domingo, 30 de junho de 2019

Emoção em dose dupla

Enquanto a MotoGP comemorava o pódio do Grande Prêmio da Holanda, uma das corridas mais esperadas do calendário das duas rodas, a transmissão da F1 começava. Emendar uma corrida de MotoGP com F1 não parecia uma boa ideia. Enquanto a MotoGP vive seu esplendor com corridas de tirar o fôlego, a F1 viveu três semanas turbulentas, talvez a maiores dos últimos tempos. Teve até gente açodada (ou oportunista) apostando na morte da F1. A belíssima corrida de hoje não aplaca a crise que a categoria passa, mas também não deixa de ser uma resposta para os fatalistas de plantão, além de mostrar que só falta um carro consistentemente rápido para Max Verstappen ser campeão de F1.

A corrida de hoje, sem querer ser demagógico ou imediatista, foi uma das melhores dessa década e mostrou uma das grandes exibições individuais da história. O que Max Verstappen fez hoje no Red Bul Ring seria assinado por qualquer gênio dos setenta anos da história da F1. O holandês mostrou garra, personalidade, velocidade e controle para conquistar uma das vitórias mais dramáticas dos últimos tempos, contra todos os prognósticos. Mesmo correndo com um motor Honda que se desenvolve cada vez mais, Verstappen e todo o staff da Red Bull sabiam que a pista cheia de retas da Áustria não favorecia os carros azuis, por mais que estivessem correndo em casa e Verstappen tenha vencido ano passado, mesmo que de forma casual, aproveitando o abandono duplo da Mercedes. Porém, Max deve ter olhado para a torcida, que pareceu deixar de lado o tradicional TT holandês em Assen e coloriu de laranja o circuito da casa de sua equipe. Verstappen parecia que corria em Zandvoort. O holandês teve um final de semana sublime, só vacilando em único momento que pareceu decisivo: a largada. Max saiu muito mal, quase atrapalhou Hamilton e caiu da segunda para a sétima posição. O primeiro stint de Verstappen foi bem usual, ultrapassando a McLaren de Lando Norris e a Alfa Romeo de Kimi Raikkonen para se posicionar em quinto, enquanto Charles Leclerc dominava a corrida, seguido pela dupla da Mercedes e Vettel. Uma corrida bem ordinária, mas que logo ganharia contornos históricos. Num calor quixadaense, Spielberg maltratou bastante os carros e pneus, os polêmicos pneus Pirelli com borracha mais fina para não ter bolhas, mas elas ainda apareceram. Ainda assim praticamente todo o pelotão preferiu parar apenas uma vez, colocando os pneus duros para uma corrida até o final. Foi o começo da grande corrida de Verstappen. 

O holandês foi um dos últimos a parar e se aproveitou de dois eventos nos boxes. Primeiro a Ferrari se atrapalhou toda no pit-stop de Vettel, com os mecânicos ainda chegando com os pneus para montar no carro do alemão, quando Seb já estava parado, fazendo-o perder muito tempo. Depois Hamilton abusou das zebras e precisou trocar a asa dianteira. Com as paradas terminadas, Verstappen estava em quarto, muito próximo de Vettel. E o alemão seria a primeira vítima do holandês. Nesse momento, numa corrida atipicamente muito quente, os quatro primeiros estavam separados por 8s! Assim que ultrapassou Vettel, Max foi para cima de um opaco Bottas, deixando a Mercedes com uma facilidade desconcertante para um piloto que venceu duas vezes nesse ano e sonhava em abrir luta com Hamilton pela título. Sonhava... Até então Charles Leclerc fazia uma corrida dominante, parecida com o que fez no Bahrein, mas acabou traído por um problema técnico da Ferrari. Leclerc e Verstappen foram rivais ferrenhos no kart e agora se encontrariam para uma disputa pela vitória na F1. Nas arquibancadas, os holandeses iam à loucura com a exibição de gala de Verstappen. Mas ainda teria mais? Leclerc reagiria à aproximação de Max? O holandês ainda teria pneus?

A resposta foi dada com uma aproximação surpreendentemente rápida de Max. Faltando quatro voltas para a bandeirada começaram os ataques, com os dois andando lado a lado, antes de Leclerc conseguir se sobressair. Porém, Verstappen estava com mais carro e se arriscou para ultrapassar à fórceps quando faltavam duas voltas rumo a uma vitória épica. Mas qual foi o risco que Verstappen se envolveu? A F1 continua em crise mesmo com a bela corrida de hoje. A polêmica punição à Vettel em Montreal veio à tona na manobra forte que fez Verstappen superar Leclerc, que reclamou um bocado. Veio o aviso da investigação da ultrapassagem, que demorou inusuais três horas para anunciar o veredicto. Muitos falaram que a razão para tanta demora seria o medo dos holandeses quebrarem tudo se a punição de Verstappen acontecesse. Algo que fazia sentido, mas atrás das portas dos comissários, muito deve ter sido debatido com Red Bull e Ferrari. Correndo em casa e já tendo ameaçado abandonar a F1, a Red Bull deve ter colocado muita pressão para que o resultado fosse mantido, enquanto a Ferrari deve ter feito uma pressão danada de uma episódio que muitas vezes resultou em punição num passado recente, além dos italianos terem sido prejudicados na última vez que os comissários estiveram envolvidos. No meio disso tudo, a F1 temia pelo o que aconteceria em sua imagem se uma segunda grande corrida fosse decidida pelos comissários. Pelo bem do esporte, Verstappen teve sua vitória mantida. Tom Kristensen teve o bom senso que faltou ao seu antigo companheiro de equipe na Audi Emanuele Pirro em Montreal.

Foi uma vitória de lavar a alma para todos, principalmente pela Honda. Enquanto teve como principal piloto Fernando Alonso, os japoneses eram constantemente humilhados pelos sarcásticos comentários do espanhol sobre o motor ainda fraco, mas em desenvolvimento. Pela primeira vez na era híbrida e depois de treze anos de jejum, a Honda subiu ao alto do pódio na F1 para desespero de Alonso, enquanto Max mostrava o símbolo da Honda para mostrar que o árduo trabalho dos japoneses parecer finalmente dar certo. Já Verstappen mostrou que sua pilotagem agressiva vai sendo domesticada, enquanto seu talento e velocidade permaneciam intactos. Enquanto isso, Pierre Gasly tomava uma volta do seu companheiro de equipe e não conseguia ultrapassar a McLaren de Norris. Já se fala que Kvyat poderia trocar com Gasly ainda antes do final da temporada. Se serve de consolo para o francês, o próprio russo serve de exemplo de uma carreira que ainda não foi destruída por Marko, apesar de Kvyat nem merecer uma vaga numa equipe grande, em outra prova burocrática do russo.

Leclerc ficou próximo da vitória mais uma vez, mas viu escapar o triunfo novamente no fim. O monegasco vinha fazendo uma prova perfeita até que a melhor gestão de pneus de Verstappen o suplantasse nas voltas finais. A vitória de Leclerc virá, mas essas bolas na trave podem começar a pesar na cabeça do piloto da Ferrari. Vettel foi ultrapassado por Verstappen e tentou uma tática diferente, visitando os boxes novamente. O alemão demorou demais a encontrar Hamilton e só o ultrapassou na penúltima volta. Vettel quase beliscou o pódio quando já tinha Bottas na alça de mira, mas a corrida terminou antes de qualquer ataque. O problema mecânico no treino de ontem, somado à besteira da Ferrari no primeiro pit-stop de Vettel poderiam ter mudado completamente a corrida de Seb e até mesmo o vencedor. A Mercedes teve de longe sua pior corrida do ano, com seus dois pilotos sofrendo com superaquecimento e Hamilton numa jornada irreconhecível, tendo que se conformar com uma opaca quinta colocação, mas nem por isso o hexa não está em questão, já que o vice Bottas também não fez uma corrida para recordar.

Mesmo com uma pontinha de ciúme ao ver a Honda triunfar, a McLaren tem o que comemorar. Com a metade do campeonato chegando, a tradicional equipe vai se firmando como a melhor do segundo pelotão. Lando Norris fez uma corrida estupenda, chegando a brigar com seu compatriota Lewis Hamilton na primeira volta, antes de superar Kimi Raikkonen, que tem o dobro de sua idade. Norris não apenas superou o nórdico, como segurou Gasly, que tinha o mesmo carro do vencedor de hoje. Enquanto o novato Norris fazia uma bela corrida na frente, vindo de trás Carlos Sainz não deixou por menos. O espanhol foi punido por uma troca de motor e largou na última fila, mas numa corrida de recuperação sensacional, Sainz chegou em oitavo, ganhando onze posições com relação aonde largou, fazendo com que a McLaren suplantasse a Renault, que finalizou o final de semana austríaco zerada. A Alfa Romeo conseguiu colocar seus dois carros na zona de pontuação, com Raikkonen sempre brigando pela pontos, enquanto o italiano Giovinazzi conseguindo seu primeiro ponto na F1 e o primeiro da Itália em oito anos. Numa corrida sem abandonos, Racing Point superou Toro Rosso e Haas, com a equipe americana tendo um ritmo de corrida assustador. Num circuito curto, novamente Russell colocou uma volta em Kubica. A volta do polonês começa a ficar bastante desagradável.

Depois de muito tempo, pode-se afirmar que a F1 superou a MotoGP no quesito emoção, muito graças a exibição mitológica de Max Verstappen. Enquanto a Red Bull for se acertando com a Honda, o holandês pode apenas nos dar pequenos lampejos de sua capacidade, mas pelo o que mostrou hoje na corrida caseira de sua equipe, Ferrari e Mercedes, Hamilton, Vettel e Leclerc podem começar a ficar com as barbas de molho. Quando a Red Bull acertar, Max Verstappen mostrou que pode liderar o time. Imaginem se uma corrida como essa acontecer nas vésperas do Grande Prêmio da Holanda do ano que vem? A torcida holandesa gritará muitos gols nas arquibancadas de Zandvoort!

