domingo, 31 de janeiro de 2010

R30


Recomeço pelas origens. Essa será a tentativa da Renault para apagar de vez da sua memória a traumatizante temporada de 2009, quando se viu envolvida num dos maiores escândalos da história da F1 e quase fechou suas portas. Não devemos negar que a continuidade da equipe foi muito por causa de longas conversas de Bernie Ecclestone com o presidente da marca, o brasileiro Carlos Gosh, na tentativa de convencê-lo de permanecer na F1 e para isso, a equipe foi praticamente vendidad por um grupo de investimento obscuro, mas ao menos permaneceu com o nome Renault. Por quanto tempo, ninguém sabe.

Tentando se desvencilhar do seu passado recente, a Renault resolveu investir no seu passado glorioso e pintou seu novo carro com o amarelo e preto tradicional, que marcou época na primeira passagem da montadora francesa na categoria no final da década de 70. Por gosto pessoal e ter na minha mente que os anos 80 foram mesmo inesquecíveis, prefiro muito mais a versão 2010 da Renault que as anteriores. O carro também ficou menos quadrado e, o que esperam seus pilotos, mais competitivo. Ninguém duvida do talento de Robert Kubica, mas o polaco já está entrando naquele momento crítico da carreira em que falta estourar e entrar definitivamente como piloto de ponta. Se ele conseguir fazer a Renault voltar a brigar por vitórias, Kubica conseguirá seu objetivo. Mostrando bem o quão confusa foi a pré-estréia da Renault em 2010, o segundo piloto da equipe só foi mostrado hoje, apesar de que tudo levava a crer que seria mesmo o russo Vitaly Petrov. Aqui vale uma observação interessante. A GP2 foi sempre considerada uma grande escola para a F1 e que seus bons pilotos tinham um atestado de garantia da categoria de base. Pois bem, mesmo sendo o atual vice-campeão da GP2, Petrov é considerado um piloto fraco e que só entrou na Renault pelos fartos patrocínios que trará, algo que não foi visto na carenagem do carro hoje. Petrov é uma incógnita pelo o que poderá fazer na F1. Ou não.

Depois de tantas dúvidas, tudo o que a Renault quer no momento é fazer uma campeonato menos atribulado do que os outros anos e com menos pressão, com a saída de Alonso, a expectativa é de tentar colocar Kubica no pelotão da frente, usando o potencial do polonês. Quanto a Petrov... bem, quanto a Petrov, pelo menos o russo trará 15 milhões de euros para os cofres da equipe. Isso é que dá para garantir sobre o novato no momento.

C29


Após uma rápida experiência ao lado da BMW, Peter Sauber volta à F1 como dono de equipe, mas a apresentação do carro de 2010 trouxe a surpresa da equipe não apenas ainda se chamar BMW Sauber, como também ter praticamente o mesmo lay-out de cores! Sem o apoio da montadora bávara, Sauber sabe que economizar dinheiro voltará a ser praxe em seu planejamento anual e por isso começou não pagando praticamente nada na apresentação do novo carro. Como iria testar mesmo em Valência, colocou o novo carro na pista e o fotografou ao lado dos pilotos.

Por sinal, a dupla de pilotos da Sauber traz uma mistura interessante de juventude e experiência, mas cheia de detalhes. Kamui Kobayashi só não foi considerado a revelação de 2009 por ter participado de apenas duas corridas, mas suas pequenas participações em Interlagos e Abu Dhabi fizeram com que toda a F1 se apaixonasse por esse japonês agressivo, sem ser desastrado, marca registrada dos compatriotas ao longo do tempo. Desempregado com a saída da Toyota, Kobayashi terá a chance de mostrar numa temporada inteira de que pode ser um dos melhores pilotos japoneses de todos os tempos. Para um piloto da experiência de Pedro de la Rosa, chega a ser absurdo colocá-lo como uma incógnita, mas o espanhol assim o é. E por vários motivos. Desde 2002 sem participar de uma temporada inteira, De la Rosa, que não era essas coisas todas há oito anos atrás, pode repetir o fiasco de Luca Badoer justamente por ter passado tanto tempo sem participar de corridas regularmente e isso pode atrapalhar o espanhol que, em contrapartida, pode oferecer um aporte de experiência enorme para Sauber nesse seu recomeço.

Numa temporada cheia de novidades como essa, Sauber pode voltar justamente ao mesmo patamar de 2005, quando era uma equipe média, que beliscava pontos e era ajudada pela Ferrari. Será estranho para as duas montadoras ver BMW Sauber-Ferrari...

sábado, 30 de janeiro de 2010

O Troglodita


Este homem veio da África do Sul já com a fama de um piloto extremamente agressivo e propenso a erros, mas também muito veloz e com grandes chances de fazer sucesso. Jody Scheckter teve uma ascensão meteórica dentro do automobilismo mundial graças a sua habilidade e velocidade, mas na mesma medida em que chegou rapidamente ao ápice do automobilismo mundial, ele também ficou marcado por ser um piloto capaz de provocar sérios acidentes, mas uma morte praticamente à sua frente o equilibrou e somado a seu considerável talento e sua ambição em se tornar campeão do mundo, ele acabou por conquistar seu objetivo, abandonando sua carreira de forma súbita logo depois. Último campeão pela Ferrari antes da Era Schumacher, Scheckter foi mais um a ver seu filho seguir sua profissão e deixou vários amigos na F1, apesar do seu início errático e polêmico na categoria. Completando 60 anos no dia de hoje, vamos conhecer um pouco mais da carreira do único Campeão Mundial de F1 vindo da África.

Jody David Scheckter nasceu no dia 29 de janeiro de 1950, em East London, África do Sul. Desde jovem o pequeno Jody esteve perto de carros, pois seu pai era dono de uma concessionária da Renault e foi lá que Scheckter teve seus primeiros contatos com os carros, onde trabalhou como estagiário da oficina do seu pai. Ele aprendeu a dirigir muito cedo e já foi nessa época que ele ficou conhecido pelo seu estilo de pilotagem no começo da carreira no automobilismo: Andando sempre com o pé embaixo! Esta atitude o levou ao automobilismo e quando Jody completou 18 anos, ele pegou um dos Renault Gordini R8 da concessionária do seu pai e preparou o carro para uma corrida. Porém, sua agressividade indomável ainda fazia estragos e logo em sua primeira corrida ele foi desclassificado por condução perigosa! Com o tempo, ele foi ganhando experiência e domando seu estilo selvagem de pilotar e em 1970 Scheckter foi campeão da Fórmula Ford Sul Africana e como prêmio ele ganhou uma bolsa de estudos na Europa. Na verdade, isto era apenas um pretexto para que Scheckter fosse a Inglaterra dar continuidade a sua carreira no automobilismo.

Primeiramente, Scheckter se interessou na F-Ford, carro no qual já estava acostumado e não demorou para o sul-africano conseguir várias vitórias na Inglaterra e por isso, ainda em 1971, ele se mudou para o conceituado Campeonato Inglês de F3, onde continuou obtendo sucesso, mas sua ambição em se tornar logo campeão mundial o fez sofrer vários acidentes e muitos até temeram pela vida de Scheckter. Até mesmo seu estilo visual, com um cabelo Black-power e longas costeletas lhe conferiam uma cara de mal, mas seu estilo de pilotagem apenas mostravam sua obstinação. Porém, sua velocidade era inegável e isto chamou a atenção de Teddy Mayer, chefe da equipe McLaren, que lhe contratou para sua equipe de F2 em 1972. Mesmo correndo com grandes pilotos como Emerson Fittipaldi, Carlos Reutemann, Niki Lauda e Mike Hailwood, imediatamente Scheckter se fixou no pelotão dianteiro, inclusive conquistando uma vitória logo em sua quarta prova na F3, em Crystal Palace, terminando o fortíssimo campeonato inglês em oitavo lugar, logo em sua primeira temporada. Essas atuações chamaram a atenção de Colin Chapman, que chegou a sondá-lo para disputar o Mundial de F1 de 1973 pela Lotus, mas Jody se manteve fiel a McLaren e Teddy Meyer e após um teste bem sucedido com um F1, Scheckter pôde fazer sua estréia na F1 no Grande Prêmio dos Estados Unidos de 1972, apenas 18 meses depois de chegar a Inglaterra. Imediatamente Jody mostrou uma velocidade impressionante para um piloto tão inexperiente e após largar entre os dez primeiros, ele recebeu a bandeirada em nono lugar.

Impressionando a todos na F1, inclusive a Denny Hulme, primeiro piloto da McLaren, Scheckter deixou seu nome marcado na categoria e com apenas 22 anos de idade, já era considerado uma provável estrela da F1. Para 1973, Scheckter não participou do Europeu de F2, preferindo disputar o Campeonato Americano de F5000, onde se sagrou campeão facilmente a bordo de um Trojan. Na verdade, Scheckter tinha cinco corridas de F1 pela McLaren agendadas e as datas coincidiam com a temporada de F2. No Grande Prêmio da África do Sul, Scheckter realizou sua primeira corrida em 1973 e levou uma multidão de pessoas a Kyalami, que esperavam uma grande atuação do seu piloto. E Scheckter não decepcionou! Ele largou na primeira fila, em terceiro, mas um motor quebrado não o fez ver a bandeirada. Até então, todos na F1 só tinham visto a parte boa de Jody, ou seja, sua grande velocidade e talento, mas não tardou a aparecer a parte ruim de Scheckter, que eram os acidentes em demasia. No Grande Prêmio da França em Paul Ricard, Scheckter impressionava novamente ao largar em 2º em seu terceiro Grande Prêmio na carreira e com uma boa largada, deixou a grande estrela Jackie Stewart para trás e liderava sua primeira corrida com decisão. A partir da volta 21 ele passou a ser pressionado por Emerson Fittipaldi, então campeão mundial, mas o sul-africano resistia com bravura, mas vinte voltas depois Jody não pensa duas vezes em jogar a Lotus do brasileiro para fora da pista e ambos abandonam. Normalmente comedido, Fittipaldi ficou furioso com o quase estreante. “Este louco é uma ameaça para si e para os outros dentro da pista. Ele não pertence a F1!”, bradou Fittipaldi. Isso seria apenas um aperitivo do que viria mais tarde. Duas semanas mais tarde, no Grande Prêmio da Inglaterra, Scheckter impressionava mais uma vez na classificação ao ficar em 6º no grid e no final da primeira volta já era 4º, quando Scheckter perdeu o controle do seu McLaren na curva Woodcote, a curva que precedia a reta dos boxes, feita a 240 km/h. Jody rodou na saída da curva, bateu forte no muro dos boxes e ficou parado no meio da pista. Com pouca visibilidade, os pilotos que vinham atrás não tiveram tempo para desviar e o resultado foi o caos, com quinze carros destruídos no meio da reta dos boxes. Felizmente, nenhum piloto estava seriamente ferido, mas Andrea de Adamich teve as duas pernas fraturadas e nunca mais correu de F1.

Scheckter foi considerado culpado pelo maior acidente da F1 em todos os tempos e a GPDA (Associação dos Pilotos de Grande Prêmio) pediu o banimento imediato de Scheckter. A McLaren resolveu deixar o sul-africano de fora de algumas corridas para diminuir a pressão em cima do jovem piloto e para que o próprio Scheckter refletisse sua pilotagem. Scheckter foi escalado para as duas últimas corridas da temporada, mas nem o tempo fora fez com que o sul-africano se acalmasse. O Grande Prêmio do Canadá foi um dos mais confusos de todos os tempos e Scheckter brigava pela ponta com o Tyrrell de François Cevert, com os dois acabando por se acidentar. O francês ficou furioso e partiu para cima de Scheckter, sendo acalmado pelos comissários, que imediatamente seguraram Cevert. Quando chegou aos boxes, Cevert foi igualmente duro com Jody nas declarações. “Ele é uma calamidade pública. Ele tem que ser proibido de correr.” Ironicamente, Ken Tyrrell tinha ficado extremamente impressionado com Scheckter e negociava com o sul-africano para substituir o aposentado Jackie Stewart em 1974. Ou seja, Scheckter e Cevert seriam companheiros de equipe em 1974, mas infelizmente essa parceria nunca se realizou, pois Cevert acabaria morrendo nos treinos para o Grande Prêmio dos Estados Unidos, menos de um mês depois. Jody Scheckter foi o primeiro piloto a chegar na cena do acidente e quando o viu o estado em que ficou o francês, ele sofreu um baque que mudou para sempre seu estilo de enxergar as corridas. Para quê ser campeão mundial, se aquela agressividade toda poderia lhe custar a vida? O próprio Jody Scheckter disse que ‘a partir daí (o acidente de Cevert), tudo o que eu estava fazendo na F1 era salvar a minha vida’.

