No último final de semana de julho de 1987, Peter Warr recebeu uma carta do advogado de Ayrton Senna reivindicando uma cláusula do contrato do brasileiro com a Lotus sobre a competitividade da equipe. Senna estava em negociações avançadas com a McLaren e não queria outro problema judicial em sua saída da Lotus, como ocorrera com a Toleman três anos antes, e para isso usou a cláusula de competitividade, já que era nítido que a Lotus não poderia lutar com Williams e McLaren pelo título, enquanto o time de Ron Dennis estava muito próximo de anunciar o motor Honda para 1988. Irritado, Warr contratou Nelson Piquet para 1988. O brasileiro estava extremamente insatisfeito com a Williams e sua política de igualidade de condições entre seus pilotos. "Eu trabalhei muito duro para transformar o carro da Williams no melhor da F1 sem ajuda de ninguém. E agora vou ter que disputar o título com meu companheiro de equipe? Isso não me serve!", bradou Piquet. Isso foi um golpe para Senna. Ele negociava um grande contrato com a McLaren e a Marlboro, pois sabia que tinha um contrato com a Lotus se algo desse errado, mas com Piquet garantido na Lotus, ganhando um salário altíssimo bancado pela Camel, Senna teria que diminuir sua pedida se quisesse mesmo ir para a McLaren em 1988.
Um fato pouco conhecido era que o principal alvo da McLaren para 1988 era Piquet, mas o brasileiro não queria outra guerra aberta com Prost após a experiência com Mansell na Williams. Mesmo com a ajuda da Honda, Senna era uma segunda opção. Muito se falou na época em salários e depois ficou comprovado que Piquet tinha o maior salário da F1 com o seu contrato com a Lotus em 1988. Para garantir o melhor motor da F1, Warr assegurou Satoru Nakajima em 1988 na Lotus, mesmo o japonês não tendo feito uma estreia auspiciosa na F1. E Piquet teria no contrato que era o piloto número um da Lotus. A ida de Piquet para a Lotus também atingiu em cheio a Williams. Nelson era um piloto Honda, inclusive com seus salários pagos pelos japoneses. A intransigência da Williams em não dar o status de piloto número um para Piquet fez o brasileiro sair da equipe, deixando a Honda ainda mais irritada com a parceira. Não nos esqueçamos que a Honda nunca engoliu muito bem a perca do título de 1986. A Williams ainda sonhava em permanecer com a Honda, pois o contrato datava até o final de 1988, mas era claro que um divórcio era iminente e naquela momento a melhor equipe da F1 estava praticamente sem motor e procurando pilotos. Os favoritos eram Thierry Boutsen, Alessandro Nannini, Martin Brundle e Jonathan Palmer, este último, antigo piloto de testes da Williams.
Mansell ficou com a sua décima primeira pole com o tempo da sexta-feira, que ocorreu com o clima mais fresco e até mesmo um pouco de chuva. No sábado, o forte calor impediu que todos melhorassem seus tempos, por pura falta de aderência na pista. Mansell superava em 3s a pole de Senna de 1986, mas ao lado do inglês estava a grande surpresa do dia: a Ferrari de Berger. Desde o verão de 1985 que a Ferrari não colocava ninguém na primeira fila! Provando o bom entendimento da Ferrari em Hungaroring, Alboreto conseguia um bom quinto lugar, enquanto Piquet era terceiro. Prost teve problemas com sua McLaren, que tentava sanar o banal problema que tirou a vitória do francês na Alemanha, e teve que se conformar com a quarta posição. Senna era apenas sexto, enquanto Warwick conseguia um miraculoso nono lugar, mesmo enfrentando uma forte conjuntivite.
Grid:
1) Mansell (Williams) - 1:28.047
2) Berger (Ferrari) - 1:28.549
3) Piquet (Williams) - 1:29.724
4) Prost (McLaren) - 1:30.156
5) Alboreto (Ferrari) - 1:30.310
6) Senna (Lotus) - 1:30.387
7) Boutsen (Benetton) - 1:30.748
8) Johansson (McLaren) - 1:31.228
9) Warwick (Arrows) - 1:31.416
10) Patrese (Brabham) - 1:31.586
O dia 9 de agosto de 1987 amanheceu com forte calor em Budapeste, o que poderia indicar uma corrida difícil naquela dia de verão na Hungria. Nos treinos, com muito calor, os pilotos reclamaram bastante da falta de aderência com a pista quente. "Parece gelo", reclamou Johansson. Berger sofria com problemas estomacais e estava em constante cuidados quando estava fora do carro, o mesmo acontecendo com Warwick. O Grande Prêmio da Hungria havia se tornado um sucesso de público e a corrida seria transmitida ao vivo até para a União Soviética. Mesmo com o forte calor e os problemas de aderência, a Goodyear sugeriu às equipes que não trocassem os pneus durante a corrida. Na luz verde, Berger vacila um pouco ao evitar queimar a largada e é ultrapassado por Piquet, enquanto Mansell lidera com facilidade a primeira curva. Ainda na segunda curva, Berger retoma a segunda posição e é acompanhado por Alboreto, com as Ferraris separando os dois carros da Williams. Prost larga muito mal e cai para sexto.
