terça-feira, 29 de agosto de 2017

História: 35 anos do Grande Prêmio da Suíça de 1982

Desde 1955, com a catástrofe em Le Mans, ficou proibido as corridas em território suíço, mas isso não impedia que ocorresse um Grande Prêmio da Suíça e a federação local promoveu sua corrida no exterior, em Dijon-Prenois, na vizinha França. Lugar da primeira vitória de Alain Prost. Com o segundo lugar conquistado em Zeltweg, Keke Rosberg assumia a segunda posição do campeonato seis pontos atrás de Didier Pironi, que nunca mais correria de F1. Apenas um ano antes Keke lutava para conseguir um lugar no grid com a moribunda Fittipaldi e mesmo sem vencer uma única corrida, estava prestes a se tornar Campeão Mundial. Não faltavam críticas em cima do finlandês, acusado de falta do brilho dos grandes campeões, mas ele se aproveitou bem da falta de confiabilidade de Renault e Brabham-BMW, além do azar da Ferrari, para se colocar nessa posição com seu confiável Williams-Cosworth. Alain Prost era anunciado como piloto número um da Renault para 1983 e com isso, René Arnoux estava fora da equipe francesa. Frank Williams negociava com a BMW, mas o chefão inglês não aceitou engolir Manfred Winkelhock, imposição dos bávaros, e no momento em que renovava com Rosberg, anunciava a contratação de Jacques Laffite, que fora piloto da Williams nos primeiros e difíceis momentos da equipe inglesa.

Num circuito em que testava constantemente, não foi surpresa ver a Renault dominar a classificação, conquistada por Prost após uma briga feroz com Arnoux. Isso aconteceu na sexta. No sábado, um calor infernal fez com que as condições da pista piorassem e ninguém melhorasse os tempos do dia anterior. Um segundo atrás da Renault, vinha Patrese em seu Brabham, enquanto Piquet era apenas sexto e reclamando da nova versão da Brabham, que somente ele usou. Niki Lauda disse que sua McLaren estava perfeita em Dijon e conseguiu um notável quarto lugar. O motor Alfa Romeo V12 permitiu à De Cesaris um quinto lugar, enquanto Giacomelli, que havia aceitado as desculpas do companheiro de equipe pelo acidente na largada na Áustria, se colocava entre os dez primeiros. As duas Williams compartilhavam a quarta fila, mas pela primeira vez no ano Daly superava Rosberg. Isso era um pequeno alento para Watson, que ao contrário do seu companheiro de equipe Lauda, não tinha um bom carro na França. Vencedor da corrida anterior, Elio de Angelis conseguiu apenas um 15º lugar, com o seu companheiro de equipe Mansell lutando bastante para conseguir a 26º e última posição do grid.  

Grid:
1) Prost (Renault) - 1:01.380
2) Arnoux (Renault) - 1:01.740
3) Patrese (Brabham) - 1:02.710
4) Lauda (McLaren) - 1:02.984
5) De Cesaris (Alfa) - 1:03.023
6) Piquet (Brabham) - 1:03.183
7) Daly (Williams) - 1:03.291
8) Rosberg (Williams) - 1:03.589
9) Giacomelli (Alfa) - 1:03.776
10) Tambay (Ferrari) - 1:03.896

O dia 29 de agosto de 1982 amanheceu com sol e calor em Dijon-Prenois, mas havia uma novidade não muito boa para os tifosi. Patrick Tambay reclamava de fortes dores do pescoço e não foi à pista no sábado. No domingo as dores permaneceram e a Ferrari resolveu poupar o seu único piloto. Após vários anos, não haveria uma Ferrari numa largada de F1. Por causa do calor, os pilotos se esmeraram na escolha dos pneus. Prost usava os compostos mais macios da Michelin, enquanto Arnoux largou com os mais duros. Todos os pilotos clientes da Goodyear escolheram os mais duros. Na luz verde, Arnoux consegue uma melhor saída e toma a ponta de Prost, seguidos por Patrese e Lauda. Numa manobra audaciosa por fora, Keke pula para o quinto posto, mas durante a primeira volta foi ultrapassado por Piquet. 

Nelson Piquet estava numa estratégia de parar durante a corrida, a grande novidade do ano, mas além do brasileiro, era Prost quem estava mudando de posição, assumindo a liderança na segunda volta e logo marcando a volta mais rápida da corrida. O calor forte, mais o desgaste dos pneus, fez com que o ritmo da prova fosse um pouco mais lento. Piquet ultrapassa Patrese, que não faria um pit-stop programado, na terceira volta e parte para cima de Arnoux. Porém, Piquet não estava confortável com os seus pneus e na quinta volta ele escorrega no óleo derramado pelo estouro do motor de Roberto Guerrero, perdendo um pouco de tempo. Após ultrapassar Lauda, Rosberg ultrapassa Patrese na sexta volta e de forma bastante interessante, acompanhava de perto o ritmo forte de Piquet. Também pensando no campeonato, Watson realizava uma boa corrida de recuperação e ganhava terreno. Na volta 11, Piquet finalmente ultrapassa Arnoux, mas já estava 7s atrás de Prost. Patrese perdia rendimento e após ser ultrapassado por Lauda, era acossado pelo ascendente Watson, que já entrava na zona de pontos. Sabendo que Piquet iria fazer um pit-stop, Arnoux praticamente deixou Piquet passar e acompanhava o brasileiro a distância, com Keke apenas 2s atrás. Porém, a diferença entre Prost e Piquet não diminuía. A tática de Piquet e da Brabham não estava surtindo o efeito esperado.

Na ânsia de ganhar posições rapidamente, Watson ultrapassa Patrese passando por cima de uma zebra, mas se hoje isso é banal, em 1982 era algo que poderia destruir a corrida de um piloto, pois poderia danificar as minissaias laterais, que ajudavam a aerodinâmica dos carros. Não demorou e Watson entrou nos boxes para consertar sua minissaia e saía definitivamente da briga pela corrida. Rosberg abranda o seu ritmo para economizar os pneus, enquanto os três primeiros colocados negociavam com diferentes graus de sucesso espaço com os retardatários. A diferença entre Prost e Piquet chega a cair para a casa dos 4s, mas com Piquet parando na volta 40, exatamente a metade da corrida, sua tática não tinha dado certo. O brasileiro retorna à pista em quinto, quase 50s atrás de Prost e com os pneus duros, pois Piquet não se deu muito bem com os macios. Foi uma tentativa válida para acabar com o domínio da Renault, mas no fim, era os carros franceses que lideravam a corrida suíça. Porém, Prost danificou sua asa esquerda enquanto colocava uma volta num retardatário e Arnoux se enganchava no trânsito. Rosberg e Lauda andavam próximos e quando o finlandês encontrou Andrea de Cesaris, o piloto da Alfa Romeo não facilitou as coisas para Keke, que ficou bastante irritado e quase jogou o italiano, literalmente, na Suíça! Piquet estava num ritmo tão lento, que acaba levando uma volta de Prost, que via seu carro ficar cada vez mais desequilibrado e Arnoux se aproximava aos poucos. Rosberg se aproveitou que De Cesaris estava num daqueles dias e o italiano atrapalhou Lauda a ponto de Keke escapar na frente. O piloto da Williams vinha menos de 10s atrás de Prost.

Em Paul Ricard, a Renault havia mandado Arnoux ceder sua vitória para Prost, no que foi ignorado por René, desafeto declarado de Prost. Com Arnoux se aproximando do seu primeiro piloto, a cúpula da Renault começava a ficar nervosa, pois sabia que René ignoraria solenemente qualquer ordem de equipe para manter as posições. Porém, Arnoux teve o seu motor com problemas de injeção e ele entrou nos boxes lentamente. Eram menos pontos no Mundial de Construtores para a Renault, mas a certeza de uma corrida tranquila para Prost. Ou não? Keke Rosberg já vinha menos de 5s atrás com poucas voltas para o fim. Prost estava com problemas claros de dirigibilidade e toda a França torcia loucamente por Prost e a Renault. Conta a lenda que os organizadores da corrida até tentaram 'diminuir' a corrida, colocando menos voltas para o final no placar eletrônico. Faltando duas voltas para o fim e com Rosberg colado em Prost, o diretor de corridas chegou a entrar na pista com a bandeira quadriculada, mas o pessoal da Williams chiou. Exatamente nessa volta, Prost escorrega um pouco e Rosberg consegue a ultrapassagem consagradora. Por causa da confusão na direção de prova, Keke deu uma volta a mais para finalmente receber a bandeirada de sua primeira vitória na F1. Mais varzeano impossível! A torcida francesa vaiou Rosberg, que tomou a liderança que fora de Prost por 78 das 80 voltas. Lauda completou o pódio, com Piquet superando Patrese no final, mas a tática do pit-stop não havia funcionado a contento. Elio de Angelis fechou a zona de pontuação, bem longe da vitória que conquistara quinze dias antes. Keke Rosberg conquistava a primeira vitória da Finlândia na F1 e assumia a liderança do campeonato. Prost e a Renault amargavam outra derrota doída e para os críticos de Keke, um fato deixava-os ainda mais sem crédito. Se não fosse desclassificado injustamente no Brasil, Rosberg teria se tornado campeão em Dijon, mas com Pironi de fora da temporada, Keke poderia ser campeão em Monza, próxima corrida. O título não demoraria a ser de Keke Rosberg.

