não favorecia os motores aspirados, Palmer levou a Tyrrell e um honroso quinto lugar em Hockenheim e na última etapa do ano, em Adelaide, Jonathan ficou em quarto lugar, garantindo para si o troféu Jim Clark como o melhor piloto com motores aspirados.

Palmer ficaria outro ano na Tyrrell, mas 1988 não seria tão brilhante como no ano anterior, mas o inglês ainda marcaria pontos onde o motor não era tão importante, como Mônaco e Detroit. Em seu último ano na F1, Palmer sofreria mais e mais com a falta de desempenho da Tyrrell, só conseguindo dois sextos lugares como melhor resultado. No Canadá, debaixo de muita chuva, Palmer marcaria sua única melhor volta na F1. Porém, o inglês seria totalmente ofuscado pelo furacão chamado Jean Alesi, que em sua primeira corrida de F1, conseguiu um quarto lugar com a Tyrrell. Ainda com 33 anos, Jonathan Palmer abandonou a F1 com 83 corridas, uma melhor volta e 14 pontos.

Palmer voltaria a ser piloto de testes, agora na McLaren em 1990, usando sua experiência para melhorar o ótimo carro da equipe e ajudar no segundo título de Senna. Entre 1990 e 1991, Palmer participou do Mundial de Marcas, primeiro com a Porsche e depois com a Mercedes, sem muito sucesso. Ainda em 1991, Palmer participou do famoso campeonato BTCC, com uma BMW até voltar à F1 em 1993, substituindo James Hunt quando este morreu, nos comentários pela BBC ao lado de Murray Walker. Se dentro da pista, Palmer não foi essas coisas toda, fora das pistas o inglês usou seu faro pelos negócios para faturar. Em 1998 ele criou a F-Palmer Audi, numa categoria monomarca com apoio da montadora alemã e com o objetivo de ser uma categoria mais barata do que a F3. O primeiro vencedor foi o saudoso Justin Wilson e logo Palmer passou a empresariar o inglês, levando-o no ano seguinte para a F3000. Comentou-se na época que o carro de Wilson tinha 'cuidados especiais', por o piloto ser empresariado por Palmer, dono da categoria, que por esses comentários, caiu em discredibilidade.  Na virada do milênio, Palmer criou a PalmerSport, empresa que representava pilotos e negócios com o automobilismo. Palmer comprou quatro tradicionais circuitos (Brands Hatch, Oulton Park, Snetterton e Caldwel Park) e passou a promover categorias novamente, como a F4 Britânica e o forte Campeonato Inglês de Superbike. Além dos negócios, Palmer viu seus dois filhos o seguirem na profissão de piloto. Jolyon foi campeão na GP2 e hoje está na equipe Renault de F1, enquanto o mais novo, Will, venceu a F4 Britânica em 2015 e tenta seguir os passos do pai e do irmão mais velho.

Parabéns!
Jonathan Palmer

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Seppi

Vindo de um país onde se era proibido corridas de carros, era difícil para um jovem se encantar pelas corridas na Suíça, porém, o afável Jo Siffert viu uma corrida de carros pela primeira vez antes da proibição e decidiu se tornar piloto de corridas. Rapidamente nas motos, mas definitivamente nos carros, Siffert se tornou um dos pilotos mais fortes de sua geração, ganhando muito espaço nas corridas do Mundial de Marcas, antes de brilhar definitivamente na F1, onde fez várias corridas nos aos 1960 sem mostrar muitos resultados, mas todos reconheciam o talento desse popular piloto suíço, que nessa semana completou 45 anos de sua morte.

Joseph Siffert nasceu no dia 7 de julho de 1936 em Fribourg, na Suíça, numa fazendo local, já que sua família era proprietária de uma fazenda de laticínios. Mesmo morando no campo, Siffert logo se apaixona por algo bem cosmopolita, que eram as corridas, quando assistiu ao Grande Prêmio da Suíça de 1948 e decidiu se tornar piloto. Porém, Seppi, como era conhecido pelos seus amigos, demoraria um bom tempo antes de abraçar sua profissão de vez. Somente nove anos após ver sua primeira corrida, Jo Siffert faz suas primeiras corridas, ainda assim, com motos, já que desde 1955 eram proibidas corridas de carros na Suíça, mas eram permitidas corridas em duas rodas. Jo demora dois anos para se sagrar Campeão Suíço de Motovelocidade na categoria 350cc, em 1959, mas a verdadeira paixão de Siffert eram mesmo os carros e logo no ano seguinte ele se mudou para as quatro rodas, disputando a F-Junior, categoria o que hoje poderia ser uma F3. Siffert se destaca rapidamente e consegue o vice-campeonato em 1961, com o mesmo número de pontos do sul-africano Tony Maggs, mas isso não significava um bom contrato para a F1, objetivo do suíço. 

