quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Sobre as asas da Ferrari

Nessa manhã a Sauber anunciou uma parceria técnica com a Alfa Romeo a partir de 2018, indicando o retorno da mítica marca italiana à F1 após mais de trinta anos. Porém, a Alfa foi a primeira equipe dominante da F1, vencendo com ampla vantagem em 1950 com Farina e já enfrentando o crescimento da Ferrari em 1951 com Fangio. No final dessa temporada, a Alfa se retirou oficialmente da F1 para retornar apenas no final dos anos 1970, primeiro cedendo motores para a Brabham e depois com uma equipe própria, que nem de longe repetiu a performance da sua predecessora nos anos 1950.

Contudo, para quem está vibrando com a entrada de uma nova montadora na F1 é bom diminuir o facho. A verdade é que a Alfa Romeo está retornando à F1 com a benção da Ferrari e a parceria com a Sauber nada mais é que transformar a equipe suíça numa espécie de Toro Rosso da Ferrari, onde os italianos irão colocar seus jovens pilotos para maturar rumo à Ferrari. Com tão poucas vagas na F1 e com os programas de jovens pilotos tão em voga, a atitude da Ferrari é inteligente, além de ser politicamente bom ter dois aliados (Sauber-Alfa e Haas) na hora das votações da FIA. 

Outra boa notícia é que os jovens pilotos das canteras ferraristas podem estrear na F1 e terem tempo para ganhar uma boa experiências, casos claros de Charles Leclerc e Antonio Giovinazzi. Outra boa notícia é que o grupo que salvou a Sauber ano passado perderá força e o grid ganhará tecnicamente com a provável saída de Marcus Ericsson...

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Figura(ABU): Valtteri Bottas

Alheio à chatice da corrida, Valtteri Bottas ajudou a transformar a prova ainda mais enfadonha. Mas com todos os méritos. Claramente batido por Hamilton nos treinos livres e nas primeiras fases da classificação, Bottas acertou uma última volta no Q3 que o deu a pole position para a corrida em Yas Marina. Foi uma surpresa e mesmo largando em segundo, Hamilton era o favorito. Só esqueceram de avisar Bottas. O piloto da Mercedes conseguiu uma bela largada e com pneus ultramacios foi abrindo para Hamilton, que esticou um pouco seu primeiro stint e com pneus supermacios, se aproximou de Bottas. Era a grande prova para Bottas. Com um tetracampeão logo atrás e com o mesmo carro, o finlandês seguraria Hamilton até a bandeirada? Bottas respondeu com uma pilotagem segura e sem maiores erros, onde administrou muito bem a vantagem para Hamilton e quando o inglês mais se aproximava, Bottas dava a resposta de forma rápida e segura. Já no fim da corrida Bottas marcou a volta mais rápida e abriu, ganhando o respiro para vencer pela terceira vez na carreira e no ano. Em seu primeiro ano numa equipe grande, Bottas oscilou bastante a ponto de ser criticando pela cúpula da Mercedes, mas na última corrida do ano provou que pode ser mais do que um mero coadjuvante de Hamilton.

Figurão(ABU): Yas Marina

Quando uma pista é ruim, ou a corrida é muito boa ou é muito ruim. Quando os sheiks resolveram encher os cofres de Bernie Ecclestone com uma pista em Abu Dhabi, o objetivo deles era de uma corrida de Mônaco nas arábias. Construíram uma marina artificial e a encheu de iates luxuosos, colocaram a pista dentro de um hotel cinco estrelas e para dar um toque especial, a corrida seria realizada no crepúsculo. Tudo muito bonito (literalmente), mas numa frase bem futebolística, esqueceram de combinar com o adversário. No caso de Yas Marina, não combinaram com os fãs. Além de todo o glamour, Mônaco tem uma pista desafiadora e com os guard-rails sempre à espreita, incidentes podem acontecer a qualquer momento na prova monegasca. Safety-cars e surpresas já aconteceram aos borbotões no principado. Já em Yas Marina, Hermann Tilke projetou seu pior circuito (de longe) exatamente por não dar um real desafio aos pilotos e tirando uma ou outra exceção, sem nenhuma surpresa. Várias chicanes construídas sem o mínimo sentido, retas sem fim e curvas sem graça fazem do circuito extremamente sem emoção. Para completar, as amplas áreas de escape fazem com que os pilotos não tenham seus erros punidos, como ocorre em Monte Carlo e Cingapura, uma pista projetada por Tilke, mas que já criou liga com os fãs da F1. Ao contrário de Abu Dhabi. Como aconteceu na maioria das vezes em que a F1 aportou em Abu Dhabi, a corrida de ontem foi tenebrosa e praticamente nada aconteceu. Até os pilotos reclamaram que a corrida foi chata. Se pilotando o carro os protagonistas acharam a prova chata, imagina então para quem assistiu? Foi de dar sono. Uma pena que uma temporada tão legal acabe de forma tão melancólica. Se os árabes já demonstraram ter tando dinheiro, bem que eles poderia deixar a marina, o hotel e desmanchar a pista para fazer tudo de novo! 

domingo, 26 de novembro de 2017

Final indigno

Somente a alta grana investida pelos árabes explica o circuito de Yas Marina, tradicional palco de corridas horrorosas, continue não apenas no calendário da F1, como sendo local da última prova da temporada. A temporada 2017 foi legal demais para ter um final tão sem-vergonha como esse em Abu Dhabi. Há pouco a ser dito de uma corrida onde os melhores momentos aconteceram em brigas pela 13º posição (Grosjean/Stroll e Magnussen/Wehrlein). Bottas não tem nada com isso e conseguiu uma vitória categórica em Abu Dhabi.

Como falado acima, não é necessário muitas linhas para falar de uma corrida que até a largada, momento em que normalmente acontecem coisas interessantes, simplesmente não aconteceu nada. Os doze primeiros colocados do grid completaram a primeira volta na mesma posição. Bottas, Hamilton, Vettel, Ricciardo, Raikkonen e Verstappen. A única mudança entre os seis primeiros foi o abandono de Ricciardo, completando um final de temporada desapontador para o australiano, que com tantos abandonos perdeu o quarto lugar no Mundial de pilotos para Raikkonen. Verstappen nunca ficou longe de Raikkonen, da mesma forma que nunca atacou o piloto da Ferrari. Vettel esperava ter um ritmo de corrida próximo da Mercedes, mas os 20s que tomou no final da corrida deu a medida da distância que a Ferrari esteve hoje da Mercedes. Com o abandono de Ricciardo, Vettel fez uma corrida extremamente solitária. Sem ter nada com que brigar, a Ferrari apenas cumpriu tabela. O único momento interessante no pelotão dianteiro foram as tentativas de Hamilton brigar pela vitória. O inglês, com pneus supermacios, se aproximou de Bottas, abriu o DRS, mas ficou mesmo em segundo. Méritos para Bottas. O finlandês teve um meio de temporada discreto a ponto de ser criticado pela cúpula da Mercedes, mas hoje Bottas fez uma corrida digna de um piloto que quer algo mais do que ser coadjuvante de luxo dentro da Mercedes. Valtteri não errou com a pressão de Hamilton e mostrou reservas quando o companheiro de equipe mais se aproximou. O finlandês só não conseguiu o Grand-Chelem porque Hamilton resolveu ficar algumas voltas na pista depois da parada de Bottas, mas o nórdico conseguiu o Grand-Slam (pole, vitória e melhor volta da corrida).

No meio do pelotão, Nico Hulkenberg se livrou dos problemas que o atingiram nas últimas corridas e superou a Force India mesmo sendo punido, quando conseguiu uma vantagem ao ultrapassar Pérez na primeira volta. O alemão se manteve forte a corrida toda em sexto e com os pontos conquistados, subiu para décimo no Mundial de Pilotos. Sainz estava fora dos pontos quando abandonou por erro da Renault, que não apertou corretamente sua roda em seu pit-stop. A Force India foi superada pela Renault de Hulk, mas fez seu papel de quarta força de 2017. Demonstrando força nessas corridas finais, Alonso superou Massa e marcou dois pontos, assegurando que após um início tenebroso, a Honda deu indícios de melhoras. Só que tarde demais para a paciência de Alonso e da McLaren, que correrão de Renault em 2018. Massa se despediu da F1 de forma digna, marcando ponto com um carro que nem é mais o quinto mais rápido do grid. Com a aposentadoria de Felipe, o Brasil não terá nenhum representante na F1 em 2018. Apesar de ter perdido o décimo lugar para Hulkenberg na corrida derradeira, Massa pelo menos superou seu companheiro de equipe pela primeira vez na F1, com Stroll tendo uma corrida que lembrou seus primeiros movimentos na F1. Muito ruins. Criticado de forma errônea pelo trio da Globo, Grosjean conseguiu ultrapassar Stroll com categoria e numa corrida cerebral, quase levou a descendente Hass aos pontos, enquanto Magnussen rodava na primeira volta e ficava no pelotão de trás, junto com as duplas de Toro Rosso e Sauber.