Chegada:
1) Rosberg
2) Prost
3) Lauda
4) Piquet
5) Patrese
6) De Angelis

História: 40 anos do Grande Prêmio da Holanda de 1977

Faltando cinco corridas para o final da temporada de 1977, Niki Lauda era o grande favorito a conquistar o seu bicampeonato. As marcas do acidente no ano anterior ainda estavam bem vivas no rosto e na alma do austríaco, mas Lauda superou tudo para fazer um campeonato impecável, onde marcou o máximo de pontos possíveis, incluindo duas vitórias. Jody Scheckter e seu surpreendente Wolf estavam na vice-liderança, mas dezesseis pontos atrás de Lauda e todo o poderio da Ferrari. Mario Andretti (Lotus) e James Hunt (McLaren) pareciam estar melhor equipados em comparação à Lauda, mas ambos já tinham contabilizado muitos abandonos e estavam longe do austríaco, que mesmo na liderança do campeonato, estava insatisfeito. Cansado das intrigas internas da Ferrari, Lauda negociava um contrato com a Brabham, financiado pela Parmalat.

Após algumas corridas difíceis, a Lotus de Mario Andretti voltava a mostrar o seu potencial e o americano conseguia sua quinta pole no ano, tendo ao seu lado a surpreendente Ligier de Jacques Laffite, que crescia após sua primeira vitória na Suécia. O dois contendores do título de 1976 dividiam a segunda fila, seguidos por Nilsson, Reutemann, Peterson e Watson. A Renault retornava à F1 após ficar de fora duas corridas consecutivas. Jabouille sofreu com um turbo quebrado na sexta, mas no sábado o francês conseguiu um impressionante décimo lugar no grid, para alegria dos chefes da Renault.

Grid:
1) Andretti (Lotus) - 1:18.65
2) Laffite (Ligier) - 1:19.27
3) Hunt (McLaren) - 1:19.50
4) Lauda (Ferrari) - 1:19.54
5) Nilsson (Lotus) - 1:19.57
6) Reutemann (Ferrari) - 1:19.66
7) Peterson (Tyrrell) - 1:19.85
8) Watson (Brabham) - 1:19.93
9) Regazzoni (Ensign) - 1:19.93
10) Jabouille (Renault) - 1:20.13

O dia 28 de agosto de 1977 amanhece com tempo bom e um tímido sol nas dunas de Zandvoort, num belo dia para uma corrida de F1. Porém, o dia começou agitado na Ligier quando o motor de Laffite quebrou durante o warm-up e o francês teve que utilizar o carro reserva, que ficou pronto faltando apenas trinta minutos para a largada! James Hunt consegue uma largada espetacular e pula de terceiro para primeiro na freada da curva Tarzan, com Andretti ainda conseguindo um segundo lugar, mas tendo que segurar Laffite. Mais atrás Jochen Mass toca em Alan Jones e acaba na barreira de pneus, acabando com a corrida do alemão da McLaren.

Durante a primeira volta Laffite finalmente ultrapassa Andretti, mas demonstrando a força da Lotus naquele dia, o ítalo-americano nem esperou o início da segunda volta para retomar a segunda posição, ultrapassando Laffite na linha de chegada, enquanto Watson abandonava sua Brabham que vinha colado nas Ferraris, com um vazamento de óleo. Imediatamente Andretti vai para cima de Hunt, iniciando uma briga histórica entre os dois. Ao contrário do que mostra o filme 'Rush', o grande desafeto de Hunt na F1 era Andretti (juntamente com Depailler...) e os dois juntos não poderia dar coisa boa. Andretti sempre tentava a ultrapassagem no final da reta dos boxes e Hunt sempre ficava por dentro, deixando o lado de fora para o piloto da Lotus. Na sexta volta, Hunt repete a manobra, mas Andretti, sabendo que tinha o melhor carro, força a passagem por fora da curva Tarzan. O choque foi inevitável! Andretti bate na traseira de Hunt e roda, por sorte, não é atingido por Laffite e as duas Ferraris, que já vinham colados na briga pela liderança. Hunt continua por alguns metros, até abandonar logo depois, com a suspensão quebrada. Hunt, que iria completar 30 anos naquela semana, ficou irado. Apontando o dedo para Andretti a cada passagem do americano e chegou aos boxes possesso. A relação dos dois, que já não era boa, azedou de vez após esse episódio.

Por incrível que pareça, Andretti não perdeu muito tempo com o incidente e o americano retornou à pista em quarto, logo atrás de Reutemann. Laffite liderava a corrida, com Lauda colado em sua caixa de câmbio. Na décima volta Mario ultrapassa Reutemann na curva Tarzan, local onde tentou ultrapassar Hunt sem sucesso. Logo Andretti cola em Lauda, que se defende bem, mas a briga não duraria muito, pois Andretti tem problemas de motor ainda na volta 14 e abandona. Era o quarto abandono de Mario Andretti devido à problemas mecânicos. Laffite era pressionado pelas duas Ferraris e numa manobra trabalhada, Lauda consegue a liderança na volta 21. Laffite tenta dar o troco, mas logo Lauda aumentava a sua vantagem na liderança. Reutemann vinha próximo de Laffite, mas a segunda Lotus de Gunnar Nilsson se aproximava do argentino. Na volta 35, Nilsson perdeu o controle do seu carro na curva Panorama e acabou fazendo Reutemann rodar. Foi um erro de Nilsson, que naquele momento apenas comboiava Carlos. Para Nilsson, a corrida acabou ali mesmo, enquanto Reutemann teve que ir aos boxes para reparar seu carro. Quem assumia a terceira posição era o surpreendente Patrick Tambay, que fazia sua estreia na F1 naquela temporada e guiava um pouco competitivo Ensign. Jabouille estava em sexto e poderia marcar os primeiros pontos da Renault, mas o francês acabaria abandonando com a suspensão quebrada. A diferença entre Lauda e Laffite nunca superava os 4s. Niki administrava a corrida de forma incrível, sempre demonstrando ter uma reserva técnica, se fosse necessário usar. 

Numa impressionante corrida de recuperação, Carlos Reutemann escalou o pelotão rumo ao sexto lugar, o que lhe garantiu um ponto. Lauda administrou bem a corrida até o seu final e quando foi atrapalhado pelo retardatário Hans-Joachim Struck, permitindo a aproximação de Laffite, Niki marcou a volta mais rápida da corrida. Ao fim de 75 voltas, Lauda recebeu a bandeirada com menos de 2s de vantagem sobre Laffite, mas o francês sequer esboçou um ataque mais sério em cima da Ferrari. No início da última volta Patrick Tambay passa lento na reta dos boxes, mas ainda em terceiro. Porém, o jovem francês acaba ficando sem gasolina na última volta, lhe privando de um incrível pódio nas suas primeiras corrida na F1. Tambay seria escolhido a revelação do ano em 1977 e ainda conseguiu um quinto lugar, pois Reutemann já estava duas voltas atrás do líder. Quem se aproveitou do azar de Tambay foi Jody Scheckter, que amealhou mais alguns pontinhos na sua inglória luta com Lauda pelo título. Numa prova correta, Emerson Fittipaldi levou seu Copersucar à um ótimo quarto lugar, na melhor corrida do modelo F5 até então. Com uma equipe bem mais forte e consistente do que a Wolf do vice-líder Scheckter, além dos abandonos de Andretti e Hunt, Niki Lauda dava um passo significativo rumo ao bicampeonato.

Chegada:
1) Lauda
2) Laffite
3) Scheckter
4) Fittipaldi
5) Tambay
6) Reutemann  

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Figura(BEL): Lewis Hamilton e Sebastian Vettel

Para quem não presta atenção nas minúcias de uma corrida de automóveis, a atuação das grandes estrelas da F1 atual pode passar desapercebida. Houve ultrapassagens? Não. Trocaram de posição? Apenas uma vez, por um bico na reta Kemmel, mas logo Hamilton retomou a posição. Hamilton e Vettel esperaram pelo palco perfeito para mostrarem que ambos estão um nível acima dos demais pilotos do pelotão atual da F1. Talvez com exceção de Fernando Alonso, mas o espanhol não pode mostrar nada por motivos óbvios. Na lendária pista belga, com toda a sua velocidade, seletividade, seus aclives e declives, além de toda a sua dificuldade, Hamilton e Vettel deram um show em todo o final de semana, sempre andando próximos e no limite. A corrida foi 44 voltas de classificação para os dois, com a diferença entre eles nunca superando os 2s. Um erro seria fatal. E ninguém errou. A melhor volta de ambos foi 1s mais rápida do que os demais. Haviam demonstrações de coragem e talento a cada momento. A forma como Hamilton cruzava a Eau Rouge para ficar 1s na frente de Vettel volta a volta mostra bem o quilate do inglês da Mercedes. A coragem com que Vettel atacou Hamilton, após subir a Eau Rouge colado no carro do rival mostrou bem que o alemão da Ferrari não deve nada ao inglês. Hamilton igualou o recorde de Schumacher no quesito poles, mostrando sua velocidade pura. Vettel fez uma corrida perfeita, usando uma leitura da prova ao nível, no mínimo, de Alain Prost. Cada um ao seu estilo, dentro e fora da pista, podem estar escrevendo uma bela página da história da F1. Azar daqueles que só olham para o passado e não curtem o presente.

