Nós, brasileiros, não temos muita noção do quão importante é Interlagos para o automobilismo mundial, do tamanho palco que a pista paulistana é. Mais uma vez, Interlagos foi palco de cenas emocionantes, uma grande corrida e muita confusão. E quase tudo isso não acontecia, por causa da chuva que caiu (e caiu forte) em São Paulo hoje, causando vários atrasos, mas quem ficou até o final, não deve ter se arrependido. As cenas de Felipe Massa quando este abandonou entrou para a história da F1, gostem ou não dele. A dobradinha da Mercedes foi eclipsada pelo impactante desempenho de Max Verstappen nas últimas voltas, quando saiu de 16º para 3º numa das performances mais emocionantes dos últimos tempos na F1. Não faltaram histórias para a edição 2016 do Grande Prêmio Barsil.
Após alguns anos de ausência, a chuva foi parte importante do Grande Prêmio do Brasil, mas como fala a triste música 'Suplica Cearense', podia ter chovido, mas chovido de mansinho, pois o aguaceiro quase cancelou a prova, além de ter proporcionado várias cenas perigosas. A situação estava claramente complicada quando Romain Grosjean, que é um bom piloto, bateu seu carro quando se encaminhava para o grid. A corrida começou atrás do safety-car, causando revolta nas Redes Sociais. 'Pilotos frouxos', 'Acabaram com a F1' e coisas desse tipo foram vistas aos montes para quem acompanhava o Facebook enquanto a corrida era paralisada seguidamente. Provavelmente essas mesmas pessoas criticaram a mesma FIA que promoveu esse pára-corre-pára, quando a entidade deixou a corrida rolar em Suzuka/2014, tendo como resultado o trágico acidente de Jules Bianchi. Muitas vezes se traduzem insegurança como coisa de 'cabra macho'. Que as atitudes precipitadas e perigosas de outros tempos como 'bons tempos'. O acidente de Raikkonen, quando este rodou no meio da reta dos boxes, numa relargada estando em terceiro poderia ser trágico, tanto para o finlandês, como para quem poderia ter o azar de atingi-lo em cheio. Todo mundo quer corrida e emoção, mas não à custa da segurança dos pilotos e até mesmo das pessoas envolvidas na prova.
Quando a corrida começou de verdade, Hamilton dominou a prova numa vitória de ponta a ponta, fazendo com que o inglês assumisse isoladamente o segundo lugar do ranking histórico de pilotos com mais vitórias na F1, superando Alain Prost. Além disso, Lewis finalmente venceu em Interlagos e como o inglês adora Senna, viu a torcida gritar o nome do seu ídolo no pódio. Apesar da clara felicidade, Hamilton sabe que agora o título saiu ainda mais de suas mãos. Mesmo em condições traiçoeiras, onde quase perdeu o controle do carro na Subida do Café, Rosberg fez a corrida com o regulamento debaixo do braço e agora pode ser terceiro colocado em Abu Dhabi para ser campeão, sendo que o carro que tem em mãos acabou de conquistar a quarta dobradinha consecutiva, demonstrando que a Mercedes simplesmente não teve rivais em 2016, principalmente nessa reta final de temporada. Hamilton agora depende do imponderável para ser tetracampeão, enquanto Nico Rosberg, numa corrida onde tudo podia dar errado, fez o que estava no seu script.
