A F1 vivia sob tensão desde a ordem de equipe ocorrida em Zeltweg, em maio de 2002. A Ferrari seria capaz de novamente ordenar que um dos seus pilotos abdiquem da vitória em favor do companheiro de equipe? Michael Schumacher havia vencido o campeonato quase um mês antes quando a F1 chegou à Budapeste e oficialmente a Ferrari anunciou que faria de tudo para que Rubens Barrichello fosse vice-campeão naquela temporada. Mesmo com os azares que o paulista enfrentou no começo do ano, a missão estava longe de ser impossível pelo carro que a Ferrari tinha. Porém, ninguém sabia ao certo se Schumacher desistiria de uma vitória à favor dos interesses da equipe.
A classificação em Budapeste mostrou toda a superioridade italiana de quinze anos atrás, mas deixou uma pulga atrás da orelha do torcedor, principalmente o brasileiro. O primeiro carro não-Ferrari era a Williams de Ralf Schumacher, quase meio segundo atrás da pole, enquanto o quarto colocado Juan Pablo Montoya já se encontrava 1.3s atrás do pole position Rubens Barrichello, superando por muito pouco Michael Schumacher. A pergunta era: o alemão trabalharia a favor de Rubens na corrida?
Quinze anos atrás a F1 viu de forma atônita uma equipe (Ferrari) humilhar todas as demais. Rubens largou bem e se manteve na ponta, com os irmãos Schumacher logo atrás. Logo que Michael se livrou de Ralf, ele passou a escoltar Barrichello. Em Nürburgring, onde Barrichello havia vencido pela primeira vez em 2002, Schumacher rodou no começo da corrida e só encostou no companheiro de equipe no final da prova, gerando calafrios nos fãs, mas a Ferrari resolveu que a coisa se resolvesse na pista. Já em Budapeste, Schumacher andava colado em Barrichello, num ritmo claramente superior ao do brasileiro, mas o alemão resolveu cumprir sua palavra e não atacou a primeira posição de Rubens.
Dois fatos chamaram a atenção da prova que transcorria normalmente e sem nenhuma emoção. A Ferrari mostrava placas para Rubens Barrichello mostrando a diferença que ele tinha para Ralf, o terceiro colocado, não Michael, meio que dizendo que a mancha vermelha que Rubens via no retrovisor não era preocupante. Outro foi Ross Brawn se deliciando com uma banana no pit-wall. Aquilo foi um símbolo. A corrida estava tão tranquila, tão na mão da Ferrari, que o diretor técnico da equipe tinha tempo de sobra para devorar uma banana, enquanto as demais equipes ficavam impotentes perante ao domínio ferrarista. Além do mais, Brawn também dava uma 'banana' para os críticos da Ferrari. "Podemos escolher quem vai vencer a corrida, otário", meio que informava Brawn enquanto jogava a casca de banana em algum cesto de lixo no pit-wall.
Ao fim de 77 entediantes voltas, Rubens Barrichello vencia pela segunda vez em 2002, com Michael logo atrás e a Ferrari comemorava seu título no Mundial de Construtores. O mês de agosto mal havia passado da metade e o campeonato já estava decidido. O vice-campeonato viria para Barrichello com facilidade no final do ano. As demais equipes olhavam impotentes o domínio da Ferrari, que humilhava toda a concorrência. Neste século, sempre falo que a pior temporada é a de 2002. Não houve disputa e a Ferrari não estava nem aí, preferindo dar bananas a todos.
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