Figurão(BEL): Force India

Como perder pontos preciosos por falta de comando. Esse é o lema da Force India em 2017. O time hindu está confortavelmente na quarta colocação do Mundial de Construtores, tem uma dupla de pilotos equilibrada e que anda no mesmo nível, mas os chefes da equipe estão tendo mais dores de cabeça do que o imaginado nesse ano. Sergio Pérez e Esteban Ocon são dois pilotos que estão pensando num mundo maior do que a Force India e por causa dessa ganância de ambos de almejarem um lugar numa equipe de ponta num futuro próximo, Pérez e Ocon não se conformam em ficar atrás do companheiro de equipe. A proximidade de ambos fez bem à Force India na medida em que ambos amealharam vários pontos na primeira metade do ano, mas os ruídos começaram ainda no Canadá, reverberando em Baku para finalmente desaguar à Spa. O primeiro contato imediato entre os carros róseos aconteceu logo após a largada, quando Pérez espremeu Ocon contra o muro, segundo o mexicano, de forma involuntária. Apesar do toque, Ocon ficou à frente de Pérez, algo que vinha fazendo o final de semana inteiro. Mesmo dizendo que foi sem querer, a forma como Sergio corria mostrava um homem numa missão, inclusive uma saída de pista que custou uma punição à Pérez. Quando se encontraram novamente, por coincidência no mesmo local do toque depois da largada, Sergio Pérez não queria deixar Ocon passar. E Esteban não queria saber de ficar atrás do companheiro de equipe, que superou o final de semana inteiro. O resultado poderia ser trágico. Pérez deveria salvaguardar seu carro e do seu companheiro de profissão e de equipe. A trancada que o mexicano deu em Ocon foi realmente bastante criticável, ainda mais com um companheiro de equipe, que ficou possesso, inclusive acusando Pérez de ter tentado matá-lo duas vezes! O pós-corrida foi tão agressivo quando dentro da pista, com Ocon falando em conversa de homem para homem e Pérez dizendo que não ia repetir besteiras. Depois ambos amenizaram o discurso para o mundo externo, mas nada leva a crer que Pérez e Ocon fizeram realmente as pazes nos intramuros da Force India. Se nos três últimos anos a chefia da Mercedes conseguiu segurar Rosberg e Hamilton (mesmo assim, foi do jeito que lembramos), o chefão da Force India Vijay Mallya nem pode deixar a Inglaterra, pois pode ser preso. Sem um comando claro, a Force India pode padecer de uma rivalidade acima dos níveis aceitáveis dentro da equipe. 

domingo, 27 de agosto de 2017

Abrindo o campeonato

Marc Márquez corria em terceiro e com a boa vantagem que tinha sobre os seus rivais no campeonato, dá até para afirmar que o espanhol da Honda administrava a corrida pensando nos pontos que tem no campeonato, pois o líder de então Valentino Rossi era justamente o piloto que estava mais longe dele na tábua de pontuação. Antes mesmo da F1 atingir o nível técnico de hoje, onde os abandonos por problemas mecânicos são raros, a MotoGP sempre mostrou esse nível de excelência, com as motos raramente quebrando. Normalmente quando um piloto abandona, é devido à uma queda. Pois Marc Márquez experimentou um dia de Fernando Alonso e viu seu motor Honda explodir já no final do Grande Prêmio da Inglaterra, novamente abrindo o campeonato, que se tornou tão apertado como antes das férias.

Num clima atípico em Silverstone, com sol e calor, a MotoGP nos mostrou uma de suas típicas corridas, com os líderes sempre muito próximos e muita disputa entre eles. Rossi testou bastante em Misano o desgaste de pneus e quando saiu de suas características e largou bem, o italiano parecia não ter adversários rumo a vitória em sua corrida de número 300 na categoria principal do Mundial. Porém, Rossi sempre teve companhia. Maverick Viñales arriscava ao escolher o pneu traseiro macio, o mesmo que lhe garantiu a vitória ano passado, mas ao contrário de 2016, esse ano estava quente em Silverstone. Lorenzo foi logo despachado pelo companheiro de equipe Doviziozo e se juntava às duas Hondas de Márquez e Cruthlow para brigar pela vitória. Lorenzo perdeu o contato com o pelotão da frente e passou a liderar o trio com Johann Zarco e o novamente apático Daniel Pedrosa.

Doviziozo fazia sua corrida cerebral numa moto que claramente não era melhor numa pista cheia de curvas de raio longo como Silverstone. O italiano usava muito bem a potência da Ducati nas longas retas, mas sofria nas curvas. Doviziozo foi ultrapassando um a um, primeiro os dois pilotos da Honda e depois os dois pilotos da Yamaha, até chegar à ponta da corrida já nas voltas finais. Com o surpreendente abandono de Márquez, Andrea retomou a liderança do campeonato e com a quarta vitória na temporada, é o piloto com mais triunfos em 2017, surpreendendo até mesmo seu mais fanático torcedor. Doviziozo não é o piloto mais rápido e habilidoso da MotoGP, mas compensa com muito trabalho e sua pilotagem cerebral. Rossi poderia voltar ao campeonato, depois de jogar a toalha nessa semana, mas o passão que lavou de Viñales o colocou novamente numa situação difícil, mas ainda contornável com o abandono de Márquez. Após muito choramingar pelos cantos nas últimas corridas, Maverick fez uma boa corrida finalmente e nas últimas curvas ensaiou um último ataque em cima de Doviziozo, mas sem sucesso.

Se na F1 a batalha pelo título vai se bipolarizando entre Hamilton e Vettel, na MotoGP a coisa vai ficando indefinida, na medida em que Andrea Doviziozo, uma espécie de patinho feio dos pilotos de ponta, vai continuando seu sonho e na melhor temporada de sua já longa carreira, vai surpreendendo não apenas por se manter na briga pelo título, como liderando na frente de Márquez, que uma hora dessa está telefonando para Alonso para pedir ombro e saber a experiência de ver um motor Honda quebrar. As Yamahas reviveram, principalmente com Viñales, que arriscou tudo e se não ganhou, pelo menos está no páreo. São quatro pilotos de três marcas diferentes na briga. O campeonato está mais aberto do que nunca!

Afunilando o campeonato

Lewis Hamilton e Sebastian Vettel. O que falar desses dois campeões? Sim, independentemente de quem se sagrar o vencedor da temporada 2017, ambos estão fazendo campanhas de campeão. Em Spa, ambos mostraram que não são multi-campeões por acaso e que o oitavo título será de um deles, pois Valtteri Bottas mostrou que ainda precisa comer muito, mas muito feijão com arroz para chegar próximo ao nível de Hamilton e Vettel. Lewis venceu, mas Sebastian também merecia. Sem contar uma menção honrosa à Daniel Ricciardo, um piloto talvez subestimado pelo rolo compressor chamado Max Verstappen, mas o australiano é de uma eficiência a toda prova, marcando importantes pontos e sempre entregando mais do que seu carro permite.

Para quem não presta muita atenção nas minúcias de uma corrida de automóvel, poderá dizer: Nossa, que corrida chata, essa de Spa. Porém, uma corrida de automóveis não é feita apenas de ultrapassagens no atacado. A dita 'emoção' também pode vir numa disputa de alto nível num dos circuitos mais velozes e seletivos do mundo, com carros potentes e com muita pressão aerodinâmica. Hamilton e Vettel deram um show numa disputa toda particular em que ambos não ficaram nunca separados por mais de 2s. A briga foi no cronômetro o tempo todo, cada um tentando derrotar o outro. Hamilton tinha a potência do seu Mercedes a seu favor. Vettel, e é bom salientar cada vez mais isso, tem sua inteligência fora do normal em ler uma corrida. O alemão fez duas tentativas fortes em cima de Hamilton. Na largada e relargada. Em ambas as oportunidades, Hamilton rechaçou Vettel na freada da Les Combes. Vettel tentou de tudo, inclusive voltar aos ultramacios quando o safety-car se fez presente, enquanto a Mercedes colocou de forma inacreditável os macios. Essa mudança poderia ter atrapalhado Hamilton, mas a forma como o inglês fazia a Eau Rouge praticamente neutralizava as tentativas de Vettel ficar menos de 1s e abrir a asa na reta Kemmel, no que poderia ser decisivo para uma ultrapassagem. O piloto da Ferrari foi corajoso em subir a Eau Rouge colado em Hamilton nas duas oportunidades que teve, mas a potência da Mercedes acabou fazendo a diferença à favor de Hamilton, que manteve a liderança e venceu uma corrida disputada em todas as suas voltas. Os olhos arregalados de Hamilton no pódio mostram uma adrenalina acima do comum do inglês. Ele sabe que usou tudo o que sabe para derrotar um piloto do seu nível. Nas lutas com Nico Rosberg, Hamilton sabia que era melhor e talvez por isso, abaixava a guarda e Nico, de forma brilhante, soube usar isso à seu favor. Contra um piloto como Vettel, Hamilton não pode se dar o luxo de fazer isso. Sebastian é um dos pilotos mais astutos dos últimos tempos. Numa batalha desse nível, estamos vendo o melhor de Vettel e o alemão tem um quê de Alain Prost, em sua genial leitura da prova e do campeonato. Em 2017, veremos um campeão digno da coroa. E ficará entre Hamilton e Vettel.