Exemplo de competitividade

Marc Márquez continua líder da MotoGP e mesmo não vencendo, aumentou sua diferença no campeonato e caminha a passos largos para o hexacampeonato de forma dominante. Na verdade, desde que estreou na MotoGP, Márquez tomou posse do posto de melhor piloto da MotoGP com alguma vantagem sobre os demais. Se em 2015 o espanhol perdeu o título pela falta de consistência, nos últimos anos Márquez aprendeu que marcar pontos também é importante, ainda que sem perder seu estilo agressivo. Márquez vai se aproveitando da enorme competitividade atual da MotoGP. Maverick Viñales deu a primeira vitória da Yamaha em 2019, fazendo que a montadora dos diapasões fosse a quarta moto diferente a vencer nessa temporada.

Enquanto na F1 conheceu hoje seu primeiro vencedor diferente de alguém que corre com Mercedes em 2019, a MotoGP dá um exemplo que uma categoria de elite e com altos investimentos consegue ser competitiva, mesmo que com alguém dominando. A hegemonia de Márquez praticamente coincidiu com o domínio da Mercedes e de Hamilton, mas a sensação que a F1 enfrenta uma grande crise, enquanto a MotoGP, mesmo com títulos sendo conquistados com até mais antecedência do que a F1, vive sua terceira fase de ouro. Na catedral de Assen, a corrida não foi tão incrível como a do ano passado, mas esteve longe de ser chata. O fenômeno Fabio Quartararo conseguiu a pole, mas não aproveitou muito a sensação de estar na ponta com a ótima largada da dupla da Suzuki. O duo Rins e Mir ponteavam a corrida e o primeiro, líder da equipe, tinha tudo para vencer quando caiu sozinho, deixando Mir sozinho contra os leões. O coitado do novato espanhol foi engolido por Quartararo, Márquez e Viñales em poucas curvas. E foram os três que brigaram pela vitória. 

Quartararo é um raro caso de piloto que não conseguiu muito sucesso nas categorias de base antes de brilhar na MotoGP, numa trajetória muito parecida com Casey Stoner. O francês era considerado um fenômenos nas categorias espanholas, mas não deixou de decepcionar na Moto3 e na Moto2, onde sequer brigou pelo título e só conseguiu suas primeiras vitórias na Moto2. Guindado à MotoGP de forma surpreendente, Quartararo vem se destacando de forma impressionante em seu ano de estreia. Na corrida de hoje Fabio liderou boa parte da corrida com uma moto assustadoramente desequilibrada, mas quando os pneus da sua Yamaha satélite não aguentaram mais tamanho castigo, o francês ficou em terceiro e subiu ao segundo pódio consecutivo. Márquez e Viñales se isolaram na ponta, com o espanhol da Yamaha com uma moto mais equilibrada. Os dois ibéricos eram rivais nas categorias de base espanholas e a briga entre eles era muito esperada. No entanto, enquanto a talento de Márquez desabrochou rapidamente, Viñales ainda falta melhorar o psicológico para poder brigar ombro a ombro com Márquez, como aconteceu hoje, quando Maverick venceu como quis.

Enquanto um lado da Yamaha de fábrica vibrava, Valentino Rossi não tinha o que comemorar. Após uma classificação decepcionante, a lenda italiana errou nas primeiras voltas em Assen e ainda levou Nakagami junto, na terceira queda de Rossi consecutiva. O Doutor enxerga as outras três Yamahas no top-5, enquanto não consegue passar ao Q2. Uma situação muito ruim para uma lenda viva. Dez anos atrás Rossi conquistava seu sétimo título na MotoGP tendo como rival o atrevido Jorge Lorenzo. O espanhol cresceu, ganhou três títulos e se tornou também uma estrela da MotoGP, mas com apenas 32 anos de idade Lorenzo já está ocaso de sua carreira. Depois do seu infame incidente em Barcelona, Lorenzo machucou as costas nos treinos na Holanda e ficará de molho algumas semanas, bem no meio de uma temporada em que ainda não andou forte com a Honda. Rossi e Lorenzo. Dois nomes gigantes da MotoGP, mas já longe da animada briga pela ponta de 2009.

Mesmo derrotado, Márquez saiu de Assen com motivos para sorrir. A Ducati já foi considerada a melhor moto do pelotão, mas Doviziozo não brigou sequer pelo pódio e quase foi ultrapassado pela Yamaha de Morbidelli. Rins caiu nas primeiras voltas, enquanto Rossi já zerou três vezes seguidas. Quatro motos diferentes na ponta e uma bela competitividade, mas apenas Márquez consegue a consistência necessária rumo ao título. 

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Figura(FRA): Lewis Hamilton

O que poderemos reclamar de Hamilton? Por ser bom demais? O inglês não teve dó, nem piedade dos seus adversários em Paul Ricard. Foi um domínio poucas vezes visto de Hamilton nesse domingo. Lewis liderou todas as voltas ontem e só não ficou com a melhor volta por meros 0.024s. Porém, Hamilton parece não estar satisfeito. O inglês sabe que a monótona temporada de 2019 não faz bem ao esporte e Hamilton precisa de motivação para se manter na F1 nos próximos anos e nos brindar com seu talento fora da curva. Mas até Hamilton está enfadado com a F1 nessa temporada.

Figurão(FRA): Pierre Gasly

Numa corrida que de tão ruim já poderia fazer parte dessa coluna, teve um destaque ainda mais negativo nesse domingo. Correndo em casa Pierre Gasly parece que não se empolgou com a força da torcida francesa e teve mais um final de semana tenebroso nessa sua primeira temporada na Red Bull. Se já não bastasse não conseguir andar no mesmo ritmo de Max Verstappen, Gasly conseguiu a proeza de ficar atrás de alguns carros das equipes ditas da F1-B. Na classificação o francês ficou atrás da dupla da McLaren, mas em ritmo de corrida Gasly foi ainda pior, só conseguindo marcar um mísero ponto por causa da dupla punição de Ricciardo. Gasly não teve um ritmo decente em nenhum momento da corrida, ficando atrás dos pilotos com motores Renault e não conseguindo fazer uma ultrapassagem sequer. Alçado à piloto da Red Bull com a saída repentina de Daniel Ricciardo, Gasly vai se mostrando que não está pronto para estar numa equipe de ponta. Sua corrida caseira é mais uma na coleção de vexames que Gasly vai dando em 2019 e com a conhecida pouca paciência da cúpula da Red Bull com seus pilotos, o francês já deve começar a pensar no que fazer fora da F1 a partir do ano que vem.

domingo, 23 de junho de 2019

Valeu pelo resto

Depois da tenebrosa corrida em Paul Ricard na F1, o que viesse em seguida dificilmente seria pior. A Indy já tinha uma boa vantagem sobre a F1 nesse final de semana: estaria correndo em seu melhor misto, Road America. A corrida foi boa? Sim. Teve briga pela liderança? Nisso, foi até pior do que a F1! Mas da mesma forma que Lewis Hamilton não pode ser criticado pela sua competência, ninguém poderá crucificar Alexander Rossi em meter 28s sobre o segundo colocado numa corrida sem bandeiras amarelas, mas que teve bastante disputas nas demais posições.

O passeio de Rossi começou na segunda curva, quando fez uma corajosa manobra em cima do pole Colton Herta para assumir a ponta da prova e simplesmente desaparecer na frente. O piloto da Andretti não tomou conhecimento dos seus adversários e venceu com uma folga de quase meio minuto, algo bastante raro na Indy, onde a diferença nos carros é apenas de motor e acerto, já que o chassi e os pneus são os mesmos para todos. Isso apenas aumenta o feito de Rossi, que com a segunda vitória em 2019 ficou apenas sete pontos atrás de Newgarden no campeonato. O americano da Penske fez uma corrida discreta para ser terceiro colocado. Após um ataque em cima de Will Power depois da primeira parada, Newgarden se colocou em terceiro e mesmo atacado por Graham Rahal, permaneceu na posição de pódio, com Power confirmando o segundo lugar.

Scott Dixon fez outra corrida daquelas de nota. Tocado por Ryan Hunter-Reay na primeira volta, o neozelandês caiu para último e com um carro que estava longe de estar bem acertado, foi galgando posições até conseguir um impressionante quinto lugar, superando Colton Herta na última volta. O jovem americano tem um grande talento e já merece uma equipe grande para brigar até mesmo pelo título, mas enquanto estiver na pequena Harding, terá que conviver com erros de pit-stop como de hoje e erros de estratégia, que o fez estar com pneus macios no último stint e perder várias posições devido ao desgaste.

Se não houve briga pela liderança, pelo menos a Indy nos mostrou que um bom circuito pode nos trazer corridas interessantes, mesmo que da segunda posição para trás.

Indefensável

A década de 2010 conseguiu produzir algumas temporadas memoráveis, como foi o caso de 2010, 2012, 2014, 2016, 2017 e 2018. Foram disputas de títulos apertadas, mesmo que entre companheiros de equipe, sem contar as boas corridas que tivemos a sorte de acompanhar. O ano de 2019 tem tido o mesmo efeito de 1988 nos inesquecíveis anos 1980, ou 1992 na década de 1990 ou ainda 2002 nos anos 2000. Simplesmente não está acontecendo nada nessa temporada e a corrida de hoje em Paul Ricard foi exemplo enfático que nos foi jogado na cara. O Grande Prêmio da França de 2019 foi de uma falta de fatos assustador. Vou nem falar em emoção, pois isso faltou desde sábado. 2019 está sendo, de longe, a pior temporada dessa década na F1.