Nós somente temos noção do quão bom foi uma temporada na medida em que olhamos para trás e lembrarmos das coisas boas que ela nos proporciona. Observando no retrovisor, conseguimos enxergar uma temporada onde duas marcas gigantescas (Mercedes e Ferrari) construíram carros que foram superiores aos demais na maioria as vezes e sempre brigaram pela vitória. Além de dois tetracampeões (Vettel e Hamilton) mostrando o seu melhor para se sobressair numa luta que durou dois terços do ano. Não fossem os erros da Ferrari e Vettel poderia estar brigando com Hamilton até a última corrida. Além de tudo isso, ainda vimos que Vettel e Hamilton tem dois coadjuvantes competentes e que a Red Bull tem uma dupla com potencial de serem campeões do mundo. Verstappen vai confirmando que ele é um cara especial. Além disso, vimos Alonso cada vez mais maduro e com gana de voltar a vencer e o surgimento de Esteban Ocon como uma possível estrela do futuro. A F1 teve um grande ano e já ficamos na expectativa de 2018. Portanto, o melhor a se fazer é riscar a corrida de Abu Dhabi de nossas cabeças e curtir o que se passou em 2017 e o que poderá vir em 2018.

sábado, 25 de novembro de 2017

Volta da F-Mercedes

Última corrida do ano com tudo definido. Algumas despedidas, mas a tendência é que 2018 seja muito parecido com 2017, pois os regulamentos pouco mudarão. Esse clima de fim de feira fez com que muitas equipes não se matassem para correr atrás de alguma coisa e com isso, a F1 teve em sua chata pista de Abu Dhabi uma classificação digna da pista. Chata. Com a Ferrari não querendo muita coisa e a Mercedes voando no Oriente Médio, o time alemão voltou aos tempos em que dominava a F1 como queria, mas foi surpreendente Bottas bater Hamilton no Q3 e conseguir sua quarta pole na carreira e no ano, evitando que Lewis se igualasse ao número de poles numa temporada.

Foi um treino bem borococho, sem nenhuma surpresa e os pilotos mais preocupados em bater o ponto de entrada e saída da empresa. Se despedindo de forma conturbada da Renault, a Toro Rosso ficou sempre nas últimas posições com seus dois novatos e com a chegada da Honda, prevendo uma temporada difícil, mas de aprendizado para quando a Red Bull assumir a parceria com os japoneses. Levando muito tempo de Massa, Stroll conseguiu passar ao Q2 por uma margem ínfima, merecendo os aplausos da família. Massa vem fazendo boas apresentações em suas despedidas e mesmo com a Williams não tendo carro para tal, foi ao Q3, tirando o lugar que seria de Alonso, saudando o fim de 2017 e a saída da Honda da McLaren. Na Renault, Hulkenberg colocou ordem na casa ao ir para o Q3 e superar Sainz, que ficou no Q2.

A Red Bull continua sofrendo com um motor Renault que não pode forçar muito para não quebrar, mas Ricciardo surpreendeu ao tirar o quarto lugar de Raikkonen. Desde os treinos livres era claro que a Mercedes iria dominar na classificação e Hamilton era o grande favorito, mas Bottas só precisou da primeira volta rápida para fazer a melhor volta da história de Abu Dhabi e ficar com a pole. Bottas ainda luta pelo vice com Vettel, mas somente um abandono do alemão, que foi terceiro hoje, com uma vitória do nórdico ajudaria a causa do finlandês da Mercedes. A espera é que a corrida seja bem mais atrativa do que o treino. 

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Justiça na loteria

Na eterna briga 'pontos corridos' x 'mata-mata' para se saber a melhor fórmula de campeonato, os defensores do primeiro falam muito em justiça. Já para a segunda parte, fala-se em emoção. No futebol isso rende uma discussão acalorada, mas no automobilismo, para mim, é bem claro que um campeonato construído da primeira à última corrida é muito mais válido do que um tudo ou nada na última prova do campeonato. O cada vez pior play-off da Nascar faz com que o esforço de um piloto e uma equipe não seja recompensado no final do ano, pois tudo é decidido mesmo na corrida derradeira. Não adianta vencer sete vezes ao longo do ano, se uma má corrida poder jogar tudo pelo ralo.

Isso quase aconteceu com Martin Truex Jr. O já veterano americano foi o melhor piloto da temporada  2017 disparado, venceu sete vezes no ano, mas se algo lhe acontecesse em Homestead, Truex amargaria uma derrota gigantesca. 

Truex tem uma carreira cheia de altos e baixos na Nascar. Discípulo de Dale Earnhardt Jr, Truex foi bicampeão da então Busch Series (2004-2005) e estreou na categoria principal do time de Dale Jr, naquele momento, uma equipe de ponta. Quando Junior foi para a Hendrick, a Earnhardt Incorporated foi decaindo nas mãos de Teresa Earnhardt (madrasta de Dale Jr) e Truex foi perdendo rendimento junto. Em 2010 Martin foi para a equipe de Michael Waltrip e em 2013 se envolveu no escândalo da rodada de propósito do seu companheiro de equipe Clint Bowyer para que Truex pudesse participar dos play-offs daquele ano. A equipe de Waltrip foi definhando e parecia que a carreira de Truex iria pelo mesmo caminho. 

Em 2014 Truex foi para a pequena Forniture Row. Parecia que Martin Truex nunca confirmaria as expectativas que todos tinham nele, mas foi nesse ambiente mais leve que o americano voltou a andar na frente e vencer corridas. Nessa temporada a Forniture Row conseguiu uma parceria com a Joe Gibbs e Truex era praticamente o quinto piloto da tradicional equipe Gibbs. No segundo ano das corridas com segmentos (outra ideia horrível da Nascar...), Truex venceu várias dessas mini-corridas, além de sete triunfos. A frieza de Truex nas corridas chamavam a atenção e raramente ele não corria no top-5. Foi uma temporada surpreendente de Truex, que foi à final em Homestead ano passado como azarão, mas ontem era o grande favorito. Truex compensou em Homestead o que fez a temporada inteira. Foi uma corrida calculada, mas num ritmo muito forte que o colocou na frente nos últimos momentos da prova e mesmo pressionado por Kyl Busch, Martin Truex Jr segurou o rojão e venceu pela oitava vez. Quando mais precisava!

Fez-se a justiça. Truex não merecia perder e tanto é verdade, que todos na Nascar pareciam felizes com o título de Martin, que recentemente acompanhou sua esposa na luta contra um câncer. Porém, essas ideias 'Professor Pardal' da Nascar parecerem surtir um efeito contrário para a categoria. Se antes havia pilotos sobrando num grid de 43 carros, hoje está complicado fechar os 40 carros. Nas arquibancadas, são vistos clarões que não existiam dez anos atrás. A Nascar não precisa de artifícios para ser emocionante, pois ela sempre foi competitiva. Menos mal que Martin Truex Jr venceu em meio a tantas tentativas de estragarem seu título. 

domingo, 19 de novembro de 2017

Amor de primeira

Pode-se dizer que foi um ano de sonho. Quando subimos em 2009, perdemos o estadual nos detalhes, numa das maiores injustiças que eu me lembre. Esse ano foi diferente. Ganhamos o estadual com um time que já dava mostras que poderia nos alegrar muito mais, faltando apenas alguns ajustes, além de contratações. O goleiro Éverson é excelente. A dupla de zaga Rafael Pereira e Luís Otávio é segura e ainda faz gols. O lateral esquerdo Romário veio do Atlético Goianiense (campeão da Série B ano passado) para dar qualidade no setor, principalmente no apoio. O meio campo...

Já tínhamos Richardson e a prata da casa Raul. Durante o Cearense chegou Pedro Ken, que estava esquecido na Rússia e conhecendo o projeto do Ceará, preferiu vir para cá, no lugar de outros clubes até da série A. O maestro Ricardinho, se recuperando de uma operação no joelho, entrava aos poucos. Poucos clubes na Série B tinham um meio-campo desse. No ataque, a velha magia de Magno Alves. O Cearense veio até fácil, mas parecia que ainda faltava algo. O time ganhava e não encantava, mostrava momentos dispersivos durante o jogo, além de problemas de criação. Quando o veterano Givanildo substituiu o esquecível Gilmar dal Pozzo, todos esperavam que o velho Giva garantiria outro acesso em sua vasta carreira de sucesso. Ledo engano. As rodadas passavam e o Ceará não engrenava. Após uma derrota e um empate em dois jogos dentro de casa, Givanildo foi demitido. Quem iria entrar no lugar?