Daniel Ricciardo poderia estar nessa briga, mas o equipamento da Red Bull não deixa. Solitária como terceira força, a Red Bull não tem como atacar Mercedes e Ferrari. No entanto, Ricciardo faz o algo a mais. Numa relargada sensacional, Ricciardo conseguiu ultrapassar Raikkonen e Bottas de uma vez só, na reta Kemmel. Dois detalhes: sem usar a asa móvel e com um motor menos potente. Era esperado um ataque de Raikkonen, que teve seu contrato renovado essa semana, mas Daniel se manteve em terceiro com relativa facilidade, subindo ao pódio mais uma vez. Nas últimas seis corridas em que recebeu a bandeirada, Ricciardo subiu ao pódio em todas, mesmo tendo o terceiro melhor carro da F1 e onde o seu lugar deveria ser o quinto posto. Ricciardo é sempre menos falado do que Max Verstappen, um piloto até mais talentoso, mas que ainda tem muito o que aprender. Contudo, hoje o holandês não teve culpa do seu Red Bull quebrar ainda no início da corrida. Incrivelmente, todos os problemas da Red Bull acontecem no carro de Max. Bottas praticamente entregou o título nas mãos de Hamilton e Vettel, com uma relargada horrorosa, onde foi atacado por Raikkonen e Ricciardo, permanecendo numa situação até mesmo inofensiva na ocasião. Apático, ficou em quinto e viu suas escassas chances de título irem para o beleleu. Raikkonen poderia honrar a renovação do seu contrato por mais um ano ganhando alguns pontos importantes para a Ferrari no Mundial de Construtores ao atacar Ricciardo, mas como já aconteceu algumas vezes nessa temporada, Kimi se acomodou na quarta posição, sem sequer atacar o australiano da Red Bull. Os dois finlandeses vão se consolidando cada vez mais como coadjuvantes em suas equipes, mas enquanto Bottas ainda se vê alguma margem de crescimento no futuro a médio prazo, Raikkonen se aposentará como um inofensivo segundo piloto em breve.

Largando em sétimo, Nico Hulkenberg foi o melhor do resto na corrida com uma bela corrida, onde ultrapassou com decisão Fernando Alonso e administrou sua vantagem para os beligerantes pilotos da Force India. A Renault vai crescendo durante a temporada, levado pelas costas por Hulkenberg. Palmer mais uma vez teve azar, pois um problema de freios o colocou ainda mais atrás na classificação, o deixando praticamente na última posição no começo da prova, quando tinha carro para pontuar. E ele quase o fez. Felipe Massa fez uma prova muito boa com o carro que tem. O brasileiro foi o piloto que mais ganhou posições na corrida, saindo da 16º posição para oitavo, se livrando dos óbvios problemas, além de aproveitar as chances que vieram para as suas mãos. Stroll mal apareceu e ficou na bica de pontuar. Grosjean levou a Haas aos pontos mais uma vez, mas Magnussen quase provoca um clima ruim na Haas quando quase bateu na traseira do companheiro de equipe na relargada, tendo que sair da pista para evitar a batida. Uma pena para Magnussen, que passou o final de semana na frente de Grosjean, mas com a saída de pista, acabou fora dos pontos. Carlos Sainz ainda salvou uns pontinhos para a Toro Rosso, enquanto fica cada dia mais incompreensível a moral de Kvyat dentro da equipe da Red Bull, pois o russo simplesmente não acompanha Sainz. A Sauber fez o papel de sempre, com Wehrlein abandonando logo no comecinho. Porém, a Sauber preferiria aparecer menos do que Force India e McLaren nesse final de semana, pois as duas equipes citadas não apareceram pelos melhores motivos.

Ouvir as reclamações de Fernando Alonso pelo rádio já entrou para o folclore da F1. No Power! Unbelivable! São as expressões mais ditas por Alonso desde 2015, quando entrou nessa barca furada que é a parceira McLaren-Honda do século 21. Numa pista de muita reta, foi constrangedor a forma como Alonso, que largou de forma magnífica e subiu para sétimo, ia sendo ultrapassado como se estivesse numa outra categoria. Quem sofre é a Honda, que passa uma humilhação pública e mundial do quanto seus motores são mais lentos que Mercedes, Ferrari e Renault. Com a renovação de Alonso chegando próximo de uma definição, uma corrida como essa não ajuda nada a McLaren, que fez Stoffel Vandoorne largar em último na sua primeira corrida caseira. Mas ao menos Alonso e Vandoorne aparentemente se dão bem e não se tocam durante as corridas. Já na Force India... Desde Hamilton e Rosberg não se via uma dupla de pilotos tão explosiva como Sergio Pérez e Esteban Ocon. Os toques entre os dois se multiplicam na medida em que andam num nível muito bom para a Force India, mas como são dois pilotos gananciosos, que trabalham para serem contratados por uma equipe de ponta (Pérez lamentou bastante a renovação de Raikkonen com a Ferrari), um não admite ser superado pelo outro. E o resultado não poderia ser outro do que visto hoje em Spa. Logo após a primeira curva, Pérez e Ocon bateram, mas incrivelmente os dois carros permaneceram intactos. Porém, no próximo encontro, isso não aconteceria. Logo após a parada dos dois, Ocon, que vinha sempre na frente, atacou Pérez após a La Source. Ocon tentou colocar de lado no mesmo local onde tinha tentado a ultrapassagem na largada e teve a porta fechada. Pérez, no entanto, deveria salvaguardar seu carro e a até mesmo a vida do outro piloto, mesmo que não fosse seu companheiro de equipe. O mexicano espremeu seu 'companheiro' de equipe contra o muro e o toque foi inevitável, com Pérez tendo o pneu furado e Ocon a asa dianteira quebrada, trazendo o único safety-car da corrida e uma dor de cabeça gigantesca na Force India, cujo dono, Vijay Mallya, não pode sair da Inglaterra, pois corre o risco de ser preso. Com um bom carro e a quarta posição no Mundial de Construtores com boa folga, os pontos perdidos pelos toques entre seus pilotos passou de todos os limites do bom senso. A Force India necessita colocar um basta nisso (mesmo que nós, torcedores, adoremos isso!) ou o time entrará em parafuso.

Independente dos toques no pelotão intermediário, Lewis Hamilton e Sebastian Vettel vão se consolidando como um dos grandes da F1 e disputando um título num nível elevadíssimo. Puxando na memória, desde a luta entre Alonso e Schumacher em 2006 não houvesse uma luta tão forte na F1. Com a vitória de hoje, Hamilton encostou novamente em Vettel na luta pelo título e pode ultrapassar o alemão com uma vitória semana que vem. Porém, a corrida será em Monza, lar espiritual da Ferrari. E Vettel não irá querer ser derrotado na frente dos tifosi. Monza poderá ser palco de outra batalha épica entre esses gigantes da F1.    

sábado, 26 de agosto de 2017

Entrando no rol dos grandes

Muitos podem não gostar do estilo, digamos, despojado de Lewis Hamilton, mas o que o inglês da Mercedes vem fazendo nos últimos anos vai colocando Lewis entre os gigantes da história da F1. Nesse sábado, Hamilton conseguiu sua sétima pole em 2017 e se igualou ao número de Michael Schumacher como o maior poleman da história da F1. As lágrimas que derramou quando a família Schumacher, através de Ross Brawn, o parabenizou mostra que Hamilton, apesar de muitas vezes parecer estar no mundo da lua, saber bem que seu nome está entrando na história. Muitas vezes nos preocupamos tanto em exaltar o passado, que nos esquecemos de curtir o presente. E Lewis Hamilton, ao lado de Sebastian Vettel, fazem do presente da F1 um bom motivo para se deliciar com a categoria.