Claro que Lewis Hamilton e a Mercedes não tem do que reclamar, mas se estivessem dominando a temporada vindo de boas corridas, estaríamos até satisfeitos, como ocorre na MotoGP e o domínio de Márc Márquez. O problema na F1 é que as corridas não estão muito boas e a prova de hoje foi terrivelmente chata e sem graça. Algumas vezes a transmissão da TV teve que procurar uma briguinha lá pela décima sexta posição para ter algo um pouquinho mais relevante para mostrar, pois lá na frente, Hamilton despachou Bottas desde a primeira volta. Foi uma vitória categórica, onde o inglês não olhou para trás, enquanto caminha para o hexacampeonato sem maiores sustos. Bottas não repetiu seus melhores desempenhos e ainda sofreu um ligeiro ataque de Charles Leclerc na última volta, enquanto viu Hamilton disparar no campeonato. E pelo jeito, Bottas não terá muito o que fazer no campeonato. Apesar do pequeno ataque em Bottas, a corrida de Leclerc foi bastante solitária, o mesmo acontecendo com Verstappen e Vettel, que fez o trivial entre os pilotos de ponta no final da corrida. Colocou pneus macios nas últimas voltas para marcar um pontinho pela melhor volta. O tamanho da diferença da Mercedes para as demais é que com pneus macios novos, Vettel superou Hamilton, com pneus duros usados, por apenas 0.024s na última volta. 

A McLaren confirmou sua ótima fase em Paul Ricard com Carlos Sainz em sexto e só não foi melhor porque Lando Norris teve problemas hidráulicos no fim e despencou para décimo. Entre os dois carros da McLaren, esteve dois carros da Renault, que voltou a pontuar bem em casa e Kimi Raikkonen, que retornou à zona de pontuação com a Alfa Romeo. O primeiro fora da zona de pontuação foi a grande decepção do dia. Pierre Gasly vem fazendo uma temporada medonha na Red Bull. Mesmo correndo em casa, o francês não apenas não conseguiu andar no mesmo ritmo de Verstappen, como foi superado pela dupla da McLaren e da Renault, demonstrando que não apenas estar um ou dois degraus abaixo do companheiro de equipe em ritmo de classificação, como o ritmo de corrida de Gasly é tenebroso. Enquanto isso, Helmut Marko já deve estar pensando quem será o companheiro de equipe de Verstappen em 2020, enquanto Gasly já deve estar pensando no que fazer fora da F1. Foi uma corrida com apenas um abandono, com o também piloto da casa Romain Grosjean encostando no final da prova. A Haas tem um bom rendimento em classificação, mas na corrida perde muito ritmo. Do mesmo jeito da Red Bull, hoje Alfa Romeo e Racing Point sobrevive com apenas um piloto. Lance Stroll é extremamente fraco e talvez falte alguém corajoso para chegar em Lawrence e dizer que seu filho é um caso perdido, que o bilionário canadense está perdendo dinheiro em investir na carreira do pimpolho. Antonio Giovinazzi é uma prova viva que nem sempre ser parte de uma academia de pilotos é garantia de qualidade. Italiano protegido pela Ferrari, Giovinazzi vem fazendo uma temporada abaixo da crítica. Com brigas entre Toro Rosso e Williams, a corrida aconteceu sem maiores sustos e emoções.

Dar opiniões sobre a F1 e o seu futuro vendo uma corrida como a de hoje chega a ser perigoso. Em 2002, em face do domínio ainda mais avassalador da Ferrari, a FIA na figura do seu nefasto presidente Max Mosley colocava em prática seguidos 'pacotões' para tentar salvar a F1 do marasmo. Em curto prazo até funcionava, mas não demorava para vi as críticas de todos os lados, enquanto a Ferrari voltou a dominar em 2004. Ideias malucas eram colocadas na mesa e o pior que algumas passavam. Como todo fã de F1, devemos defender a categoria daqueles que dizem que a categoria acabou. Ela não acabou, mas com uma corrida horrível como a de hoje, fica difícil defender a F1.

sábado, 22 de junho de 2019

Na hora H

Em mais um final de semana dominado pela Mercedes, Valtteri Bottas vinha sempre mais rápido do que Lewis Hamilton, mesmo que as diferenças tenham sido ínfimas. Porém, quando mais importava, Hamilton mostrou a sua diferença para o seu esforçado companheiro de equipe e conseguiu sua 86º pole na carreira no belo circuito de Paul Ricard, num dia em que o recém-casado Sebastian Vettel decepcionou.

Com a Mercedes dominando desde os treinos livres, o destaque era para o resto do pelotão. O Q1 teve os três ocupantes de sempre: a dupla da Williams e Lance Stroll. O jovem canadense já não é lá essas coisas, mas em ritmo de classificação o Stroll consegue ser ainda pior, enquanto a Racing Point vai perdendo rendimento em comparação aos anos anteriores. Mesmo ainda tendo Sergio Pérez, o time está abaixo do que vinha mostrando nos últimos anos, repetindo o efeito que Stroll teve na Williams. Dinheiro traz felicidade, mas não velocidade. Stroll já pode ser considerado um coveiro de equipes, enquanto papa Stroll nem deve querer chegar perto da telemetria e ver o quanto o seu pimpolho leva dos seus companheiros de equipe.

Um dos grandes destaques do final de semana foi a McLaren, com Sainz e Norris não apenas se destacando no pelotão intermediário, como também ficando muito próximo da Red Bull de Verstappen. Com os dias cada vez mais contados dentro da equipe, Gasly foi devidamente superado pela dupla laranja. Correndo em casa a Renault ainda colocou Ricciardo no Q3, mas viu Hulkenberg sucumbir no Q2, numa sessão atípica. Por causa do desgaste dos pneus, a maioria das equipes fugiu dos pneus macios, preferindo usar os médios no Q2, resultando que a grande maioria dos pilotos que foram ao Q3 estavam usando amarelo. Antonio Giovinazzi foi o único a ir para o Q3 de vermelho e não deverá demorar muito a parar.

Tendo seu apelação negada sem nenhuma surpresa pela FIA, Vettel fez um Q3 horroroso, tendo até mesmo reclamado de um suposto problema de câmbio. Após abortar a sua primeira volta rápida, ele ficou apenas em sétimo, atrás de Verstappen e a McLaren, sem contar Leclerc, que fechou o top-3. Bottas vinha sempre superando Hamilton, mas no famoso pega pra capar, o inglês mostrou toda a sua genialidade e quebrou o recorde do circuito de Paul Ricard para conseguir a pole. Com o clima muito quente no sul da França, os pneus serão essenciais amanhã. E a Mercedes está na frente das demais nesse quesito. Outro domínio à vista!

terça-feira, 18 de junho de 2019

História: 30 anos do Grande Prêmio do Canadá de 1989

Após infindáveis negociações, a FOCA assumiria de vez o Grande Prêmio do Canadá a partir de 1989 e os efeitos são imediatos, com o aumento do preço do ingresso, causando grandes críticas dos canadenses, mas ao menos diminuía as chances da bela corrida no circuito Gilles Villeneuve ficasse de fora do calendário. Porém, a F1 estava ainda impactada pelo suicídio do projetista Maurice Philippe, conhecido por sua parceria com Colin Chapman na década de 1960 que rendeu à Lotus trinta e duas vitórias na F1. Porém, naquele momento, a Lotus sofria com a falta de potência do motor Judd e a falta de motivação de Nelson Piquet, que não estava nem aí para o fato da Lotus não ter marcado nenhum ponto em 1989 e estava mais preocupado em desfrutar seu famoso iate. Na Ligier a cabeça de René Arnoux estava à prêmio, mas Guy Ligier se mantinha fiel ao veterano piloto, que já estava no crepúsculo de seu carreira.

Havia previsão de chuva para todo o final de semana em Montreal e isso se provou verdadeiro no sábado, quando o clima inclemente complicou a vida dos pilotos e os tempos de sexta-feira, realizado com pista seca, definiram o grid. Prost conseguiu sua primeira pole position de 1989, alguns centésimos à frente de Senna, que enfrentou problemas de câmbio na sexta-feira. A Williams-Renault estava muito confortável no circuito da Île Notre-Dame, com seus dois pilotos conquistando boas posições. A Ferrari tinha problemas de estabilidade, mas tinha menos preocupações com a confiabilidade. Mansell tinha acertado a renovação do seu contrato por mais um ano na Ferrari, mesmo vindo de quatro abandonos por quebras mecânicas, enquanto Berger esperava o que Prost queria fazer em 1990 para encontrar seu lugar na temporada seguinte. Numa entrevista bastante polêmica, Mansell criticou acidamente a Honda, dizendo que em 1987 fora boicotado pelos japoneses à favor de Nelson Piquet e que dois anos depois a Honda estaria privilegiando Senna em detrimento à Prost. "Eles são terríveis quando querem favorecer um piloto", falou Nigel. Osamo Goto não perdeu muito tempo em se defender das acusações de Mansell, dizendo apenas que o inglês ainda estava com dor de cotovelo pela perda do título de 1987.

Grid:
1) Prost (McLaren) - 1:20.973
2) Senna (McLaren) - 1:21.049
3) Patrese (Williams) - 1:21.783
4) Berger (Ferrari) - 1:21.946
5) Mansell (Ferrari) - 1:22.165
6) Boutsen (Williams) - 1:22.311
7) Modena (Brabham) - 1:22.612
8) Caffi (Dallara) - 1:22.901
9) De Cesaris (Dallara) - 1:23.050
10) Alliot (Lola) - 1:23.059

O dia 18 de junho de 1989 estava chuvoso e com muito frio em Montreal. O que significava também uma corrida caótica, até porque a chuva não era muito forte e o sol apareceu algumas vezes antes da largada, fazendo com que os pilotos quebrassem a cabeça com qual acerto largar. A inconstância do clima marcaria o Grande Prêmio do Canadá de 1989. Todos os pilotos escolheram os pneus de chuva para largar, mas como a pista não estava muito molhada, Mansell, Nannini e Luis Pérez-Sala voltaram aos boxes ao final da volta de apresentação para colocar pneus slicks. Numa confusão absurda, Mansell e Nannini saíram para o final dos pits esperando uma luz vermelha, indicando que esperassem a largada ser dada, mas os dois encontraram uma luz laranja, pensando que os pilotos já tinha saído, quando na verdade estavam parados no grid, esperando a luz verde. O resultado foi que Mansell e Nannini foram para a pista antes de ser dada a largada, acabando por serem desclassificados logo depois. Apesar da escolha de Mansell, Nannini e Pérez-Sala (que ficou paradinho no final dos boxes), a pista ainda estava molhada quando o pelotão saiu na luz verde, com Prost mantendo a ponta, seguido por Senna, Berger e Patrese, com os dois últimos chegando a bater na primeira curva.