Na Inglaterra, todos acreditavam que Jody Scheckter era um campeão em potencial, enquanto que na Itália, ele ganhou o apelido no qual ficaria conhecido: Troglodita. Porém, com a ajuda providencial de Ken Tyrrell e o choque pela morte de Cevert, Scheckter passou a dosar sua agressividade selvagem e parou de cometer tantos erros, se concentrando em terminar as corridas. Isso ficaria aparente na temporada de 1974. Quando recebeu o novo carro na 4º etapa do campeonato, Scheckter passou a marcar pontos de forma regular, conquistando seu primeiro pódio no Grande Prêmio da Bélgica com um 3º lugar e culminando com a vitória no Grande Prêmio da Suécia, local onde a Tyrrell sempre andaria bem. Com mais uma vitória no Grande Prêmio da Inglaterra, em Brands Hatch, um ano depois de quase ser banido do esporte pelo acidente em Silverstone, Scheckter entrava na disputa pelo Campeonato Mundial daquele ano, contra a McLaren de Fittipaldi e as Ferraris de Lauda e Regazzoni. Após terminar em 2º lugar o Grande Prêmio da Alemanha, Scheckter estabeleceu o recorde de oito corridas consecutivas na zona de pontos. Quando a F1 chegou a América do Norte, Scheckter estava em 2º lugar no Mundial, apenas um ponto atrás do líder Regazzoni, mas um problema nos freios durante o Grande Prêmio do Canadá o fez ter apenas chances matemáticas de título na decisão do campeonato em Watkins Glen, onde abandonou a prova por problemas mecânicos e garantia o 3º lugar no Mundial. Aos poucos, Scheckter deixava para trás o fama de maluquinho e entrava de vez na lista das estrelas da F1. Outro traço importante que Jody deixou nessa época foi sua forma de como ele tratava seus companheiros de equipe. Mesmo com temperamento forte, Scheckter se tornou amigos de todos os companheiros de box, inclusive de Patrick Depailler, seu vizinho de box na Tyrrell. Para 1975, Ken Tyrrell decide reutilizar os modelos 007 que tinham feito sucesso em 1974, mas com novos freios, que ajudariam a Scheckter e Depailler a melhorar ainda mais o desempenho da temporada anterior. Porém, foram justamente problemas de freios que atrapalharam os dois pilotos da Tyrrell, fazendo com que a equipe desistisse do equipamento na corrida seguinte, em Kyalami. Correndo em casa, Jody teria a companhia do seu irmão mais novo Ian, que nunca repetiu a fama do mano mais velho. Com uma nova suspensão e uma nova entrada de ar no radiador, Scheckter se recuperou das frustrações das duas primeiras corridas do ano e venceu o Grande Prêmio da África do Sul, porém esta seria a única vitória de Scheckter no ano, pois 1975 seria o ano do domínio da Ferrari de Lauda. Jody conseguiria outros dois pódios, terminando o campeonato em sétimo. Um dos motivos da Tyrrell insistir no modelo 007 era o revolucionário carro que estava sendo projetado por Derek Gardner para 1976. O Project 34, ou simplesmente P34, revolucionaria a F1 com um carro de seis rodas. Depailler, um excelente piloto de testes, andou no carro no inverno de 1975 e na quinta etapa do Mundial de 1976, no Grande Prêmio da Bélgica, a Tyrrell estreou seu novo carro. Surpreendentemente, o carro se comportou muito bem e Scheckter conseguiu logo de cara um 4º lugar. No lugar menos improvável do mundo onde um carro daquele tamanho poderia andar bem, nas apertadas ruas de Mônaco, Scheckter consegue um ótimo 2º lugar e em Andertorp, habitat natural da Tyrrell, o sul-africano consegue sua primeira vitória no ano, com Depailler completando a dobradinha. Jody marcava pontos de forma regular, inclusive com mais três 2º lugares, mas aquela temporada de 1976 seria dominada pela Ferrari de Lauda e a McLaren de James Hunt, com o inglês conquistando o título, derrotando austríaco na última corrida do ano em Monte Fuji. A Tyrrell mostra que seu carro de seis rodas era mais do que uma excentricidade e Scheckter termina o campeonato em terceiro, com Depailler em quarto.

Porém, as quatro pequenas rodas dianteiras exigiam da Goodyear uma borracha diferente e como apenas a Tyrrell usavam pneus daquele tamanho, a montadora americana resolveu não investir mais em pneus especiais para o P34 e o carro passou a ter problemas sérios com o desgaste excessivo dos pneus traseiros. Isso foi o fim do lendário P34 e Scheckter sabia que isso acabaria por prejudicar sua luta pelo título. Por isso, o sul-africano fez uma aposta arriscada. Walter Wolf investia na F1 fazia algum tempo e em 1975 ele chegou a se juntar a Frank Williams, acabando com a parceria no meio da temporada. Em 1976, ele anuncia que faria uma equipe para 1977 e de forma surpreendente, Scheckter aceita a proposta do investidor canadense e se torna piloto único da Wolf para 1977. Porém, o que parecia um devaneio de Scheckter se torna uma enorme surpresa quando o sul-africano vence o Grande Prêmio da Argentina, primeira etapa de 1977, e coloca a Wolf na história da F1 como a primeira equipe a vencer na estréia, juntamente com a Mercedes e a Brawn. Após um Grande Prêmio do Brasil problemático, a Wolf se recupera na África do Sul, onde Scheckter conquista um pódio com um 2º lugar e após dois 3º lugares, Jody voltaria a vencer no Grande Prêmio de Mônaco, com o sul-africano assumindo a liderança do Mundial com uma confortável vantagem de sete pontos sobre Lauda. Porém, quatro quebras seguidas fizeram com que Scheckter fosse alcançado por Lauda, que acabaria conquistando seu segundo título na carreira. Com outra vitória no Canadá, a terceira em 1977, Scheckter consegue seu melhor resultado na F1 até então e fica com o vice-campeonato. Porém, a Lotus já tinha trazido o carro-asa em 1977 e com aperfeiçoamentos, o carro dominaria a temporada de 1978 com Mario Andretti. O ano começa muito ruim para Scheckter, com vários acidentes e um carro que não conseguia acompanhar as Lotus e Ferraris. No Grande Prêmio da Espanha, já no meio da temporada, o projetista Harvey Postlethwaite constrói o modelo WR5, primeiro carro-asa da equipe, e isso melhora o rendimento de Scheckter durante o ano, mas o carro quebrava demais. Na verdade, a Wolf passava por problemas financeiros e isto fez com que a equipe aceitasse pilotos-pagantes que estavam dispostos a comprar cockpits. Jody enxergava o fim dos bons tempos da equipe e passou a procurar uma nova equipe. A Ferrari viu Carlos Reutemann ir para a Lotus em 1979 e procurava um piloto para correr ao lado de Gilles Villeneuve. Primeiramente a equipe tentou Mario Andretti, mas com o americano tendo conquistado o título, Mario pediu muito dinheiro e Enzo não era conhecido por gastar muito com pilotos. Então o foco passou a ser Scheckter, que sonhava em conquistar seu primeiro título mundial e vinha de ótimos resultados nos anos anteriores. Seria o início de uma parceira que daria muito certo.

Não faltou quem dissesse que Scheckter não daria certo na Ferrari e a imprensa italiana fazia questão de lembrar o seu início de carreira na F1, mas Jody provava com seus resultados que ele tinha domado sua agressividade, mas mantendo sua velocidade e talento. O confronto entre Villeneuve e Scheckter também prometia ser explosivo, por causa dos estilos de pilotagem de ambos, mas o que aconteceu foi o início de uma grande amizade entre eles. Mauro Forghieri tinha que construir um carro-asa, mas também tinha enormes dificuldades com o motor V12-flat italiano, mas Scheckter usou sua experiência anterior na Wolf para melhorar o modelo 312T4, que só estrearia após as duas primeiras corridas sul-americanas. A Ligier começou o ano vencendo na Argentina e no Brasil, com a equipe francesa se tornando o alvo da Ferrari e de Scheckter. Quando o novo carro fez sua estréia em Kyalami, mostrou seu enorme potencial com a Ferrari conseguindo a dobradinha, mas com Scheckter em segundo. Numa corrida que chegou a ser interrompida pela chuva, o sul-africano perdeu a chance de vencer em casa quando Jody teve problemas de desgaste prematuro com seus pneus slicks. Com outra vitória de Villeneuve em Long Beach, a posição de Scheckter começava a ficar ameaçada dentro da Ferrari, mas Villeneuve não marca pontos nas corridas seguintes, enquanto Jody venceria na Bélgica e em Mônaco, assumindo pela primeira vez a ponta do campeonato de 1979. Aquela temporada ainda viu o crescimento da Williams e da Renault, mas Scheckter pontuava sempre que era possível e quando a F1 chegou a Monza, no Grande Prêmio da Itália, Scheckter tinha chances reais de ser campeão. Ainda no grid de largada, Enzo Ferrari foi a Gilles Villeneuve, que ainda podia impedir o título de Jody, e falou para o canadense com uma voz paternal. “Gilles, este título é de Scheckter. Você ainda é muito jovem e o próximo será seu.” Com essa recomendação na cabeça, Villeneuve apenas acompanhou Scheckter a corrida inteira, enquanto o sul-africano corria contra a Renault de Arnoux e a Ligier de Laffite. Quando os dois franceses abandonaram a prova, Scheckter venceu a corrida e o campeonato, com Villeneuve logo atrás. Oito anos após chegar à Europa, Jody Scheckter finalmente conseguia seu objetivo de vida e se tornava o melhor piloto do mundo. Porém, isso parece ter causado um efeito na cabeça do sul-africano e ninguém poderia imaginar que aquela era sua última vitória na F1. Para 1980, a Ferrari constrói o 312T5, que nada mais era que a evolução do campeão 312T4, o que poderia indicar uma enorme vantagem frente aos rivais, mas o problema era que as rivais Williams, Renault, Brabham e Ligier evoluíram ainda mais e a Ferrari ficou para trás de forma abrupta. Para complicar, a equipe italiana estava concentrada no motor turbo que estrearia em 1981 e pouco faz para evoluir o carro, fazendo com que a temporada de 1980 se torne a pior de todos os tempos da equipe de Maranello. Se Villeneuve ainda mostrava combatividade na pista, Scheckter se mostrava um piloto até de certa forma preguiçoso, como se correndo apenas por obrigação contratual. O sul-africano só marcou três pontos ao longo do ano e chegou a não se classificar para o Grande Prêmio do Canadá. Por isso, não foi surpresa quando Scheckter anunciou que estaria abandonando a F1 no final da temporada, com apenas 30 anos. Foram 112 Grandes Prêmios, 10 vitórias, 3 poles, 5 melhores voltas, 33 pódios, 255 pontos e o título mundial de 1979.

