quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Seppi

Vindo de um país onde se era proibido corridas de carros, era difícil para um jovem se encantar pelas corridas na Suíça, porém, o afável Jo Siffert viu uma corrida de carros pela primeira vez antes da proibição e decidiu se tornar piloto de corridas. Rapidamente nas motos, mas definitivamente nos carros, Siffert se tornou um dos pilotos mais fortes de sua geração, ganhando muito espaço nas corridas do Mundial de Marcas, antes de brilhar definitivamente na F1, onde fez várias corridas nos aos 1960 sem mostrar muitos resultados, mas todos reconheciam o talento desse popular piloto suíço, que nessa semana completou 45 anos de sua morte.

Joseph Siffert nasceu no dia 7 de julho de 1936 em Fribourg, na Suíça, numa fazendo local, já que sua família era proprietária de uma fazenda de laticínios. Mesmo morando no campo, Siffert logo se apaixona por algo bem cosmopolita, que eram as corridas, quando assistiu ao Grande Prêmio da Suíça de 1948 e decidiu se tornar piloto. Porém, Seppi, como era conhecido pelos seus amigos, demoraria um bom tempo antes de abraçar sua profissão de vez. Somente nove anos após ver sua primeira corrida, Jo Siffert faz suas primeiras corridas, ainda assim, com motos, já que desde 1955 eram proibidas corridas de carros na Suíça, mas eram permitidas corridas em duas rodas. Jo demora dois anos para se sagrar Campeão Suíço de Motovelocidade na categoria 350cc, em 1959, mas a verdadeira paixão de Siffert eram mesmo os carros e logo no ano seguinte ele se mudou para as quatro rodas, disputando a F-Junior, categoria o que hoje poderia ser uma F3. Siffert se destaca rapidamente e consegue o vice-campeonato em 1961, com o mesmo número de pontos do sul-africano Tony Maggs, mas isso não significava um bom contrato para a F1, objetivo do suíço. 

A primeira corrida de F1 de Siffert é pela equipe da federação suíça em 1962, com um Lotus e ainda durante o ano, o suíço se muda para a equipe Filipinetti, completando a temporada sem marcar pontos, além de ter alguns problemas com seus chefes. De personalidade forte, além de cultivar um elegante bigode, Siffert monta sua própria equipe em 1963, marcando seu primeiro ponto no Grande Prêmio da França, com um sexto lugar. Para a temporada de 1964, Siffert troca a Lotus pela Brabham e os resultados melhoram, com um quarto lugar no sempre complicado circuito de Nürburgring. Isso chama a atenção do velho chefe de equipe Rob Walker, que contrata Siffert ainda em 1964 e o suíço não decepciona, conseguindo um terceiro lugar logo na estreia pela equipe no Grande Prêmio dos Estados Unidos. Seria um longo relacionamento entre Siffert e Walker, onde o suíço mostraria lealdade ao chefe de equipe inglês, mesmo que seu talento fosse latente e que poderia lhe posicionar em melhores equipes, na medida em que estar numa equipe de fábrica ficava cada vez mais essencial na F1 dos anos 1960. Siffert conseguia bons resultados eventuais com a equipe particular de Rob Walker, primeiro com um Brabham e depois com um Cooper-Maserati, mas não era interessante para as equipes de fábrica perderem para um time cliente. Por isso, entre 1965 e 1967, Siffert consegue apenas quatro quartos lugares como melhor resultados, além de muitos abandonos.

Contudo, esse período não seria apenas de resignação no meio do pelotão da F1 para Jo Siffert. Como era comum naqueles tempos, pilotos poderiam ter um duplo expediente e participavam ativamente de mais de uma categoria. Mostrando velocidade e talento, além de ter experiência prévia em corridas de longa duração, Siffert é contratado pela Porsche no Mundial de Marcas em 1966 e com o apoio oficial de uma fábrica, o suíço se mostraria um verdadeiro piloto de ponta nessa categoria vencendo várias corridas importantes, além de liderar grandes projetos da Porsche. Em 1967 Siffert participa do Campeonato Europeu de F2 como piloto oficial da BMW, mas o suíço não é páreo para o poderio da Matra. Em 1968, Siffert vence as 24 Horas de Daytona, as 12 Horas de Sebring e os 1000 km de Nürburgring com a Porsche, além de ver sua situação melhorar na F1. A Lotus tinha lançado o belo e histórico Lotus 49 com motor Ford Cosworth em meados de 1967 e Rob Walker consegue um acordo com Colin Chapman para usar os carros na temporada 1968. Mesmo ainda estando numa equipe cliente, Siffert teria um carro realmente de ponta na F1, mas a primeira metade da temporada seria complicada para Siffert e a equipe Rob Walker, com vários abandonos. Para o Grande Prêmio da Inglaterra, Siffert receberia a versão B do Lotus 49, que era idêntico aos usados pela equipe de fábrica da Lotus e Siffert consegue um bom quarto lugar no grid. Após ver os pilotos oficiais da Lotus abandonarem, Siffert se torna a única Lotus no pelotão, numa luta acirrada com a Ferrari de Chris Amon pela primeira posição. Siffert e Amon eram reconhecidos como bons pilotos, mas não haviam vencido ainda na F1. Porém, Amon perde rendimento no final e Jo Siffert vence sua primeira corrida na F1, dando à Rob Walker sua última vitória na F1, além de ter sido a última vitória de um equipe cliente na F1. O suíço tem sua melhor temporada até então na F1, com direito a uma pole no México, última corrida da temporada de 1968.