Ainda na primeira volta o primeiro acidente aconteceu, com Modena rodando e batendo forte, levando consigo Pierluigi Martini. A pista secava lentamente, com Prost sendo um dos primeiros líderes a colocar pneus slicks. No boxe da Onyx, um enorme susto quando Stefan Johansson sai com uma mangueira de ar preso na sua asa traseira, fazendo o sueco retornar aos boxes. A suspensão da McLaren de Prost quebra ainda na quarta volta e o francês abandona pela primeira vez em 1989. A dupla da Williams e Berger permaneciam com os pneus de chuva na pista, que ao mesmo tempo que secava, também estava muito escorregadia e manhosa. Berger pressionava Patrese pela liderança quando o seu câmbio quebrou ainda na sexta volta. Senna tinha trocado para pneus slicks ainda na terceira volta e ia para cima da dupla da Williams, que esperava que a chuva voltasse a qualquer momento. Com muitos pilotos tendo trocado seus pneus, algumas surpresas apareceram na zona de pontuação, como Warwick, Larini e Arnoux. Boutsen vai aos boxes colocar pneus slicks na volta 11, mas muda de ideia em cima da hora, vendo que a chuva estava voltando. Senna tirava 3s por volta de Patrese, enquanto Derek Warwick se aproveitou da situação caótica e estava em terceiro lugar ao ultrapassar Larini. Na 15º passagem o céu fica novamente escuro e a chuva voltava com força, fazendo com Luis Pérez-Sala rodasse na reta oposta, deixando a sua asa traseira no meio da pista. Quando a chuva se mostrava muito forte, a aposta de Patrese, a dupla da Dallara e Alliot tinha valido a pena. Apenas Senna e Warwick, dos seis primeiros, corriam com pneus slicks e perdiam muito tempo. O Grande Prêmio do Canadá de 1989 tinha virado uma enorme loteria!

Warwick rapidamente vai aos boxes colocar pneus de chuva, enquanto Senna demorou algumas voltas e com a pista encharcada, perdeu uma enormidade de tempo. Quando todos estava com os pneus apropriados, Patrese tinha 25s de vantagem em cima de Warwick, que estava 20s na frente de Larini e Senna. Após ter trocado os pneus na hora errada, Thierry Boutsen era um dos destaques da corrida, efetuando várias ultrapassagens no pelotão intermediário com seus pneus de chuva novos. A bela corrida de Nicola Larini terminou na volta 34 com problemas de motor quando estava em quarto, tendo acabado de ser ultrapassado por Senna. Mesmo tendo uma bela vantagem, Patrese começava a sofrer com o desgaste dos seus pneus de chuva e os troca na volta 35. Quem emergia na frente? Derek Warwick! O inglês da Arrows liderava uma corrida de F1 pela primeira vez em cinco anos, mas Senna se aproximava rapidamente numa pista encharcada e com a visibilidade muito ruim devido à uma neblina que baixara no circuito Gilles Villeneuve. Ás em piso molhado, Senna não demora muito para se aproximar e ultrapassar Warwick na volta 39, assumindo a liderança da corrida. Patrese não vinha muito longe de Warwick, mas o italiano tinha um problema no fundo do seu carro e mesmo com pneus novos, não progredia como o esperado, ao contrário acontecendo com Boutsen, um dos mais rápidos da pista. Quando a chuva forte dá uma diminuída, o motor de Warwick quebra na volta 40, acabando com o sonho de um bom resultado do veterano inglês.

O céu fica menos carrancudo, mas a pista estava molhada demais para alguma aventura naqueles momentos finais de uma prova extremamente tumultuada. Senna tinha 26s de vantagem para Patrese, que era alcançado por Boutsen. Mesmo não gostando de correr na chuva, Piquet estava na zona de pontuação, mas roda bem na frente de Senna. Ambos saem ilesos do incidente, mas era um claro aviso de como a pista ainda estava traiçoeira. Patrese perdia cada vez mais desempenho e na volta 61 era ultrapassado por Boutsen, naquele momento o piloto do dia. De Cesaris corria isolado em quarto, enquanto Piquet brigava com Christian Danner pela quinta posição. A chuva ainda voltou com força no final, mas durou menos do que a precipitação anterior, porém complicou ainda mais a situação dos pilotos naquele final de prova. Quando o drama parecia acabar, o infalível motor Honda de Senna falhou bem na reta dos boxes quando faltavam apenas três voltas para a bandeirada. Literalmente uma chuva de água fria nas pretensões do brasileiro no campeonato, já que Prost havia abandonado no comecinho da corrida. Senna lamentou muito a quebra, a sua primeira com a Honda, mas os mecânicos da McLaren constataram também que o pneu traseiro esquerdo de Senna estava para estourar. Não era dia do brasileiro! Claro que a dupla da Williams-Renault não tinha do que reclamar, principalmente Boutsen. O belga fez sua melhor corrida na F1 até então para vencer pela primeira vez na carreira na F1, enquanto a Williams celebrava uma dobradinha, com Patrese se arrastando até o fim. Depois de um sórdido acidente com seu companheiro de equipe em Phoenix quando era um retardatário, Andrea de Cesaris descontava a frustração com o primeiro pódio da Dallara na F1, enquanto Nelson Piquet conquistava os primeiros pontos da Lotus em 1989. Numa corrida de sobreviventes, Arnoux chegou em quinto, seguido por Caffi e Danner, sendo esses os últimos que viram a bandeirada numa corrida cheia de alternativas e zebras.  

Chegada:
1) Boutsen
2) Patrese
3) De Cesaris
4) Piquet
5) Arnoux
6) Caffi

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Dia de sorte para Alonso

Poucas semanas depois da vexaminosa desclassificação em Indianápolis, Fernando Alonso teve um pouco de sossego e conseguiu o bicampeonato em Le Mans nesse domingo, além de garantir o título do WEC, numa estranha temporada longa que durou quase dois anos. Porém, Alonso não usou seu reconhecido talento para vencer. A outra Toyota liderou boa parte da corrida com o trio Kamui Kobayashi, José Maria López e Mike Conway, mas na hora final o carro apresentou problemas de câmbio e um erro inacreditável por parte da Toyota. Um sensor apontou um pneu furado, fazendo com que López retornasse aos pits para uma troca. O problema foi que a Toyota trocou inacreditavelmente o pneu errado!

Enfrentando problemas de estabilidade, o trio com Alonso, Kazuki Nakajima e Sebastien Buemi conseguiram uma vitória na base da sorte, mas também demonstrando a enorme falta de competitividade que infelizmente atinge o WEC. Em tempos de Audi e Porsche, o bizarro vacilo da Toyota seria cobrado na forma de derrota, mas sem concorrentes, a Toyota apenas viu a troca na dobradinha nas 24 Horas, com o terceiro colocado longínquas seis voltas de atraso. Será que Alonso irá reclamar de falta de competitividade?

Grande destaque para a performance dos brasileiros nas demais categorias. André Negrão faturou as 24 Horas e ainda foi campeão da categoria LMP2, enquanto Daniel Serra venceu na GT-PRO, triunfando pela segunda vez em Le Mans, dessa vez com uma Ferrari. Felipe Fraga havia vencido na GT-AM, mas acabou desclassificado no dia seguinte. Todos os três pilotos tentaram os monopostos com o objetivo de chegar à F1, mas a falta de oportunidades fez com que desistissem dos seus sonhos, mas permanecessem como profissionais do automobilismo. Isso apenas mostra que o automobilismo brasileiro não falta talento, mas sim planejamento e oportunidades.

Alonso teve bastante sorte com o problema dos seus companheiros de equipe e agora o espanhol espera uma oportunidade melhor para tentar a sonhada tríplice coroa em Indianápolis. Quem sabe, com uma equipe melhor estruturada na próxima vez... 

domingo, 16 de junho de 2019

O que eu vou dizer lá em casa Lorenzo?

Jorge Lorenzo. Um piloto que dentro das pistas não há muitos questionamentos, afinal, são cinco títulos nas costas, sendo três na MotoGP. Sua atitude fora das pistas que o atrapalha um pouco e sua imensa rivalidade com Valentino Rossi, piloto extremamente carismático e lenda viva, fez de Lorenzo um personagem bastante antipatizado. Desde que saiu da sua zona de conforto na Yamaha, Lorenzo apenas viu sua sólida carreira começar a receber os primeiros senões. A sua passagem pela Ducati foi turbulenta, onde a adaptação com a Ducati demorou muito mais do que o esperado e ainda teve problemas de relacionamento com Andrea Doviziozo, solidificando a imagem de que Lorenzo não é um piloto de equipe.

Justamente quando conquistava sua primeiras vitórias pela Ducati, ao mesmo tempo em que tornava o clima dentro da equipe muito ruim por causa dos seus problemas com Doviziozo, Lorenzo conseguiu um contrato com a Repsol Honda, equipe melhor financiada da MotoGP e dominadora nos últimos anos. A expectativa era imensa, principalmente com Jorge vindo de um 2018 com muitas vitórias e a sensação que o velho Lorenzo estava de volta. O que o espanhol não sabia ou fingia não saber era que a Honda parece só funcionar com talento hiper agressivo de Marc Márquez. Considerada indomável pelos demais pilotos, Lorenzo passou a ter grandes dificuldades de adaptação com a nova moto, ainda maiores que nos tempos de Ducati. Toda semana era uma explicação que ficava com cara de desculpa, já que seu companheiro de equipe Márquez ia vencendo corridas consecutivas, enquanto Lorenzo mal conseguia um top-10. Após outra corrida desapontadora em Mugello, Lorenzo foi ao Japão. Especulações surgiram de todos os lados. Lorenzo teria exigido uma nova moto mais ao seu estilo ou até mesmo começado negociações para rescindir o seu contrato com a Honda.