A primeira corrida de F1 de Siffert é pela equipe da federação suíça em 1962, com um Lotus e ainda durante o ano, o suíço se muda para a equipe Filipinetti, completando a temporada sem marcar pontos, além de ter alguns problemas com seus chefes. De personalidade forte, além de cultivar um elegante bigode, Siffert monta sua própria equipe em 1963, marcando seu primeiro ponto no Grande Prêmio da França, com um sexto lugar. Para a temporada de 1964, Siffert troca a Lotus pela Brabham e os resultados melhoram, com um quarto lugar no sempre complicado circuito de Nürburgring. Isso chama a atenção do velho chefe de equipe Rob Walker, que contrata Siffert ainda em 1964 e o suíço não decepciona, conseguindo um terceiro lugar logo na estreia pela equipe no Grande Prêmio dos Estados Unidos. Seria um longo relacionamento entre Siffert e Walker, onde o suíço mostraria lealdade ao chefe de equipe inglês, mesmo que seu talento fosse latente e que poderia lhe posicionar em melhores equipes, na medida em que estar numa equipe de fábrica ficava cada vez mais essencial na F1 dos anos 1960. Siffert conseguia bons resultados eventuais com a equipe particular de Rob Walker, primeiro com um Brabham e depois com um Cooper-Maserati, mas não era interessante para as equipes de fábrica perderem para um time cliente. Por isso, entre 1965 e 1967, Siffert consegue apenas quatro quartos lugares como melhor resultados, além de muitos abandonos.

Contudo, esse período não seria apenas de resignação no meio do pelotão da F1 para Jo Siffert. Como era comum naqueles tempos, pilotos poderiam ter um duplo expediente e participavam ativamente de mais de uma categoria. Mostrando velocidade e talento, além de ter experiência prévia em corridas de longa duração, Siffert é contratado pela Porsche no Mundial de Marcas em 1966 e com o apoio oficial de uma fábrica, o suíço se mostraria um verdadeiro piloto de ponta nessa categoria vencendo várias corridas importantes, além de liderar grandes projetos da Porsche. Em 1967 Siffert participa do Campeonato Europeu de F2 como piloto oficial da BMW, mas o suíço não é páreo para o poderio da Matra. Em 1968, Siffert vence as 24 Horas de Daytona, as 12 Horas de Sebring e os 1000 km de Nürburgring com a Porsche, além de ver sua situação melhorar na F1. A Lotus tinha lançado o belo e histórico Lotus 49 com motor Ford Cosworth em meados de 1967 e Rob Walker consegue um acordo com Colin Chapman para usar os carros na temporada 1968. Mesmo ainda estando numa equipe cliente, Siffert teria um carro realmente de ponta na F1, mas a primeira metade da temporada seria complicada para Siffert e a equipe Rob Walker, com vários abandonos. Para o Grande Prêmio da Inglaterra, Siffert receberia a versão B do Lotus 49, que era idêntico aos usados pela equipe de fábrica da Lotus e Siffert consegue um bom quarto lugar no grid. Após ver os pilotos oficiais da Lotus abandonarem, Siffert se torna a única Lotus no pelotão, numa luta acirrada com a Ferrari de Chris Amon pela primeira posição. Siffert e Amon eram reconhecidos como bons pilotos, mas não haviam vencido ainda na F1. Porém, Amon perde rendimento no final e Jo Siffert vence sua primeira corrida na F1, dando à Rob Walker sua última vitória na F1, além de ter sido a última vitória de um equipe cliente na F1. O suíço tem sua melhor temporada até então na F1, com direito a uma pole no México, última corrida da temporada de 1968.