Pensando no futuro sem o automobilismo, Jody Scheckter se mudou para os Estados Unidos e se tornou extremamente rico quando ele criou uma empresa de segurança usando alta tecnologia. Na América, Jody se torna uma pessoa comum e dizem que ele até se livrou dos seus troféus para não ocupar muito espaço em sua casa. Porém, seus dois filhos, Tomas e Toby, se interessaram pelo automobilismo e isso faz com que Scheckter abandonasse seus negócios nos Estados Unidos e retornasse a Europa para tomar de conta da carreira dos filhos. Enquanto Toby se tornou um piloto medíocre, Tomas consegue algum sucesso nas categorias de base europeias, vencendo o Campeonato Europeu de F-Opel de 1999 e ficando com o vice-campeonato da F3 Inglesa no ano 2000, perdendo o título para Antonio Pizzonia. Foi nessa época que surgiu uma piada de que, como a Ferrari não conquistava um título desde que Scheckter venceu o campeonato de 1979, os italianos estavam apenas esperando que Tomas se tornasse apto a correr na F1 e pudessem reconquistar o título... Tomas foi contratado como piloto de testes da Jaguar em 2001, mas se envolveu num escândalo com prostitutas e acabou demitido, se mudando para o automobilismo americano, quando ficou com uma fama muito parecida com a do seu pai no início da carreira. Em 2002, após liderar boa parte das 500 Milhas de Indianápolis até bater, o seu chefe de equipe Eddie Cheever disse que Tomas Scheckter era um “dummy humano”, onde vivia testando a segurança dos carros da Indy batendo nos muros. Com relativo sucesso nos Estados Unidos, Tomas segue hoje seu próprio caminho na carreira, enquanto seu pai se envolveu em outro negócio fora das corridas, agora ganhando muito dinheiro com uma fazendo na Inglaterra, especialista em agricultura orgânica. Agora morando na Europa, é mais fácil ver Jody Scheckter nos paddocks da F1, dando suas opiniões sobre a categoria na atualidade. De um piloto extremamente errático no início da carreira, muito cedo Scheckter percebeu que precisava mais regularidade para realizar o sonho de sua vida e se tornar Campeão Mundial, acabando por conquistar isso ainda com 29 anos de idade. Após a morte de Cevert, Jody passou a se preocupar mais com a segurança dos pilotos, chegando a fazer parte da liderança da GPDA, entidade essa que pediu seu banimento em 1973. Sua amizade com Gilles Villeneuve entrou para a história e isso chegou até mesmo a dividir Jody, mas o sul-africano nunca perdeu seus laços com a Ferrari e em 1997 não sabia para quem torcer: pela scuderia ou para filho do seu eterno amigo. Uma verdadeira personalidade na F1, Jody Scheckter escreveu seu nome na história da categoria na década de 1970 como um dos pilotos mais rápidos do seu tempo.

Parabéns!
Jody Scheckter

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

MP4/25


Logo na segunda apresentação, a primeira surpresa. A McLaren veio com um modelo diferente para 2010 em relação a discreta Ferrari e apresentou uma revolucionária asa traseira, em que a já famosa basbatana de tubarão se funde com a asa traseira, criando algo novo numa F1 onde sempre se copia algo de alguém.

A beleza do carro e a novidade aerodinâmica fez com que nos esquecessêmos um pouco de uma temporada decisiva para o futuro da McLaren. Agora sem o apoio oficial da Mercedes, a McLaren terá seu primeiro ano como equipe independente e terá que se virar para se manter no plantel de favoritas ao título. Para isso, trouxe para si uma dupla de pilotos no mínimo explosiva. Ninguém mais discute o talento de Lewis Hamilton e em sua quarta temporada (o tempo passa...) estará mais forte e experiente do que nunca, mas terá ao seu lado o atual campeão do mundo, que estampará o número 1 no bico prateado da McLaren. Jenson Button tem um desafio a mais do que defender seu título de 2009, que é derrotar Hamilton dentro da sua própria casa.

Pelo o que vimos em 2007, Hamilton não tem muito respeito com atuais campeões e Button terá que enfrentar um piloto já acostumado em ser o bam-bam-bam do time. É dentro desse caldeirão britânico que a McLaren tentará recuperar o seu título perdido em 2009. E com um belo carro.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

F10


Foi com um nome curto e simples que a Ferrari mostrou ao mundo o modelo que tentará reconquistar os títulos de Mundial de Pilotos e Construtores. Mais do que isso, a equipe de Maranello tentará afastar a fama já ganha de time desorganizado que ganhou nos últimos tempos e com uma dupla de pilotos latina, voltar aos tempos em que o metódico alemão Michael Schumacher dominou a F1 de forma nunca antes vista. Agora com o tedesco do outro lado do muro, caberá a Fernando Alonso e Felipe Massa derrotar Michael e voltar aos títulos.

De cara, a nova Ferrari está mais robusta por causa do tanque de combustível maior e mais branca, pela chegada do Banco Santander. Escolhido para dar as primeiras voltas com o carro, Massa terá um desafio e tanto pela frente. Com um forte patrocínio espanhol e os próprios diriggentes tratando Fernando Alonso como um salvador da pátria, Felipe tentará contrariar a lógica e superar o espanhol, considerado o melhor piloto da atualidade. As vantagens do brasileiro são a preferência do baixo clero da Ferrari por ele e pelo desequilíbrio de Alonso frente a um piloto rápido, vide o que ocorreu com Hamilton em 2007.

Alonso sabe que terá em Felipe Massa um dos companheiros de equipe mais duro que já enfrentou, mas o espanhol também tem conhecimento que algo que não seja um título fará de sua passagem pela Ferrari um retumbante fracasso. Se a Ferrari foi capaz de construir um carro capaz de fazer seus dois pilotos brigarem pelo título, veremos dois favoritos se degladiando em alto nível. Resta saber se a Ferrari superou a confusão reinante dos últimos anos e foi capaz de voltar aos bons tempos. Os tempos de Schumacher, agora um dos seus adversários.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

História: 30 anos do Grande Prêmio do Brasil de 1980


Antes da corrida em Interlagos, havia uma enorme expectativa de que se a corrida em solo brasileiro realmente aconteceria. A pista paulistana recebia severas críticas pelas suas ondulações e pela falta de organização do seu pessoal. Jody Scheckter chegou a criticar Interlagos e sua segurança, mas foi preciso que Bernie Ecclestone colocasse um ponto final nas especulações e a prova brasileira seria realizada em Interlagos no final de janeiro, como tradicionalmente ocorria. Na verdade, era uma espécie de teste 'tudo ou nada' para a organização em Interlagos.

Após um desempenho medíocre na Argentina, a Renault chegava a uma pista que lhe seria claramente favorável por causa do turbo. Numa pista com retas longas e, principalmente, em alta altitude, a equipe francesa mostrou, pela primeira vez, a força do turbo em determinadas situações e a prova disso foi a pole, a segunda na carreira, de Jean-Pierre Jabouille. Em 1979 a Ligier havia dominado em Interlagos e em 1980 a equipe mantinha a boa fase com o novo piloto da equipe, Didier Pironi, ficando à frente de Laffite. Na Ferrari, Villeneuve continuava colocando tempo no campeão Scheckter e espantava a forma como o sul-africano aceitava a situação passivamente, chegando a declarar a imprensa achar natural de que a Ferrari preferisse Villeneuve. Com três vitórias no Brasil, Carlos Reutemann passou por cima de Alan Jones, enquanto alguns problemas com o pescador de combustível fez com que Nelson Piquet, principal esperança brasileira de vitória, ficasse apenas em nono. Na equipe Fittipaldi, os problemas apenas continuavam. Keke Rosberg constrangia o dono da equipe ao colocar 2s em cima de Emerson, enquanto a equipe fez um treinamento de pit-stops na sexta-feira. Foram tantos erros primários, que Peter Warr cancelou o teste na segunda tentativa. Era um amostra de que a Fittipaldi começava a bater cabeça e culminaria no resultado que todos conhecemos.

Grid:
1) Jabouille (Renault) - 2:21.40
2) Pironi (Ligier) - 2:21.65
3) Villeneuve (Ferrari) - 2:22.17
4) Reutemann (Williams) - 2:22.26
5) Laffite (Ligier) - 2:22.30
6) Arnoux (Renault) - 2:22.31
7) De Angelis (Lotus) - 2:22.40
8) Scheckter (Ferrari) - 2:23.02
9) Piquet (Brabham) - 2:23.16
10) Jones (Williams) - 2:23.38

O dia 27 de janeiro de 1980 estava quente e abafado, mas sem sol. Isso amenizaria o forte desgaste físico dos pilotos durante uma prova considerada longa e quente. Apesar da força do turbo, a Renault sofria de um problema crônico de retardo no turbo na largada e isso fazia com que seus pilotos se atrasassem muitas vezes na largada, os obrigando a uma prova de recuperação. Como esperado, Jabouille largou mal, mas quem se aproveitou não foi seu parceiro na primeira fila Pironi, mas sim Villeneuve, que faz mais uma largada-relâmpago e se colocou entre os dois carros da primeira fila para assumir a liderança ainda antes da primeira curva, numa manobra bonita e arriscada. Típico de Gilles.

Villeneuve completou a primeira volta pressionado por uma legião francesa, que vinha, na ordem, com Jabouille, Pironi, Laffite e Arnoux. Claramente andando mais do que o carro, Gilles acabaria por forçar demais seus pneus e mesmo com toda a sua genialidade, ele não foi capaz de segurar Renaults e Ligiers, caindo para quinto ao final da segunda volta. A pista de Interlagos tinha mais de sete quilometros de extensão na época. Ainda nas duas primeiras voltas, Carlos Reutemann frustra a grande torcida argentina que foi a São Paulo vê-lo e o argentino acabou por abandonar ainda na primeira volta, com o semi-eixo de seu Williams quebrado. Na volta seguinte, Mario Andretti destruía sua Lotus na Curva 2, enquanto Elio de Angelis, jovem de apenas 21 anos de idade, se mantinha num impressionante 6º lugar. Enquanto isso, Jabouille disparava na frente e abria vantagem sobre os seus compatriotas, mas logo a festa francesa acabaria tendo um desfalque quando Pironi tem um pneu furado e tem que fazer um pit-stop. Lembrando que naquela época não existiam pit-stops programados e a operação acabaria sendo um ato amador. O francês voltaria nas últimas posições, mas não demoraria a aparecer.

Mais atrás, Piquet e Fittipaldi faziam a alegria da enorme torcida brasileira que compareceu a Interlagos quando começaram a prova de forma agressiva, mas, infelizmente para os presentes, durou pouco. Na volta 13, Emerson estava a ponto de ultrapassar John Watson, com Rosberg apenas na espreita. Na curva 3, Fittipaldi colocou por dentro da McLaren, mas ambos deram muito espaço e Rosberg aproveitou o momento e fez uma linda ultrapassagem dupla, mas no final da manobra, o finlandês acabou batendo de leve na lateral do carro de Emerson. Com a aerodinâmica prejudicada, o brasileiro acabaria indo para os boxes e terminaria a corrida em último. Terminada a prova, Fittpaldi fez uma reunião de emergência e acusou Rosberg de imprudente, causando um grande mal-estar dentro da equipe. Anos depois, Rosberg disse que não entendia os palavrões em português, mas sabia que seu patrão não estava nada satisfeito com ele... Quando ocupava a 6º posição, Nelson Piquet passou reto na curva do Lago, com a suspensão de sua Brabham quebrada. A participação brasileira praticamente acabava na volta 14.

A França fazia a festa na ponta da corrida, mas a Renault logo seria a única a sorrir quando o 2º colocado Laffite tem o motor quebrado na volta 14 e a equipe francesa fazia uma dobradinha, com Jabouille à frente de Arnoux. Com Elio de Angelis em um distante 3º lugar, parecia pouco provável que algo atrapalhasse a festa da Renault. Porém, a estrela da corrida brasileira não tinha um carro amarelo. Após seu pit-stop forçado, Didier Pironi realizou uma estupenda corrida de recuperação e na volta 21, dezenove após sua parada, já aparecia em sexto! Porém, a posição de Pironi e de todos os demais não permaneceriam as mesmas. Na volta 24, com 10s de vantagem sobre Arnoux, o motor turbo de Jabouille começou a falhar e na volta seguinte seu turbo acabaria por estragar a prova de Jean-Pierre.

