Após infindáveis negociações, a FOCA assumiria de vez o Grande Prêmio do Canadá a partir de 1989 e os efeitos são imediatos, com o aumento do preço do ingresso, causando grandes críticas dos canadenses, mas ao menos diminuía as chances da bela corrida no circuito Gilles Villeneuve ficasse de fora do calendário. Porém, a F1 estava ainda impactada pelo suicídio do projetista Maurice Philippe, conhecido por sua parceria com Colin Chapman na década de 1960 que rendeu à Lotus trinta e duas vitórias na F1. Porém, naquele momento, a Lotus sofria com a falta de potência do motor Judd e a falta de motivação de Nelson Piquet, que não estava nem aí para o fato da Lotus não ter marcado nenhum ponto em 1989 e estava mais preocupado em desfrutar seu famoso iate. Na Ligier a cabeça de René Arnoux estava à prêmio, mas Guy Ligier se mantinha fiel ao veterano piloto, que já estava no crepúsculo de seu carreira.
Havia previsão de chuva para todo o final de semana em Montreal e isso se provou verdadeiro no sábado, quando o clima inclemente complicou a vida dos pilotos e os tempos de sexta-feira, realizado com pista seca, definiram o grid. Prost conseguiu sua primeira pole position de 1989, alguns centésimos à frente de Senna, que enfrentou problemas de câmbio na sexta-feira. A Williams-Renault estava muito confortável no circuito da Île Notre-Dame, com seus dois pilotos conquistando boas posições. A Ferrari tinha problemas de estabilidade, mas tinha menos preocupações com a confiabilidade. Mansell tinha acertado a renovação do seu contrato por mais um ano na Ferrari, mesmo vindo de quatro abandonos por quebras mecânicas, enquanto Berger esperava o que Prost queria fazer em 1990 para encontrar seu lugar na temporada seguinte. Numa entrevista bastante polêmica, Mansell criticou acidamente a Honda, dizendo que em 1987 fora boicotado pelos japoneses à favor de Nelson Piquet e que dois anos depois a Honda estaria privilegiando Senna em detrimento à Prost. "Eles são terríveis quando querem favorecer um piloto", falou Nigel. Osamo Goto não perdeu muito tempo em se defender das acusações de Mansell, dizendo apenas que o inglês ainda estava com dor de cotovelo pela perda do título de 1987.
Grid:
1) Prost (McLaren) - 1:20.973
2) Senna (McLaren) - 1:21.049
3) Patrese (Williams) - 1:21.783
4) Berger (Ferrari) - 1:21.946
5) Mansell (Ferrari) - 1:22.165
6) Boutsen (Williams) - 1:22.311
7) Modena (Brabham) - 1:22.612
8) Caffi (Dallara) - 1:22.901
9) De Cesaris (Dallara) - 1:23.050
10) Alliot (Lola) - 1:23.059
O dia 18 de junho de 1989 estava chuvoso e com muito frio em Montreal. O que significava também uma corrida caótica, até porque a chuva não era muito forte e o sol apareceu algumas vezes antes da largada, fazendo com que os pilotos quebrassem a cabeça com qual acerto largar. A inconstância do clima marcaria o Grande Prêmio do Canadá de 1989. Todos os pilotos escolheram os pneus de chuva para largar, mas como a pista não estava muito molhada, Mansell, Nannini e Luis Pérez-Sala voltaram aos boxes ao final da volta de apresentação para colocar pneus slicks. Numa confusão absurda, Mansell e Nannini saíram para o final dos pits esperando uma luz vermelha, indicando que esperassem a largada ser dada, mas os dois encontraram uma luz laranja, pensando que os pilotos já tinha saído, quando na verdade estavam parados no grid, esperando a luz verde. O resultado foi que Mansell e Nannini foram para a pista antes de ser dada a largada, acabando por serem desclassificados logo depois. Apesar da escolha de Mansell, Nannini e Pérez-Sala (que ficou paradinho no final dos boxes), a pista ainda estava molhada quando o pelotão saiu na luz verde, com Prost mantendo a ponta, seguido por Senna, Berger e Patrese, com os dois últimos chegando a bater na primeira curva.