Se a Mercedes conseguiu mais uma dobradinha deve-se a um erro tático da Red Bull, que trouxe Max Verstappen na hora errada para os boxes, fazendo-o usar pneus intermediários, bem no momento em que a chuva aumentou. O holandês, que andou boa parte da corrida em segundo, caiu de 3º para 16º faltando poucas voltas para o fim e com a pista mais molhada do que algumas passagens antes. Algumas exibições são tão empolgantes, que acabam entrando na história e só o futuro dirá, mas podemos ter presenciado em Interlagos um verdadeiro marco na F1 para os próximos anos. A forma como Max Verstappen pilotou debaixo de chuva beirou o impossível, de tão genial que foi. O holandês passou quem via pela frente com uma facilidade que parecia que Max havia colocado pneus especiais, com uma aderência superior aos demais competidores. Verstappen deixou seu companheiro de equipe para trás de forma constrangedora para Ricciardo. Sendo que o australiano tinha trocado também seus pneus algumas voltas antes. Numa tática arriscada, Verstappen fazia uma trajetória por fora nas curvas rápidas, ganhando mais velocidade, mas havia um pequeno detalhe: esses locais onde Max estavam muito mais molhados que a linha de dentro. Porém, o holandês não se fez de rogado e passou por esses locais encharcados com a maestria de um piloto com o dobro de sua idade, passando Alonso e Vettel como se essas lendas fossem apenas aprendizes. Verstappen vibrou com o terceiro lugar, assim como a Red Bull, a torcida brasileira e toda a F1. Podemos ter visto que o atrevido holandês é verdadeiramente um gênio, que pode dominar a F1 nos anos vindouros.
Sérgio Pérez foi a última vítima de Verstappen e perdeu o lugar no pódio, que foi seu por boa parte da corrida. Vettel saiu da pista na Subida do Café, teve sorte em não bater, caiu para as últimas posições e ganhou vários lugares durante a corrida, mas empacou por várias voltas em Carlos Sainz, impedindo uma melhor posição para o piloto da Ferrari, mesmo que fosse difícil segurar Max nas voltas finais. A Subida do Café viu momentos tensos com Rosberg, Verstappen, Alonso e Vettel, além dos acidentes de Massa e Ericsson, mas também viu o momento pastelão da corrida, quando Jolyon Palmer bateu em Kvyat quando a corrida estava atrás do safety-car. A reação do russo no rádio chegou a ser hilária, com ele não sabendo por onde e por que tinha sido atingido! Hulkenberg foi outro que fez uma corrida de recuperação, mas acabou ficando atrás de Sainz, que fez uma bela corrida de oportunidade, voltando a marcar bons pontos após muito tempo. Falando em pontos, Felipe Nasr fez sua melhor corrida na F1 no momento mais oportuno possível, quando a sua situação na categoria para 2017 parece piorar a cada dia. Superado constantemente por Ericsson, o brasiliense esperou por uma corrida confusa como a de hoje para fazer um algo a mais, levando a sua limitada Sauber aos pontos, tirando a equipe do zero em 2016. Numa corrida corajosa, Nasr andou parte da corrida em sexto, mas quando a prova teve uma maior continuidade, o piloto da Sauber foi sendo alcançado por pilotos com carros melhores do que o dele, porém, Nasr ainda se manteve na zona de pontuação, ficando à frente de Esteban Ocon, da Manor, garantindo uma posição melhor para a Sauber no Mundial de Construtores, demonstrando a todos que merece a vaga na equipe em 2017. Ocon foi outro que provou que merece ser contratado pela Force India, perdendo a chance de marcar seu primeiro ponto na F1 quando foi ultrapassado nas voltas finais por Fernando Alonso.
A corrida propriamente dita demorou muito a acontecer, mas dificilmente alguém esquecerá dela tão cedo. Seja pela despedida de Massa (próximo post), pela dobradinha da Mercedes, pela exibição de Verstappen ou pela forte chuva. Muitos consideraram Rosberg sortudo pelo pit-stop do holandês, mas era bem capaz de Verstappen também ter ido para cima de Hamilton e numa briga entre dois pilotos agressivos, tudo poderia acontecer. Até mesmo a corrida sobrando para Rosberg ou até mesmo Lewis ter ficado em segundo e descontado menos pontos para Rosberg. A chuva atrasou e os torcedores até vaiaram, mas Interlagos mais uma vez foi palco de uma corrida para ficar na memória.
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