Arnoux assumia a liderança com enorme vantagem sobre De Angelis, que fazia uma super prova e estava distante de um opaco Alan Jones, talvez mais preocupado em marcar pontos para o campeonato. Pironi acabaria por ultrapassar Patrese e deixava o italiano na alça de mira de outro francês. Alain Prost fazia sua segunda corrida na F1 e começava a pressionar Patrese, numa emocionante disputa entre os dois jovens pilotos que levantou a torcida. Nas voltas finais, Prost conseguiria uma bela ultrapassagem sobre Patrese na curva da Junção, marcando seu terceiro ponto na F1 em sua segunda prova na categoria, começando a chamar a atenção dos chefes de equipe. Porém, no presente, quem venceria, pela primeira vez na F1, seria Arnoux. O francês fica tão emocionado que foi ao pódio antes dos demais e estourou o champanhe sem a presença de De Angelis (que comemorou muito, junto com Colin Chapman) e Jones. Porém, essa seria a última vez que o velho circuito de Interlagos veria a F1. A organização da prova foi um fracasso e pedras furaram vários pneus durante a prova. Mesmo tendo um dos circuitos mais espetaculares da história da F1, Interlagos passou dez anos fora do calendário da categoria, voltando apenas quando seu circuito foi desfigurado, com o traçado atual.

Chegada:
1) Arnoux
2) De Angelis
3) Jones
4) Pironi
5) Prost
6) Patrese

História: 35 anos do Grande Prêmio do Brasil de 1975


Com pouco tempo entre as corridas na Argentina e no Brasil, as equipes se preparavam para a 'temporada sul-americana' sem muito tempo para consertos, levando toda a sua logística junto. Por isso, se um carro tivesse com problemas em Buenos Aires, as equipes em questão não podiam fazer muito para a corrida em São Paulo. Profundamente irritado com o péssimo rendimento da Lotus na Argentina, Ronnie Peterson começou a forçar sua saída da tradicional equipe e como a equipe no qual negociava, a Shadow, estava numa fase excepcional, o sueco chegou a sentar num dos carros negros da equipe emergente em Interlagos, mas Colin Chapman exerceu o contrato que tinha com Peterson e, mesmo a contra gosto, teve que fazer mais uma prova com o velho Lotus 72.

Mostrando o porquê de Peterson estar tão ansioso por correr na Shadow, Jarier conquistou mais uma pole com uma certa facilidade e, conta a lenda, entrou na história de Interlagos por um feito a muito esperado. A famosa Curva 1 da pista paulistana começava a ganhar ares de desafio por ninguém ter conseguido contorná-la de pé embaixo. Muitas pessoas acampavam próximo da curva apenas para ver quem seria o primeiro a não aliviar na desafiadora curva. Em sua volta mais rápida, Jarier teria cruzado a Curva de pé em baixo, causando uma grande comemoração na torcida. Comprovando a boa fase, Emerson Fittipaldi completaria a primeira fila, enquanto a Copersucar, que teve seu primeiro carro destruído por um incêndio em Buenos Aires, teve que reconstruir um novo chassi, completamente diferente do primeiro, e o chamou de FD02, tamanha a diferença para o projeto original, o FD01. Conhecendo a pista com a palma da mão, Wilsinho Fittipaldi conseguiu não ficar em último. Era um alento.

Grid:
1) Jarier (Shadow) - 2:29.88
2) E.Fittipaldi (McLaren) - 2:30.68
3) Reutemann (Brabham) - 2:31.00
4) Lauda (Ferrari) - 2:31.12
5) Regazzoni (Ferrari) - 2:31.22
6) Pace (Brabham) - 2:31.58
7) Hunt (Hesketh) - 2:31.70
8) Scheckter (Tyrrell) - 2:31.74
9) Depailler (Tyrrell) - 2:32.94
10) Mass (McLaren) - 2:33.06

O dia 26 de janeiro de 1975 estava extremamente quente em São Paulo e para diminuir o calor, os bombeiros jorraram água na torcida, numa cena célebre. Interlagos estava lotado e esperava uma vitória de Emerson, mas havia outro brasileiro com chances de vitória: José Carlos Pace. O 'Moco' tinha mostrado em Buenos Aires que tinha condições de conquistar um bom resultado e seu sexto lugar no grid em Interlagos era o indício de que ele estaria no pelotão dianteiro no início da prova. Mesmo com dois títulos mundiais, haviam os que preferiam Pace com relação a Emerson Fittipaldi, inclusive com algumas cenas que veríamos com mais intensidade na década seguinte, com Piquet e Senna. Dentre todas as suas várias qualidades, um defeito crônico em Emerson Fittipaldi eram suas péssimas largadas e em Interlagos não foi diferente, porém, o brasileiro não foi o único. Quando a bandeira brasileira foi baixada, Fittipaldi deixou sua McLaren patinar e Reutemann partiu para cima de Jarier, que não fez uma largada perfeita e o argentino estava na ponta da corrida ainda antes da curva 1. Pace, com a outra Brabham, também faz uma ótima largada e pulou de 6º para 3º.

Reutemann permanecia em primeiro, mas Jarier mostrava claramente que era o mais rápido e pressionava o argentino, com Pace logo atrás. As duas Ferraris de Regazzoni e Lauda permaneciam a distância, com Scheckter sendo pressionado por Emerson Fittipaldi, que procurava uma rápida corrida de recuperação. Tentando segurar Jarier, Reutemann acabou por desgastar demais os seus pneus e o argentino acabou sucumbindo a pressão do piloto da Shadow na quinta volta, com Jarier abrindo uma vantagem absurda logo quando a ultrapassagem foi consumada. O francês imprimia um ritmo alucinante e disparava na frente. Enquanto isso, os brasileiros começavam a dar show.

Na 13º volta, Pace ultrapassa Reutemann e assumia a 2º posição, mas com uma desvantagem absurda de 19s para Jarier, enquanto Emerson Fittipaldi fazia uma corrida extremamente inteligente, bem ao seu estilo, e na volta 15 começava sua seqüência de ultrapassagens. A primeira vítima foi Jody Scheckter e quatro voltas depois o brasileiro ultrapassou Lauda. Com Reutemann perdendo rendimento, Fittipaldi deixou o argentino para trás e logo colou na Ferrari de Regazzoni, precisando de um pouco mais de paciência para deixar o suíço da Ferrari para trás. Quando assumiu a 3º posição na volta 29, o público brasileiro foi ao delírio e começou a secar Jarier. Afinal, só assim o francês poderia perder a corrida brasileira, com o Shadow numa forma exuberante em Interlagos. Na volta 32, enquanto se aproximava da reta dos boxes, o carro de Jarier dá uma engasgada, facilmente perceptível e que a torcida percebeu de longe. Aos gritos de 'quebra, quebra', Jarier abandonou tristemente com a bomba de óleo do seu carro quebrada. Era o fim da melhor corrida de Jean Pierre Jarier na F1 e o início de uma festa inesquecível.

Pace assumia a liderança da corrida e tinha 10s de vantagem para Emerson. O público delirava quando seus ídolos cortavam a linha de chegada, mas não faltaram quem secasse Pace para que Emerson assumisse a liderança. Assim como vice-versa. Restavam oito voltas na ocasião, que virou sete, seis, cinco... A Brabham de Pace e a McLaren de Fittipaldi estavam em ótima fase e mesmo com Moco diminuindo o seu ritmo no final, a primeira dobradinha brasileira na história estava feita. Pace foi levado aos boxes nos ombros da torcida e chorou bastante quando lá chegou. Desfazendo qualquer indício de inimizade, Emerson era um feliz 2º colocado (afinal, era mais líder do que nunca do campeonato) e parecia contente com a primeira vitória de Pace. Comprovando a boa fase da McLaren, Jochen Mass conseguiu ultrapassar as duas Ferraris e completar um dos pódios mais festivos da história da F1. José Carlos Pace poderia ter conquistado outros momentos como esse, mas infelizmente o destino não quis assim.

Chegada:
1) Pace
2) E.Fittipaldi
3) Mass
4) Regazzoni
5) Lauda
6) Hunt

sábado, 23 de janeiro de 2010

Gilles, o mito


Quando se faz uma comparação, inútil, por sinal, entre Senna e Schumacher, dificilmente o brasileiro perde, apesar dos números imbatíveis do alemão. Nessas enquetes, as pessoas usam mais o coração do que a razão e por isso Senna normalmente vence. Motivo? Ayrton Senna tinha algo que cativava as pessoas e não são os números que farão admirar mais ou menos o brasileiro. Essa lógica recai muito bem no piloto que será falado hoje. Gilles Villeneuve não foi Campeão Mundial de F1, tem poucas vitórias no currículo e não raras vezes, o canadense abandonava corridas por erros até infantis. Porém, a pilotagem com o qual Villeneuve passou a ser conhecido no início dos anos 80 entrou no imaginário dos fãs de automobilismo, com sua agressividade indomável, selvagem até, fazendo com que Gilles entrasse para a história da F1. De estatura pequena e extremamente amável fora das pistas, este piloto que ficou eternizado com sua Ferrari de número 27 ganhou o respeito e a admiração de todos que o acompanharam nos seus seis anos na F1, onde presenteou a todos que gostam de corridas com atuações que fazem deste piloto com poucas vitórias, uma figura inesquecível. Sua ligação umbilical com a Ferrari, mais a morte abrupta e cercada polêmica, aumentou ainda mais a lenda de Gilles Villeneuve e se o canadense fosse vivo, estaria completando 60 anos na última semana e por isso vamos olhar a fantástica carreira desse canadense.

Joseph Gilles Henri Villeneuve nasceu na pequena cidade de Richelieu no dia 18 de janeiro de 1950, na província de Quebec, no Canadá, mas Gilles passaria sua infância simples na cidade de Berthieville. Filho de um afinador de pianos e de uma dona de casa, Gilles Villeneuve primeiro se enveredou pela música, onde tocou alguns instrumentos, mas seu pai o levou para ver algumas corridas no circuito de Mont Treblant e Gilles foi atingido pelo vírus da velocidade, decidindo que se tornaria piloto. Aos 15 anos, papai Villeneuve presenteia o filho com um carro velho e Gilles mostra seu estilo de guiar logo cedo. Ele destrói o carro! O pequeno canadense só sabia correr com o pé na tábua, acelerando o mais rápido possível. Quando tirou a carteira de habilitação aos 16 anos, ele conseguiu comprar seu primeiro carro, um Skoda, e no ano seguinte ele começaria a competir em corridas de motoslittle, uma espécie de trenó na neve, que chegava a atingir os 100 km/h. Gilles se torna um dos melhores pilotos do mundo da modalidade, mas para financiar as provas na neve, ele teve que trabalhar numa empresa de construção civil em sua cidade. Aos 18 anos ele se torna Campeão Americano e em 1972 ele vence o Campeonato Canadense de Snowmobile, algo que repetiria em 1973. Gilles seria bicampeão mundial em 1975 e 1976, inclusive inventando um novo conceito de suspensão independente, onde todos os demais pilotos imitariam mais tarde.

Em outubro de 1970 ele se casa com Johann Barthe e o primeiro filho nasceria meses mais tarde, tendo o mesmo nome do irmão mais novo de Gilles: Jacques Villeneuve. Melaine, segunda filha do casal, nasceria em 1973. Enquanto dominava as corridas de trenó no inverno, Gilles reviveu outra paixão no verão, quando em 1971 ele passou a participar de corridas de arrancada com um Mustang 1967, mas o canadense não tinha dinheiro o suficiente para bancar corridas de carros e passa a financiar seu sonho com o dinheiro que ganhava como piloto profissional de snowmobile. Cansado de correr apenas por 400 metros e em linha reta, Gilles foi ao circuito de Mont Tremblant para se matricular na famosa escola de pilotagem inglesa de Jim Russell, que tinha uma franquia no Canadá, para conseguir a licença para correr. Em 1973, Villeneuve participa do Campeonato de F-Ford da província de Quebec e o franco-canadense não decepciona ao vencer sete das dez corridas, se sagrando campeão com enorme facilidade. E como não tinha muito dinheiro, ele utilizou um chassi com dois anos de uso! Como queria evoluir rapidamente dentro do automobilismo, Gilles Villeneuve não mediu esforços e para conseguir um lugar na Ecurie Canadá de F-Atlantic, ele vende sua casa e sua família passa a morar num motorhome, enquanto Gilles dirigia o caminhão em direção aos autódromos. Sua primeira corrida foi em Westwood, onde terminou em 3º, mas quatro corridas depois, em Mosport Park, Villeneuve perdia o controle do seu carro e bate violentamente no muro, quebrando sua perna em dois lugares. Seria a única vez que o canadense quebraria algo com um acidente no automobilismo.