Foi exatamente nesse momentos de dúvida, que o Ceará começou a concretizar seu ano de sonho. Junto com as contratações de Élton, Lima, Roberto (pena que se machucou muito...), Pio e Fernando Henrique, veio a surpreendente contratação do técnico Marcelo Chamusca. Justo Chamusca, nome ligado ao principal rival. Porém, alguns detalhes passaram desapercebidos. Quando Chamusca estava do lado de lá, o Ceará tinha um time bem superior, mas o Fortaleza comandado por ele dava mais trabalho do que o imaginado. O nome de Chamusca ficou ligado aos fracassos do rival na série C, mas o trabalho dele aparecia na ascensão do Guarani de Campinas à série B ano passado. Chamusca era um estudioso e mesmo com os vacilos nos mata-matas, ele montava bons times. Bem visto pela diretoria, ele foi contratado, para desespero da maior parte da torcida do vozão. Outro detalhe histórico. Um dos títulos mais festejados da história do Vozão foi o tetracampeonato cearense de 1978, onde o técnico era Moésio Gomes, nome ligado ao Fortaleza pelos quatro costados. Se deu certo quase quarenta anos atrás, poderia dar novamente, por que não?

E como deu certo!

Estive no estádio PV na estreia de Chamusca do Ceará. Vitória convincente de 3x0. O time oscilou na medida em que Chamusca buscava a melhor formação. Houve derrotas inexplicáveis, como a do Goiás em casa, mas as vitórias fora de casa compensavam. Já no final do primeiro turno o Ceará conquistava uma arrancada que o colocou entre os quatro primeiros do campeonato, mas logo o time saiu dos quatro primeiros. Pressão. Teve quem pedisse a cabeça de Chamusca. Será que ninguém aprende que mudar de técnico a todo instante, o time não sobe? O Ceará venceu o Náutico, engatando uma sequencia de nove jogos invictos. Vitórias contra rivais diretos (Vila Nova, Paraná e Oeste) foi sucedido por uma inesquecível vitória sobre o Internacional em pleno Beira-Rio. O mesmo Inter que nos derrotou no Castelão e o zagueiro Vitor Cuesta chamou Élton de macaco. O mesmo babaca ficou perguntando onde ficava Ceará? O Lima disse bem direitinho aonde fica o Ceará!

Um acesso do Ceará sem polêmica de arbitragem não teria graça. Contra o Guarani, após conseguir um suado empate de 2x2, Richardson fez o gol de desempate saindo atrás da linha de zagueiros, além de estar posicionado atrás da linha da bola. Ou seja, não foi impedimento duas vezes. O bandeirinha, no final do jogo no Castelão cheio, anulou o gol que nos daria a vitória de virada. O bandeira deve ter marcado impedimento da quenga da mãe dele, só pode!

O Ceará deu uma escorregada no final, mas os rivais também vacilavam. Vila Nova saía aos poucos do páreo. Oeste, sem torcida, não tinha apoio. O Paraná perdia fôlego. O problema era o Londrina atropelando. A vitória contra o Payssandu foi providencial. O Ceará tinha cinco pontos de vantagem sobre o quinto colocado faltando duas rodadas para o fim. Se fosse outro clube, já teria cravado que tinha subido. Mas era o Ceará e o coração não permitia esse açodamento. Nessas coisas do destino, o jogo do Ceará era o último da rodada e algo me dizia que nós estaríamos na série A antes de entrar em campo nessa penúltima rodada. Dito e feito! Londrina empatou em casa com o América-MG e o Oeste foi surpreendido pelo ABC, lanterna da série B, em Natal. 

Vozão na Série A!

As últimas semanas foi de tensão e angústia. Se o outro lado subiu  num lance de sorte, a gente tinha que manter a ordem dentro do estado. O Ceará tem hoje uma estrutura de dar inveja a muito clube com pose. Em 2009 o acesso teve o sabor da surpresa. No Guia do Campeonato Brasileiro da Placar, o Ceará foi colocado como brigando contra o rebaixamento. Na época, sem estrutura, o time vivia brigando para se manter na série B mesmo, mas com o trabalho de Evandro Leitão, o time subiu para a série A com um time inesquecível. O clube evoluiu dentro e fora de campo. O Ceará poderia ter subido em 2013, 2014 e 2016, mas infelizmente não deu. O sucessor de Leitão, Robinson de Castro, fez algumas escolhas impopulares, como a contratação de Chamusca, mas garantiu um 2017 simplesmente inesquecível para nós, alvinegros. Apesar do simbolismo daquele time de 2009, acho o time de 2017 mais equilibrado e mais forte. Brigar pelo título na série A beira o impossível, mas se manter lá por um tempo é possível. É o que nós queremos! BORA VOZÃO!

Tudo normal em Macau

O final de semana de velocidade em Macau contou com todos os seus ingredientes. Inclusive os ruins. Correr de moto num circuito de rua é uma insanidade completa, pois se com áreas de escape já é uma atividade perigosa, imagine correr de moto numa pista com o muro colado? Infelizmente Daniel Hegarty pagou com a própria vida essa insana corrida de motos em Macau. Na corrida de GT, um incrível engavetamento com doze carros quase deixou a prova sem automóveis. Para fechar, uma incrível última volta da tradicional prova de F3 fez com que Sergio Sette Câmara e Ferdinand Habsburg bateram na última volta, entregando a vitória para Daniel Ticknum, numa cena sensacional. Acompanhem abaixo:

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

O Mantovano voador

Poucos pilotos são tão idolatrados quanto ele, mesmo que não haja tantas imagens sobre sua coragem e talento. Se é complicado assistir alguma coisa sobre Juan Manuel Fangio na década de 1950, imaginem encontrar algo de Tazio Nuvolari, ás italiano que foi a grande estrela do automobilismo mundial nas décadas de 1920 e 1930. De físico franzino, mas com uma coragem imensa, Nuvolari para sempre atiçou nossa imaginação sobre os seus feitos num automobilismo extremamente perigoso. Completando 125 anos do seu nascimento, vamos ver um pouco de Tazio.

Tazio Giorgio Nuvolari nasceu no dia 16 de novembro de 1892 em Casteldrio, cidadezinha próxima à Mântua, que lhe garantiria o apelido mais tarde. Nuvolari começou sua carreira nas motos, que lhe foram apresentadas por um tio, um negociante da região. Tazio conseguiu sua licença com apenas 23 anos de idade e logo em seguida se alistou no exército italiano durante a primeira guerra mundial. Foi motorista de ambulância e com certeza deve ter salvado a vida de muitos feridos pela velocidade com quem chegava aos hospitais! Finda a guerra, Nuvolari começa sua carreira no motociclismo, mas o italiano já era casado e tinha um filho, ou seja, não poderia viver unicamente para correr e ainda tinha que sustentar sua família. Comprando e preparando suas próprias motos, Tazio fez sua primeira corrida em 1920 em Cremona, mas não demorou muito para ele chamar a atenção das grandes montadoras italianas, principalmente quando venceu a Coppa Verona em 1921. Ele foi contratado pela Bianchi e como piloto oficial, se tornou campeão italiano de motociclismo das 350cc. Não existia um campeonato propriamente dito naquela época e quando Nuvolari venceu o Grande Prêmio da Europa em 1925, foi considerado Campeão Europeu. Porém, até aquele momento Tazio Nuvolari não impressionava os críticos de motociclismo, mesmo lhe reconhecendo muita velocidade. Porém, Tazio sofreu um acidente sério nos treinos para o Grande Prêmio das Nações de 1925 em Monza e teve as duas pernas quebradas. Os médicos lhe disseram que ele levaria um mês para voltar a correr. Nuvolari não pensava assim. Com almofadas, bandagens e sendo praticamente amarrado à moto, Nuvolari largou para a corrida no dia seguinte e venceu! Começava a lenda da incrível coragem e audácia de Tazio Nuvolari!

Naqueles tempos era muito comum pilotos de motos se transferirem para os carros e até mesmo participar de campeonatos de duas e quatro rodas simultaneamente. Nuvolari experimentou os carros pela primeira em 1923, com uma Alfa Romeo. No ano seguinte conquista sua primeira vitória e quando a lenda Antonio Ascari morreu, Nuvolari foi contratado para substitui-lo em 1925, mas um acidente de moto fez com que Tazio não corresse em Monza, local do que seria sua primeira corrida como piloto oficial da Alfa e teve seu contratado reincidido. Ainda se recuperando das fraturas do ano anterior, Nuvolari não se destaca em 1926 nas motos e nos carros, mas para o ano seguinte ele toma uma decisão que marcaria sua vida: ele se dedicaria somente aos carros. Com sua mulher grávida do segundo filho, Tazio Nuvolari aposta tudo em sua carreira e compra dois Bugattis, montando sua própria equipe. Nuvolari chama seu antigo rival e amigo dos tempos da motovelocidade Achille Varzi. Mesmo com carros inferiores, Nuvolari impressiona ao conquistar vitórias no Grande Prêmio Real de Roma, no circuito de Trípoli e no circuito de Pozzo. Porém, isso causa irritação em Varzi, que deixou a equipe de Tazio e por ser filho de um rico empresário, tem condições que comprar um moderno Alfa Romeo P2. Além de iniciar uma das primeiras grandes rivalidades do automobilismo! Nuvolari/Varzi entraria para a história como uma das rivalidades mais renhidas dos primeiros tempos do automobilismo, além de ter sido de dois monumentos dos anos 1930. Uma das corridas mais conhecidas acontecera na Mille Miglia de 1930. Nuvolari tinha sido contratado pela Alfa no ano anterior e voltaria a ser companheiro de equipe de Varzi, mesmo os dois não se dando bem. Varzi liderava a longa e perigosa corrida italiana com sobras, mas Nuvolari se aproximava rapidamente. Sabendo que não teria vida tranquila contra o seu 'companheiro' de equipe, Tazio teve uma ideia aos mesmo tempo arriscada, mas muito sagaz. A corrida terminava já de noite na cidade de Brescia e quando Nuvolaria avistou Varzi, simplesmente desligou os faróis do seu carro, para não ter sua presença percebida por Varzi pelos retrovisores, que a essa altura corria tranquilamente. Já faltando poucos quilômetros para o fim, Varzi foi surpreendido quando foi ultrapassado por um vulto. Era Nuvolari! Que ao ultrapassar um estupefato Varzi, acendeu os faróis e partiu para uma vitória épica!