O treino em Spa, após as férias de verão na Europa, foram dentro dos trâmites normais dessa temporada. Numa pista rápida, a Mercedes conseguiu se sobressair, mas a presença de Vettel na primeira fila é perigosa, vide o sempre bom desempenho da Ferrari em ritmo de corrida. Raikkonen vinha sendo sempre mais rápido do que Vettel, mas o finlandês abortou sua última volta rápida, sempre reclamando de vibrações em sua Ferrari. Bottas foi um distante terceiro colocado, principalmente em comparação ao seu companheiro de equipe. As Red Bulls ficaram com a terceira fila, com Verstappen conseguindo uma boa diferença sobre Ricciardo. Com a torcida toda a favor, Max vem fazendo a diferença, mesmo que isso lhe dê no máximo o quinto lugar. A Renault começa a entrar na briga pelo posto de quarta força da F1 e numa pista de potência, os franceses ficaram em sétimo como Hulkenberg, que superou a dupla da Force India, que sempre anda junta. Jolyon Palmer, coitado, vinha constantemente andando na frente de Hulk, diminuindo um pouco as merecidas críticas que vinha recebendo, mas um problema de câmbio no Q3 o fez abandonar a sessão. A McLaren-Honda andou surpreendentemente bem em Spa, com Alonso quase indo para o Q3. Porém, o espanhol cantou a velha canção no rádio ao final do Q2: No Power! A Williams decepcionou amargamente numa pista em que teoria deveria favorece-la e os dois carros ficaram pelo caminho no Q1. Apesar do acidente de Massa na sexta, a Williams parece perdida.

Quando falamos de Spa, além da bela pista, também se fala bastante na inconstância no tempo. A chuva apareceu forte ontem, no final do segundo treino livre. Havia previsão para hoje, mas o treino ocorreu com tempo firme. Amanhã? Só Deus sabe!

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Que pena...

Foi anunciado ontem o falecimento, aos 92 anos, de Don Nichols. Para quem não o conhece, ele fundou a Shadow em meados dos anos 1960, primeiramente na lucrativa Can-Am. Porém, foi quando chegou à F1 que a escuderia americana deu nas vistas e se tornou um das principais equipes do pelotão intermediário da categoria dos anos 1970. À título de comparação, a Shadow foi como a Jordan de quarenta anos atrás. Podia não brigas por títulos, mas era capaz de conseguir bons resultados. Não restam muitas dúvidas que o principal piloto da Shadow foi o galês Tom Pryce e quando ele morreu ao volante de um Shadow em Kyalami/1977, a equipe entrou em declínio, mesmo o substituto de Pryce, Alan Jones, ter conseguido a única vitória do time em Zeltweg. No final dessa temporada a Shadow viu seus principais membros irem embora da equipe e formarem a Arrows. Mesmo Nichols processando (e ganhando) a Arrows por plágio, a Shadow decaiu até ser vendida em 1980. Don Nichols voltou para os Estados Unidos, mas não se aventurou pelas corridas, curtindo sua aposentadoria, interrompida ontem. 

domingo, 20 de agosto de 2017

Funil apertando

Como todas 500 Milhas, a corrida em Pocono foi decidida no final, quando os conjuntos mais lentos foram ficando para trás e os menos afortunados foram ficando pelo caminho. A estratégia, fator essencial nesse tipo de corrida, também se fez presente e definiu o vencedor. Will Power, que se adapta perfeitamente nos mistos e nem tanto nos ovais, caiu para último após problemas, mas a equipe do australiano se chama Penske. E somente a Penske é capaz de dar à seus pilotos um carro e uma tática capaz de tirar Power do buraco e fazê-lo vencer, deixando Will com chances de título.

O campeonato vai se afunilando cada vez mais numa disputa entre Josef Newgarden e Scott Dixon. Newgarden partiu para cima de Power nas voltas finais, mas o australiano se defendeu da mesma forma do que faz nos mistos, numa estranha manobra onde ficava totalmente por dentro na entrada na curva 3 do trioval e refutou os ataques de Newgarden. Porém, o mais jovem piloto da Penske não deve ter ficado muito chateado com o segundo lugar, pois mesmo Power entrando na briga pelo título, o australiano ainda está mais de quarenta pontos atrás e Josef aumentou sua vantagem sobre o rival mais perigoso da Penske. Dixon perdeu uma bela chance de reconquistar a liderança do campeonato. O piloto da Ganassi usou a potência do motor Honda para brigar pela ponta na maior parte do tempo, mas perdeu o gás nas voltas finais e acabou apenas em sexto. Tony Kanaan fez sua melhor corrida da temporada, tentou brigar pela vitória, mas acabou em quinto, superado nas voltas finais por Simon Pagenaud, que se consolidou como um dos postulantes ao título. Atrapalhado pelo forte acidente na classificação, Helio Castroneves largou em último, se recuperou, mas claramente estava num ritmo abaixo dos demais pilotos da Penske. Um decepcionante sétimo lugar numa pista em que Helio parecia ter mais chances de vitória do que os demais.

Dixon é um cavaleiro solitário na briga contra a potência da Penske. O neozelandês tenta se manter na briga, mas a arrancada de Newgarden nesse final de certame pode ser decisiva, principalmente se chegar a um momento onde a Penske usará a sua força e seus pilotos para poder ajudar o americano a conquistar seu primeiro título. 

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

História: 15 anos do Grande Prêmio da Hungria de 2002

A F1 vivia sob tensão desde a ordem de equipe ocorrida em Zeltweg, em maio de 2002. A Ferrari seria capaz de novamente ordenar que um dos seus pilotos abdiquem da vitória em favor do companheiro de equipe? Michael Schumacher havia vencido o campeonato quase um mês antes quando a F1 chegou à Budapeste e oficialmente a Ferrari anunciou que faria de tudo para que Rubens Barrichello fosse vice-campeão naquela temporada. Mesmo com os azares que o paulista enfrentou no começo do ano, a missão estava longe de ser impossível pelo carro que a Ferrari tinha. Porém, ninguém sabia ao certo se Schumacher desistiria de uma vitória à favor dos interesses da equipe.

A classificação em Budapeste mostrou toda a superioridade italiana de quinze anos atrás, mas deixou uma pulga atrás da orelha do torcedor, principalmente o brasileiro. O primeiro carro não-Ferrari era a Williams de Ralf Schumacher, quase meio segundo atrás da pole, enquanto o quarto colocado Juan Pablo Montoya já se encontrava 1.3s atrás do pole position Rubens Barrichello, superando por muito pouco Michael Schumacher. A pergunta era: o alemão trabalharia a favor de Rubens na corrida?

Quinze anos atrás a F1 viu de forma atônita uma equipe (Ferrari) humilhar todas as demais. Rubens largou bem e se manteve na ponta, com os irmãos Schumacher logo atrás. Logo que Michael se livrou de Ralf, ele passou a escoltar Barrichello. Em Nürburgring, onde Barrichello havia vencido pela primeira vez em 2002, Schumacher rodou no começo da corrida e só encostou no companheiro de equipe no final da prova, gerando calafrios nos fãs, mas a Ferrari resolveu que a coisa se resolvesse na pista. Já em Budapeste, Schumacher andava colado em Barrichello, num ritmo claramente superior ao do brasileiro, mas o alemão resolveu cumprir sua palavra e não atacou a primeira posição de Rubens.

Dois fatos chamaram a atenção da prova que transcorria normalmente e sem nenhuma emoção. A Ferrari mostrava placas para Rubens Barrichello mostrando a diferença que ele tinha para Ralf, o terceiro colocado, não Michael, meio que dizendo que a mancha vermelha que Rubens via no retrovisor não era preocupante. Outro foi Ross Brawn se deliciando com uma banana no pit-wall. Aquilo foi um símbolo. A corrida estava tão tranquila, tão na mão da Ferrari, que o diretor técnico da equipe tinha tempo de sobra para devorar uma banana, enquanto as demais equipes ficavam impotentes perante ao domínio ferrarista. Além do mais, Brawn também dava uma 'banana' para os críticos da Ferrari. "Podemos escolher quem vai vencer a corrida, otário", meio que informava Brawn enquanto jogava a casca de banana em algum cesto de lixo no pit-wall.

Ao fim de 77 entediantes voltas, Rubens Barrichello vencia pela segunda vez em 2002, com Michael logo atrás e a Ferrari comemorava seu título no Mundial de Construtores. O mês de agosto mal havia passado da metade e o campeonato já estava decidido. O vice-campeonato viria para Barrichello com facilidade no final do ano. As demais equipes olhavam impotentes o domínio da Ferrari, que humilhava toda a concorrência. Neste século, sempre falo que a pior temporada é a de 2002. Não houve disputa e a Ferrari não estava nem aí, preferindo dar bananas a todos. 

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

História: 25 anos da apoteose de Mansell

Nigel Mansell. Um piloto que demorou a engrenar, mas quando o fez, angariou uma legião de fãs que logo o apelidaram de Leão. As más línguas falavam que o apelido tinha a ver com o famoso Leão da Metro, que rugia no começo do filme, mas silenciava para as verdadeiras estrelas brilharem em seguida. A partir de 1986 Mansell se tornou uma estrela da F1, mesmo não tendo o tecnicismo de Nelson Piquet, a categoria de Alain Prost e a genialidade de Ayrton Senna. Mansell estava abaixo de todos esses três gênios da F1, mas era mais do que capaz de batê-los quando tudo estava a seu favor. 