Gilles acabaria perdendo o resto da temporada tratando de sua perna e fazendo parte de sua ‘fisioterapia’, ele usaria seu Mustang numa viagem longa para praticar o uso do pedal da embreagem. Sem dinheiro para permanecer na Ecurie Canadá, Gilles tem que arrumar dinheiro nas corridas em snowmobile para uma segunda temporada na F-Atlantic em 1975, desta vez com uma equipe própria. E foi com sua equipe que o jovem piloto conseguiu sua primeira vitória na categoria, debaixo de um temporal no circuito de Gimli, após ter largado em 19º. Não restavam dúvidas que sua experiência nas corridas na neve lhe deu uma ajuda nas provas em pistas escorregadias, onde Gilles poderia usar seu talento em condições traiçoeiras e difíceis. Onde outros pilotos usavam a prudência, Gilles simplesmente acelerava mais e mais... Villeneuve terminaria o campeonato da F-Atlantic em 5º lugar, mas o canadense tomaria uma decisão importante na sua vida ao final do ano. Ele se dedicaria unicamente ao automobilismo para realizar o sonho de correr na F1. “Eu tenho que ter um bom ano em 1976 para que as equipe de Fórmula 1 me notem”, falava Villeneuve. E Gilles começava a fazer isso! Na época, a principal corrida da F-Atlantic era em Trois-Rivieres, um apertado circuito de rua que poderia ser comparado a corrida de F3 em Mônaco, palco principal de pilotos aspirantes a estrela na Europa. Tradicionalmente a corrida recebia convidados ilustres e em 1975 Patrick Depailler e Jean Pierre Jarier ficaram abismados com a agressividade de Villeneuve. Com essa atuação, Gilles recebeu convites para integrar as melhores equipes de F-Atlantic em 1976 e ele acabou escolhendo a Escurie Canadá, a mesma que andou em 1974. Porém, Gilles teria um final diferente, vencendo o campeonato após conseguir nove vitórias em dez provas. Em junho, o canadense foi a Europa participar da tradicional corrida de Pau de F3, justamente para divulgar a corrida em Trois-Rivieres. Andando na equipe de Ron Dennis, Gilles não completa sua primeira corrida na Europa, mas convence James Hunt, Alan Jones e Chris Amon a participaram da corrida canadense no final de 1976. Seria a primeira vez que o canadense apareceria para um público influente na F1. Villeneuve vence de forma atordoante a prova no circuito de rua e chama a atenção de todos os pilotos, James Hunt em particular, que imediatamente procura seu chefe na McLaren, Teddy Mayer, para contratar rapidamente aquele canadense baixinho que tinha acabado de bater de forma inapelável o atual Campeão Mundial de F1. Era o começo da lenda Gilles Vileneuve!

Mayer tinha contrato com a Marlboro e a tabaqueira não parecia muito interessada no canadense, mas Hunt tinha sido tão incisivo que o chefe da McLaren contratou Villeneuve para algumas corridas em 1977, num terceiro carro, com a opção para assinar contrato como piloto titular em 1978. Enquanto esperava uma chance na F1, Villeneuve ficou mais um ano na F-Atlantic, agora com a equipe oficial da March, mas o que poderia indicar uma temporada ainda mais fácil se tornou uma disputa espetacular com outro piloto conhecido por sua agressividade: Keke Rosberg. O finlandês veio da F2 Européia e de um enorme trabalho a Villeneuve, com ambos conseguindo várias dobradinhas nas corridas e protagonizado disputas históricas pela ponta em todas as provas. “Villeneuve foi o f.d.p. mais rápido com o qual já disputei uma corrida, mas ele sempre foi justo comigo,” falaria Rosberg mais tarde. Apesar da enorme agressividade do canadense, os demais pilotos o respeitavam justamente por Gilles nunca ter colocado ninguém para fora da pista e ter sido ético em todas as disputas com que teve. Villeneuve acabaria conquistando o bicampeonato da F-Atlantic, com Rosberg ficando com o vice. Em julho de 1977, Villeneuve foi chamado pela McLaren para fazer parte da equipe no Grande Prêmio da Inglaterra em Silverstone e mesmo sem conhecer o carro e a pista, o canadense topou na hora. Como haviam vários carros inscritos, Gilles teria que passar por uma pré-classificação e o canadense ainda teria que usar o velho modelo M23, enquanto Hunt e Jochen Mass, os pilotos regulares da McLaren naquele ano, usariam o avançado M26. Durante a pré-classificação, Villeneuve roda várias vezes, mas fica com o melhor tempo da sessão, indo com facilidade para a definição do grid. No sábado, o canadense deixa a imprensa especializada de queixo caído ao ficar em 9º na Classificação, à frente de Mass, que dispunha de um carro mais novo. Na corrida, Villeneuve faz uma corrida agressiva e já aparecia em 5º quando um indicador de temperatura indicou uma anormalidade e o canadense foi aos boxes. Realmente havia um problema, mas no indicador de temperatura, que estava com problema. Gilles voltou a prova e de uma forma espetacular, ainda chegou em 11º, exibindo uma pilotagem agressiva que lhe permitiu a quinta volta mais rápida da corrida. A imprensa inglesa logo se apaixona por esse canadense baixinho e todos passam cortejar Villeneuve. Porém, a McLaren tinha a prioridade de contratar a sua nova promessa, mas Mayer estava sendo pressionado pela Marlboro para contratar o francês Patrick Tambay, que também vinha fazendo uma impressionante temporada de estréia na pequena Ensign. De forma incrível, Mayer contrata Tambay para 1978 na vã esperança de que o francês poderia ser um piloto tão brilhante quanto Villeneuve. Ironicamente, Tambay e Villeneuve se tornam muito amigos. Villeneuve se decepciona e volta ao Canadá para assinar um contrato com a Wolf no campeonato de Can-Am. Porém, a corrida em Trois-Rivieres em 1976 teve outras personagens marcantes que acabariam por ajudar Villeneuve indiretamente.

A Ferrari tinha o piloto campeão do mundo, mas Niki Lauda estava insatisfeito na equipe italiana, anunciando que iria para a Brabham em 1978 por um contrato milionário. Enzo Ferrari era conhecido por não gostar de pagar salários altos aos seus pilotos e estava procurando alguém barato para 1978. Chris Amon, antigo piloto da Ferrari e conhecido como “Rei do Azar”, estava em Trois-Rivieres em 1976 e também tinha ficado impressionado com Villeneuve. Quando Enzo Ferrari perguntou a Amon o que achava de Gilles, o neozelandês não economizou nos elogios. “Eu só conheço um piloto no mundo que tinha o mesmo controle que Gilles tem. E esse piloto era Jim Clark.” Em agosto de 1977 a Ferrari entrou em contato com Villeneuve e o canadense foi a Fiorano no mesmo mês para um teste. Quando Enzo Ferrari viu a figura diminuta de Gilles chegando para testar um dos seus carros, imediatamente o comendador se lembrou de Tazio Nuvolari. “Vamos dar-lhe uma oportunidade!”, pensou o velho chefe de equipe. Nervoso, Gilles cometeu alguns erros e não marcou tempos competitivos, mas ainda assim foi contratado pela Ferrari para a temporada de 1978 e as três últimas provas de 1977. “Se alguém pudesse me conceder três desejos, meu primeiro seria correr, a segunda seria ir para a F1 e a terceira era pilotar para a Ferrari”, falou Gilles quando ele foi contratado. Porém, a estréia de Villeneuve na Ferrari não seria das mais tranqüilas. Lauda fica furioso após o Grande Prêmio dos Estados Unidos em Watkins Glen quando seu engenheiro foi demitido de forma abrupta e o austríaco abandona a equipe nas vésperas do Grande Prêmio do Canadá. Villeneuve estava inscrito para a corrida em um terceiro carro de número 21 e mesmo correndo em casa, Gilles não impressionou muito, largando em 17º e abandonando após rodar no óleo deixado por outro carro, já no final da prova. Já como segundo piloto, Villeneuve foi ao Grande Prêmio do Japão e apenas na sua terceira corrida, Gilles encara sua primeira tragédia e polêmica da sua carreira. Ronnie Peterson era considerado o piloto mais espetacular da F1 nos anos 70 e por isso o sueco ganhou vários fãs em todo o mundo, inclusive Gilles Villeneuve, que se encantou e se inspirou na pilotagem de Peterson. No Japão, no circuito de Monte Fuji, Villeneuve largaria próximo do sueco e ainda no início da corrida, o canadense entrou no vácuo do Tyrrell de Peterson na reta dos boxes, mas Gilles calcula mal a manobra e acaba tocando na roda traseira do Tyrrell. A Ferrari de Villeneuve alça vôo, capota e aterrisa fora da pista. O canadense falaria mais tarde que pensou no pior, mas milagrosamente Villeneuve saía do acidente praticamente ileso, mas infelizmente havia algumas pessoas que estavam naquele local, de forma proibida, e duas acabaram mortas e outras dez ficaram feridas. Gilles fica arrasado, mas posteriormente as investigações concluem que o canadense não teve culpa, pois as pessoas estavam em local proibido. Porém, Peterson não pensou assim. O sueco criticou bastante Villeneuve e no Grande Prêmio do Brasil de 1978, em Jacarepaguá, os dois voltariam a se encontrar e num incidente de corrida, Peterson acaba levando a pior e tem que abandonar. O então piloto da Lotus passou várias voltas acenando para Villeneuve, o culpando pela manobra. Peterson morreria no final desse ano e Villeneuve assumiria a alcunha de piloto mais espetacular da F1. Para muitos esses dois encontros desses dois mitos foi uma espécie de passagem de bastão. Foi um momento histórico, que as pessoas só perceberiam a importância apenas anos mais tarde.