Depois desta corrida, Tazio Nuvolari continuava  pilotando carros da Alfa Romeo, porém, sem contrato fixo, vencendo em 1930 o Tourist Trophy. Vendo sua posição ameaçada, Achille Varzi  impõe um escolha à equipe: ou ele ou Nuvolari. De forma surpreendente a Alfa Romeo fica com o jovem piloto e Nuvolari vai correr pela Bugatti, de forma particular. Não demorou muito para o piloto italiano correr para Enzo Ferrari, escuderia que preparava os carros da Alfa Romeo e em 1931, vence o Grande Prêmio da Itália, em Monza. Era o início de uma relação entre dois gigantes do automobilismo italiano: Ferrari e Nuvolari. Em outra história conhecida, Nuvolari pediu a Enzo Ferrari que um mecânico o acompanhasse durante a Targa Florio de 1932. Como era muito leve, Tazio queria alguém de pouco peso, mas que ficasse ao seu lado e compensasse o deslocamento de peso. Enzo Ferrari só pediu para que Tazio não assustasse o jovem mecânico. Nuvolari combinou com o mecânico que a cada curva muito rápida, ele pediria para o 'carona' se abaixar, para não deixa-lo em pânico com as loucuras que Tazio fazia ao volante. Com a vitória de Nuvolari, Ferrari foi perguntar ao mecânico como tinha sido a experiência. "Não sei. Na primeira curva ele pediu para me abaixar e fiquei a corrida inteira no chão do carro!" Tazio vence na Itália, França e Monte Carlo, mas perde o campeonato europeu para Borzacchini por quatro pontos. Mesmo bastante admirado por Ferrari, Nuvolari briga com o chefe de equipe e em 1933 se muda para a Maserati, mas com um carro inferior à Alfa Romeo, não consegue grandes resultados. Nesse ano ele participa das 24 Horas de Le Mans ao lado de Raymond Sommer e estava prestes a vencer a tradicional prova, quando teve o tanque de combustível furado, mas Nuvolari garantia o recorde da pista. Por sinal, batido nove vezes durante a corrida pelo italiano!

Se antes os maiores rivais de Nuvolari eram os times e pilotos italianos, a partir de 1934 ele conheceria rivais ainda mais poderosos. Turbinado com investimento público para mostrar a supremacia da indústria nazista, Mercedes e Auto Union estreavam com carros bem mais potentes e modernos do que as Alfas, Maseratis e Bugattis. De repente os carros italianos se tornaram obsoletos. Para azar de Nuvolari, Varzi chegou primeiro à Auto Union e quando o time alemão tentou contrata-lo em 1935, Varzi imediatamente o vetou. Nuvolari teve que correr pela Alfa Romeo, mesmo tendo um relacionamento tortuoso com Enzo Ferrari, que primeiramente o rejeitou, mas teve que contrata-lo por pressões políticas. Para o Grande Prêmio da Alemanha, Mercedes e Auto Union se esmeraram para conseguir a vitória na frente de todos os altos dirigentes do partido Nazista que patrocinavam o esforço alemão no automobilismo. Porém, Nürburgring começou o dia com o seu típico clima onde as quatro estações do ano podem aparecer num único dia. Correndo com uma Alfa nitidamente inferior, Nuvolari fez a corrida de sua vida e para muitos, uma das maiores exibições da história do automobilismo. Era a 'vitória impossível'. Pois Tazio, aos 43 anos de idade, fez o impossível e na frente dos dirigentes do Terceiro Reich, venceu o Grande Prêmio da Alemanha, aplaudido por mais de 300.000 pessoas. Conta a lenda que a vitória alemão estava tão certa, que não havia o disco do hino italiano...

Essa exibição de Nuvolari entrou para a história, mas era inegável a superioridade dos carros alemães naquele momento. Em 1936, a Alfa Romeo apresenta um carro mais potente, mas ainda inferior aos alemães. Com este carro Nuvolari vence os GPs da Espanha e da Hungria e também a Copa Vanderbilt, em Nova York. Ele sofreu um grave acidente durante os treinos para o GP de Tripoli, mas fugiu do hospital, pegou um táxi para a pista, onde terminou em sétimo num carro reserva. Nuvolari estava cada vez mais frustrado com a falta de competitividade e confiabilidade da Alfa Romeo, anunciando sua aposentadoria no início de 1938. Após a morte de Bernd Rosemeyer em 1938, a Auto Union estava desesperada por um piloto que pudesse dominar seu carro arisco. Apenas um piloto bastante habilidoso seria capaz de guiar um carro com motor central e muito difícil de controlar. E a escolha era fácil. Por indicação de Ferdinand Porsche, Nuvolari foi contratado pela Auto Union, onde venceu o Grande Prêmio da Inglaterra em Donington Park e logo depois faturou a vitória em Monza. Porém, um cenário ainda mais ameaçador pairava pela Europa. O avanço nazista, infelizmente, não era apenas no automobilismo. A segunda guerra mundial estava batendo a porta do mundo e quando Nuvolari venceu o Grande Prêmio de Belgrado, no dia 3 de setembro de 1939, os alemães já haviam invadido a Polônia dois dias antes. Aquela seria a última corrida internacional em mais de seis anos.

Já contando com mais de 40 anos de idade, Nuvolari não se envolveu numa segunda guerra e felizmente sobreviveu sem maiores problemas ao conflito. Tazio participou das primeiras corridas do pós-guerra ainda exibindo sua gana e coragem. Durante a Copa Brezzi de 1946, o italiano chegou aos boxes com o volante numa das mãos, numa cena clássica. Em sua última Mille Miglia, em 1948, Nuvolaria aprontou outra história impressionante de resiliência. Ainda no começo da prova ele perdeu o capô do seu carro, quase atingindo sua cabeça. "Sem problemas, assim o motor esfriará mais rápido," comentou Tazio ao mecânico ao seu lado. Porém, os problemas não parariam, quando seu assento quebra e ele tem que pegar uma sacola de limões para ficar mais confortável dentro do carro. Com seu carro literalmente caindo aos pedaços, a equipe aconselhou-o a sair da corrida em Bolonha, já que Nuvolari não tinha nada a provar. Tazio simplesmente acelerou seu carro em direção a Via Emilia. Até mesmo Enzo Ferrari lhe suplicou para que abandonasse a corrida, mas o italiano só saiu da prova quando a suspensão traseira do seu carro arriou e ficou impossível que a Nuvolari continuasse.

Nuvolari nunca anunciou formalmente sua aposentadoria, mas sua saúde se deteriorava e ele tornou-se cada vez mais solitário. Tazio sofria de asma, muito provavelmente por causa dos gases tóxicos a que esteve exposto nos anos em que correu. Em suas últimas corridas, era comum Nuvolari ter sangue em suas vestes, por causa do seu problema de saúde que só piorava. Sua última exibição foi no dia 10 de abril de 1950, em Palermo numa corrida de subida de montanha. Ele terminou em quinto, mas venceu em sua categoria. Um mês depois, a F1 nascia sem conhecer um dos melhores pilotos de Grande Prêmio da história. Em 1952, um acidente vascular cerebral o deixou parcialmente paralisado. Dizia-se que Nuvolari queria morrer no esporte que ele amava tanto, mas isso não foi possível. Em 11 de agosto de 1953, nove meses depois do seu AVC, ele sofreu um segundo AVC e acabou morrendo aos 60 anos de idade. Entre 25.000 e 55.000 pessoas, pelo menos metade da população de Mântua, participaram de seu funeral em uma procissão, com o caixão colocado em um chassi de carro que foi empurrado por Alberto Ascari, Luigi Villoresi e Juan Manuel Fangio. Como era seu desejo, ele foi enterrado em seu uniforme - camisa amarela e calça azul. Tazio Nuvolari entrou para a história como uma lenda pouco vista, mas para quem teve a sorte vê-lo, nunca o esqueceu. Mesmo com alguns problemas de relacionamento, anos depois Enzo Ferrari voltaria a falar com Nuvolari e disse que somente um piloto o fez lembrar o piloto italiano em termos de coragem e habilidade: Gilles Villeneuve. Nuvolari foi homenageado de todas as formas pela comunidade automobilística mesmo com quase 65 anos depois de sua morte. E de forma justa. Conta a lenda que quando Enzo Ferrari foi para o velório de Nuvolari, acabou se perdendo e foi pedir ajuda a um encanador. O senhor não conheceu Enzo, mas ao identificar a placa de Modena imaginou que aquele senhor tinha vindo homenagear Tazio. "Obrigado por ter vindo. Um homem como esse não nascerá de novo". Realmente poucos podem ser comparados à Tazio Nuvolari.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