Lorenzo chegou à Barcelona mais confiante após sua passagem enigmático no Oriente. Contudo, o cenário na Catalunha parecia idêntico ao resto da temporada, com Márquez na primeira fila e Lorenzo apenas na quarta. Veio a largada na prova de hoje. Lorenzo consegue sua melhor saída no ano e estava na quarta posição. À sua frente, Doviziozo pulara de quinto para primeiro, mas já era atacado por Márquez e Viñales. Atrás de Jorge, Rossi estava sob controle em quinto. Então, ainda na segunda volta, Lorenzo enxergou uma chance de fazer sua melhor corrida no ano na frente dos seus compatriotas, fazendo valer a longa viagem ao Japão, não importando o seu significado. Enquanto Márquez tomava a ponta de Doviziozo na curva 10, Lorenzo tentou a mesma manobra, inclusive imitando Márquez na forma como freou dentro. A diferença é que Márquez corre com a Honda desde 2013, enquanto Lorenzo está apenas na sexta corrida com uma moto reconhecidamente selvagem. O que aconteceu depois pode ter mudado o campeonato de 2019, além das definições sobre o que Lorenzo conquistou até agora em dezessete temporadas no Mundial de Motovelocidade.

Saindo de frente e indo ao chão, Lorenzo primeiro derrubou Doviziozo, levando consigo Viñales. Rossi saiu da pista para não bater, mas acabou colhido pela moto de Viñales. Resultado: quatro abandonos ainda na segunda volta e vitória tranquila de Marc Márquez, que começa a desgarrar no campeonato. Claro que Lorenzo já se desculpou e queria que seu erro só envolvesse a sua queda, mas a verdade é que seu afobamento ainda na segunda volta destruiu a corrida de três adversários, além da própria corrida em si, sem contar o campeonato desse ano. 

Com seus principais rivais do final de semana fora da corrida, Márquez agradeceu por ter se livrado da bobagem do seu companheiro de equipe para vencer com extrema folga, enquanto o restante do pódio foi disputado por coadjuvantes, o que animou uma corrida que já estava num anti-clímax total. Vindo de vitória em Mugello, Petrucci segurou como pôde Alex Rins e Fabio Quartararo, mas a Ducati não estava com um bom acerto. Contudo o que derrotou Danilo foi o açodamento de Rins, que chegou a bater em Petrucci numa disputa de posição antes de vazar a curva um e perder várias posições. Dono da pole, Quartararo aproveitou esse incidente e conseguir seu primeiro pódio na MotoGP, enquanto Petrucci salvou um pódio para a Ducati. 

Para Márquez, restou 'agradecer' Lorenzo pela presepada. Com Doviziozo fora e Rins fora do pódio, Márquez começa a disparar no campeonato e mostrar um pouco a cara de um campeonato dominado por ele, que além de muito competente, ainda mostrou ter a sorte dos grandes campeões. Para Lorenzo, as desculpas não serão suficientes para sombrear a besteira que fez hoje em Barcelona e a impressão de que seu tempo já passou.

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Figura(CAN): Sebastian Vettel

Mais do que a pole conseguida no extremo no sábado. Mais do que a largada perfeita e o primeiro stint sem erros. Muito mais do que a forma como segurou Lewis Hamilton por longas voltas. Sebastian Vettel entrou nessa parte da coluna por sua postura depois da corrida. Os pilotos atuais são muitas vezes acusados de serem por demais indiferentes ao que acontece ao seu redor, quase que como robôs sem personalidade dentro de um carro com alta tecnologia. Vettel estava clara e certamente injuriado pela punição que o fez perder sua melhor chance de vitória até agora na temporada 2019, mas Sebastian não ficou choramingando pelas redes sociais. O alemão não seguiu o protocolo pós-corrida, estacionando sua Ferrari fora do lugar e foi atrás dos comissários. Por alguns poucos minutos ficou a dúvida: Vettel não iria para o pódio? O alemão foi convencido por um membro da FIA a ir a cerimônia, inclusive provocando um atraso, mas não antes de Seb colocar o número 2 na frente do carro de Hamilton, levando o público ao delírio. Naquele momento, Sebastian Vettel provou que não apenas um piloto com muitas glórias e com uma redoma de parças ao seu redor. O alemão mostrou humanidade. Que sente raiva, angústia, sentimento de injustiça e frustração. E Vettel mostrou tudo isso para milhões de pessoas que saíram do circuito ou desligaram a TV tão frustradas quanto ele. 

Figurão(CAN): FIA

Em meados da década passada, a FIA fez uma pesquisa com torcedores da F1 de todo mundo perguntando algo bem simples: o que vocês querem? A resposta foi também bastante simples: queremos mais ultrapassagens. Por causa disso surgiu o DRS. As ultrapassagens aumentaram, mas a reclamação continuou, pois agora as ultrapassagens se tornaram tão fáceis, que era banal deixar um adversário ao apertar apenas um botão. Os fãs queriam (e ainda querem) disputas reais de posição, briga por cada palmo de pista e uma batalha para ver quem ganha um posto na corrida. A FIA ainda não alcançou a equação necessária, mas dois multi-campeões resolveram ajudar a FIA nesse final de semana. Sebastian Vettel e Lewis Hamilton faziam uma corrida próxima em Montreal, onde mesmo tendo o DRS a seu favor, Hamilton não conseguia ultrapassar Vettel, que corria no limite para segurar seu rival. Tão no limite que na volta 48 ele saiu da pista no apertado circuito Gilles Villeneuve. Vettel saiu pela grama, voltou à pista bem na frente de Hamilton e permaneceu na ponta. Tudo certo? Não para a FIA. Numa decisão no mínimo polêmica, a entidade puniu Vettel por 5s causando a maior discórdia na F1 desde o nefasto Grande Prêmio da Áustria de 2002, quando a Ferrari deu uma banana para a F1 e decidiu quem iria ganhar a corrida. De uma certa forma, a FIA e sua discutível decisão decidiu a prova deste domingo. Hamilton não atacou mais Vettel, se permitindo apenas seguir a Ferrari e não deixa-lo abrir mais de 5s. Vettel reclamou muito, mas não havia muito mais o que fazer. Num momento em que a F1 busca mais e mais fãs, principalmente entre os jovens, a FIA deu um belo tiro no pé ao mudar o vencedor, deixando irritados todos que estavam nas arquibancadas no circuito e milhões de fãs que assistiam, alguns prometendo não mais assistir F1. Se a FIA seguiu ao pé da letra as regras, faltou aos seus comissários um mínimo de bom senso, resultando numa controvérsia desnecessária e um desgaste que a F1 não precisava passar. 

domingo, 9 de junho de 2019

Posicionamento na carreira

Em certos momentos da carreira, alguns profissionais precisam tomar certas decisões para se posicionar, mesmo que isso signifique perca de dinheiro, multas e contratos quebrados. O que vimos após a bandeirada do Grande Prêmio do Canadá foi um profissional bem sucedido se posicionar frente ao sistema, ao corpo dirigente de sua categoria. Não adianta muito entrar em discussão sobre a polêmica punição de Vettel. Certo ou errado, o que ficará dessa corrida será o sério posicionamento de Sebastian Vettel contra a FIA e Emanuelle Pirro, que lhe penalizou em 5s e deu a vitória para Hamilton. O alemão da Ferrari disse que estava sendo roubado no rádio, não estacionou seu carro no lugar certo, não deu as entrevistas obrigatórias, mas ainda assim foi convencido a ir ao pódio, não sem antes colocar o número 2 na frente do carro de Hamilton. Vettel não ligou se será multado. Ele já estava prejudicado demais para que uns trocados saíam do seu bolso, até porque Vettel já é milionário e não é de hoje.

A punição de Vettel na 48º volta acabou fazendo do quinquagésimo Grande Prêmio do Canadá entrar para a história, mesmo que pelos motivos errados. Até então a corrida era um tenso e interessante jogo de gato e rato entre Vettel e Hamilton. Com pneus macios no primeiro stint, Vettel tinha um carro superior, mas com os pneus duros, borracha escolhida pelos pilotos no segundo stint, Hamilton tirou toda a diferença e os dois multi-campeões andaram por várias voltas separados não menos de 1s. Então, veio o momento da discórdia. Pressionado e com 22 voltas pela frente, Vettel saiu da pista na curva 5, cortou a grama e voltou à pista imprensando Hamilton contra o muro. Dizer que o alemão não viu Hamilton seria o cúmulo da inocência, mas como Vettel diria depois: para onde eu iria? Sebastian deveria ter dado espaço para Hamilton, deve ter pensado os comissários da corrida, liderados por Emanuelle Pirro, piloto de carreira medíocre na F1, mas uma lenda nos carros protótipos e em Le Mans. Mas como falou Luciano Burti nos comentários, qual piloto não faria de tudo para se manter na ponta naquela situação? Toda essa manobra que deve ter durado uns 3s entrou no campo interpretativo, contudo, faltou à FIA e a Pirro outro elemento para tomar a decisão: bom senso.

Ter bom senso é algo que falta em muitas pessoas, mas que deveria sobrar para quem toma as decisões de uma corrida que movimenta milhões de qualquer dinheiro no mundo. Pirro só está nessa situação por ter sido piloto e por isso, deveria se colocar na situação de cada situação a ser investigada. Pirro tiraria o pé se estivesse no lugar de Vettel? Duvido muito, mas ele achou que Vettel não deveria ter imprensando Hamilton contra o muro quando retornou à pista e o alemão da Ferrari foi penalizado, criando um anti-clímax absurdo depois da corrida. Hamilton cruzou a linha de chegada e vibrou, mas ao perceber as vaias do público, entrou no modo Michael Schumacher em 2002 na Áustria. Ele era o principal beneficiado de uma questionável decisão alheia e por isso, era visto como vilão pelo público. Vettel não estava zangado com Hamilton, mas se pudesse jogar a garrafa de champanhe na cabeça de Pirro, ele faria com o maior prazer. Porém, em outro momento de grandeza de Vettel, ao ver que Hamilton era vaiado pelo público, tomou o microfone de Martin Brundle e pediu que vaiassem o verdadeiro vilão da tarde: FIA e Emanuelle Pirro.