Menos experiente do que seu companheiro de equipe Carlos Reutemann, Villeneuve seria claramente um aprendiz dentro da Ferrari, mas outras pessoas já viam talento no canadense. Quando a imprensa brasileira perguntou a Emerson Fittipaldi sobre o que tinha achado dos treinos de pré-temporada de 1978 em Paul Ricard, o veterano campeão não apontou nenhuma equipe. “Vi um piloto muito rápido numa Ferrari, mas ele ainda é muito imaduro.” Nem precisa dizer quem Fittipaldi estava se referindo. Após anos morando em um motorhome, Villeneuve teve que vender seu trailer e seu Ford Bronco para alugar uma casa na França, mas Gilles não abandonaria completamente seu estilo de vida cigano e logo compra um pequeno motorhome para ir com a família nos autódromos, não indo a hotéis quando corresse na Europa. Foi no final de 1977 que Villeneuve se interessou em helicópteros e em 1978 ele tirou licença de piloto. Suas viagens em helicópteros se tornaram célebres, com o canadense sendo tão maluco no volante de sua Ferrari, como no manche de seu pequeno aparelho Augusta. De volta a F1, Villeneuve não começa muito bem o ano, com sua Ferrari ainda se adaptando aos novos pneus Michelin e o canadense ainda se envolvendo em acidentes. Em termos de velocidade, todos sabiam que Gilles tinha, só lhe faltava um pouco mais de maturidade. Um exemplo claro aconteceu no Grande Prêmio de Long Beach, quarta prova do Mundial de 1978. Após largar na primeira fila no apertado circuito de rua, Gilles toma a liderança de Reutemann e passa a dominar a corrida. Villeneuve fazia uma prova soberba, mas quando se aproximou de colocar uma volta no retardatário Clay Regazzoni, o piloto da Ferrari acaba forçando a barra e leva a pior, tendo que abandonar após liderar por 39 voltas. Após outro acidente em Mônaco, Villeneuve marca seus primeiros pontos na F1 em uma pista que lhe seria eternamente marcante: Zolder. Quando Villeneuve passa por uma má fase no meio da temporada, a imprensa italiana começa a forçar a saída do jovem canadense, mas Gilles passa a domar um pouco mais sua ferocidade e passa a marcar pontos de forma constante. Em Monza, prova marcada pela morte de Peterson, Gilles larga novamente na primeira fila e chega colado no vencedor Mario Andretti, mas uma posterior punição aos dois primeiros colocados deixa Villeneuve apenas em 7º na Classificação final. A essa altura, todos sabiam que Reutemann iria para a Lotus e que o time italiano buscava outro piloto. Andretti e Tambay chegaram a ser cogitados, mas a equipe acabou escolhendo Jody Scheckter para 1979, com Villeneuve tendo um voto de confiança da equipe. Porém, esse voto seria reforçado na última corrida de 1978, no Grande Prêmio do Canadá. Os pilotos estavam revoltados com a segurança de Mosport Park e chegaram a anunciar que boicotariam a corrida canadense, então os organizadores resolveram promover uma corrida em Montreal, na ilha artificial de Note Drame. A pista era considerada lenta para os padrões da época e ainda seria realizada num frio glacial. A pista era desconhecida até para Villeneuve, mas correndo muito próximo de casa, o canadense se superou e para delírio do público local, ele vence sua primeira corrida na F1, quando Jean Pierre Jarier abandonou quando liderava. Em apenas dezenove corridas, Gilles Villeneuve se tornava uma estrela da F1.

Apesar de terem a mesma idade, o novo companheiro de equipe de Gilles Villenuve na Ferrari em 1979, Jody Scheckter, era muito mais experiente do que o canadense e chegava à equipe com algum cartaz. Porém, a garra e a determinação de Gilles dentro da pista e simplicidade fora delas faziam de Villeneuve uma pessoa extremamente querida no seio da Ferrari, do ajudante de mecânico a Enzo Ferrari. Scheckter tinha que superar isso, se quisesse realizar o sonho de ser campeão e por isso não faltou quem desconfiasse de que a convivência da nova dupla da Ferrari não seria nada boa, mas ao contrário do imaginado, Villeneuve recebeu Scheckter de braços abertos e dois se tornaram grandes amigos. A Ferrari começa o ano ainda com o carro de 1978 e o domínio inicial é da equipe Ligier, com Jacques Laffite e Patrick Depailler, mas quando a Ferrari lança seu novo modelo, o 314T4, na terceira corrida da temporada, em Kyalami, a cena do campeonato muda de figura. Gilles larga em 3º, mas ainda no início da prova uma chuva torrencial causa a interrupção da corrida, mas da mesma forma que a precipitação foi forte, foi também rápida e a relargada teve a dramaticidade de qual pneu usar. Scheckter, piloto local,que poderia ler melhor as condições, preferiu colocar pneus slicks, enquanto Villeneuve escolheu pneus de chuva. Como esperado, Gilles assumiu a liderança da corrida, mas logo a pista começou a secar e Villeneuve teve que trocar seus pneus, ainda na volta 15. Scheckter liderava com folga, mas seus pneus se deterioraram mais rápido do que o normal e o sul-africano teve que fazer um pit-stop no final da prova, fazendo com que Villeneuve reassumisse a ponta e vencesse sua segunda corrida na F1. Em ótima fase, Gilles consegue sua primeira pole em Long Beach, local que tinha ficado próximo de vencer em 1978 e com uma atuação magistral, o piloto da Ferrari vence a prova de ponta a ponta e liderava o campeonato de F1 pela primeira vez na carreira. Porém, isso foi o início de uma série de quebras e a ascensão de Scheckter. Após abandonar em Mônaco, quando estava em 2º, e perdeu a ponta do campeonato, Villeneuve declarou. ‘Eu tive azar. Tudo está funcionando contra mim. Eu deveria estar dez pontos à frente, mas as coisas aconteceram de forma contrária.’ Porém, a corrida monegasca foi o prenúncio da primeira prova histórica de Villeneuve.

Em Dijon-Prenois, a ascendente Renault planejava conquistar sua primeira vitória na F1 em casa e usando sua pista de testes, Jean-Pierre Jabouille e René Arnoux fizeram a dobradinha no grid para o Grande Prêmio da França de 1979. Villeneuve colocou sua Ferrari em 3º no grid. O motor turbo da Renault emanava uma potência absurda, mas tinha um defeito crônico nas largadas, pelo retardo do turbo e como resultado, as largadas eram uma dor de cabeça para Jabouille e Arnoux. Em Dijon não foi diferente e ambos perderam posições antes da primeira curva, enquanto Villeneuve, já conhecido pela sua astúcia no sinal verde, disparou na frente. Porém, Jabouille se manteve por perto e não demorou a assumir a ponta e vencer de forma até tranqüila seu primeiro GP e da Renault. O povo francês ficou feliz e não faltou festa para a Renault, mas o que interessava era o que estava acontecendo mais atrás. Arnoux fazia uma excelente prova de recuperação e se aproximava de Villeneuve, que a essa altura sofria com problema de pneus. Quando o francês colou na traseira da Ferrari, seu turbo apresentou um pequeno problema que fazia seu motor cortar no final da reta dos boxes. Parecia um sinal dos deuses para deixar Villeneuve e Arnoux em condições praticamente idênticas de condições. Faltando quatro voltas, Arnoux começou o ataque em cima de Gilles, que não esmorecia frente a pressão imposta pelo piloto da Renault. A essa altura, a TV e o público que compareceu a Dijon nem prestava mais atenção em Jabouille, que completava as últimas voltas do seu primeiro triunfo. O que Gilles e René fizeram naquelas quatro últimas voltas do Grande Prêmio da França de 1979 não pode ser descrito simplesmente em palavras e entrou para a história do esporte a motor, com vídeos, fotos e desenhos reverenciando o que esses dois pilotos foram capazes de realizar. Villeneuve acabou por manter a 2º posição, mas ninguém parecia muito animado com isso. Jeremy Clarkson, o famoso apresentador do programa inglês Top Gear, quando se lembra daquele GP da França, exclama que Gilles foi ‘o melhor piloto que alguma vez sentou seu rabo num cockpit de F1.’ Villeneuve passou a ser reverenciado pelo o que fez, mas o que diz Arnoux? “O duelo com Gilles é algo que eu nunca vou esquecer, o meu maior souvenir das corridas. Você só pode disputar assim com alguém em que você confie de olhos fechados, e você não vai encontrar muitas pessoas como ele. Ele me bateu, sim, e na França, mas isto não me incomoda. Eu sei que fui vencido pelo melhor piloto do mundo!”

Na corrida seguinte, na Inglaterra, Villeneuve e Arnoux foram chamados pela cúpula da GPDA, nas pessoas de Lauda, Scheckter e Fittipaldi, para uma reunião. O austríaco foi logo criticando a manobra dos dois, dizendo que aquilo tinha manchado a reputação dos pilotos da F1. Arnoux respondeu que aquilo nunca aconteceria com Lauda, pois “você logo tiraria o pé”. Aquilo desarmou Lauda e os demais e Gilles saiu da sala rindo do atrevimento do colega. Villeneuve não consegue acompanhar a regularidade de Scheckter e perdia contato com o companheiro de equipe no Campeonato Mundial. Porém, em Zandvoort, Gilles faria história novamente. Gilles fazia uma prova de recuperação no Grande Prêmio da Holanda e estava em 2º, colado na Williams de Alan Jones. Na metade da prova, Villeneuve efetua uma ultrapassagem antológica sobre o australiano, por fora, na perigosa curva Tarzan, e assumia a liderança da prova, porém a manobra faz com que o pneu traseiro esquerda da Ferrari fosse atingido por uma pedra e um furo lento fizesse com Gilles rodasse na curva Panorama algumas voltas depois e posteriormente na própria curva Tarzan, já com o pneu em frangalhos. Em vez de abandonar, o piloto da Ferrari engata uma ré e volta à pista, se equilibrando em três rodas em uma forma que entrou para a história. Ao chegar aos boxes, Villeneuve pediu para os mecânicos trocarem o pneu furado, mas quando o canadense desceu do carro, viu que não apenas o pneu, mas toda a suspensão estava arrebentada. Gilles foi muito criticado pela manobra, chegando a ser acusado de não gostar de carros. Porém, o conceituado Dennis Jenkinson saiu em defesa de Gilles. “A sua atitude e seu julgamento em alta velocidade, os seus reflexos, a sua tenacidade e a alegre excitação do seu estilo de pilotagem faz com que todos tenham vontade de ir a um circuito apenas para vê-lo em ação.” Com poucas chances de ser campeão, mas ainda com gana para vencer a prova italiana, Villeneuve encararia a prova em Monza como outra qualquer, mas aquela corrida poderia definir o título de Jody Scheckter de forma antecipada. Além de Gilles, outro que poderia impedir o título de Scheckter era Laffite e era justamente isso que a Ferrari não queria, mesmo com o sul-africano com a mão no título, precisando apenas de uma vitória para ratificar o conquista. Largando na primeira fila, atrás de Scheckter, Villeneuve teve a surpresa de ver a chegada de Enzo Ferrari chegando em seu carro antes da largada. De forma bem paternal, Enzo falou para Gilles. “Esse título é de Jody. Você ainda é muito jovem, o próximo será seu.” Enzo Ferrari e Gilles Villeneuve realmente tinham uma relação superior a de simplesmente empregador e empregado, como muitas vezes Enzo tratava seus pilotos. Era, praticamente, de pai para filho. Conta a lenda que muitas vezes, após os testes, Enzo perguntava a Gilles como estava o carro. “Uma bosta!”, clamava o canadense, mas ao contrário do que todos imaginavam, Enzo, que tratava todos os seus carros como uma obra de arte, adorava o jeito direto de Villeneuve. Voltando a Monza/79, Villeneuve passou a corrida inteira atrás de Scheckter, com os adversários da Ferrari caindo um a um, deixando apenas a dupla da Ferrari sozinha para conquistar não apenas o Mundial de Pilotos para Scheckter, como também o Mundial de Construtores. Porém, essa promessa não seria esquecida por Villeneuve e seria cobrada mais tarde...

Porém, a Ferrari ainda queria garantir o vice-campeonato para Gilles e concentrou suas forças no canadense nas duas últimas corridas do ano. Correndo em casa, Villeneuve fica em 2º no grid, atrás do pole-position Alan Jones. Na corrida, Villeneuve assumiu a liderança na largada, mas Jones retomou a ponta no meio da prova, contudo Gilles não desistiu jamais e tentou a ultrapassagem que lhe daria a vitória até o final. Nessa época Jones era considerado o piloto mais duro da F1, mas ele tinha um respeito profundo por Villeneuve que passou a ser admiração pura e simples. Alan Jones comentou sobre Gilles após a corrida. “Eu o ultrapassei e quando estava na liderança, consegui abrir um pouco de diferença. Mas tão logo eu diminui minimamente o ritmo, a red bloody shit box (algo como aquela bosta de caixa vermelha) estava nos meus retrovisores! Villeneuve é inacreditável, ele nunca desiste. Ele é o melhor piloto contra quem eu competi e eu gostei das minhas disputas com ele, mas do que qualquer outro, porque com ele sei o que esperar. Ele nunca vem para cima de você, nunca lhe aperta contra o muro ou usa qualquer outro truque.” O 2º lugar em Montreal não foi suficiente para Gilles assegurar o vice-campeonato e por isso fez outro feito memorável em Watkins Glen, no Grande Prêmio dos Estados Unidos, última etapa de 1979. A sexta-feira estava muito chuvosa em Glen e por isso a pista estava encharcada, praticamente impraticável no primeiro treino. Quando o então Campeão Mundial Jody Scheckter desceu de sua Ferrari, ele se assustou ao ficar com o 2º tempo marcado e deu o seguinte depoimento. ‘Eu fiquei assustado da maneira como guiei em minha volta mais rápida. Tinha certeza que eu tinha a melhor volta. Depois eu vi o tempo de Gilles. Eu até agora não entendo como aquilo foi possível. Ele tinha sido 11s mais rápido! Eu ainda acrescento: onze segundos por volta sobre o segundo colocado no treino, numa pista de pouco mais de 5 km. Isso é coisa para extra-terrestres ou magos.” E.T. ou não, Villeneuve dominou a corrida americana e com sua terceira vitória na temporada, garantia o vice-campeonato. Com tamanhas realizações, Villeneuve se torna o favorito absoluto para 1980, tanto pela imprensa como para a torcida. Gilles era o favorito nas casas de apostas de Londres, provando sua popularidade, mas na verdade, todos passaram a torcer pelo canadense. Villeneuve se tornava cada vez mais um mito, uma lenda viva, mesmo sem títulos ou vitórias.

