quarta-feira, 16 de agosto de 2017

História: 30 anos do Grande Prêmio da Áustria de 1987

Nigel Mansell completava cem Grandes Prêmios na Áustria necessitando urgentemente de uma vitória, para diminuir um pouco do prejuízo de dezoito pontos no campeonato que tinha para o seu companheiro de equipe, Nelson Piquet. Porém, o inglês chegou à Zeltweg com uma enorme dor de dente e Nigel teve que extrair dois sisos com a mesma urgência que ele tinha para ganhar. Com uma bolsa de gelo na bochecha, Mansell não começava o final de semana na melhor forma possível, mas se havia um alívio, era que para 1988 ele teria o dócil Riccardo Patrese ao seu lado na Williams, enquanto era anunciado a saída de Teo Fabi para a F-Indy, onde iria desenvolver os motores da Porsche, o que indicava que os alemães estavam mesmo de saída da F1. Para o seu lugar, a Benetton contratou o jovem Alessandro Nannini, que fazia um bom trabalho na Minardi. 

Na sexta pela manhã, Johansson vinha a mais de 240 km/h na Rindtkurve quando se deparou com um veado relativamente grande. O sueco ainda teve reflexo para não atingir em cheio o animal, mas o lado esquerdo da McLaren ficou totalmente destruída e Johansson ainda bateu forte a ponto de machucar as costelas. O coitado do veado foi feito em pedaços e morreu na hora. A chuva no sábado fez com que os tempos de sexta valessem para a definição do grid e Nelson Piquet conquistava sua 22º pole na carreira, com a espetacular média de 256,622 km/h. Mesmo com o rosto inchado pela cirurgia feita às pressas, Mansell completou a primeira fila, apenas um décimo atrás de Piquet. Berger confirmou que estava melhor dos problemas estomacais que enfrentou em Budapeste e era terceiro, com Alboreto apenas em sexto e reclamando bastante de ter sua melhor volta atrapalhada por Senna. "Ele pilota como um bandido", bradou o italiano da Ferrari. As Benettons confirmaram o bom desempenho na pista, onde em 1986 ficaram com a primeira fila, e estavam em quarto e quinto. Senna tinha mais com o que se preocupar do que as lamúrias de Alboreto. Seu Lotus não se comportava bem e o brasileiro teve que se conformar com a sétima posição. 

Grid:
1) Piquet (Williams) - 1:23.357
2) Mansell (Williams) - 1:23.459
3) Berger (Ferrari) - 1:24.213
4) Boutsen (Benetton) - 1:24.348
5) Fabi (Benetton) - 1:25.048
6) Alboreto (Ferrari) - 1:25.077
7) Senna (Lotus) - 1:25.492
8) Patrese (Brabham) - 1:25.766
9) Prost (McLaren) - 1:26.170
10) De Cesaris (Brabham) - 1:27.672

O dia 16 de agosto de 1987 estava ensolarado em Zeltweg, para alívio dos pilotos, que temiam correr no rapidíssimo circuito austríaco com pista molhada. A reta estreita e cercada de guard-rails tornava a largada do Grande Prêmio da Áustria uma dos mais perigosas do calendário, com acidentes acontecendo em quase todos os anos. Na primeira tentativa, Piquet sai de suas características e larga muito bem, enquanto Mansell patina, mas permanece em segundo, seguido por Fabi, que pula muito bem e assume o terceiro lugar. Mais atrás, Brundle sai da pista e bate no guard-rail, voltando para a pista para ser atingido por Arnoux e Campos. Os dois Tyrrells batem novamente e com a pista obstruída, a corrida é interrompida. Se a primeira largada foi caótica, a segunda seria ainda pior!

Novamente Piquet larga bem, mas Mansell larga ainda pior do que na primeira tentativa, retendo todo o pelotão atrás de seu Williams. Berger tenta passar ao lado do muro e acaba batendo, começando um célebre engavetamento envolvendo praticamente todo o grid. Dez carros estavam destruído e com isso, a largada já estava atrasada em mais de uma hora e boa parte do grid largaria com carros reservas ou com atraso, pois os mecânicos estavam trabalhando para tentar consertar os estragos. Apesar de tudo, apenas Philippe Streiff não consegue largar para a corrida, mas na terceira tentativa, haviam vários clarões no grid de largada. Com nítidos problemas de embreagem, Patrick Head sugere à Mansell que largue com o carro reserva, mas o inglês se recusa, pois este estava acertado para Piquet. Quando estava levando seu carro para o grid, Caffi tem o motor quebrado, enquanto Prost tem problemas elétricos e largaria dos boxes, junto a outros cinco pilotos! Na terceira largada, Piquet novamente mantém a ponta e, sem surpresa nenhuma, Mansell larga mal novamente, com o seu problema na embreagem. O inglês cai para quarto, ultrapassado por Boutsen e Berger, enquanto Senna tem um problema no turbo do seu carro e com isso, fica praticamente parado, mas para sorte de todos, ninguém bate na Lotus e não foi necessário uma quarta largada!

