sábado, 4 de novembro de 2017

Aposentadoria II

Sem nenhuma surpresa, pelos últimos fatos em suas negociações de renovar com a Williams, nessa manhã Felipe Massa postou em suas redes sociais um pequeno vídeo anunciando que fará suas duas últimas corridas na F1 em Interlagos e Abu Dhabi, no final desse mês.

O anúncio desta manhã foi resultado de uma temporada irregular de Massa, muito pela decadência da Williams em 2017, causada principalmente pela aproximação dos motores Ferrari e Renault junto à Mercedes. O propulsor alemão ainda é o mais potente, mas a diferença caiu muito e os pontos fracos da Williams ficaram mais evidentes. Quando teve a melhor temporada dos últimos vinte anos em 2014, a Williams se apoiou na grande diferença do motor Mercedes frente ao resto, mas na medida em que as rivais foram se aproximando da Mercedes, a Williams ia perdendo mais e mais desempenho. Sem muitas portas abertas em equipes interessantes, Felipe anunciou sua primeira aposentadoria em 2016, mas o destino fez com que Massa retornasse à Williams antes mesmo de sair quando Nico Rosberg derrubou a primeira peça de um dominó que bagunçou todo o mercado de pilotos no final do ano passado.

Felipe teria várias missões esse ano. Com a mudança de regulamento, o brasileiro usaria sua vasta experiência para tentar melhorar um carro saído praticamente do zero. A outra missão era ser uma espécie de tutor para o novato e endinheirado Lance Stroll, que estreava na F1 muito por que seu pai Lawrence comprou parte das ações da Williams, além de desenvolver um esquema de testes praticamente inédito unicamente para Lance não fazer feio em seu debute na F1. Massa foi piloto de testes da Ferrari, mas nunca foi um grande desenvolvedor de carros, mesmo que tenha contribuído para apontar os vários pontos fracos do novo carro da Williams. Felipe foi um ponto de referência para Stroll, onde o canadense teve que se virar para andar no mesmo ritmo de Massa e na maioria das vezes não conseguiu. Porém, Stroll mostrou velocidade, arrojo e estrela durante a temporada a ponto de conseguir o único pódio da Williams no ano em Baku de forma totalmente fortuita. Nessa mesma prova no Azerbaijão, Massa tinha até chances de vencer, mas acabou traído pela suspensão do seu carro. 

Mesmo andando mais forte do que Stroll no geral, a tabela de pontos mostrava o canadense próximo  de Felipe e com outra boa corrida de Lance no México, o novato estava na frente de Massa no campeonato. Queira ou não, isso pegou muito mal para um piloto tão experiente quanto Felipe Massa. A Williams também percebeu isso e de forma descarada, procurava um piloto para 2018. Como Stroll paga as contas, a vaga era de Felipe. O novo regulamento trouxe um carro mais veloz e gostoso de se pilotar, fazendo Massa pedir outro ano na F1. Como novamente as portas estavam fechadas, até mesmo pelo ano mezzo/mezzo de Massa, a Williams era a única alternativa. Enquanto isso, o time do tio Frank testava pilotos. O acidentado Robert Kubica, o piloto de testes Paul di Resta e até mesmo o seguidamente demitido Kvyat tinham chances. Era demais para Massa!

Tentando terminar a carreira do seu jeito, Massa anunciou sua segunda aposentadoria nessa manhã. Ele fez algo que, por exemplo, Rubens Barrichello não teve oportunidade. Não foi aposentado. Aposentou-se. 

A saída de Massa na F1 é um golpe duro no combalido automobilismo brasileiro. Se algo de outro planeta não ocorrer até o final do ano, a certeza de que não haverá nenhum piloto brasileiro na F1 em 2018 é uma certeza 100%. E o futuro a curto prazo não indica que nada mudará isso. Sergio Sette Câmara foi colocado para fora do programa da Red Bull e fez um ano irregular na F2, onde conquistou vitórias por causa da discutível inversão no grid na segunda corrida de cada etapa da categoria. Pedro Piquet é uma enorme desilusão na F3 Europeia e só terá um terceiro (!) ano na categoria por causa do sobrenome famoso. E só. Pietro Fittipaldi lidera a World Series, que está muito longe dos bons tempos, com grid magros e de qualidade duvidosa.

Até mesmo a transmissão aqui para o Brasil está em dúvida, com a possibilidade real de mais e mais corridas migrando da Globo para o Sportv, com seu trio de transmissão bem pior do que da Globo. Acreditem, não estou exagerando! 

Por fim, Massa. Foram quinze temporadas onde o brasileiro teve muitos altos e baixos, teve uma pouco comum segunda chance quando foi enxotado da Sauber no final de 2002, mas voltou à equipe dois anos depois. Viveu seus melhores anos na Ferrari e sem sombra de dúvida, seu auge ocorreu em 2008, quando por muito pouco não derrotou Lewis Hamilton. E hoje temos a noção onde o inglês está na história da F1. Seu acidente em Hungaroring/2009 foi um marco em sua carreira. Por mais que negue, Massa nunca mais foi o mesmo piloto de antes do acidente e somente seu aguerrimento e seriedade o deixou na F1 por tanto tempo ainda. Por causa dessas duas características, Felipe Massa tem o merecido respeito de toda a F1. Apesar de algumas críticas, Massa teve uma carreira para se orgulhar e durante quatro temporadas (2006-2009), foi um dos melhores pilotos do grid da F1.

O que ele fará daqui para frente, ainda não se sabe (F-E, Indy, Stock...). Mas como o próprio Felipe já falou, que ele seja feliz por qualquer caminho que ele trace a partir de 2018.

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