Porém, a Ferrari resolveu apostar nos motores turbo, vide o sucesso que vinha fazendo os propulsores franceses da Renault. Contudo, a equipe italiana não tinha nada pronto para 1980 e resolver usar o ano como laboratório para a estréia do turbo em 1981. Pensaram os italianos que a simples evolução do modelo 312T4 seria suficiente para um ano competitivo em 1980. Com Scheckter já campeão, Villeneuve toma as rédeas da equipe e os resultados não são tão ruins no início do ano, mas a falta de foco no desenvolvimento do carro faz com que a temporada de 1980 seja considerada a pior da história da Ferrari na F1. Após uma decepcionante 22º posição no grid para o Grande Prêmio do Canadá, Villeneuve desabafou. “É impossível competir a sério numa corrida com um carro tão ruim como esse. Será um milagre eu terminar entre os dez primeiros.” Como sempre, Gilles fez milagre e terminou sua corrida caseira em 5º, marcando raros pontos numa temporada difícil, mas ainda com momentos interessantes para o canadense. No Grande Prêmio da Itália de 1980, excepcionalmente realizado em Ímola, Villeneuve dá mostras de como sua garra estava intacta, mesmo com todas as dificuldades. Andando claramente mais do que o carro, Gilles estava milagrosamente na 4º posição no início da prova, quando ele saiu da pista na curva entre a Tamburello e a Tosa. Apesar de o carro ter ficado destruído, Villeneuve emergiu ileso do acidente e tinha acabado de batizar a curva de Villeneuve. Extremamente desmotivado, Scheckter anuncia a sua aposentadoria no final de 1980 e a Ferrari procura um novo companheiro de equipe para Villeneuve. Enzo Ferrari fica extremamente impressionado com a atuação de Didier Pironi no Grande Prêmio da Inglaterra de 1980 e o contrata. Villeneuve recebe Pironi de braços abertos e logo eles se tornam amigos, principalmente por falaram a mesma língua. O novo modelo, 126CK, com motor turbo, é mostrado ao mundo no inverno 80-81 e mostrava que os italianos tinham acertado em cheio na questão potência, mas errado bizonhamente no quesito chassi. O motor tinha tanta potência que Mauro Forghieri construiu um chassi tubular!

Logo de cara o carro mostrou potencial e Villeneuve derrotou Pironi com certa facilidade nas primeiras provas, mas a Ferrari ainda pecava no quesito confiabilidade e o canadense abandonou nas três primeiras etapas de 1981. Em Ímola, Villeneuve consegue sua segunda e última pole na carreira, mas o novo Grande Prêmio de San Marino acabaria marcado pelo tempo instável e escolhas erradas de Gilles fizeram com que ele ficasse longe da briga pela vitória. Após marcar seus primeiros pontos do ano em Zolder, Gilles foi ao circuito em que sua Ferrari deveria se comportar pior: Mônaco. O tradicional circuito de rua favorecia claramente os carros com chassi mais equilibrados e a Ferrari era considerada o pior chassi do grid, apenas se safando pela exuberante potência de seu motor, mas as curvas apertadas e pequenas retas não faziam com que o propulsor italiano mostrasse sua exuberância. Nos treinos, a expectativa se confirmou com Pironi ficando apenas em 16º no grid, o que não surpreendia para um piloto bom e normal como o francês e um carro claramente fora do seu habitat natural. Para um piloto abençoado e excepcional como Gilles Villeneuve, isso não era o bastante. A primeira fila do canadense foi um choque a todos! Como era possível um monstrengo daquele, a Ferrari 126CK, ficar em 2º no grid? Apenas Gilles era capaz disso, mas ainda faltava a corrida. O pole Piquet se mantém na frente, enquanto Villeneuve começava a segurar um pelotão atrás de si, liderado por Mansell, Reutemann e Jones. A Ferrari parecia um touro indomável, mas apenas um cavaleiro do quilate de Villeneuve poderia segurá-lo. Então, Mansell e Reutemann acabaram por abandonar ao tentarem ultrapassar o canadense, deixando o campeão Alan Jones a difícil missão de ultrapassar o ferrarista. Muitos acusavam Villeneuve de ser um destruidor de carros pela sua forma de guiar, mas o canadense parecia ainda mais inspirado naquele dia e praticamente deixou Jones passar. Villeneuve sabia da pouca paciência de Jones. O australiano passou a perseguir Piquet, mas o brasileiro acabou se atrapalhando com o retardatário Patrick Tambay e bate no guard-rail. Jones assumia uma confortável liderança, enquanto Villeneuve se batia com sua Ferrari na 2º posição. Faltando poucas voltas para o fim, Jones tem problemas com seu Williams e vai aos boxes. O impossível estava prestes a acontecer. Villeneuve assumia a liderança e nas últimas voltas a torcida parecia que invadiria a pista para empurrar o canadense rumo a vitória, conseguida de forma quase milagrosa. O staff da Ferrari levantava as mãos aos céus. Villeneuve dava a primeira vitória para a Ferrari depois de um ano e meio e começava a mostrar que a aposta da equipe nos motores turbo poderia funcionar. Após essa imensa alegria, Villeneuve e a Ferrari foi a Jarama, uma espécie de Monte Carlo sem muros. A pista espanhola tinha as mesmas características de Mônaco, mas ninguém poderia duvidar de Villeneuve. O canadense consegue o 7º melhor tempo na Classificação, mas isso era pouco para as características de Gilles e logo na largada ele pula para 3º. Ao final da primeira volta, o canadense usa a potência do seu motor Ferrari para fazer uma audaciosa ultrapassagem por fora em cima de Carlos Reutemann na 1º curva. Porém, Jones já disparava na frente e Gilles tinha que segurar o ímpeto argentino na briga pela 2º posição. Na verdade, Villeneuve fazia das tripas coração para se manter à frente de Reutemann nas curvas lentas do miolo da pista, mas conseguia se segurar na reta do box e chegava para a freada da curva 1 com uma boa vantagem sobre a Williams de Carlos. Na volta 16, Jones roda e entrega a liderança para Villeneuve. Porém, era a décima sexta volta de uma corrida de 80 voltas e poucos imaginavam que Gilles poderia agüentar o rojão por tanto tempo. Mas o canadense se segurava. Saía da pista, fritava os pneus nas freadas, atravessava no meio das curvas... Villeneuve dava a impressão que aquela era a corrida em que sua vida dependia para continuar. Reutemann parecia embasbacado com a pilotagem de Villeneuve e apenas o seguia de perto, mas outros começaram a chegar. Primeiro foi a McLaren de John Watson. Mais atrás, a Ligier de Jacques Laffite, que tinha feito a pole e largara mal, se aproximou do agora trio. Para se ter uma idéia da diferença de ritmo, Laffite era facilmente 2s mais rápido por volta do que Villeneuve. Nas voltas finais, Elio de Angelis encostou sua Lotus no trenzinho que liderava a prova. E Gilles se segurava. Provando seu favoritismo, Laffite ignora as dificuldades de ultrapassagem de Jarama e ultrapassa Watson e Reutemann, partindo para cima de Villeneuve. Ainda faltavam 18 voltas...

O mundo prendeu a respiração, com cinco pilotos brigando pela ponta, sendo que quatro eram claramente mais rápido do que o primeiro da fila. Mas quem estava na ponta era Villeneuve. Ele não errava, mas andava além do limite. Laffite tinha muito mais carro, mas não parecia capaz de ultrapassar o canadense. Faltavam quatro, três, duas voltas... O mundo parecia não acreditar no que via. Num mesmo movimento do diretor de prova, os cinco primeiros colocados receberam a bandeirada final e Villeneuve se consagrava definitivamente entre todos na F1, seja pilotos, público ou imprensa. “Hoje, somente Villeneuve ultrapassaria Villeneuve,” contou o 2º colocado Laffite. Harvey Postlethwaite, projetista da Ferrari 126C2, atestava a ruindade do carro e a genialidade de Gilles. ‘Esse carro tinha um quarto do downforce de Brabham ou Williams. Nós tínhamos uma vantagem sobre os motores Cosworth, lógico, mas também uma grande diferença no acelerador. Em termos de habilidade pura, Gilles estava em plano diferente dos demais pilotos. Para vencer essas duas corridas, Monte Carlo e Jarama, circuitos apertados, era praticamente impossível, pois sabia que o carro ruim.” O que ninguém sabia nesse momento era que esta obra-prima tinha sido a última vitória de Gilles Villeneuve na F1. Uma série de abandonos fizeram com que o piloto da Ferrari ficasse longe da briga pelo título, apesar das duas vitórias, mas antes do final da temporada, Villeneuve ainda teria tempo para dar outro show. O Grande Prêmio do Canadá de 1981 seria realizado debaixo de muita chuva e mesmo correndo em casa, Gilles teria que lidar com a potência do seu motor numa condição de pista em que se requeria muito mais cuidado com o acelerador. Largando em 11º, Villeneuve mostrou que era mesmo um mestre em condições difíceis e rapidamente apareceu em 2º, mas John Watson começou a pressionar o canadense, efetuando a ultrapassagem no meio da prova. Mostrando toda a sua gana, Villeneuve não desistiu e tentou revidar no hairpin, mas Watson fecha a porta e Gilles roda. Pior do que isso, a asa dianteira da sua Ferarri estava quebrada e se deformava a cada momento. Se deformava a ponto de Villeneuve ficar praticamente sem visão, com o aparato em pé, bem na sua frente! Porém, Gilles não tirou o pé em nenhum minuto e todos esperavam um acidente que somente a destreza do canadense não permitiu, mesmo com a peça acabando por voar algumas voltas depois. Mesmo sem o bico do carro, Villeneuve acabaria a prova em 3º.

