domingo, 26 de novembro de 2017

Final indigno

Somente a alta grana investida pelos árabes explica o circuito de Yas Marina, tradicional palco de corridas horrorosas, continue não apenas no calendário da F1, como sendo local da última prova da temporada. A temporada 2017 foi legal demais para ter um final tão sem-vergonha como esse em Abu Dhabi. Há pouco a ser dito de uma corrida onde os melhores momentos aconteceram em brigas pela 13º posição (Grosjean/Stroll e Magnussen/Wehrlein). Bottas não tem nada com isso e conseguiu uma vitória categórica em Abu Dhabi.

Como falado acima, não é necessário muitas linhas para falar de uma corrida que até a largada, momento em que normalmente acontecem coisas interessantes, simplesmente não aconteceu nada. Os doze primeiros colocados do grid completaram a primeira volta na mesma posição. Bottas, Hamilton, Vettel, Ricciardo, Raikkonen e Verstappen. A única mudança entre os seis primeiros foi o abandono de Ricciardo, completando um final de temporada desapontador para o australiano, que com tantos abandonos perdeu o quarto lugar no Mundial de pilotos para Raikkonen. Verstappen nunca ficou longe de Raikkonen, da mesma forma que nunca atacou o piloto da Ferrari. Vettel esperava ter um ritmo de corrida próximo da Mercedes, mas os 20s que tomou no final da corrida deu a medida da distância que a Ferrari esteve hoje da Mercedes. Com o abandono de Ricciardo, Vettel fez uma corrida extremamente solitária. Sem ter nada com que brigar, a Ferrari apenas cumpriu tabela. O único momento interessante no pelotão dianteiro foram as tentativas de Hamilton brigar pela vitória. O inglês, com pneus supermacios, se aproximou de Bottas, abriu o DRS, mas ficou mesmo em segundo. Méritos para Bottas. O finlandês teve um meio de temporada discreto a ponto de ser criticado pela cúpula da Mercedes, mas hoje Bottas fez uma corrida digna de um piloto que quer algo mais do que ser coadjuvante de luxo dentro da Mercedes. Valtteri não errou com a pressão de Hamilton e mostrou reservas quando o companheiro de equipe mais se aproximou. O finlandês só não conseguiu o Grand-Chelem porque Hamilton resolveu ficar algumas voltas na pista depois da parada de Bottas, mas o nórdico conseguiu o Grand-Slam (pole, vitória e melhor volta da corrida).

No meio do pelotão, Nico Hulkenberg se livrou dos problemas que o atingiram nas últimas corridas e superou a Force India mesmo sendo punido, quando conseguiu uma vantagem ao ultrapassar Pérez na primeira volta. O alemão se manteve forte a corrida toda em sexto e com os pontos conquistados, subiu para décimo no Mundial de Pilotos. Sainz estava fora dos pontos quando abandonou por erro da Renault, que não apertou corretamente sua roda em seu pit-stop. A Force India foi superada pela Renault de Hulk, mas fez seu papel de quarta força de 2017. Demonstrando força nessas corridas finais, Alonso superou Massa e marcou dois pontos, assegurando que após um início tenebroso, a Honda deu indícios de melhoras. Só que tarde demais para a paciência de Alonso e da McLaren, que correrão de Renault em 2018. Massa se despediu da F1 de forma digna, marcando ponto com um carro que nem é mais o quinto mais rápido do grid. Com a aposentadoria de Felipe, o Brasil não terá nenhum representante na F1 em 2018. Apesar de ter perdido o décimo lugar para Hulkenberg na corrida derradeira, Massa pelo menos superou seu companheiro de equipe pela primeira vez na F1, com Stroll tendo uma corrida que lembrou seus primeiros movimentos na F1. Muito ruins. Criticado de forma errônea pelo trio da Globo, Grosjean conseguiu ultrapassar Stroll com categoria e numa corrida cerebral, quase levou a descendente Hass aos pontos, enquanto Magnussen rodava na primeira volta e ficava no pelotão de trás, junto com as duplas de Toro Rosso e Sauber.

Nós somente temos noção do quão bom foi uma temporada na medida em que olhamos para trás e lembrarmos das coisas boas que ela nos proporciona. Observando no retrovisor, conseguimos enxergar uma temporada onde duas marcas gigantescas (Mercedes e Ferrari) construíram carros que foram superiores aos demais na maioria as vezes e sempre brigaram pela vitória. Além de dois tetracampeões (Vettel e Hamilton) mostrando o seu melhor para se sobressair numa luta que durou dois terços do ano. Não fossem os erros da Ferrari e Vettel poderia estar brigando com Hamilton até a última corrida. Além de tudo isso, ainda vimos que Vettel e Hamilton tem dois coadjuvantes competentes e que a Red Bull tem uma dupla com potencial de serem campeões do mundo. Verstappen vai confirmando que ele é um cara especial. Além disso, vimos Alonso cada vez mais maduro e com gana de voltar a vencer e o surgimento de Esteban Ocon como uma possível estrela do futuro. A F1 teve um grande ano e já ficamos na expectativa de 2018. Portanto, o melhor a se fazer é riscar a corrida de Abu Dhabi de nossas cabeças e curtir o que se passou em 2017 e o que poderá vir em 2018.

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