História: 30 anos do Grande Prêmio da Austrália de 1987

A F1 chegou à Adelaide para a corrida final de 1987 com praticamente tudo definido. Nelson Piquet era o mais novo tricampeão do mundo e a Williams já era campeã de Construtores fazia algum tempo. Havia uma pendência a respeito do vice-campeonato, com Ayrton Senna ainda com chances de tirar o posto de Mansell. O inglês havia feito uma ressonância computadorizada após seu acidente em Suzuka e descobriu-se uma ligeira compressão numa das vértebras, fazendo os médicos proibirem Mansell participar de qualquer atividade por dois meses. Frank Williams pensou primeiramente em Alan Jones para substituir Mansell na Austrália, mas o piloto da casa de 41 anos recusou o convite, até porque corria na Austrália com a Toyota e a Honda não viu com bom grado um piloto da montadora rival em sua principal equipe. Além de Piquet e Jones não se gostarem muito! Frank então solicitou a liberação de Riccardo Patrese para a prova em Adelaide, algo que Bernie Ecclestone concordou. Patrese já tinha contrato com a Williams para 1988 e estrearia mais cedo na sua nova equipe. Para o lugar de Patrese, a Brabham proporcionava a estreia de Stefano Modena, que tinha acabado de se tornar campeão da F3000. Muito tímido, Modena era observado como uma futura estrela desde o kart. 

Mesmo sofrendo com uma gripe durante o final de semana, Berger conseguiu sua terceira pole na carreira e no ano. Ao lado do ferrarista estava Alain Prost, que passou os treinos sofrendo com os freios do seu McLaren. Na Williams, Piquet conseguia o 3º lugar, alternando entre o seu carro com suspensão ativa e com a suspensão convencional, acabando por escolher o último, pois lhe dava mais aderência. Patrese obtém um bom sétimo lugar com a outra Williams. Senna posiciona seu Lotus na quarta posição, dez lugares à frente de Nakajima. Alboreto não conseguiu uma única volta limpa na classificação e ficou apenas em sexto lugar. Essa performance, comparada com a pole do seu companheiro equipe, enfraquecia ainda mais a situação do italiano na Scuderia.

Grid:
1) Berger (Ferrari) - 1:17.267
2) Prost (McLaren) - 1:17.967
3) Piquet (Williams) - 1:18.017
4) Senna (Lotus) - 1:18.488
5) Boutsen (Benetton) - 1:18.523
6) Alboreto (Ferrari) - 1:18.578
7) Patrese (Williams) - 1:18.813
8) Johansson (McLaren) - 1:18.826
9) Fabi (Benetton) - 1:19.461
10) De Cesaris (Brabham) - 1:19.590

O dia 15 de novembro de 1987 amanheceu com sol forte e muito calor em Adelaide, o que poderia ser um fator para a corrida. Alguns pilotos estavam sofrendo com o superaquecimento dos freios e com o forte calor, além da pista travada, esse problema poderia aumentar ao longo de uma prova com mais de 80 voltas. Berger marcou o melhor tempo do warm-up, mas resolve largar com o carro reserva, por causa de um pequeno problema no motor do titular. Berger e Prost largam bem, mas saindo um pouco de suas características Piquet larga muito bem e passa a dupla da primeira fila pela esquerda, chegando a tocar rodas com Berger, mas o brasileiro da Williams apontava na ponta na primeira curva. 

Tendo o melhor carro o final de semana inteiro, não demorou para Berger contra-atacar e ainda na primeira volta assumiu a liderança de Piquet no final Wakefield Road. No mesmo momento, Senna coloca por dentro em cima de Prost para ser terceiro, mas na volta seguinte Prost dá o troco no final da reta Brabham. Berger imprime um ritmo muito forte, até mesmo 1s mais rápido do que Piquet, que tinha Prost 2s atrás, enquanto Senna já segurava Alboreto. O brasileiro da Lotus só segura Alboreto até a quinta volta. A Ferrari era claramente o melhor carro de Adelaide trinta anos atrás! Numa tentativa de poupar freios e pneus, Piquet diminui seu ritmo e permite a aproximação de Prost, mas Alboreto era o piloto mais rápido da pista e já encostava em Prost. O francês andava perto de Piquet, mas os problemas de freios atormentavam Prost e por isso, o piloto da McLaren mais seguia do que atacava Piquet. Na volta 28, Prost ia colocar uma volta em Alliot, mas seus freios falham e o francês sai ligeiramente da pista, contudo Prost ainda consegue se manter à frente de Alboreto. 

Piquet vai aos boxes na volta 35 trocar seus pneus e volta à pista em sexto, logo à frente de Johansson e Patrese. Com pista livre e sem a turbulência de Piquet, Prost aumenta o ritmo e marca a volta mais rápida da corrida naquele momento, enquanto Alboreto, tendo ficado muito tempo atrás de Prost, vê seus freios superaquecerem e era pressionado por Senna. Prost e Arnoux foram rivais na Renault e se tornaram inimigos fidagais. Quando Prost se aproximou para colocar uma volta em Arnoux, o piloto da Ligier se recusava a ceder a passagem para o compatriota, permitindo a aproximação de Alboreto e Senna. Na volta 41, Senna efetua uma ultrapassagem audaciosa, se aproveitando da rixa entre Prost e Arnoux, além de um excesso de cautela de Alboreto. Senna realiza uma ultrapassagem dupla e ainda deixa o retardatário Arnoux na frente de Alboreto e Prost! Furioso, Prost tenta contra-atacar Alboreto no final da reta Brabham, mas o piloto da Ferrari repulsa as tentativas de Prost. Na volta seguinte, Arnoux abandona a corrida com um problema no distribuidor de seu Ligier...

Senna aumenta seu ritmo, tendo Alboreto em seus calcanhares, mas Berger ainda tem 18s de vantagem. Com os freios superaquecidos, Prost diminui o ritmo e quando vê Johansson abandonar na volta 49 com o disco de freio quebrado, o francês percebe que dificilmente terminaria a corrida. Três voltas depois, Prost viu seu disco de freio quebrar e o francês bateu no muro a baixa velocidade. Era a despedida do motor TAG Porsche na F1. Piquet era o piloto mais rápido da pista, mas sai da pista na volta 59 e resolve voltar aos boxes. Após uma verificação dos mecânicos, percebeu-se que os freios da Williams tinham acabado e Piquet terminava a temporada que lhe deu o terceiro título com um abandono. Senna melhorava a volta mais rápida de Prost e diminuía a vantagem para Berger. Com quinze voltas para o fim, quando Senna já estava menos de 7s atrás de Berger, o austríaco respondeu ao ataque do piloto da Lotus e ao marcar a volta mais rápida da prova, Senna teve que se consolar com o segundo posto. Nesse momento, apenas os três primeiros estão na mesma volta do líder, numa corrida cheia de abandonos. Faltando quatro voltas para o fim, Patrese abandona em sua estreia pela Williams após rodar e bater. Na volta seguinte Andrea de Cesaris abandona com pane seca e apenas oito carros recebem a bandeirada. Gerhard Berger consegue a terceira vitória de sua carreira à frente de Senna e Alboreto. Boutsen termina em quarto lugar, seguido por Palmer, o melhor com os motores aspirados, com o sexto lugar indo para Dalmas, mas o francês da Lola não estava elegível para marcar pontos. Após a corrida, Senna é desclassificado por irregularidades nos seus freios. O brasileiro ficou muito irritado e acusou seu chefe Peter Warr, que se defendeu dizendo que os comissários sabiam da modificação e nada falaram. O certo era que Senna perdia o vice-campeonato, mas o Brasil vibrava. Num verdadeiro milagre, Roberto Moreno levou o modesto AGS, que nas mãos de Pascal Fabre apenas finalizava as corridas com muitas voltas de atraso, ao um suado pontinho na corrida final de 1987. Nos boxes da Benetton, Thierry Boutsen e Teo Fabi quase saem no tapa quando o belga interpela o companheiro de equipe a respeito de uma fechada sofrida por Fabi e o italiano apenas diz que se vingava pelas fechadas distribuídas por Boutsen durante a temporada. Fora a última corrida de Teo Fabi na F1. Cansado pela gripe e quase surdo por ter pedido o seu protetor auricular ainda no começo da prova, Berger comemorava modestamente a sua vitória em Adelaide. Com essa vitória dominante na Austrália, complementando ao triunfo em Suzuka quinze dias antes, a Ferrari parecia que iria muito forte para 1988. Mal sabiam os italianos...