E tudo estava a favor de Mansell em 1992. Com um carro que desde o ano anterior mostrava potencial para entrar para a história, Nigel aproveitou todas as vantagens tecnológicas do Williams FW13 para dominar a F1 como poucas vezes haviam sido visto naquele ano. Conta a lenda que Patrick Head projetou um carro que seria capaz de encobrir todos os erros possíveis e imaginários que Mansell poderia cometer e já havia cometido. Nigel havia perdido dois títulos (1986 e 1987) que poderiam ter sido perfeitamente seus, mas pequenas decisões erradas acabaram jogando contra o inglês. Já contando com 39 anos de idade, mas mantendo a ferocidade, Mansell chegou à Budapeste com 46 pontos de vantagem sobre Patrese com seis corridas para o fim. O campeonato de 1992 poderia ser decidido com uma antecedência inédita. Porém, um título de Nigel Mansell não poderia ser decidido com tanta facilidade.

Mostrando o nervosismo que o prejudicou em outras oportunidades, Mansell não massacrou seus adversários como havia feito nas corridas anteriores. O Grande Prêmio da Hungria de 1992 começou com Patrese na pole e o italiano mantendo a ponta na largada, enquanto Mansell caía para quarto, ultrapassado pela dupla da McLaren. Na oitava volta Mansell ultrapassou Berger e partiu para cima de Senna, mas como o inglês havia experimentado no ano anterior, ultrapassar Senna em Hungaroring não era das tarefas mais fáceis. Na volta 31 o inglês errou e Berger o ultrapassou. Para piorar, o inglês foi aos boxes algumas voltas mais tarde e caía para sexto. Era Mansell amarelando novamente?

A torcida inglesa, que foi em peso para a Hungria ver Mansell ser campeão, nem ficou arrepiada direito quando Patrese, que rodara a pouco tempo antes, abandonou com o motor quebrado. Mais tranquilo e sabendo que um terceiro lugar lhe garantia o título, ultrapassou o compatriota Brundle na volta 60 e se aproveitou do abandono de Schumacher para ficar na posição que precisava. Mas quem disse que Mansell se acomodaria com o terceiro lugar? Mansell nunca foi um piloto cerebral e mesmo sem necessidade, ultrapassou Berger pela segunda vez. Faltavam poucas voltas. Senna vencia com uma facilidade que lhe fez lembrar os bons tempos quando tinha o melhor carro da F1.

Mansell vinha 40s atrás. Não se sabe o que o inglês pensava nas últimas voltas. Talvez ele recordasse dos duros anos na F3, quando sofreu um sério acidente que quase o deixou paralítico e fez sua amada Roseanne hipotecar a casa para que Nigel continuasse correndo atrás do seu sonho. Mansell deve ter lembrado também dos difíceis primeiros anos na F1, quando seu protetor Colin Chapman morreu subitamente e Nigel sofria com irregularidade que lhe era particular. Mansell deve ter lembrado da primeira vitória em Brands Hatch em meados de 1985, que o fez se tornar um piloto de ponta, passando a brigar com todas as estrelas da F1. Ele, Nigel Mansell, era uma estrela da F1, adorado pela torcida inglesa, que lotava Silverstone para o empurrar ruma à vitória. Os tempos complicados na Ferrari ficaram para trás. Sua casa era mesmo a Williams. E foi na sua casa que Mansell realizava o seu sonho. Quando apontou na reta de chegada, um torcedor invadiu a pista com a Union Jack nas mãos. O sofrimento havia terminado.

Contra todas as possibilidades, quando todos duvidaram que ele venceria um campeonato, Nigel Mansell era o Campeão Mundial de 1992. 

História: 30 anos do Grande Prêmio da Áustria de 1987

Nigel Mansell completava cem Grandes Prêmios na Áustria necessitando urgentemente de uma vitória, para diminuir um pouco do prejuízo de dezoito pontos no campeonato que tinha para o seu companheiro de equipe, Nelson Piquet. Porém, o inglês chegou à Zeltweg com uma enorme dor de dente e Nigel teve que extrair dois sisos com a mesma urgência que ele tinha para ganhar. Com uma bolsa de gelo na bochecha, Mansell não começava o final de semana na melhor forma possível, mas se havia um alívio, era que para 1988 ele teria o dócil Riccardo Patrese ao seu lado na Williams, enquanto era anunciado a saída de Teo Fabi para a F-Indy, onde iria desenvolver os motores da Porsche, o que indicava que os alemães estavam mesmo de saída da F1. Para o seu lugar, a Benetton contratou o jovem Alessandro Nannini, que fazia um bom trabalho na Minardi. 

Na sexta pela manhã, Johansson vinha a mais de 240 km/h na Rindtkurve quando se deparou com um veado relativamente grande. O sueco ainda teve reflexo para não atingir em cheio o animal, mas o lado esquerdo da McLaren ficou totalmente destruída e Johansson ainda bateu forte a ponto de machucar as costelas. O coitado do veado foi feito em pedaços e morreu na hora. A chuva no sábado fez com que os tempos de sexta valessem para a definição do grid e Nelson Piquet conquistava sua 22º pole na carreira, com a espetacular média de 256,622 km/h. Mesmo com o rosto inchado pela cirurgia feita às pressas, Mansell completou a primeira fila, apenas um décimo atrás de Piquet. Berger confirmou que estava melhor dos problemas estomacais que enfrentou em Budapeste e era terceiro, com Alboreto apenas em sexto e reclamando bastante de ter sua melhor volta atrapalhada por Senna. "Ele pilota como um bandido", bradou o italiano da Ferrari. As Benettons confirmaram o bom desempenho na pista, onde em 1986 ficaram com a primeira fila, e estavam em quarto e quinto. Senna tinha mais com o que se preocupar do que as lamúrias de Alboreto. Seu Lotus não se comportava bem e o brasileiro teve que se conformar com a sétima posição. 

Grid:
1) Piquet (Williams) - 1:23.357
2) Mansell (Williams) - 1:23.459
3) Berger (Ferrari) - 1:24.213
4) Boutsen (Benetton) - 1:24.348
5) Fabi (Benetton) - 1:25.048
6) Alboreto (Ferrari) - 1:25.077
7) Senna (Lotus) - 1:25.492
8) Patrese (Brabham) - 1:25.766
9) Prost (McLaren) - 1:26.170
10) De Cesaris (Brabham) - 1:27.672

O dia 16 de agosto de 1987 estava ensolarado em Zeltweg, para alívio dos pilotos, que temiam correr no rapidíssimo circuito austríaco com pista molhada. A reta estreita e cercada de guard-rails tornava a largada do Grande Prêmio da Áustria uma dos mais perigosas do calendário, com acidentes acontecendo em quase todos os anos. Na primeira tentativa, Piquet sai de suas características e larga muito bem, enquanto Mansell patina, mas permanece em segundo, seguido por Fabi, que pula muito bem e assume o terceiro lugar. Mais atrás, Brundle sai da pista e bate no guard-rail, voltando para a pista para ser atingido por Arnoux e Campos. Os dois Tyrrells batem novamente e com a pista obstruída, a corrida é interrompida. Se a primeira largada foi caótica, a segunda seria ainda pior!

Novamente Piquet larga bem, mas Mansell larga ainda pior do que na primeira tentativa, retendo todo o pelotão atrás de seu Williams. Berger tenta passar ao lado do muro e acaba batendo, começando um célebre engavetamento envolvendo praticamente todo o grid. Dez carros estavam destruído e com isso, a largada já estava atrasada em mais de uma hora e boa parte do grid largaria com carros reservas ou com atraso, pois os mecânicos estavam trabalhando para tentar consertar os estragos. Apesar de tudo, apenas Philippe Streiff não consegue largar para a corrida, mas na terceira tentativa, haviam vários clarões no grid de largada. Com nítidos problemas de embreagem, Patrick Head sugere à Mansell que largue com o carro reserva, mas o inglês se recusa, pois este estava acertado para Piquet. Quando estava levando seu carro para o grid, Caffi tem o motor quebrado, enquanto Prost tem problemas elétricos e largaria dos boxes, junto a outros cinco pilotos! Na terceira largada, Piquet novamente mantém a ponta e, sem surpresa nenhuma, Mansell larga mal novamente, com o seu problema na embreagem. O inglês cai para quarto, ultrapassado por Boutsen e Berger, enquanto Senna tem um problema no turbo do seu carro e com isso, fica praticamente parado, mas para sorte de todos, ninguém bate na Lotus e não foi necessário uma quarta largada!