Claro que isso causará uma enorme confusão nos próximos dias. Ao tomar essa decisão polêmica, Pirro entrará no olho do furacão da imprensa do próprio país, que deverá estar xingando até o famoso general Pirro, que governou a Macedônia no século 3 antes de Cristo. Muito forte politicamente, a Ferrari já deve estar ligando para Jean Todt para pedir explicações sobre o ocorrido em Montreal. A situação só não será mais dramática porque com essa terceira vitória consecutiva e uma corrida abaixo da crítica de Bottas, Hamilton vai se encaminhando firmemente para o sexto título, não restando muito para que a Ferrari pudesse fazer. Num momento em que várias categorias são duramente criticadas por decisões que mudam as posições de pilotos depois da corrida, essa vitória de Hamilton por uma decisão de alguém que estava atrás de uma tela pegou muito mau para uma F1 ávida por novos fãs.

Isso tudo deixou todo o resto em quadragésimo plano. Leclerc estacionou a única Ferrari debaixo do pódio, mas o monegasco poderia muito bem pedir explicações a sua equipe por estar apenas 3s atrás de Hamilton antes da rodada de paradas e após retardar seu pit-stop, Leclerc tinha mais de 10s de desvantagem para Lewis. A Ferrari ainda fez com que Leclerc tentasse ir para cima de Hamilton quando veio a punição, mas já era tarde demais e no final poderia deixar Vettel em terceiro. Bottas marcou a volta mais da corrida, no único momento de destaque de um final de semana ruim para o finlandês em todos os sentidos. Max Verstappen largou mais atrás por causa do erro de avaliação da Red Bull ao calça-lo com pneus médios no Q2 e o acidente de Magnussen colocar tudo a perder. Saindo com pneus duros, Max foi um dos últimos a parar e ao ultrapassar os dois Renault, garantiu o quinto lugar. Quem fez uma corrida medonha foi Gasly. O francês ficou preso atrás de Stroll após sua parada e terminou atrás da dupla da Renault, em outra corrida esquecível para Gasly, enquanto Ricciardo e Hulkenberg comemoraram seus melhores resultados no ano. Correndo em casa Stroll ganhou dois pontinhos ao ultrapassar Sainz nas últimas voltas, trazendo a reboque Kvyat. Depois de colocar seus dois carros no Q3, a McLaren decepcionou com Sainz fora dos pontos e Norris abandonando no início da prova com a suspensão quebrada. Magnussen levou a patada do ano via rádio ao reclamar do seu carro e Steiner praticamente manda-lo calar a boca. Magnussen estava entre os dois carros da Williams, numa situação nada boa. A volta de Kubica é uma boa história, mas a verdade é que hoje o polaco tomou um minuto do seu companheiro de equipe.

Numa situação constrangedora, até mesmo parecida com Zeltweg/2002, o pós-corrida em Montreal foi tenso. Vettel foi para o pódio a contra-gosto, mas para mostrar seu descontentamento, colocou a posição de número dois na frente do carro de Hamilton. O público foi ao delírio, pois para quem assistiu a corrida de hoje, aquela seria a posição de Lewis, cuja a vitória de hoje não lhe fará diferença no final do ano. No fim, quem saiu perdendo foi a F1. O público saiu do autódromo insatisfeito, milhões estão reclamando nas redes sociais por uma decisão sem nenhum bom senso e ninguém viu uma disputa tete a tete entre Vettel e Hamilton nas voltas finais. Pelo menos Vettel não se fez de sonso e mostrou todo o seu descontentamento, como fez Rubens Barrichello dezessete anos atrás.

sábado, 8 de junho de 2019

Grande Seb

Um dos fatos mais comentados na F1 quando se chegou em Montreal era que Sebastian Vettel estaria marcando sua aposentadoria para o final do ano. Se encaminhando para mais uma derrota para Hamilton e com a Ferrari já olhando para seu novo companheiro de equipe Charles Leclerc como o futuro da escuderia, Vettel estaria desmotivado a ponto de abandonar a F1 aos 32 anos de idade. Nesse sábado Seb deu a resposta com uma bela pole, derrotando Hamilton quando o cronômetro já estava zerado e acabando com o jejum pessoal do alemão da Ferrari.

Com muros próximos e muita velocidade, Montreal normalmente entrega corridas emocionantes, o mesmo acontecendo nos treinos, já que se trata de um circuito curto e por isso, os tempos são muito próximos. Porém, o Q1 foi sem surpresas com o anfitrião Stroll seguindo sua sina, junto com a Williams. Já no Q2 as coisas começaram a esquentar, com algumas surpresas acontecendo. Ferrari e Mercedes escolheram se classificar nesse momento com pneus médios e assim largar com eles amanhã. Tudo saiu nos conformes para as duas equipes, mas a Red Bull não conseguiu o mesmo sucesso, tendo que colocar pneus macios no carro de Verstappen no final do Q2. O perigo de deixar as coisas para a última hora é que não há tempo hábil para recuperação em caso de problemas e quando Kevin Magnussen bateu com força no muro dos boxes, Verstappen ficou no Q2.

Os treinos livres mostravam a Ferrari ligeiramente mais forte, mas é no Q3 que a Mercedes aciona o modo fiesta e Hamilton caminhava para mais uma pole, enquanto Bottas errava sozinho e terminava uma apagada classificação em sexto. Tentando lavar a honra da Red Bull, Gasly ficou no habitual quinto lugar, superado pelo grande nome do Q3. Daniel Ricciardo não vem tendo a temporada que esperava pela Renault, mas o australiano conseguiu um ótimo quarto lugar no grid, superando uma Mercedes e um Red Bull. Leclerc sofria um pouco nos momentos decisivos e não foi páreo para Hamilton, que ainda melhorou seu tempo em sua volta final. Ninguém prestou muito atenção em Vettel, que fez uma volta sensacional, tirando tudo do terceiro setor de Montreal, onde a Ferrari se sobressai, e conseguiu uma bela pole.

Claro que o esperado duelo entre Hamilton e Vettel ainda está muito desequilibrado em favor do inglês da Mercedes, mas não deixa de ser bom ver Vettel conseguir uma recuperação e tentar dar um alento para os tifosi nesse sábado, imaginando um domingo melhor. 

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Que pena...

Essa semana, um personagem que brilhou fora das pistas nos deixou. Atrás de uma prancheta, Robin Herd participou ativamente do início da McLaren, projetando os primeiros carros de McLaren não apenas na F1, mas também na Can-Am. No começo dos anos 1970 ele foi um dos fundadores da March, empresa inglesa que construiu carros de corrida por inúmeros categorias ao longo das três décadas seguintes. Desde 1998 Herd não estava mais nas corridas, se aventurando inclusive no futebol. Após uma luta contra uma grave doença, aos 80 anos Robin Herd foi projetar carros no céu.

domingo, 2 de junho de 2019

Resposta dada

Na primeira corrida de Detroit, na tarde deste sábado, mais do que a vitória de Josef Newgarden, o que mais chamou atenção foi o raríssimo erro de Scott Dixon. Pentacampeão da Indy e com mais de quarenta vitórias no seu currículo, Dixon parecia ser infalível, mas até mesmo os grandes tem seus dias de meros mortais e o eterno piloto da Ganassi bateu sozinho na molhada pista de Detroit, enquanto Newgarden vencia e assumia a liderança do campeonato.

Já nesse domingo, Dixon deu a resposta para aqueles que começavam a critica-lo. O neozelandês fez uma corrida ao seu estilo, cerebral e tática, vencendo a segunda rodada de Detroit e com a má atuação dos líderes do campeonato, Dixon voltou a se aproximar da briga pelo título. Como todo circuito de rua que se preze, ainda mais com apenas vinte e quatro horas de diferença entre as corridas e todo o cansaço físico dos pilotos, Detroit viu uma corrida com vários incidentes, mesmo a chuva que marcou a prova de ontem não ter dado as caras. Logo na largada Power bateu em Rosenqvist, causando um enorme melé que envolveu Simon Pagenaud, que liderava o campeonato quando a Indy chegou em Detroit, além de Kanaan, que abandonou no local. Um incidente perigoso entre Spencer Pigot e Sebastien Bourdais na entrada dos boxes causou outra bandeira amarela, mas foi a terceira intervenção que pode ter mudado os rumos do campeonato.

Hinchcliffe saiu dos boxes bem à frente de Newgarden, que era pressionado por Rossi. Sem o devido aquecimento dos pneus, Hinchcliffe era presa fácil de Newgarden, mas o americano da Penske se empolgou quando se viu atacado por Rossi e como resultado os três bateram, com Newgarden tendo que abandonar no local, Hinchcliffe perdendo muito tempo e Rossi permanecendo na corrida e na briga pelo campeonato. Nesse momento Dixon já liderava a corrida e apenas administrou as bandeiras amarelas (e uma vermelha sem sentido no final da corrida) para voltar a vencer em Detroit e ficar próximo dos líderes do campeonato. Seis anos depois de conquistar seu último pódio ainda na GP2, Marcus Ericsson chegou em segundo, com Power se recuperando do seu incidente na primeira volta para ser terceiro.

Rossi fechou a prova em quinto e ficou bastante próximo de Newgarden no campeonato, que mesmo ainda retornando à corrida, marcou poucos pontos, o mesmo acontecendo com Pagenaud. Porém, Dixon respondeu à aqueles que já o colocavam fora da disputa do título com o raro erro de ontem.

Que gara ragazzi!