Boutsen surpreende ao atacar Piquet nos momentos iniciais da prova, enquanto Mansell ultrapassava Berger na quarta volta, iniciando sua recuperação. Seu rosto já não estava mais tão inchado e as dores diminuíram, fazendo com que Mansell tivesse totais condições de partir para cima dos seus rivais. Para tristeza do público austríaco, Berger abandona ainda na sexta volta com o turbo quebrado, enquanto Boutsen era o recheio do sanduíche dos dois carros da Williams, mas o belga contava com o bom acerto da Benetton em Zeltweg, onde só não venceu em 1986 por causa de problemas mecânicos. Fabi já tinha 8s atrás em quarto, mas o italiano tinha uma confortável margem sobre Patrese e Warwick. Senna fazia uma incrível corrida de recuperação e já vinha em oitavo, depois de cair praticamente para último na largada! Na volta 15 Boutsen entra lentamente nos boxes com problemas elétricos, mas um mecânico percebe que era apenas um fusível frouxo e o belga, extremamente irritado, volta à pista muito atrasado. Senna entrava na zona de pontos ao ultrapassar De Cesaris e Warwick, mas foi atacado com vigor por Alboreto, que não havia esquecido dos problemas que ambos tiveram nos treinos. O italiano da Ferrari ultrapassou Senna e conseguia sua pequena vingança, enquanto Prost já encostava no brasileiro.

Piquet e Mansell andavam juntos e na volta 21 eles foram colocar uma volta em Nakajima e Pascal Fabre. Mansell aproveita-se de uma pequena hesitação de Piquet e assume a liderança na Boschkurve. Na volta seguinte Piquet vai aos boxes trocar de pneus, com a Williams assegurando que as porcas dos pneus não sairiam do nada. Fazendo uma prova solitária, Fabi ainda encontra tempo para se atrapalhar, ao entrar nos boxes e encontrar sua equipe despreparada. O italiano entra nos boxes na volta seguinte e o pit-stop dura mais de 20s, por causa de uma roda presa. Fabi retorna em sétimo, atrás de Prost e Warwick. Mansell faz sua parada na volta 25 e retorna 5s na frente de Piquet. A briga pela vitória praticamente morreu ali. Com as demais paradas, Fabi reassumia o terceiro lugar, mais de 30s atrás das Williams, mas era ameaçado pelo quarteto Alboreto, Prost, Senna e Boutsen, que andavam muito forte e estavam alcançado o italiano. Mansell quase se choca em Capelli enquanto colocava uma volta no italiano. Nigel estava com a corda toda, querendo mostrar a todos que era o piloto mais rápido de 1987 e sua vantagem sobre Piquet só crescia, da mesma forma como crescia a pressão de Alboreto em cima do compatriota Fabi. Porém, o piloto da Ferrari se esquece da raposa felpuda Prost. Quando Alboreto finalmente ultrapassa Fabi, deixa a porta aberta e Prost assumia o terceiro lugar com duas ultrapassagens numa mesma volta! Senna ultrapassa Fabi e parte para cima de Alboreto. O piloto da Ferrari joga duro e os dois se tocam, com Senna tendo que trocar sua asa dianteira e caindo para nono, enquanto Warwick abandonava com o motor quebrado. Depois da corrida Alboreto confessaria que fechou a porta de propósito, ainda irritado com Senna. Na volta 43, Prost e Alboreto sofrem com problemas no turbo, mas se Prost ainda tem chances de continuar na prova, mesmo num ritmo muito lento, Alboreto entra nos boxes para abandonar e nenhuma Ferrari veria a bandeirada pela quinta vez em 1987. Patrese tinha tudo para pontuar bem, mas seu motor explode com menos de dez voltas para o fim. Boutsen entra nos boxes com problemas no motor, mas com tão poucos carros na pista, o belga volta à corrida... ainda em quarto. Os pilotos apenas se mantinham na pista, enquanto Senna ainda tem tempo de tomar o quinto lugar de Prost na última volta, ambos duas voltas atrasado do vencedor Mansell, que recebeu a bandeirada com mais de cinquenta segundos na frente de Piquet. Fabi terminou em terceiro à frente de seu companheiro de equipe Boutsen. Senna terminou em quinto, enquanto Prost cruzou a linha de chegada com um motor falhando e colheu um ponto. 

Após a bandeira quadriculada, os três primeiros colocados Nigel Mansell, Nelson Piquet e Teo Fabi subiram em uma picape para dar uma última volta pelo circuito. No entanto, o veículo deveria passar sob uma passarela de metal. Despreocupado, Mansell cumprimentava a multidão... e bateu de testa na passarela! Ele caiu praticamente no colo de Piquet, que ria da situação! Mais caridoso, Fabi acolhe o infeliz Nigel, derramando água fresca na cabeça do inglês. Se Mansell chegou à Zeltweg com uma bolsa de gelo na bochecha, agora subia no pódio com outra bolsa de gelo na testa... Perguntado o motivo de não ter perseguido Mansell quando foi ultrapassado, o brasileiro apenas disse que não precisava. E não precisava mesmo. Mesmo derrotado de forma inapelável pelo azarado inglês, Piquet ainda mantinha uma confortável margem no campeonato. Quando a F1 chegou à Zeltweg, haviam muitas reclamações a respeito da estrutura do circuito. Para compensar uma futura reforma, os organizadores aumentaram o preço dos ingressos e mesmo com Berger na pista, o público era o menor dos últimos anos. O infame acidente de Johansson na sexta-feira apenas expunha ainda mais a falta de estrutura de Zeltweg. Nos treinos, a reclamação foi geral com a falta de aptidão dos comissários, além da pista muito ondulada nas rápidas curvas e a lentidão para se organizar as largadas. Mesmo tendo um dos mais belos traçados da história da F1, devido à todos esses problemas, Zeltweg recebeu pela última vez a categoria com o seu famoso lay-out. 

Chegada:
1) Mansell
2) Piquet
3) Fabi
4) Boutsen
5) Senna
6) Prost

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