Boutsen surpreende ao atacar Piquet nos momentos iniciais da prova, enquanto Mansell ultrapassava Berger na quarta volta, iniciando sua recuperação. Seu rosto já não estava mais tão inchado e as dores diminuíram, fazendo com que Mansell tivesse totais condições de partir para cima dos seus rivais. Para tristeza do público austríaco, Berger abandona ainda na sexta volta com o turbo quebrado, enquanto Boutsen era o recheio do sanduíche dos dois carros da Williams, mas o belga contava com o bom acerto da Benetton em Zeltweg, onde só não venceu em 1986 por causa de problemas mecânicos. Fabi já tinha 8s atrás em quarto, mas o italiano tinha uma confortável margem sobre Patrese e Warwick. Senna fazia uma incrível corrida de recuperação e já vinha em oitavo, depois de cair praticamente para último na largada! Na volta 15 Boutsen entra lentamente nos boxes com problemas elétricos, mas um mecânico percebe que era apenas um fusível frouxo e o belga, extremamente irritado, volta à pista muito atrasado. Senna entrava na zona de pontos ao ultrapassar De Cesaris e Warwick, mas foi atacado com vigor por Alboreto, que não havia esquecido dos problemas que ambos tiveram nos treinos. O italiano da Ferrari ultrapassou Senna e conseguia sua pequena vingança, enquanto Prost já encostava no brasileiro.

Piquet e Mansell andavam juntos e na volta 21 eles foram colocar uma volta em Nakajima e Pascal Fabre. Mansell aproveita-se de uma pequena hesitação de Piquet e assume a liderança na Boschkurve. Na volta seguinte Piquet vai aos boxes trocar de pneus, com a Williams assegurando que as porcas dos pneus não sairiam do nada. Fazendo uma prova solitária, Fabi ainda encontra tempo para se atrapalhar, ao entrar nos boxes e encontrar sua equipe despreparada. O italiano entra nos boxes na volta seguinte e o pit-stop dura mais de 20s, por causa de uma roda presa. Fabi retorna em sétimo, atrás de Prost e Warwick. Mansell faz sua parada na volta 25 e retorna 5s na frente de Piquet. A briga pela vitória praticamente morreu ali. Com as demais paradas, Fabi reassumia o terceiro lugar, mais de 30s atrás das Williams, mas era ameaçado pelo quarteto Alboreto, Prost, Senna e Boutsen, que andavam muito forte e estavam alcançado o italiano. Mansell quase se choca em Capelli enquanto colocava uma volta no italiano. Nigel estava com a corda toda, querendo mostrar a todos que era o piloto mais rápido de 1987 e sua vantagem sobre Piquet só crescia, da mesma forma como crescia a pressão de Alboreto em cima do compatriota Fabi. Porém, o piloto da Ferrari se esquece da raposa felpuda Prost. Quando Alboreto finalmente ultrapassa Fabi, deixa a porta aberta e Prost assumia o terceiro lugar com duas ultrapassagens numa mesma volta! Senna ultrapassa Fabi e parte para cima de Alboreto. O piloto da Ferrari joga duro e os dois se tocam, com Senna tendo que trocar sua asa dianteira e caindo para nono, enquanto Warwick abandonava com o motor quebrado. Depois da corrida Alboreto confessaria que fechou a porta de propósito, ainda irritado com Senna. Na volta 43, Prost e Alboreto sofrem com problemas no turbo, mas se Prost ainda tem chances de continuar na prova, mesmo num ritmo muito lento, Alboreto entra nos boxes para abandonar e nenhuma Ferrari veria a bandeirada pela quinta vez em 1987. Patrese tinha tudo para pontuar bem, mas seu motor explode com menos de dez voltas para o fim. Boutsen entra nos boxes com problemas no motor, mas com tão poucos carros na pista, o belga volta à corrida... ainda em quarto. Os pilotos apenas se mantinham na pista, enquanto Senna ainda tem tempo de tomar o quinto lugar de Prost na última volta, ambos duas voltas atrasado do vencedor Mansell, que recebeu a bandeirada com mais de cinquenta segundos na frente de Piquet. Fabi terminou em terceiro à frente de seu companheiro de equipe Boutsen. Senna terminou em quinto, enquanto Prost cruzou a linha de chegada com um motor falhando e colheu um ponto. 

Após a bandeira quadriculada, os três primeiros colocados Nigel Mansell, Nelson Piquet e Teo Fabi subiram em uma picape para dar uma última volta pelo circuito. No entanto, o veículo deveria passar sob uma passarela de metal. Despreocupado, Mansell cumprimentava a multidão... e bateu de testa na passarela! Ele caiu praticamente no colo de Piquet, que ria da situação! Mais caridoso, Fabi acolhe o infeliz Nigel, derramando água fresca na cabeça do inglês. Se Mansell chegou à Zeltweg com uma bolsa de gelo na bochecha, agora subia no pódio com outra bolsa de gelo na testa... Perguntado o motivo de não ter perseguido Mansell quando foi ultrapassado, o brasileiro apenas disse que não precisava. E não precisava mesmo. Mesmo derrotado de forma inapelável pelo azarado inglês, Piquet ainda mantinha uma confortável margem no campeonato. Quando a F1 chegou à Zeltweg, haviam muitas reclamações a respeito da estrutura do circuito. Para compensar uma futura reforma, os organizadores aumentaram o preço dos ingressos e mesmo com Berger na pista, o público era o menor dos últimos anos. O infame acidente de Johansson na sexta-feira apenas expunha ainda mais a falta de estrutura de Zeltweg. Nos treinos, a reclamação foi geral com a falta de aptidão dos comissários, além da pista muito ondulada nas rápidas curvas e a lentidão para se organizar as largadas. Mesmo tendo um dos mais belos traçados da história da F1, devido à todos esses problemas, Zeltweg recebeu pela última vez a categoria com o seu famoso lay-out. 

Chegada:
1) Mansell
2) Piquet
3) Fabi
4) Boutsen
5) Senna
6) Prost

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

História: 45 anos do Grande Prêmio da Áustria de 1972

Duas semanas depois do decepcionante Grande Prêmio da Alemanha, quando abandonou por problemas mecânicos, Emerson Fittipaldi tinha uma boa chance de se consolidar ainda mais na liderança do campeonato. Mesmo com o seu abandono, Emerson foi ajudado pelo abandono de Jackie Stewart na última volta em Nürburgring, numa disputa com Clay Regazzoni que deixou o escocês bastante insatisfeito. Sem escolha, Stewart levará o novo Tyrrell 005 para Zeltweg, num circuito rápido e que se veste melhor ao Lotus 72 de Emerson. Além de Stewart, Denny Hulme e Jacky Ickx também estavam no páreo na tentativa de impedir Fittipaldi. Uma vitória do brasileiro o deixaria com uma mão na taça. 

Quando Chris Amon chegou atrasado à Áustria, a Matra dá uma chance ao piloto local Niki Lauda nos primeiros treinos livres, o que anima Niki com um carro bem mais potente que seu March, mas Niki acaba batendo o carro, fazendo com que Amon corresse no final de semana com uma versão anterior. Além de estragar as chances de Lauda correr pela Matra em 1973. Mesmo com seus rivais dando tudo de si, Emerson Fittipaldi confirmou o favoritismo da Lotus em Zeltweg e conquistou sua terceira pole na temporada, superando Regazzoni por sete centésimos. Stewart estava insatisfeito com o seu novo carro, mas o escocês mostra sua magia ao ficar em terceiro, ao lado de Peter Revson, da McLaren. Carlos Reutemann confirma a ascensão da Brabham e conquista um soberbo quinto lugar. Os outros contendores pelo título fazem um treino discreto, com Hulme em sétimo e Ickx apenas em nono, enquanto seu companheiro de equipe estava na primeira fila.

Grid:
1) Fittipaldi (Lotus) - 1:35.97
2) Regazzoni (Ferrari) - 1:36.04
3) Stewart (Tyrrell) - 1:36.35
4) Revson (McLaren) - 1:36.63
5) Reutemann (Brabham) - 1:37.15
6) Amon (Matra) - 1:37.16
7) Hulme (McLaren) - 1:37.20
8) Schenken (Surtees) - 1:37.25
9) Ickx (Ferrari) - 1:37.33
10) Ganley (BRM) - 1:37.55

O dia 13 de agosto de 1972 amanheceu com muito calor na região da Estíria, causando uma grande preocupação às equipes, pois Zeltweg é um circuito de alta, onde os pilotos andam em máxima rotação a maior parte da volta e com o calor, o risco de quebras era alto naquele dia. Os mecânicos estavam todos sem camisa no paddock, mas os pilotos teriam que correr com seus macacões anti-chamas e o preparo físico seria outro fator. Emerson já havia confessado que largava mal pensando em cuidar da embreagem e 45 anos atrás o brasileiro repetiu a má largada vista em outras oportunidades, mas Regazzoni também não larga muito bem e os dois percorrem os primeiros metros lado a lado, mas Stewart sai muito bem da primeira fila e mesmo a reta sendo estreita e cercada de guard-rails, Jackie foi capaz de tomar a ponta ainda na primeira curva, seguido por Regazzoni, Fittipaldi e Hulme, outro que largara muito bem.