Chegada:
1) Berger
2) Alboreto
3) Boutsen
4) Palmer
5) Dalmas
6) Moreno

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Figura(BRA): Lewis Hamilton

Sempre haverá um chato para dizer: Hamilton fez apenas sua obrigação. Mais chato ainda são as pessoas que 'culpam' a F1 atual pela performance do inglês da Mercedes, sendo que o acontecido em Interlagos não foi a primeira vez que um piloto larga em último com o melhor carro e escala o pelotão com facilidade. Para esses chatos de plantão, que preferem deixar a bela exibição de Lewis Hamilton em segundo plano, elas precisam acompanhar outra coisa, como xadrez, vôlei ou badminton, pois para não se entusiasmar com a exibição de Hamilton ontem em Interlagos a pessoa deve não deve gostar muito de automobilismo. Com o carro que tem em mãos, Lewis Hamilton venceria a corrida no Brasil até com facilidade se tivesse largado da pole, que era seu lugar de direito pelo o que vinha fazendo nos treinos livres, mas como o esporte pode nos reservar surpresas, Hamilton errou sozinho na classificação e teve que largar de último. Favorito à corrida, Lewis agora teria que lutar por um pódio. E o inglês foi à luta. A superioridade do conjunto Mercedes-Hamilton era tão evidente que a maioria absoluta dos pilotos preferia nem brigar muito, deixando Lewis passar. Não era a briga deles. A briga do piloto da Mercedes era contra o tempo. Era chegar o mais rápido possível no pelotão da frente. Hamilton deu um show e recebeu a bandeirada colado no terceiro colocado Raikkonen e menos de 5s do vencedor Vettel, após largar de último, numa exibição de tirar o fôlego. Uma exibição de tetracampeão do mundo. 

Figurão(BRA): Segurança

Simplesmente uma vergonha internacional. O que aconteceu em Interlagos (ou nos arredores) manchou ainda mais o nome do Brasil perante os estrangeiros que estiveram em São Paulo ou simplesmente acompanham a F1 de seus respectivos países. Infelizmente o Brasil convive numa sociedade violenta e por serem estrangeiros, as pessoas ligadas à F1 não estariam imunes às mazelas que nós, cidadãos, sofremos no nosso dia a dia. Na Copa do Mundo e nas Olimpíadas havia o temor de péssimas e constantes notícias relacionadas à falta de segurança que tanto nos incomoda, mas durante esses eventos tudo ocorreu com relativa tranquilidade, com notícia aqui e ali de assaltos. Porém, num evento anual veio à tona tudo o que se imaginava acontecer em 2014 e em 2016. Durante todo o final de semana do Grande Prêmio do Brasil vans das equipes e organizadores foram atacadas por assaltantes armados, deixando em pânico as pessoas envolvidas. Se nós, que sabemos como anda nossa 'guerra civil', nos assustamos quando isso acontece conosco ou com alguém conhecido, imagem quando isso acontece com pessoas de fora. Lewis Hamilton, que tem milhões de seguidores nas redes sociais, criticou veementemente os assaltos (a primeira vítima foi a Mercedes) e culminou com o vexaminoso cancelamento dos testes de pneus da Pirelli devido à falta de segurança em Interlagos. Se já não bastasse o fato do Brasil não ter nenhum representante na F1 em 2018, agora podemos perder o Grande Prêmio por falhas clamorosas de segurança para os envolvidos. Como diria Boris Casoy, uma vergonha!

domingo, 12 de novembro de 2017

Uma corrida. Dois vencedores

Em muitas corridas, nem sempre o melhor piloto vence. Por variadas razões, um piloto pode vacilar e não ser o vencedor, mas por uma pilotagem fora de série, conseguir se destacar tanto quanto o real vencedor da corrida. Sebastian Vettel venceu com alguma dose de facilidade, acabando com um jejum incômodo que já durava três meses e que alijou o alemão da Ferrari da disputa pelo título desse ano. Porém, era sabido que Lewis Hamilton tinha o melhor carro do final de semana e se não fosse o seu erro na classificação, ele seria o natural favorito à vitória. Largando de último, o inglês da Mercedes deu um show em Interlagos, passando por cima de praticamente o grid inteiro sem tomar conhecimento de quem vinha à frente.

O sol forte em Interlagos fez com que a corrida de hoje tivesse uma pitada de intempérie climática, com o calor sendo um fator importante para os pneus. A vitória de Vettel foi decidida basicamente na largada, com o alemão saindo muito bem por dentro, mesmo que no lado sujo, e apostando na freada da primeira curva para deixar Bottas para trás e assumir a ponta, de onde só sairia durante as paradas de boxe. Vettel ainda teve um pequeno momento de suspense quando saiu dos boxes após sua parada logo à frente de Bottas, que o atacou por algumas curvas, mas quando os pneus atingiram a temperatura ideal, o alemão pôde partir impávido rumo a vitória e dar um importante passo rumo ao vice-campeonato. Bottas e Raikkonen fizeram uma corrida bem arroz-com-feijão, permanecendo o tempo todo em suas posições. Quando todos os pilotos colocaram os pneus macios, Kimi tentou uma aproximação em cima de Bottas, mas ficou nisso. Os três primeiros ficaram separados por 2s, mas Kimi ainda teria um trabalho extra no final.

Hamilton saiu do pit-lane, mas teve uma pequena ajuda com dois acidentes na primeira volta. Na curva 2, Vandoorne e Magnussen abandonaram e ainda atrasaram Ricciardo. No Laranjinha, Grosjean errou e acabou tocando em Ocon, ocasionando o abandono do piloto da Force India. Só nisso, cinco pilotos já estavam atrás de Hamilton. Na relargada, o inglês começou seu show particular, onde parecia que ultrapassava cones, não pilotos de F1. Com carros inferiores, a maioria nem se importou muito em deixar o inglês passar, pois sabiam que não tinham o que fazer. Hamilton simplesmente não tomava conhecimento e em poucas voltas, já aparecia em quinto, mas com a parada dos líderes, assumiu a liderança da prova na altura da metade da corrida! Colocando pneus supermacios, Hamilton voou, ultrapassou o sempre complicado Verstappen e marcou voltas mais rápida em cima de volta mais rápida para conseguir o seu objetivo: o pódio. E o inglês quase conseguiu. Partiu para cima de Raikkonen, mas Kimi segurou bem a posição e subiu ao pódio mais uma vez, mas pela exibição de hoje, Hamilton mostrou que é um digno tetracampeão!

Depois de três corridas muito boas, a Red Bull não se adaptou à Interlagos e ficou muito longe da vitória e até mesmo do pódio. À título de comparação, Ricciardo e Hamilton pararam na mesma volta e colocaram os meus pneus, só que o australiano chegou mais de 30s atrás, com um ritmo nitidamente inferior a ponto de ter Felipe Massa próximo dele. Verstappen, junto com Pérez e Raikkonen, foi um dos poucos que ainda resistiram à recuperação de Hamilton, mas em poucas curvas Lewis superava Max. Com os pneus supermacios desgastados, Verstappen colocou macios novos nas voltas finais e quebrou o recorde do circuito de Interlagos. Massa largou muito bem, usou o motor Mercedes para ultrapassar Alonso na relargada e com o espanhol brigou a corrida inteira, segurando o piloto da McLaren até o fim. Sem motor, Alonso usou todo o seu talento para se manter próximo de um carro bem mais potente do que o seu, mas a impossibilidade de ultrapassar Massa trouxe Pérez para a briga e os três terminaram a corrida colados. Massa finalmente teve a digna despedida que merecia e terminou a corrida com uma emocionante mensagem do seu filho via rádio para todo o mundo.

Hulkenberg fechou a zona de pontuação com a Renault ainda sofrendo muito em ritmo de corrida, mas ao menos o alemão superou Carlos Sainz, que veio logo atrás. Pierre Gasly também deve ter ficado aliviado por ter recebido a bandeirada, pois a Toro Rosso está terminando seu relacionamento com a Renault marcada pelas quebras constantes, o que vitimou Hartley. A Sauber viu seus pilotos brigarem e como sempre, Wehrlein se sobressaiu. Num final de temporada muito ruim, a Haas viu Grosjean rodou sozinho, foi punido pelo toque com Ocon e recebeu a bandeirada em último.

Os quatro primeiros colocados receberam a bandeirada com poucos segundos de diferença, sendo que Hamilton largou de último para chegar encostado no pelotão principal, indicando que seria o vencedor se não errasse ontem. Vettel aproveitou a boa largada para dominar a corrida e se consolidar como vice-campeão. Os dois finlandeses vão fazendo seus papeis de 'Patrese', enquanto a Red Bull não conseguiu superar as retas e a subida do Café para brigar com Mercedes e Ferrari. O final de ano vai chegando e a F1 vai se despedindo de 2017 já pensando em 2018, quando dois tetracampeões brigarão pelo título, tendo ainda Verstappen como um terceiro fator. 