Ainda na primeira volta o primeiro acidente aconteceu, com Modena rodando e batendo forte, levando consigo Pierluigi Martini. A pista secava lentamente, com Prost sendo um dos primeiros líderes a colocar pneus slicks. No boxe da Onyx, um enorme susto quando Stefan Johansson sai com uma mangueira de ar preso na sua asa traseira, fazendo o sueco retornar aos boxes. A suspensão da McLaren de Prost quebra ainda na quarta volta e o francês abandona pela primeira vez em 1989. A dupla da Williams e Berger permaneciam com os pneus de chuva na pista, que ao mesmo tempo que secava, também estava muito escorregadia e manhosa. Berger pressionava Patrese pela liderança quando o seu câmbio quebrou ainda na sexta volta. Senna tinha trocado para pneus slicks ainda na terceira volta e ia para cima da dupla da Williams, que esperava que a chuva voltasse a qualquer momento. Com muitos pilotos tendo trocado seus pneus, algumas surpresas apareceram na zona de pontuação, como Warwick, Larini e Arnoux. Boutsen vai aos boxes colocar pneus slicks na volta 11, mas muda de ideia em cima da hora, vendo que a chuva estava voltando. Senna tirava 3s por volta de Patrese, enquanto Derek Warwick se aproveitou da situação caótica e estava em terceiro lugar ao ultrapassar Larini. Na 15º passagem o céu fica novamente escuro e a chuva voltava com força, fazendo com Luis Pérez-Sala rodasse na reta oposta, deixando a sua asa traseira no meio da pista. Quando a chuva se mostrava muito forte, a aposta de Patrese, a dupla da Dallara e Alliot tinha valido a pena. Apenas Senna e Warwick, dos seis primeiros, corriam com pneus slicks e perdiam muito tempo. O Grande Prêmio do Canadá de 1989 tinha virado uma enorme loteria!
Warwick rapidamente vai aos boxes colocar pneus de chuva, enquanto Senna demorou algumas voltas e com a pista encharcada, perdeu uma enormidade de tempo. Quando todos estava com os pneus apropriados, Patrese tinha 25s de vantagem em cima de Warwick, que estava 20s na frente de Larini e Senna. Após ter trocado os pneus na hora errada, Thierry Boutsen era um dos destaques da corrida, efetuando várias ultrapassagens no pelotão intermediário com seus pneus de chuva novos. A bela corrida de Nicola Larini terminou na volta 34 com problemas de motor quando estava em quarto, tendo acabado de ser ultrapassado por Senna. Mesmo tendo uma bela vantagem, Patrese começava a sofrer com o desgaste dos seus pneus de chuva e os troca na volta 35. Quem emergia na frente? Derek Warwick! O inglês da Arrows liderava uma corrida de F1 pela primeira vez em cinco anos, mas Senna se aproximava rapidamente numa pista encharcada e com a visibilidade muito ruim devido à uma neblina que baixara no circuito Gilles Villeneuve. Ás em piso molhado, Senna não demora muito para se aproximar e ultrapassar Warwick na volta 39, assumindo a liderança da corrida. Patrese não vinha muito longe de Warwick, mas o italiano tinha um problema no fundo do seu carro e mesmo com pneus novos, não progredia como o esperado, ao contrário acontecendo com Boutsen, um dos mais rápidos da pista. Quando a chuva forte dá uma diminuída, o motor de Warwick quebra na volta 40, acabando com o sonho de um bom resultado do veterano inglês.
O céu fica menos carrancudo, mas a pista estava molhada demais para alguma aventura naqueles momentos finais de uma prova extremamente tumultuada. Senna tinha 26s de vantagem para Patrese, que era alcançado por Boutsen. Mesmo não gostando de correr na chuva, Piquet estava na zona de pontuação, mas roda bem na frente de Senna. Ambos saem ilesos do incidente, mas era um claro aviso de como a pista ainda estava traiçoeira. Patrese perdia cada vez mais desempenho e na volta 61 era ultrapassado por Boutsen, naquele momento o piloto do dia. De Cesaris corria isolado em quarto, enquanto Piquet brigava com Christian Danner pela quinta posição. A chuva ainda voltou com força no final, mas durou menos do que a precipitação anterior, porém complicou ainda mais a situação dos pilotos naquele final de prova. Quando o drama parecia acabar, o infalível motor Honda de Senna falhou bem na reta dos boxes quando faltavam apenas três voltas para a bandeirada. Literalmente uma chuva de água fria nas pretensões do brasileiro no campeonato, já que Prost havia abandonado no comecinho da corrida. Senna lamentou muito a quebra, a sua primeira com a Honda, mas os mecânicos da McLaren constataram também que o pneu traseiro esquerdo de Senna estava para estourar. Não era dia do brasileiro! Claro que a dupla da Williams-Renault não tinha do que reclamar, principalmente Boutsen. O belga fez sua melhor corrida na F1 até então para vencer pela primeira vez na carreira na F1, enquanto a Williams celebrava uma dobradinha, com Patrese se arrastando até o fim. Depois de um sórdido acidente com seu companheiro de equipe em Phoenix quando era um retardatário, Andrea de Cesaris descontava a frustração com o primeiro pódio da Dallara na F1, enquanto Nelson Piquet conquistava os primeiros pontos da Lotus em 1989. Numa corrida de sobreviventes, Arnoux chegou em quinto, seguido por Caffi e Danner, sendo esses os últimos que viram a bandeirada numa corrida cheia de alternativas e zebras.
Chegada:
1) Boutsen
2) Patrese
3) De Cesaris
4) Piquet
5) Arnoux
6) Caffi
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