Com um bom carro na F1, Siffert também teria que desenvolver o novo Porsche 917 no Mundial de Marcas durante 1969, carro que iria entrar para a história do automobilismo. Siffert venceria em Brands Hatch, Monza, Spa, Nürburgring, Watkins Glen e Zeltweg, dando a Porsche, do lendário chefe de equipe John Wyer, o título do Mundial de Marcas, lembrando que não existia um Mundial de Pilotos. Siffert tinha como companheiro de equipe na Porsche o atrevido mexicano Pedro Rodríguez, com quem Siffert tinha uma relação de amor e ódio, pois o suíço algumas vezes se zangava com a velocidade e audácia de Rodríguez, mas gostava bastante do mexicano fora das pistas. Na F1, Siffert tem outro bom ano na equipe Rob Walker, com dois pódios (Mônaco e Holanda) e um nono lugar no Mundial de Pilotos. As boas prestações de Siffert na F1 e no Mundial de Marcas chamam a atenção da Ferrari, que tenta contratar o suíço para os dois campeonatos. Siffert queria dar um passo na F1, mas ainda tinha contrato com a Porsche, que o pede para assinar contrato com a March, que estreava na F1 em 1970. A equipe era ambiciosa, mas pecava pelo noviciado e por ser, talvez, ambiciosa demais. A primeira vez de Siffert numa equipe de fábrica na F1 não foi uma boa experiência, com o suíço tendo várias quebras e não pontuando sequer uma vez. O sucesso de Siffert no Mundial de Marcas continuava, com uma vitória na mítica Targa Florio em 1970.

Com a decepção na March, Siffert se muda para a BRM em 1971, equipe que já tinha sido campeã nos anos 1960, mas patinava nos anos anteriores. A grande carta na manga da BRM era o potente motor V12, que funcionava muito bem em circuitos rápidos. O ano de 1971 começou muito bem para Siffert, vencendo os 1000 km de Buenos Aires com um Porsche 917, corrida marcada pela trágica e bizarra morte de Ignazio Giunti, da Ferrari. Siffert teria como companheiro de equipe Pedro Rodríguez, formando com o mexicano a mesma dupla no Mundial de Marcas. A BRM tem um bom ano em 1971, mas a equipe e Siffert sofrem um enorme baque com a morte de Rodríguez numa corrida de Endurance em Norisring. Siffert toma as rédeas da equipe e na Áustria, pista onde o motor era essencial, o suíço vence com direito e hat-trick (pole, vitória e melhor volta). Na última corrida da temporada, Siffert fecha o ano com um segundo lugar em Watkins Glen, atrás de François Cevert, terminando o campeonato com um promissor quarto lugar, o melhor ano de 'Seppi' na F1. Para 1972 a perspectiva era boa, com a assinatura do contrato com a Marlboro, mas antes de encerrar 1971, a F1 faria uma última prova, a Corrida dos Campeões, prova em homenagem ao campeão do mundo, no caso, Jackie Stewart.

Como sempre, a Corrida dos Campeões seria realizada em Brands Hatch e o piloto mais rápido da sexta-feira ganhava cem garrafas de champanhe. Siffert estava com um carro bem acertado naquela tarde de 24 de outubro de 1971, mas o suíço tem um toque com a March de Ronnie Peterson ainda na largada. Siffert continua na corrida normalmente, mas na volta 12 a suspensão, avariada pelo toque com Peterson, quebrou de vez e Siffert perdeu o controle do seu BRM, batendo num barranco. Imediatamente começou um incêndio de grandes proporções e mesmo com todos os esforços, o fogo não foi debelado. Jo Siffert, aos 35 anos, morreu no local, na frente de todos os pilotos que pararam seus carros, sem poder fazer nada. Mesmo mal acostumado com tantas mortes nas pistas, Graham Hill chorou dentro do seu carro ao ver a cena. Emerson Fittipaldi sempre se emociona quando lembra do acidente fatal de Siffert. Isso demonstra bem a popularidade do suíço dentro do paddock, assim como a impotência dos pilotos frente aos acidentes que assolavam a F1 na época. Várias medidas de segurança foram adotadas após o acidente de Siffert, que descobriu-se depois ter morrido por inalação de fumaça tóxica, não pelo fogo em si. Mais de 50.000 pessoas acompanharam o velório de Jo Siffert, incluindo um Porsche 917, que o suíço pilotou tão bem deixou tanta saudade. 

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