Desobediente

Jorge Lorenzo é um grande piloto. Ninguém é tricampeão mundial à toa e o espanhol tem seu nome na história recente da MotoGP. Sua tocada limpa o fez derrotar pilotos como Valentino Rossi e Marc Márquez, sendo que contra o italiano, usando a mesma moto. Se compararmos o auge, Lorenzo ficou abaixo de Rossi e mesmo não sabendo se esse é o auge ou não de Márquez, já dá para dizer que Lorenzo também está abaixo do compatriota. O que faz Lorenzo não ser tão popular e muitas subvalorizado é o seu comportamento irascível. O espanhol deixou desafetos ao longo de quase quinze anos no circo do Mundial de Motovelocidade e sua arrogância nos momentos de vitória o deixam bastante antipatizado.

Quando Lorenzo tomou a corajosa atitude de sair da Yamaha para a Ducati, repetindo o que fez Rossi, o espanhol pareceu mais relaxado, não se mostrando tão arrogante quanto esteve na crista da onda. Completando 30 anos, a maturidade deve ter chegado para o espanhol. Mesmo ganhando sete vezes mais do que o seu companheiro de equipe, Lorenzo teve que engolir Doviziozo conseguir seis vitórias no ano e brigar pelo título com Márquez, enquanto Jorge lutava para se adaptar a uma moto totalmente desconhecida. No íntimo, Lorenzo queria repetir Rossi não na Ducati, mas na própria Yamaha, quando o italiano conseguiu um improvável e épico título na sua estreia pela montadora nipônica em 2004. Nesse caso, Lorenzo fracassou fragorosamente. 

Nas últimas semanas, Lorenzo ficou numa situação, no mínimo, estranha à ele. Trazido a peso de ouro para a Ducati, o espanhol teria que correr para Doviziozo, algo que já tinha sido feito em Sepang. O modo relaxado de Lorenzo indicava que isso se repetiria em Valencia, mesmo sabendo que as chances de Doviziozo eram apenas retóricas. Lorenzo afirmou que pouco poderia fazer, mas que ajudaria o companheiro de equipe. Então foi dada a largada para o Grande Prêmio da Comunidade Valenciana e Lorenzo fica em quarto, com Doviziozo logo atrás. Márquez estava na frente e conquistava o título, enquanto que para Doviziozo só a vitória interessava.

A situação de Dovi era dramática no campeonato, mas Lorenzo precisava ajudar o companheiro de equipe, que estava mais rápido atrás. As voltas foram passando, os líderes não avançavam, mas... Doviziozo também não! Numa cena totalmente inacreditável, Lorenzo simplesmente não abriu espaço para o companheiro de equipe, na mesma medida em que não atacava Daniel Pedrosa, que vinha logo atrás. A Ducati se desesperava com a situação. Mandava mensagem por computador e por placas, mas Lorenzo permanecia impávido na frente, numa situação completamente surreal. 

Ordens de equipe sempre existiram na corrida. As presepadas com Barrichello e Massa com a Ferrari revoltaram muitos, mas pelo contexto do campeonato, se mostraram dispensáveis, principalmente com Rubens. No caso de hoje, era imperativo que Lorenzo deixasse Doviziozo passar. Mas o espanhol não deixou. A situação só não ficou mais complicada com a queda dos dois, dando o título para Márquez.

Porém, a desobediência de Jorge Lorenzo pode fazer um mal bem maior do que o espanhol possa imaginar. Na hora em que a Ducati precisou de Lorenzo, ele simplesmente virou as costas para um time que lhe paga um salário milionário e Jorge tem que pensar que TODAS as equipes viram a rebeldia do espanhol num momento crucial do campeonato. Outro fator é que Doviziozo ficará pelo menos mais um ano na Ducati ao lado de Lorenzo e o que aconteceu hoje em Valencia pode se virar contra Lorenzo se ambos tiverem numa situação inversa. O cumprimento nos boxes foi mais um ato de cavalheiresco de Doviziozo, mas o que Lorenzo fez pegou muito, muito mal para o espanhol, até mesmo por envolver um piloto tão gente boa quanto Doviziozo.

Esse caso dentro da Ducati não trouxe grandes proporções por causa da queda da dupla da Ducati, mas isso pode causa grandes danos ainda para Lorenzo. Pois como se falou muito bem na transmissão: o que se faz hoje, um dia pode voltar.

Era Márquez

O esporte a motor sempre viveu de ciclos, onde pilotos dominaram uma categoria em um determinado espaço de tempo. Particularmente no Mundial de Motovelocidade, tivemos grandes pilotos dominando a categoria principal de tempos em tempos. Duke, Surtees, Hailwood, Agostini, Doohan, Rossi... 

Todos foram grandes lendas do esporte, que está ganhando mais um membro. Quando um piloto ainda está em atividade, é difícil mensurar o quão grande ele é dentro da história. Lewis Hamilton é um exemplo claro disso. O inglês ainda está vencendo e aumentando os seus já superlativos números. Marc Márquez também está nesse estágio. O jovem espanhol de 24 anos ainda está conquistando muita coisa para podermos dizer com precisão aonde Márquez está dentro da história do Mundial de Motovelocidade, mas os números de Marc já impressionam. Em cinco temporadas na MotoGP, já são quatro títulos, deixando para trás pilotos do quilate de Valentino Rossi e Jorge Lorenzo. Em termos relativos, seus números de vitórias e poles já o colocam dentre os maiorais. Márquez vem reescrevendo a história do Mundial de MotoGP com seu talento e agressividade.

O título conquistado hoje teve muitas das características de Marc Márquez. Dono de uma tocada extremamente agressiva, Márquez quase pôs tudo a perder quando tomou a primeira posição de Johan Zarco na curva um e teve que se virar para não cair logo depois. Saindo da pista e caindo para quinto, Márquez ainda tinha uma confortável margem para ser tetracampeão em Valencia. As chances de Andrea Doviziozo eram mais formais do que realísticas e quando o italiano da Ducati caiu já nas últimas voltas da corrida, o título de Márquez estava consolidado.

Daniel Pedrosa ainda conseguiu aumentar a alegria da Honda ao ultrapassar Zarco na abertura da última volta e vencer pela segunda vez esse ano. Porém, o novato francês mereceu a honra de ser o melhor estreante e suas estratégias de pneus agressivas, além de combates corpo-a-corpo bem fortes já fazem de Zarco um piloto a ser observado no futuro, mesmo o francês não sendo tão jovem assim. A Yamaha teve que engolir uma moto 2016 brigando pela vitória, enquanto os modelos 2017 desapontaram, com Rossi em quinto e Viñales passando boa parte da corrida atrás da KTM de Bradley Smith. Maverick deu pinta de favorito ao título, mas o jovem espanhol foi se perdendo na medida em que a Yamaha 2017 se mostrava sensível demais quando as condições de pista e, principalmente, climáticas mudavam. Para o bem da MotoGP, 2018 espera uma Yamaha bem mais consistente.

Quando Doviziozo caiu, a Ducati começou a consolar uns aos outros, mostrando que a briga contra uma gigante como a Honda era tão desigual quanto a luta do próprio italiano contra alguém tão mais veloz quanto Márquez. A atitude de Lorenzo hoje e o 2018 da Ducati ficará para um post mais tarde, mas Andrea Doviziozo foi um dos grandes vitoriosos de 2017. Ninguém poderia esperar que o cerebral italiano levasse a disputa pelo título até a corrida final e pudesse fazer frente à Márquez. No placar das vitórias em 2017, ficou 6x6, sendo que duas vezes Doviziozo derrotou Márquez na última curva. Já contando com 31 anos de idade, será difícil para Andrea voltar a ter uma chance como a que teve em 2017, mas o italiano da Ducati fez muito mais do que dele se esperava.

Suzuki decepcionou após um ano excelente com Viñales ano passado e o instável Iannone, com quem a Suzuki apostou, ficou devendo muito, enquanto Rins chegou na frente do italiano na corrida final em Valencia. A KTM ainda tem muito a crescer, após um ano de aprendizado.

Com o campeonato de 2017 findo, a pergunta que fica é: quem poderá segurar Márquez?

sábado, 11 de novembro de 2017

Aproveitando a oportunidade

Não é segredo nenhum que Lewis Hamilton é bem mais rápido do que Valtteri Bottas. Isso é ponto pacífico. Mesmo o finlandês ter superado o companheiro de equipe em outras oportunidades no primeiro semestre, Hamilton é amplamente superior à Bottas. Se quisesse ser pole em Interlagos, Bottas deveria superar Ferrari e, principalmente, Hamilton. Como todo o esporte o imponderável acontece, Hamilton foi logo para a pista no Q1, olhando o céu carrancudo de São Paulo, tentando marcar logo um tempo competitivo antes de uma possível chuva. O inglês abriu sua volta, mas uma escapada no Laranjinha pôs tudo a perder para Lewis, que destruiu sua suspensão dianteira esquerda na barreira de pneus e largará em último amanhã. Tudo que Bottas necessitava agora era derrotar a Ferrari. A tarefa não foi simples, mas o finlandês fez bem seu trabalho para conquistar sua terceira pole na carreira.