Com um bom carro na F1, Siffert também teria que desenvolver o novo Porsche 917 no Mundial de Marcas durante 1969, carro que iria entrar para a história do automobilismo. Siffert venceria em Brands Hatch, Monza, Spa, Nürburgring, Watkins Glen e Zeltweg, dando a Porsche, do lendário chefe de equipe John Wyer, o título do Mundial de Marcas, lembrando que não existia um Mundial de Pilotos. Siffert tinha como companheiro de equipe na Porsche o atrevido mexicano Pedro Rodríguez, com quem Siffert tinha uma relação de amor e ódio, pois o suíço algumas vezes se zangava com a velocidade e audácia de Rodríguez, mas gostava bastante do mexicano fora das pistas. Na F1, Siffert tem outro bom ano na equipe Rob Walker, com dois pódios (Mônaco e Holanda) e um nono lugar no Mundial de Pilotos. As boas prestações de Siffert na F1 e no Mundial de Marcas chamam a atenção da Ferrari, que tenta contratar o suíço para os dois campeonatos. Siffert queria dar um passo na F1, mas ainda tinha contrato com a Porsche, que o pede para assinar contrato com a March, que estreava na F1 em 1970. A equipe era ambiciosa, mas pecava pelo noviciado e por ser, talvez, ambiciosa demais. A primeira vez de Siffert numa equipe de fábrica na F1 não foi uma boa experiência, com o suíço tendo várias quebras e não pontuando sequer uma vez. O sucesso de Siffert no Mundial de Marcas continuava, com uma vitória na mítica Targa Florio em 1970.

Com a decepção na March, Siffert se muda para a BRM em 1971, equipe que já tinha sido campeã nos anos 1960, mas patinava nos anos anteriores. A grande carta na manga da BRM era o potente motor V12, que funcionava muito bem em circuitos rápidos. O ano de 1971 começou muito bem para Siffert, vencendo os 1000 km de Buenos Aires com um Porsche 917, corrida marcada pela trágica e bizarra morte de Ignazio Giunti, da Ferrari. Siffert teria como companheiro de equipe Pedro Rodríguez, formando com o mexicano a mesma dupla no Mundial de Marcas. A BRM tem um bom ano em 1971, mas a equipe e Siffert sofrem um enorme baque com a morte de Rodríguez numa corrida de Endurance em Norisring. Siffert toma as rédeas da equipe e na Áustria, pista onde o motor era essencial, o suíço vence com direito e hat-trick (pole, vitória e melhor volta). Na última corrida da temporada, Siffert fecha o ano com um segundo lugar em Watkins Glen, atrás de François Cevert, terminando o campeonato com um promissor quarto lugar, o melhor ano de 'Seppi' na F1. Para 1972 a perspectiva era boa, com a assinatura do contrato com a Marlboro, mas antes de encerrar 1971, a F1 faria uma última prova, a Corrida dos Campeões, prova em homenagem ao campeão do mundo, no caso, Jackie Stewart.

Como sempre, a Corrida dos Campeões seria realizada em Brands Hatch e o piloto mais rápido da sexta-feira ganhava cem garrafas de champanhe. Siffert estava com um carro bem acertado naquela tarde de 24 de outubro de 1971, mas o suíço tem um toque com a March de Ronnie Peterson ainda na largada. Siffert continua na corrida normalmente, mas na volta 12 a suspensão, avariada pelo toque com Peterson, quebrou de vez e Siffert perdeu o controle do seu BRM, batendo num barranco. Imediatamente começou um incêndio de grandes proporções e mesmo com todos os esforços, o fogo não foi debelado. Jo Siffert, aos 35 anos, morreu no local, na frente de todos os pilotos que pararam seus carros, sem poder fazer nada. Mesmo mal acostumado com tantas mortes nas pistas, Graham Hill chorou dentro do seu carro ao ver a cena. Emerson Fittipaldi sempre se emociona quando lembra do acidente fatal de Siffert. Isso demonstra bem a popularidade do suíço dentro do paddock, assim como a impotência dos pilotos frente aos acidentes que assolavam a F1 na época. Várias medidas de segurança foram adotadas após o acidente de Siffert, que descobriu-se depois ter morrido por inalação de fumaça tóxica, não pelo fogo em si. Mais de 50.000 pessoas acompanharam o velório de Jo Siffert, incluindo um Porsche 917, que o suíço pilotou tão bem deixou tanta saudade.