Stewart começava a abrir uma pequena diferença para Regazzoni, que claramente segurava Emerson em segundo lugar. O piloto da Lotus conhecia a truculência do suíço em disputar posições, vide o problema que Stewart tinha sofrido em Nürburgring na quinzena anterior, mas Emerson também sabia que seu carro estava rendendo mais e não poderia deixar Stewart escapar, além de Hulme estar muito perto. Após algumas tentativas, Fittipaldi tomou a segunda posição na quinta volta e já estava 3.5s atrás de Stewart. Como esperado, Emerson rapidamente deixa Regazzoni para trás, que passa a ser atacado por Hulme. O ritmo de Clay era tão mais lento, que quando Hulme assumiu a terceira posição quatro voltas mais tarde, o neozelandês estava 7s atrás de Emerson, com um enorme pelotão atrás do suíço da Ferrari. Na volta seguinte Regazzoni entra nos boxes com problemas de motor e Peterson, que acabara de ultrapassar Hailwood e Reutemann, assumia o quarto lugar. Porém, a corrida do argentino dura apenas até a 14º volta, quando encosta seu Brabham com problemas elétricos.

Lá na frente, Stewart e Fittipaldi estavam mais de 10s na frente de Hulme e prontos para uma batalha titânica pela liderança. Muito se falou que Emerson estava com tanta folga na ponta do campeonato pelas intempéries sofridas por Stewart ao longo do ano. Fittipaldi tinha um carro mais equilibrado e todas as chances de dar uma resposta aos críticos, que tinha estofo para derrotar o então bicampeão do mundo. A partir da volta 15 Emerson começava os ataques em cima de Stewart, que se mantinha na frente muito pelo seu enorme talento. Outra boa notícia para Emerson era que um dos seus rivais pelo título, Jacky Ickx, abandonava na volta 20 com o mesmo problema de Regazzoni em sua Ferrari. As chances de título do belga terminaram ali. O calor fazia suas vítimas, enquanto Fittipaldi colocava mais e mais pressão em cima de Stewart. Na volta 24, finalmente Emerson supera Stewart no final da reta dos boxes. O escocês tinha problemas de dirigibilidade no seu Tyrrell e não tinha mais como segurar Emerson, que imediatamente abriu uma boa diferença para Jackie. Porém, a corrida ainda não estava ganha para o brasileiro. O experiente Dennis Hulme soube se aproveitar da briga entre Stewart e Fittipaldi para encostar em ambos e duas voltas depois de Emerson assumir a ponta, Hulme ultrapassou Stewart e estava menos de 3s atrás do brasileiro.

Stewart vê seu problema piorar e vai perdendo rendimento. Na volta 34 ele é ultrapassado por Peterson e Revson, que brigavam por posição e agora lutavam pelo pódio, com vantagem para o americano da McLaren. Revson vinha 25s atrás do seu companheiro de equipe, que perseguia tenazmente Emerson, tentando fazer com que o jovem brasileiro cometesse um erro. A diferença não subia dos 2s, mas Hulme não atacava o piloto da Lotus, que controlava a pressão com maestria. Stewart seguia perdendo ritmo e faltando dez voltas o escocês perdia o quinto lugar para Hailwood, enquanto Peterson perdia potência em seu motor Cosworth e perderia duas voltas ao final da corrida. Hulme tenta um ataque final, marca a volta mais rápida da corrida e fica apenas 1s atrás de Emerson. Mesmo com o aumento da pressão, Fittipaldi permanece impávido na ponta e conquista a sua quarta vitória em 1972, com Hulme apenas 1.18s atrás. Revson foi o terceiro, concluindo um excelente fim de semana para a McLaren. No entanto, o americano teve sorte, pois logo depois da bandeirada Revson encostou seu McLaren, sem gasolina. Hailwood deu a Surtees um excelente quarto lugar, com Amon e Ganley completando a zona de pontuação. Stewart teve de se contentar com o sétimo lugar, com seu Tyrrell 005 ainda não desenvolvido o suficiente. Recebido com muita festa por Colin Chapman nos boxes, Emerson tinha 25 pontos de vantagem para Stewart e Hulme, podendo se tornar o quarto piloto campeão pela Lotus já em Monza, na prova seguinte.

Chegada:
1) Fittipaldi
2) Hulme
3) Revson
4) Hailwood
5) Amon
6) Ganley 

domingo, 13 de agosto de 2017

Pega de tirar o fôlego

Muitos pilotos da MotoGP reclamam de certos circuitos por serem construídos aos moldes da F1. Xangai saiu do calendário, além do público diminuto, pela pista não se adequar devidamente às motos. Spielberg entra nesse tipo de circuito. Reformado em 1996, o circuito ganhou curvas muito lentas e 'bicudas' que servem muito bem à F1 e suas freadas fortes ao final de longas retas do circuito austríaco. Saía Zeltweg e entrava Spielberg, como o conhecido diretor americano. Porém, o circuito ganhou apoio da Red Bull e de quase abandonado, o circuito hoje está praticamente em todas as principais categorias do esporte a motor. Para a F1, a pista sempre foi uma das preferidas dos pilotos. Já na MotoGP, o guard-rail sempre próximo transforma a corrida muito perigosa e como havia uma pequena chance de chuva, havia até a chance dos pilotos não correrem nessas condições. Como o sol apareceu, os pilotos abandonaram as críticas e corroboraram com a ótima fase da MotoGP e protagonizaram um belo espetáculo, com um pega de tirar o fôlego entre Andrea Doviziozo e Marc Márquez, com vantagem do italiano na última curva.

Ano passado a Ducati já havia dominado a corrida e Iannone, então piloto da equipe italiana, amenizou as críticas que vinha sofrendo para vencer na Áustria. Aproveitando que Spielberg se veste muito bem à Ducati, Lorenzo largou muito bem e assumiu a ponta, dando até a impressão que poderia disparar e vencer como nos bons tempos na Yamaha, contudo, o espanhol escolheu largar com pneus macios na traseira e por isso, não poderia forçar em demasia. Com isso um enorme pelotão de pilotos ficou atrás de Lorenzo numa luta emocionante nas primeiras voltas. Quando conquistou a pole, Márquez se tornou o principal favorito à vitória na Áustria, mas Andrea Doviziozo, mais acostumado com a moto italiana, estava sempre próximo de Márquez na luta pela segunda posição. Quando o desgaste de pneus de Lorenzo se acentuou e ele errou, Márquez e Doviziozo continuaram a disputa, agora pela primeira posição. A impressão era que Márquez dispararia, mas Andrea não tirou a mão e mesmo com pneus macios, acompanhou o espanhol da Honda até o final da corrida. Andando forte e pressionado, Márquez errou três vezes, permitindo a ultrapassagem de Doviziozo. O espanhol ultrapassou a Ducati duas vezes na curva sete, um ponto incomum, mas Doviziozo aprendeu a lição e fechou a porta nas demais voltas. Era claro como o dia na Áustria que Márquez tentaria alguma coisa. Após cometer mais alguns erros, Márquez foi para um tudo ou nada nas últimas curvas. De forma até temerária, mas Doviziozo usou sua conhecida frieza para retomar na frente na reta final, reclamar com a mão esquerda e vencer pela terceira vez em 2017, se estabelecendo na vice-liderança do campeonato.

O desespero de Márquez não convinha com a sua situação no campeonato. Mesmo perdendo cinco pontos para Doviziozo, o espanhol ainda tem uma situação confortável no campeonato. Sinceramente não havia motivo para uma tentativa tão desesperada nas curvas finais, que poderia ter ocasionado uma queda. Daniel Pedrosa fez uma corrida de espera saindo de trás, conseguindo um terceiro lugar e somente pela briga entre os dois primeiros, permaneceu perto da vitória, mas nas voltas finais Pedrosa se estabeleceu em terceiro. Lorenzo completou a prova num solitário quarto lugar e numa pista tão favorável à Ducati, ficar de fora do pódio foi um golpe para Jorge, que parecia insatisfeito após a corrida. Rossi e Viñales erraram na curva um durante a prova e ficaram longe da vitória e, por que não, do título. Rossi já está mais de trinta pontos atrás de Márquez e Viñales quase uma vitória atrás. Para quem começou o ano como a melhor moto do campeonato, terminar atrás da moto satélite de Zarco não é definitivamente um bom sinal.

Andrea Doviziozo, com sua tocada técnica e sem arroubos de velocidade, vai fazendo o seu melhor campeonato na MotoGP e fazendo pela Ducati o que era esperado Lorenzo fazer. Mesmo menos talentoso do que os espanhóis e com uma máquina difícil de domar, Dovi vai se mantendo entre os ponteiros do campeonato e brigando na parte de cima nas corridas. Hoje, teve que segurar o rojão que é Márquez atacando com força nas últimas curvas. Como era nas 250cc com Pedrosa e Lorenzo...