O Q1 teve como principal evento a garantia de que a corrida, independentemente do clima, será de emoção. A batida de Hamilton ainda em sua primeira volta rápida abriu o leque de opções para a pole, já que o inglês era o favorito a largar na ponta e amanhã será o último, isso se não tiver que largar dos boxes. Atormentado por uma quebra no treino livre de sábado, Stroll ficou pelo caminho no Q1, com um tempo muito pior do que o de Massa. Na Toro Rosso, o clima esquentava com a guerra aberta com a Renault e seus motores que estouram, além do flagra da discussão entre Cyril Abiteboul (Renault) e Helmut Marko (Red Bull) no paddock de Interlagos. Ameaças de boicote não devem melhorar um relacionamento que um dia produziu um tetracampeonato e hoje causa arrepios com uma confiabilidade ruim.

Em sua última classificação em Interlagos, Felipe Massa foi coerente com sua temporada. O brasileiro prometeu muito com ótimos tempos no Q1 e no Q2, mas no Q3 ele decepcionou e com a punição de Ricciardo, largará apenas em nono. Mesmo levando a Williams ao Q3 depois de muito tempo, ficou um gostinho de quero mais para Massa. Com a Red Bull claramente fora da briga, a luta pela pole seria entre Bottas e a dupla da Ferrari, principalmente Vettel, que conseguiu um excelente tempo no Q2. O alemão bem que tentou, mas em sua última volta Bottas garantiu a pole com a melhor volta feita na história de Interlagos. Pelo menos, a versão de quatro quilômetros...

Se a chuva não veio hoje a ponto de embaralhar o grid, amanhã a previsão é de sol forte. Se quiser ser vice no final do ano, Bottas terá que aproveitar bem a oportunidade que tem, não tendo Hamilton à sua frente e com uma Mercedes num ritmo de corrida bem melhor do que a da Ferrari. Mais atrás, é esperado um show de ultrapassagens de Hamilton.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Mãos ao alto

Como em 2009, vou utilizar esse espaço para falar do assalto a mão armada que aconteceu ontem no Castelão. Como em 2009, o Ceará sofreu para empatar com o Guarani, após ficar atrás duas vezes do time campineiro. Oito anos atrás, o Paraná fez um gol claríssimo de mão, acabando com a invencibilidade do Vozão de forma irregular. Ontem, o Ceará se preparava para um virada histórica contra uma equipe tradicionalmente complicada e Richardson balançou as redes no final do jogo, para logo em seguida ter seu tento anulado. Impedimento. O volante do Ceará não estava impedido duas vezes. Primeiro, porque estava atrás da linha da bola. O impedimento só se configura quando o atacante está na frente da linha da bola no momento do lançamento. E por último, Richardson saiu de trás da linha de zagueiros. Simplesmente uma vergonha! Quando vi que o árbitro seria baiano, esperava até mesmo uma 'ajudinha' por ser nordestino, mas Marielson Alves Silva atrapalhou tudo. Espero que, como em 2009, depois de tudo isso, o resultado seja o mesmo no final dessa série B.

sábado, 4 de novembro de 2017

Aposentadoria II

Sem nenhuma surpresa, pelos últimos fatos em suas negociações de renovar com a Williams, nessa manhã Felipe Massa postou em suas redes sociais um pequeno vídeo anunciando que fará suas duas últimas corridas na F1 em Interlagos e Abu Dhabi, no final desse mês.

O anúncio desta manhã foi resultado de uma temporada irregular de Massa, muito pela decadência da Williams em 2017, causada principalmente pela aproximação dos motores Ferrari e Renault junto à Mercedes. O propulsor alemão ainda é o mais potente, mas a diferença caiu muito e os pontos fracos da Williams ficaram mais evidentes. Quando teve a melhor temporada dos últimos vinte anos em 2014, a Williams se apoiou na grande diferença do motor Mercedes frente ao resto, mas na medida em que as rivais foram se aproximando da Mercedes, a Williams ia perdendo mais e mais desempenho. Sem muitas portas abertas em equipes interessantes, Felipe anunciou sua primeira aposentadoria em 2016, mas o destino fez com que Massa retornasse à Williams antes mesmo de sair quando Nico Rosberg derrubou a primeira peça de um dominó que bagunçou todo o mercado de pilotos no final do ano passado.

Felipe teria várias missões esse ano. Com a mudança de regulamento, o brasileiro usaria sua vasta experiência para tentar melhorar um carro saído praticamente do zero. A outra missão era ser uma espécie de tutor para o novato e endinheirado Lance Stroll, que estreava na F1 muito por que seu pai Lawrence comprou parte das ações da Williams, além de desenvolver um esquema de testes praticamente inédito unicamente para Lance não fazer feio em seu debute na F1. Massa foi piloto de testes da Ferrari, mas nunca foi um grande desenvolvedor de carros, mesmo que tenha contribuído para apontar os vários pontos fracos do novo carro da Williams. Felipe foi um ponto de referência para Stroll, onde o canadense teve que se virar para andar no mesmo ritmo de Massa e na maioria das vezes não conseguiu. Porém, Stroll mostrou velocidade, arrojo e estrela durante a temporada a ponto de conseguir o único pódio da Williams no ano em Baku de forma totalmente fortuita. Nessa mesma prova no Azerbaijão, Massa tinha até chances de vencer, mas acabou traído pela suspensão do seu carro. 

Mesmo andando mais forte do que Stroll no geral, a tabela de pontos mostrava o canadense próximo  de Felipe e com outra boa corrida de Lance no México, o novato estava na frente de Massa no campeonato. Queira ou não, isso pegou muito mal para um piloto tão experiente quanto Felipe Massa. A Williams também percebeu isso e de forma descarada, procurava um piloto para 2018. Como Stroll paga as contas, a vaga era de Felipe. O novo regulamento trouxe um carro mais veloz e gostoso de se pilotar, fazendo Massa pedir outro ano na F1. Como novamente as portas estavam fechadas, até mesmo pelo ano mezzo/mezzo de Massa, a Williams era a única alternativa. Enquanto isso, o time do tio Frank testava pilotos. O acidentado Robert Kubica, o piloto de testes Paul di Resta e até mesmo o seguidamente demitido Kvyat tinham chances. Era demais para Massa!

Tentando terminar a carreira do seu jeito, Massa anunciou sua segunda aposentadoria nessa manhã. Ele fez algo que, por exemplo, Rubens Barrichello não teve oportunidade. Não foi aposentado. Aposentou-se. 

A saída de Massa na F1 é um golpe duro no combalido automobilismo brasileiro. Se algo de outro planeta não ocorrer até o final do ano, a certeza de que não haverá nenhum piloto brasileiro na F1 em 2018 é uma certeza 100%. E o futuro a curto prazo não indica que nada mudará isso. Sergio Sette Câmara foi colocado para fora do programa da Red Bull e fez um ano irregular na F2, onde conquistou vitórias por causa da discutível inversão no grid na segunda corrida de cada etapa da categoria. Pedro Piquet é uma enorme desilusão na F3 Europeia e só terá um terceiro (!) ano na categoria por causa do sobrenome famoso. E só. Pietro Fittipaldi lidera a World Series, que está muito longe dos bons tempos, com grid magros e de qualidade duvidosa.

Até mesmo a transmissão aqui para o Brasil está em dúvida, com a possibilidade real de mais e mais corridas migrando da Globo para o Sportv, com seu trio de transmissão bem pior do que da Globo. Acreditem, não estou exagerando! 

Por fim, Massa. Foram quinze temporadas onde o brasileiro teve muitos altos e baixos, teve uma pouco comum segunda chance quando foi enxotado da Sauber no final de 2002, mas voltou à equipe dois anos depois. Viveu seus melhores anos na Ferrari e sem sombra de dúvida, seu auge ocorreu em 2008, quando por muito pouco não derrotou Lewis Hamilton. E hoje temos a noção onde o inglês está na história da F1. Seu acidente em Hungaroring/2009 foi um marco em sua carreira. Por mais que negue, Massa nunca mais foi o mesmo piloto de antes do acidente e somente seu aguerrimento e seriedade o deixou na F1 por tanto tempo ainda. Por causa dessas duas características, Felipe Massa tem o merecido respeito de toda a F1. Apesar de algumas críticas, Massa teve uma carreira para se orgulhar e durante quatro temporadas (2006-2009), foi um dos melhores pilotos do grid da F1.

O que ele fará daqui para frente, ainda não se sabe (F-E, Indy, Stock...). Mas como o próprio Felipe já falou, que ele seja feliz por qualquer caminho que ele trace a partir de 2018.