Após um ano difícil, Villeneuve esperava se recuperar em 1982 e a Ferrari mostrava isso sendo a mais rápida nos treinos de inverno, mesmo com o efeito-solo ter provocado um perigoso acidente com Pironi, com o francês saindo voando após perder o controle do carro. Assim como tinha acontecido com os seus outros companheiros de equipe, Villeneuve fica muito amigo de Pironi, mas o francês desejava ser o primeiro Campeão Mundial de F1 vindo da França e sabia que essa era a oportunidade ideal. Villeneuve podia ser agressivo dentro da pista, mas todos o adoravam fora delas. “Ele foi piloto mais louco que eu conheci, mas também a pessoa mais afável que eu já conheci”, falou Niki Lauda sobre Villeneuve. Totalmente apolítico, Gilles nunca entrava em posições polêmicas dentro da política da equipe, mas no início de 1982 Pironi chamou o diretor esportivo da Ferrari, Marco Piccinini, para ser o padrinho do seu casamento, deixando Villeneuve de fora da festa. Pironi adorava os jogos políticos e isso ficou claro quando o francês liderou a greve de pilotos, juntamente com Lauda, durante o Grande Prêmio da África do Sul. Em Kyalami, Pironi andou no mesmo ritmo de Villeneuve, mesmo que ambos acabassem por abandonar. No Brasil, Gilles protagoniza uma espetacular disputa contra Nelson Piquet e seu velho rival Keke Rosberg pela liderança, com o piloto da Ferrari acabando por abandonar quando estava na liderança, lado a lado com Piquet numa curva. Perguntado se estava decepcionado por ter jogado pontos fora, Villeneuve fulminou. “Claro que quero ser Campeão Mundial, mas não apenas ficando em 3º e 4º.” Em Long Beach, a Ferrari afrontava as regras da FISA, no auge da famosa Guerra FISA-FOCA, e instala uma asa traseira dupla nos seus carros e Villeneuve fica em 7º no grid. “Essas asas não são necessariamente mais eficientes. O objetivo é mostrar como é fácil interpretar as regras.” Villeneuve consegue a 3º posição, mas acabaria desclassificado por causa da sua asa traseira. Ainda por causa da Guerra FISA-FOCA, os bastidores pegavam fogo, enquanto a F1 ia para Ímola, primeira prova da Europa. Além da desclassificação de Villeneuve, a FISA anunciou que Piquet e Rosberg estavam desclassificados do Grande Prêmio do Brasil, por seus carros estarem abaixo do peso, numa simples manobra de Brabham e Williams nos bastidores como forma de interpretar as regras dúbias da época. O bloco de equipes da FOCA resolve boicotar a prova em Ímola e apenas os times aliados da FISA correriam na Itália. Isso deixava o favoritismo total e completo para os pilotos de Ferrari e Renault. Antes da prova, Villeneuve, Pironi, Arnoux e Prost se reuniram e resolveram fazer uma corrida justa e emocionante, para entreter o público. Porém, Prost abandona cedo e os outros três se envolvem numa emocionante disputa pela ponta, mas Arnoux abandona com o turbo quebrado. As mais de 150.000 pessoas em Ímola vão a loucura com a proximidade de uma dobradinha da Ferrari. Villeneuve assumia a liderança, com Pironi apenas na espreita. Preocupada com o consumo foraz do motor italiano, a Ferrari mostra duas placas para seus dois pilotos com a palavra em inglês: “SLOW” (lento).

Essa sinalização pode significar muitas coisas no automobilismo e na Ferrari, como Scheckter explicaria mais tarde, significava que seus dois pilotos tinham que diminuir o ritmo e cruzarem a linha de chegada respeitando as posições no momento. Sabendo disso, Villeneuve abranda seu ritmo, mas Pironi não o faz. O francês passa a atacar seu companheiro de equipe e faltando três voltas para o fim, Pironi assumia a liderança da corrida pela primeira vez. Nessa altura, Villeneuve pensava, inocentemente, que Pironi queria apenas dar um show para o público nas voltas finais e ataca Pironi na penúltima volta, reassumindo a ponta. Villeneuve corta a Tamburello pela última vez pensando que a brincadeira tinha terminado, mas na freada da Tosa, Pironi coloca de lado e efetua a ultrapassagem definitiva frente a um estupefato Villeneuve. O canadense ainda tenta alguma coisa nas curvas finais, mas Pironi vence a corrida. Villeneuve fica furioso com a atitude do seu companheiro de equipe. Gilles ainda se lembrava da promessa feita por Enzo Ferrari no grid para o Grande Prêmio da Itália de 1979 e achava que aquilo era uma traição difícil de ser engolida. O canadense não escondeu seu descontentamento durante o pódio e nos dias posteriores, a polêmica seria aumentada por declarações ácidas de lado a lado. Após a corrida, Pironi diz que em nenhum momento recebeu instruções para que as posições permanecessem as mesmas até a bandeirada e insinua que Villeneuve era um mal perdedor. Gilles vai a Itália cobrar da cúpula ferrarista uma atitude frente a Pironi, mas o principal apoiador de Villeneuve dentro da equipe, Enzo Ferrari, pouco mandava naquele momento delicado e alguns dirigentes da Ferrari ficaram ao lado de Pironi, aumentando a raiva de Villeneuve. Em todas as entrevistas posteriores, Gilles foi duro com seu agora arqui-rival, dizendo que Pironi agora ‘era um alvo a ser batido’ e que ‘nunca mais falaria com ele novamente’. Na verdade, essas declarações fortes podia ser uma válvula de escape do canadense, pois ele passava por um momento difícil fora das pistas, com a separação de sua esposa. Quando a F1 chegou a Zolder, no dia 8 de maio de 1982, pista em que Villeneuve sempre andava bem, o assunto não era a volta das equipes da FOCA ao circo, mas qual seria o comportamento dos pilotos da Ferrari. No final do treino de sexta-feira, Pironi estava em 6º, com Villeneuve duas posições atrás, poucos centésimos separando-os. Gilles prometeu a si mesmo que não seria mais lento que Pironi em nenhum momento de sua vida e por isso foi a pista para uma tentativa final de superar o francês. Villeneuve não tinha conseguido melhorar seu próprio tempo e se preparava para mais uma volta quando encontrou a March de Jochen Mass na curva Terlamenbocht. Mass viu Villeneuve se aproximando rapidamente e foi para direita, para deixá-lo passar, mas infelizmente o canadense foi exatamente para a direita. Gilles vinha a 220 km/h e o impacto foi violentíssimo. A Ferrari alçou voou, ficou no ar por 100 m até se espatifar no chão. Villeneuve, ainda preso a seu assento, mas sem o capacete, foi lançado a mais de 50 m dos destroços do seu carro. A triste cena de Villeneve jogado no arame farpado rodou o mundo.

Mass foi o primeiro a chegar na cena do acidente e alguns pilotos que vinham logo atrás parariam seus carros. Na verdade, todos pararam. Derek Warwick, John Watson e René Arnoux olharam para o rosto de Villeneuve e claramente ele estava sem respirar. O primeiro médico chegou 35s depois e o canadense recebeu todo o tratamento possível, sendo levado de helicóptero logo depois para o Hospital da Universidade de São Rafael. Uma fratura em seu pescoço deixava o canadense a beira da morte. Desesperado, Marco Piccinini entrou em contato com os melhores médicos especialistas, mas todos deram o diagnóstico que ninguém queria ouvir. Joann já não acompanhava mais seu marido e chegou à Bélgica já de noite, quando recebeu a notícia de que a situação de Villeneuve era irremediável. As 21:12, Gilles Villeneuve, aos 32 anos de idade, nos deixou para entrar definitivamente na mitologia do automobilismo. A F1 entrou em choque com a morte do seu piloto mais espetacular. Mesmo com o estilo agressivo e louco de Gilles, ninguém esperava por aquele fim trágico. No seu funeral, no Canadá, o mundo prestou as primeiras homenagens ao canadense. Jody Scheckter, grande amigo de Gilles, falou em seu funeral. “Eu vou sentir falta de Gilles por dois motivos. Primeiro porque ele era o piloto mais rápido da história do automobilismo. Segundo porque ele foi o homem mais genuíno que eu já conheci.” Imediatamente todos apontaram o dedo de reprovação para Pironi, com o francês sendo acusado de ter incitado a Gilles ter se esforçado ainda mais (e se arriscado) para superá-lo. Mesmo quando dedicou sua vitória no Grande Prêmio da Holanda de 1982 ao “grande amigo Villeneuve”, Pironi passou a ser escorraçado por todos, mesmo quando o piloto da Ferrari assumiu a ponta do campeonato e caminhava a passos largos rumo ao título mundial. Porém, o destino seria também cruel com Pironi e durante os treinos para o Grande Prêmio da Alemanha de 1982, Didier sofre um acidente muito parecido com o de Villeneuve, só que o francês tem mais sorte e sobrevive, mas com as sérias fraturas que teve nas duas pernas, ele nunca mais competiria na F1 e perderia o título quase ganho de 1982. Cinco anos depois, Pironi passaria a correr em competições de off-shore (lanchas de alta velocidade) e acabaria morrendo no litoral da Inglaterra. Sua esposa estava esperando gêmeos e, de acordo com o desejo de Pironi, eles ganharam o nome de Didier e Gilles. O irmão de Gilles, Jacques Villeneuve, um dos melhores pilotos de snowmobile da história, também se aventuraria no automobilismo e de forma irônica, ele acabaria correndo pela March em 1982 em substituição a Jochen Mass. Jacques Sr., como passaria a ser conhecido, não obteria muito sucesso No automobilismo, apenas com vitórias pontuais na F-Indy. Porém, o homônimo Jacques Villeneuve, filho de Gilles, passa a correr tardiamente e com muitas dificuldades financeiras (no fim da vida, Gilles ainda cruzava a Europa em seu motorhome...), ele chegou a F-Indy em 1994 e se tornou o Novato do Ano, vencendo o campeonato e as 500 Milhas de Indianápolis no ano seguinte. Isso lhe valeu o convite para pilotar pela Williams em 1996 e a F1 voltaria a ver o sobrenome Villeneuve de volta, sendo que Jacques correria ao lado do filho de outro grande campeão, Damon Hill. Jacques consegue uma temporada de estréia espetacular e fica com o vice-campeonato, mas em 1997, ironicamente derrotando a Ferrari de Michael Schumacher, Jacques Villeneuve se torna Campeão Mundial de F1 quinze anos após a morte do pai.

Inicialmente, Jacques preferia não tocar no assunto do pai, pois ele mesmo dizia que não se lembrava de Gilles nas pistas. Porém, com o passar dos anos, Jacques passou a ligar mais seu nome com o do seu pai e em 2007 andou com a mesma Ferrari que Gilles se imortalizou em Dijon Prenois, em 1979. Quando tentou ser cantor, Jacques compôs uma música com sua irmã Melaine em homenagem a Gilles. Mesmo mais de 25 anos após a morte de Gilles Villeneuve, o canadense continua sendo reverenciado por todos que gostam de automobilismo, principalmente na Itália e no Canadá. Mesmo tendo apenas seis vitórias, duas poles, um vice-campeonato em 67 provas, Villeneuve sempre é apontado como um dos melhores pilotos da história da F1. A sua passagem pode ter sido efêmera quando olhamos seus números, mas quem o viu correr nunca o esquecerá. Um museu foi erguido na cidade de natal de Villeneuve no Canadá em 1992, o circuito de Montreal passou a ser chamado Circuit Gilles Villeneuve e a Ferrari construiu um busto do canadense em frente a pista de Fiorano, onde se pode ver duas lembranças fortes de Villeneuve. De forma até esquisita, um avião vermelho fica estacionado dentro da pista e o motivo é simples. No final de 1981 houve uma disputa entre um caça italiano e a Ferrari de Villeneuve, vencido pelo canadense. Quando ele morreu, a Força Aérea Italiana doou o aparelho para a Ferrari e até hoje o avião está lá. Outra lembrança é um quadro pintado a óleo de uma grande freada num asfalto. A legenda? A primeira freada que Villeneuve deixou em Fiorano. Tocar no nome de Gilles Villenueve sempre é emocionante para todos que gostam de automobilismo e o que esse canadense proporcionou nas pessoas chega a ser inexplicável. Já contei essa história algumas vezes no blog e vale a pena contar novamente. Nas vésperas do Grande Prêmio da Itália de 1997, auge da disputa entre Michael Schumacher, de Ferrari, e Jacques Villeneuve, foi feita uma reportagem em Monza sobre o amor dos tifosi pela Ferrari. O repórter fez várias entrevistas com alguns torcedores, até chegar num senhor de idade. Ele perguntou quem que ele gostaria que vencesse, afora Schumacher e Eddie Irvine, os pilotos da Ferrari. ‘Villeneuve”, tascou o velho tifosi. O repórter fica sem entender. “Mas isso atrapalharia a Ferrari e Schumacher”, rebateu o perguntador. “Eu sei, mas ele é filho de Gilles..” Somente Gilles Villeneuve para fazer que um tifosi torcesse por um inimigo da Ferrari.