Mugello tem um quê de Monza e a Ducati, até mesmo pelas cores, também lembra bastante a Ferrari. A grande diferença na MotoGP é que a torcida italiana torce por seu piloto (Rossi), enquanto na F1 os tifosi enlouquecem pela macchina (Ferrari). Pista de alta velocidade, mas com vários esses e mudanças de altitude, Mugello proporciona belos espetáculos e a corrida da MotoGP de 2019 foi daquelas que tão cedo será esquecida. Numa apertada briga à quatro, Petrucci diminuiu a frustração dos torcedores que pintaram as arquibancadas de amarelo por causa de Rossi e venceu pela primeira vez no Mundial de Motovelocidade, derrotando por muito pouco Marc Márquez e Andrea Doviziozo, com Alex Rins também fazendo uma grande corrida ao chegar colado nos três com uma Suzuki com claras deficiências de potência.

Pista preferida de boa parte dos pilotos, Mugello tinha mais de 80.000 expectadores em sua maioria esperando que Valentino Rossi fizesse um milagre. Com uma Yamaha problemática e com pouca potência, o lendário piloto italiano largaria apenas em 18º na pista onde sempre lhe consagrou ao longo da carreira. Contudo, a edição de 2019 do GP da Itália entrará para a carreira de Rossi como uma prova totalmente esquecível. Rossi sempre foi um piloto de boas corridas de recuperação nos últimos anos, mas o piloto da Yamaha saiu da pista após um toque com a Suzuki de Joan Mir e acabou caindo algumas voltas depois. A fase da Yamaha é tão ruim que o seu melhor representante foi Maverick Viñales num distante sexto lugar, bem longe de brigar até mesmo pelo pódio.

Lá na frente Márquez mantinha a ponta da corrida saindo da pole, mas assim como aconteceu nas provas anteriores, o espanhol não forçou o ritmo logo de cara para despachar os adversários e vencer tranquilamente. Márquez tinha um pelotão compacto atrás de si e via as Ducatis partir para cima dele, principalmente na enorme reta dos boxes. Danilo Petrucci vive um ano de 2019 de decisão em sua carreira. Com apenas um ano de contrato com a Ducati oficial, o italiano se vê ameaçado por Jack Miller, que não esconde de ninguém que seu objetivo esse ano é tomar o lugar de Petrucci em 2020. Danilo vinha fazendo uma temporada 2019 mediana, marcando pontos, mas sem se destacar. Após o primeiro pódio em Le Mans, Petrucci superou Doviziozo em todo o final de semana em Mugello, largou na primeira fila hoje e esteve numa briga ferrenha pela vitória, sendo o primeiro a ultrapassar Márquez na luta pela sobrevivência de sua carreira. Atrás de sua primeira vitória na MotoGP, Petrucci teria que derrotar as duas grandes estrelas da MotoGP nos últimos dois anos. Mesmo largando apenas em nono, Doviziozo largou muito bem e imediatamente estava no pelotão da frente, formando dobradinha com Petrucci a maior parte do tempo. Miller também tentou andar no pelotão dianteiro, mas um giro depois de marcar a volta mais rápida da corrida, o australiano caiu, talvez motivando ainda mais Petrucci.

O quarteto que brigou pela prova era completado por Alex Rins. O jovem piloto da Suzuki saiu de uma posição ruim no grid para brigar pela vitória com uma moto claramente mais lenta em reta, mas com uma grande agilidade nas curvas. Rins chegou a pontear a corrida no miolo do circuito, principalmente nas sessões de esses de Mugello, mas na reta dos boxes era engolido sem dó por Ducati e Honda. Mesmo sendo muito amigo de Petrucci, Doviziozo tem um campeonato a conquistar pela Ducati e liderou boa parte da fase final da corrida. Márquez, que chegou à Itália gripado, não queria deixar a oportunidade passar de aumentar sua diferença no campeonato com mais uma vitória, enquanto Petrucci necessitava de sua primeira vitória. Três objetivos distintos, mas com cada um querendo muito. Essa salada fez com que as voltas finais em Mugello fossem emocionantes. Na freada da primeira curva da última volta, os três chegaram a se encostar, mas Petrucci emergiu na frente, seguido por Doviziozo, com Rins esperando qualquer chance (leia-se queda) para subir ao pódio.

Apesar da tensão, não houve ataques nas últimas curvas e Petrucci apenas teve que ter o cuidado de não dar vácuo para Márquez na reta dos boxes e vencer pela primeira vez na carreira e se emocionar muito na bandeirada. Uma belíssima corrida onde quatro pilotos em ótima forma se digladiaram num cenário sensacional. Petrucci subiu para quarto no campeonato, superando Rossi e mostrando que a Ducati fez bem em economizar descartando Lorenzo, que mais uma vez ficou fora do top-10. Márquez ainda lidera o campeonato e conseguiu ficar à frente de Doviziozo e Rins, que são segundo e terceiro no campeonato respectivamente, o que era o objetivo do espanhol da Honda. Vimos hoje a melhor corrida do ano! Obrigado MotoGP!  

sábado, 1 de junho de 2019

Ponto de referência

Quando Martin Brundle surgiu nas categorias de base inglesas no começo da década de 1980, ele era comparado a ninguém menos do que Ayrton Senna. Os dois protagonizaram uma temporada histórica na F3 Inglesa e subiram juntos à F1, mas os resultados deles foram completamente diferentes. Enquanto Senna entrou para a história do automobilismo, Brundle ficou treze anos na F1 entre equipes médias, pequenas e curtas incursões em times grandes. Uma carreira respeitável, mas bem longe do seu ponto de referência, o que tornou Brundle uma pessoa amarga por não ter tido as mesmas oportunidades do seu rival, porém para o inglês, Senna foi um dos maiores de todos os tempos e ser comparado com ele era até uma honra. Dono de maiores feitos fora da F1, Brundle completa 60 anos hoje e iremos conhecer um pouco sua história. 

Martin John Brundle nasceu no dia primeiro de junho de 1959 na cidade inglesa de King's Lynn. Filho de um dono de uma concessionária, Brundle sempre teve carros presente em sua vida, por isso que não foi surpresa ele se interessar por corridas, mas a carreira de Martin foi longe de ser normal em seu começo. Aos 12 anos ele fez suas primeiras corridas em pista de grama e aos 16 anos ele se mudou para corridas de arrancada. Foi apenas quando completou 18 anos que Brundle foi para o automobilismo 'tradicional', estreando no tradicional Campeonato Inglês de Turismo, à bordo de um Toyota. Muito novo e promissor, Brundle foi para os monopostos em 1979 ao estrear na F-Ford, mas sem deixar de lado as corridas de turismo, conseguindo um contrato com Tom Walkimshaw, dirigente que seria muito importante na carreira de Brundle. Um dos motivos para Brundle se desdobrar em corridas de monopostos e turismo foi a falta de financiamento de sua carreira, pois tudo que ganhava da Toyota e Jaguar, ele investia nos monopostos. Essa vida 'dupla' fez com que a carreira de Brundle demorasse um pouco a deslanchar. Apenas em 1982 ele conseguiu estrear na F3 e logo de cara conseguiu cinco poles e duas vitórias, se garantindo como um dos favoritos para 1983. Porém, um fenômeno se desenvolvia nas categorias de base inglesa. Ayrton Senna dominou em seus dois anos de F-Ford e surgiria na F3 como um piloto a ser observado. E o brasileiro não decepcionou. Senna venceu suas primeiras corridas na F3 em sequência, mas na metade do campeonato Brundle reagiu e o certame foi disputado palmo a palmo entre eles. Enquanto a carreira de Senna era administrada para se tornar uma estrela da F1 num futuro próximo, Brundle jogava tudo naquela temporada para manter sua carreira viva! Quando Brundle estava no auge de sua reação, um polêmico acidente em Donington Park provocado por Senna freou o inglês. Senna ficou com o título, mas as apresentações de Martin Brundle na F3 o credenciava a conseguir voos maiores. Se ele poderia disputar o título com o furacão das categorias menores, ele tinha também chances de fazer bom papel na F1.

Brundle e Senna fizeram vários testes na F1 na segunda metade de 1983, mas só conseguiram lugares em equipe do bloco intermediário para 1984. Enquanto Senna conseguia um lugar na Toleman, Brundle foi contratado por Ken Tyrrell, conhecido por dar chances a bons jovens pilotos, mas também por ter sua equipe em pleno declínio. Ter um motor turbo em 1984 era praticamente obrigatório para ser competitivo na F1 e isso era algo que Tyrrell não tinha, fazendo com que a temporada de estreia de Brundle fosse bastante desafiadora, até porque ao seu lado estava outro novato sensação da F1: Stefan Bellof. Na sua estreia na F1 em Jacarepaguá, Brundle consegue largar na frente de Senna (que estava melhor equipado na ocasião) e termina num ótimo quinto lugar. Em Detroit, pista de rua que ajudava os motores pouco potentes, Brundle consegue um excepcional segundo lugar, recebendo a bandeirada bem próximo do vencedor Nelson Piquet. Contudo, a alegria de Brundle seria curta. Duas semanas depois Brundle sofreu um seríssimo acidente no circuito de Dallas, durante os treinos, em que teve os dois pés e tornozelos fraturados. O mais grave era o tornozelo esquerdo, fazendo com que Brundle tivesse que ficar de fora do resto do campeonato e mancar o resto da vida. Porém, as coisas piorariam quando a Tyrrell foi desclassificada de todas as corridas de 1984 por irregularidades no tanque de combustível e o primeiro pódio de Brundle foi riscado. Se servia de consolo, Brundle teve seu valor reconhecido na F1, mas nenhuma porta havia sido aberta para ele numa equipe grande, enquanto Senna estrearia pela Lotus para se tornar um piloto de ponta na F1. Brundle ficou mais um ano na Tyrrell, que passava por um momento de transição com a compra dos motores Renault turbo. Brundle não marcaria nenhum ponto no campeonato e ainda veria seu companheiro de equipe Bellof morrer num acidente em Spa, no Mundial de Marcas. Martin marcaria seus primeiros pontos válidos no Grande Prêmio do Brasil de 1986 com um quinto lugar, mas a Tyrrell sofria com falta de financiamento dos seus carros. Diferente dos tempos em que estreou na F1, Tyrrell foi ficando para trás em comparação com equipes ligadas a grande montadoras que injetavam muito dinheiro. Brundle sofria para marcar pontos e normalmente era um retardatário nas corridas. Para 1987, Brundle resolve tentar uma mudança e aposta na equipe alemã Zakspeed, que tinha estreado em 1985 e era caracterizada por construir todo o carro. Com motores cada vez mais sofisticados e potentes, a empresa alemã não páreo para as potências da época e Brundle fez uma temporada ainda pior, ainda conseguindo um miraculoso quinto lugar em Ímola, no que seria seus únicos pontos em 1987.

