quarta-feira, 16 de agosto de 2017

História: 25 anos da apoteose de Mansell

Nigel Mansell. Um piloto que demorou a engrenar, mas quando o fez, angariou uma legião de fãs que logo o apelidaram de Leão. As más línguas falavam que o apelido tinha a ver com o famoso Leão da Metro, que rugia no começo do filme, mas silenciava para as verdadeiras estrelas brilharem em seguida. A partir de 1986 Mansell se tornou uma estrela da F1, mesmo não tendo o tecnicismo de Nelson Piquet, a categoria de Alain Prost e a genialidade de Ayrton Senna. Mansell estava abaixo de todos esses três gênios da F1, mas era mais do que capaz de batê-los quando tudo estava a seu favor. 

E tudo estava a favor de Mansell em 1992. Com um carro que desde o ano anterior mostrava potencial para entrar para a história, Nigel aproveitou todas as vantagens tecnológicas do Williams FW13 para dominar a F1 como poucas vezes haviam sido visto naquele ano. Conta a lenda que Patrick Head projetou um carro que seria capaz de encobrir todos os erros possíveis e imaginários que Mansell poderia cometer e já havia cometido. Nigel havia perdido dois títulos (1986 e 1987) que poderiam ter sido perfeitamente seus, mas pequenas decisões erradas acabaram jogando contra o inglês. Já contando com 39 anos de idade, mas mantendo a ferocidade, Mansell chegou à Budapeste com 46 pontos de vantagem sobre Patrese com seis corridas para o fim. O campeonato de 1992 poderia ser decidido com uma antecedência inédita. Porém, um título de Nigel Mansell não poderia ser decidido com tanta facilidade.

Mostrando o nervosismo que o prejudicou em outras oportunidades, Mansell não massacrou seus adversários como havia feito nas corridas anteriores. O Grande Prêmio da Hungria de 1992 começou com Patrese na pole e o italiano mantendo a ponta na largada, enquanto Mansell caía para quarto, ultrapassado pela dupla da McLaren. Na oitava volta Mansell ultrapassou Berger e partiu para cima de Senna, mas como o inglês havia experimentado no ano anterior, ultrapassar Senna em Hungaroring não era das tarefas mais fáceis. Na volta 31 o inglês errou e Berger o ultrapassou. Para piorar, o inglês foi aos boxes algumas voltas mais tarde e caía para sexto. Era Mansell amarelando novamente?

A torcida inglesa, que foi em peso para a Hungria ver Mansell ser campeão, nem ficou arrepiada direito quando Patrese, que rodara a pouco tempo antes, abandonou com o motor quebrado. Mais tranquilo e sabendo que um terceiro lugar lhe garantia o título, ultrapassou o compatriota Brundle na volta 60 e se aproveitou do abandono de Schumacher para ficar na posição que precisava. Mas quem disse que Mansell se acomodaria com o terceiro lugar? Mansell nunca foi um piloto cerebral e mesmo sem necessidade, ultrapassou Berger pela segunda vez. Faltavam poucas voltas. Senna vencia com uma facilidade que lhe fez lembrar os bons tempos quando tinha o melhor carro da F1.

Mansell vinha 40s atrás. Não se sabe o que o inglês pensava nas últimas voltas. Talvez ele recordasse dos duros anos na F3, quando sofreu um sério acidente que quase o deixou paralítico e fez sua amada Roseanne hipotecar a casa para que Nigel continuasse correndo atrás do seu sonho. Mansell deve ter lembrado também dos difíceis primeiros anos na F1, quando seu protetor Colin Chapman morreu subitamente e Nigel sofria com irregularidade que lhe era particular. Mansell deve ter lembrado da primeira vitória em Brands Hatch em meados de 1985, que o fez se tornar um piloto de ponta, passando a brigar com todas as estrelas da F1. Ele, Nigel Mansell, era uma estrela da F1, adorado pela torcida inglesa, que lotava Silverstone para o empurrar ruma à vitória. Os tempos complicados na Ferrari ficaram para trás. Sua casa era mesmo a Williams. E foi na sua casa que Mansell realizava o seu sonho. Quando apontou na reta de chegada, um torcedor invadiu a pista com a Union Jack nas mãos. O sofrimento havia terminado.

Contra todas as possibilidades, quando todos duvidaram que ele venceria um campeonato, Nigel Mansell era o Campeão Mundial de 1992. 

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