Para surpresa geral, Berger e Alboreto não apenas seguem Mansell de perto, como colocam pressão no inglês, com Piquet ficando a 4s de Alboreto, num solitário quarto lugar. Senna ficava para trás e já era pressionado por Boutsen. A má largada de Prost se mostrava num problema de câmbio que faz o francês perder algumas posições nas primeiras voltas. Mansell aumenta o ritmo, mas Berger ainda o perseguia de perto, com ambos trocando a melhor volta da corrida, enquanto eram acompanhados por Alboreto e Piquet, que se aproximou do italiano. Após muito tempo, a Ferrari voltava à briga pela vitória! Porém, na volta 13, Berger sai lento da última curva e abandona com o diferencial quebrado, deixando Mansell com 6s de vantagem na ponta. Duas passagens depois Johansson, que tinha ultrapassado Prost, tem o diferencial quebrado na chicane e acaba rodando. Para evitar bater no companheiro de equipe, Prost roda, mas mantém o carro funcionando e volta à corrida, ainda mais atrasado. Senna era pressionado por Boutsen na briga pelo quarto lugar, mas o belga tinha problemas nos freios e talvez por isso, não ameaçava de forma mais incisiva o brasileiro, que lutava com um Lotus bem instável no momento.
Num circuito estreito e sinuoso como Hungaroring, negociar bem com os retardatários era essencial. Alboreto e Piquet brigavam pela segunda posição enquanto se livravam dos carros mais lentos. Na volta 29, Piquet consegue colocar o carro por dentro na primeira curva, mas perde o carro um pouco na freada e Alboreto emparelha, porém, Piquet fica por dentro na segunda curva e completa uma ultrapassagem trabalhada. A Williams voltava a fazer dobradinha, algo normal em 1987. Assim que ultrapassa Alboreto, Piquet aumenta o ritmo e parte em perseguição à Mansell, mas o inglês responde e os dois passam a trocar melhor volta da corrida. Nigel tinha 12s de vantagem e a corrida, aparentemente, sob controle. Senna se livra um pouco da presença de Boutsen quando os problemas nos freios do belga pioram e ele diminui o ritmo. Senna começava a cortar a diferença (que era grande) para Alboreto, mas logo fica claro o motivo disso, quando o italiano encosta sua Ferrari na grama com o motor quebrado. Zero ponto para a Ferrari, mas finalmente um desempenho encorajador para os italianos em 1987. A corrida fica estática e o único momento de emoção foi o toque entre os dois carros da Arrows. Apesar dos problemas, Prost permanecia na corrida e estava para se aproveitar de um problema no turbo de Boutsen, que fez o belga perder ainda mais rendimento. Na volta 59, o francês assumia o quinto lugar, já uma volta atrás de Mansell, que administrava sua vantagem sobre Piquet, contudo, ambos andando muito forte e bem mais rápido do que o resto do pelotão.
A corrida se encaminhava para o colo de Mansell, que completara 34 anos no dia anterior. Piquet diminui o ritmo quando uma vibração faz o brasileiro se aquietar. O problema parecia sério a ponto de Piquet ter dificuldades nas voltas finais. Porém, o problema se mostra ainda mais sério no outro carro da Williams, num dos abandonos mais cruéis da F1 nos anos 1980. Faltando cinco voltas para a bandeirada, Mansell vinha impávido quando seu Williams bambeia no final da reta oposta. O inglês ainda consegue fazer duas curvas, mas logo estaciona seu carro na grama. O replay mostrava a porca da roda traseira direita do carro de Mansell se soltando e destruir outra vitória do inglês em 1987. Nigel se senta num guard-rail inconsolável. Foi um duro golpe para Mansell! Informado do problema do seu companheiro de equipe e supondo que era isso a causa das fortes vibrações em seu carro, Piquet diminui o ritmo, já que Senna vinha 43s atrás. Apesar do drama, Piquet recebe a bandeirada em primeiro, numa vitória totalmente inesperada, com Senna completando outra dobradinha brasileira, mas sem o mesmo brilho de 1986. Apesar dos problemas, Prost termina em terceiro, com o seu motor soando muito mal, mas Boutsen tinha quebrado seu turbo faltando duas voltas e se arrastou para receber a bandeirada em quarto, uma volta atrás de Piquet. Patrese marcou seus primeiros pontos de 1987 e mesmo tocado pelo companheiro de equipe e sofrendo com conjuntivite, Warwick fechou a zona de pontuação. Piquet dava um passo decisivo rumo ao tricampeonato. Ele tinha oito pontos de vantagem sobre Senna, mas todos sabiam que Ayrton não tinha como deter a força da Williams-Honda. Porém, Mansell já se encontrava dezoito pontos atrás, o que significava duas corridas completas, com o campeonato já se aproximando do seu final. "Eu já dei o meu beijo de despedida do campeonato", lamentou Mansell. Enquanto isso, Piquet se regozijava. "Eu falei na Alemanha que minha temporada tinha começado lá. Pobre do Mansell...", falava o carioca com um sorriso no canto da boca. O título se encaminhava ao brasileiro da Williams, mesmo de saída da equipe.
Chegada:
1) Piquet
2) Senna
3) Prost
4) Boutsen
5) Patrese
6) Warwick
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