Enquanto Senna se mudava para a McLaren, Brundle enfrentava o desemprego para 1988. Brundle fazia algumas corridas de turismo com Tom Walkinshaw enquanto corria de F1. Quando a Jaguar se juntou à TWR de Walkinshaw em 1987, o sucesso foi imediato e Raul Boesel foi o grande campeão do Mundial de Marcas. Com seu pupilo em vias de ficar sem volante para 1988, Walkinshaw contrata Brundle como piloto principal da Jaguar no Mundial de Marcas. Brundle agarra a chance com as duas mãos. Com cinco vitórias e três segundos lugares, Martin conquista o Mundial de Marcas com o recorde de pontos no mesmo ano que seu antigo rival Senna conseguia seu primeiro título na F1. Brundle não ficou muito distante da F1 em 1988 e conseguiu uma vaga de piloto de testes da Williams, fazendo uma corrida na Bélgica substituindo Mansell, que se recuperava de uma catapora. Mesmo com o sucesso no Mundial de Marcas, Brundle ainda mirava a F1 e em 1989 ele fez sua volta à categoria através da Brabham, porém, não era a mesma equipe que fizeram sucesso anos antes nas mãos de Nelson Piquet, Bernie Ecclestone e Gordon Murray. A Brabham fora vendida por um empresário suíço e ficara de fora da F1 em 1988, retornando em 1989 com dois pilotos experientes, no caso Brundle e Stefano Modena. A Brabham ainda tinha algumas das referências dos bons tempos como Herbie Blash, mas o ás na manga da equipe eram os pneus Pirelli. Os italianos voltavam à F1 naquele ano equipando apenas equipes pequenas, mas com uma ótima borracha, principalmente nos treinos. A Brabham era uma das clientes da Pirelli e Brundle aproveitou para fazer algumas ótimas corridas. Em Mônaco, Martin estava em terceiro lugar quando sua bateria falhou. Brundle perdeu muito tempo nos boxes, mas voltou à pista para conseguir um sexto lugar, enquanto seu companheiro de equipe Modena subiu ao pódio com o terceiro lugar. Em Phoenix Brundle largou em quinto, mas teve que abandonar após muita luta com outros usuários da Pirelli na zona de pontuação. Contudo, Brundle não conseguiu largar em duas corridas, inclusive em sua casa, Silverstone. Brundle ainda marcaria pontos outras duas vezes, mas logo percebe que não teria lugar na Brabham em 1990 e por isso retorna ao Mundial de Marcas. Correndo com a Jaguar de Walkinshaw, desta vez Brundle não consegue o título, mas talvez tenha obtido um maior destaque ao vencer as 24 Horas de Le Mans ao lado de John Nielsen e Price Cobb.

Brundle faz o mesmo que 1988 e retorna à F1 em 1991 pela equipe Brabham, porém, o time começava a passar por problemas financeiros e ainda apostou nos minguados motores Yamaha. Martin consegue marcar pontos apenas na penúltima corrida com um quinto lugar em Suzuka, no mesmo local onde Ayrton Senna atingia o olimpo na F1 com o terceiro título mundial. Mesmo com um carro muito ruim nas mãos e poucos resultados para mostrar, todos sabiam que Brundle não tinha feito um mau papel com a Brabham em seus momentos agonizantes. O tradicional time estava na pindaíba e para 1992 tinha contratado Giovanna Amati, que era tão bela como lenta. Brundle percebe que aquele ali não era o seu lugar. Com Walkinshaw entrando na F1, Brundle foi indicado pelo dirigente para a Benetton e pela primeira vez na sua carreira na F1, Martin teria um carro decente nas mãos. Porém, o inglês não contava com um detalhe: a Benetton era toda construída em torno de Michael Schumacher. O alemão começava a mostrar seus dotes de gênio e andava junto das estrelas da época, enquanto Brundle lutava para andar no ritmo de Schumacher. O inglês ficou muito sentido com a falta de apoio que tinha da equipe e não teve os melhores relacionamentos com Schumacher. Quando se tornou comentarista, Brundle se tornou um ácido crítico de Schumacher, ainda rescaldo do seu ano ao lado do alemão, mas Martin não se entregaria fácil. Quando a temporada 1992 chegou à Europa, Brundle passou a andar mais próximo do companheiro de equipe e os resultados começaram a aparecer. Em Montreal Brundle estava em segundo e se aproximando do líder Berger quando teve que abandonar. Em Spa, Martin estava na frente de Schumacher quando o alemão resolveu trocar seus pneus o que acabaria garantindo a primeira vitória de Michael na F1. Na segunda metade da temporada Brundle consegue cinco pódios, inclusive um segundo lugar em Monza no que seria seu melhor resultado na F1. O sexto lugar no Mundial de 1992 foi o melhor campeonato de Martin Brundle na F1, mas isso não lhe garantiu um lugar na Benetton em 1993, para espanto de toda a F1 na época. Substituído por Riccardo Patrese, Brundle chegou a negociar seriamente com a Williams, mas acabou preterido por Damon Hill. Com bons resultados nas mãos, Brundle consegue um lugar na equipe Ligier, que tinha como trunfo o motor Renault, o melhor do pelotão na época.

A F1 vivia um momento high-tech. Muito se falava em 1993 que a eletrônica estava passando por cima do talento do piloto e as equipes investiam em suspensão ativa, câmbio semi-automático programável e controle de tração. Quem dominasse esses itens, estaria em grande vantagem na F1. A Ligier não contava com todos esses itens, praticamente restrito às equipes grandes da época, em particular a Williams. Contando com o mesmo motor da campeã mundial, a Ligier conseguiu bons resultados e Brundle chegou a subir no pódio em Ímola. Num ano bastante consistente e marcando pontos de forma regular, mas sem brigar por vitórias, Brundle conseguia um sétimo lugar no Mundial, mas que lhe garantia o título de melhor do resto da F1, pois a Ligier não contava com suspensão ativa, por exemplo. Com outro ano sólido, Brundle consegue novamente um lugar numa equipe grande em 1994 e se transfere para a McLaren. Porém, novamente também Brundle erra o timing de sua chegada numa equipe tradicional. A McLaren passava por momento de transição com a saída de Ayrton Senna e a chegada dos motores Peugeot. Os franceses queriam lutar com a Renault, mas o motor que construíram era bastante inconfiável, estragando muitas corridas de Brundle e seu companheiro de equipe Mika Hakkinen. Em Ímola, Brundle foi um dos que passaram pela cena do acidente de Senna. Martin sempre reivindicava que se tivesse as mesmas oportunidades de Senna, poderia ter feito papel semelhante ao do antigo rival de F3. Brundle foi um dos que vieram ao velório do brasileiro e parte da carreira de Brundle morreu naquele dia. Apesar do polêmico acidente em Donington, Brundle tinha um profundo respeito com Senna, principalmente quando se comparava com Schumacher. Duas semanas depois Brundle conseguia um impressionante segundo lugar em Mônaco, mas os problemas de confiabilidade da McLaren continuavam e em Silverstone, o carro de Brundle se incendeia em plena largada!

Com a McLaren trazendo Nigel Mansell para 1995, Brundle teve que procurar emprego e o encontra novamente na Ligier, contudo os franceses não tinham mais os motores Renault, mas contava com uma relação estreita com a Benetton por causa das ligações de Walkinshaw. Brundle consegue bons resultados como o terceiro lugar em Spa, no que seria seu último pódio na F1. A Ligier tomou uma decisão polêmica para agradar a Mugen-Honda, que lhe cedia os motores, e muitas vezes tirava Brundle de corridas e colocava em seu lugar o japonês Aguri Suzuki. Martin Brundle já pensava em aposentadoria quando foi chamado por Eddie Jordan, com quem havia corrido nos seus tempos de F3 para sua última temporada na F1 em 1996. Logo na primeira corrida Brundle sofreria um susto enorme quando foi espremido numa freada em Melbourne e capotou seu carro, dividindo-o ao meio. Martin volta correndo aos boxes e quase teve que abandonar a corrida com fortes dores nos tornozelos, ainda por causa do acidente em Dallas doze anos antes. Correndo ao lado do jovem Rubens Barrichello, Brundle não correu ao mesmo nível do brasileiro. Em Monza, Jordan mandou Barrichello ficar atrás de Brundle para que o inglês conseguisse um ótimo quarto lugar. Aquilo deixou Barrichello injuriado e no final do ano ele saiu da Jordan. Brundle também percebia que seus anos na F1 estavam no fim e mesmo conseguindo um bom quinto lugar no encerramento da temporada, ele anunciou sua aposentadoria definitiva da F1. Foram 158 corridas, 98 pontos conquistados e nove pódios.

Imediatamente após sua aposentadoria na F1, Martin Brundle foi contratado para ser comentarista de F1 da TV inglesa, se tornando uma referência. Ele foi premiado por seu trabalho na TV em 1998, 1999, 2005 e 2006. Um comentário conhecido dele foi: "Como ex-piloto de F1 eu ganhei o direito de ter uma opinião no esporte. Derramei sangue, lágrimas e suor, quebrei ossos, provei o gosto do champanhe e da miséria. Eu sempre amei a F1". Brundle retornou à Le Mans algumas vezes, mas uma segunda vitória não viria. Seu filho Alex tentou correr, mas sem sucesso, mas Martin teve a felicidade de dividir um carro com o filho em Le Mans. Ainda hoje Martin Brundle é comentarista (recentemente ele teve um pequeno ataque cardíaco) e sempre é perguntado sobre a rivalidade que teve com Senna.

Parabéns!
Martin Brundle