domingo, 14 de maio de 2017

E teve emoção

Se tem um lugar aonde as corridas não são boas normalmente, esse lugar fica em Montmeló, nas proximidades de Barcelona. O traçado seletivo e de poucas freadas fortes, mais o extenso conhecimento prévio das equipes faz do Grande Prêmio da Espanha uma das piores corridas do ano. Isso é histórico. Como a paciência do torcedor em geral (e não falo só da F1) anda muito curta, provavelmente muita gente deixou de assistir a corrida de hoje, com receio de ver outra procissão como em Sochi. Quanto engano! A corrida em Barcelona de hoje foi umas melhores da longa tradição de corridas sonolentas em Montmeló e viu a primeira disputa mano a mano entre Hamilton e Vettel, com vantagem para o primeiro, que com o resultado de hoje, encosta no alemão e só precisa de uma vitória em Monte Carlo para voltar à liderança do campeonato, que cada vez mais se polariza entre os pilotos de Mercedes e Ferrari, enquanto a Red Bull de Daniel Ricciardo, solitário terceiro colocado hoje, está longe demais da briga pela ponta.

Foi uma corrida tensa na luta pela vitória, onde os dois líderes teimavam em ficar próximos, mesmo com estratégias diferentes. Hamilton largou mal novamente e Vettel já freou para a primeira curva na frente. Mais atrás, Bottas, Raikkonen e Verstappen tentavam ocupar um espaço onde só cabiam dois carros e após o esparramo de Bottas, Raikkonen saiu de frente e bateu em Verstappen, eliminando ambos ainda na primeira volta e causando o grande momento da prova. A transmissão flagrou um menininho vestido de Ferrari chorando na arquibancada. Algumas voltas mais tarde, ele sorria com a belíssima ultrapassagem de Vettel em Bottas para mais tarde ele ter a experiência de sua vida até o momento. Ele foi se encontrar com Raikkonen nos boxes da Ferrari e ganhou o boné do finlandês, além de uma foto que rodou o mundo. Uma imagem que emocionou a todos e mostra que a F1, aos poucos, está ficando mais humana, algo que todos cobravam de Bernie e o veterano dirigente parecia incapaz de fazer. Mérito da Liberty.

Voltando à pista, Hamilton deve ter pensado que a corrida estava perdida, pois se há um aspecto em que a Ferrari está superior, esse é o ritmo de corrida e Vettel logo abriu uma vantagem de 2s em cima de Hamilton, que ficou na pista o máximo possível, esticando o seu stint e garantindo uma tática de duas paradas. Vettel voltou em quarto, ultrapassou rapidamente Ricciardo e partiu para cima de um apático de Bottas. O finlandês não foi nem sombra do piloto que venceu pela primeira vez na Rússia, mas soube jogar pela Mercedes, segurando Vettel o máximo que pode, mas foi ultrapassado de forma agressiva pelo alemão, para delírio do público. E do menininho da Ferrari! Agora Vettel se aproximava de Hamilton, que estava com pneus médios, quando Vandoorne trouxe o safety-car virtual e a corrida foi decidida. Hamilton colocou pneus macios quando a corrida ainda tinha 29 voltas pela frente. Teoricamente, Lewis não teria pneus no final da prova. Quando Vettel colocou os pneus médios, finalmente houve uma disputa real e próxima com Hamilton, quando ambos disputaram a primeira curva no limite, com vantagem para Vettel. Com pneus mais rápidos, não demorou para o inglês retomar a ponta, mas se mantivesse aquele ritmo, provavelmente os pneus de Hamilton acabariam e ele diminuiu o ritmo, deixando a corrida imperdível no final, pois Vettel, teoricamente com os pneus em melhores condições, poderia atacar no final. Porém, o ataque não veio. Vettel novamente se desentendeu com Massa e perdeu 1.5s quando faltavam poucas voltas e Lewis Hamilton venceu pela segunda vez esse ano, com Vettel logo atrás. Foi uma corrida bem acima das expectativas, com brigas dentro e fora da pista pela vitória. Foi uma disputa de altíssimo nível e quem perdeu a corrida de hoje se arrependeu.

Os demais dezoito pilotos da corrida foram meros coadjuvantes, mas houve desempenhos de protagonistas ao longo do pelotão. Aproveitando dos abandonos de carros mais fortes na frente, a Force India se consolidou como a quarta força da temporada e deixou Sergio Pérez em quarto e o ótimo estreante Esteban Ocon em quinto. O jovem francês marcou pontos em todas as corridas até agora e sempre andando no mesmo ritmo do seu competente e experiente companheiro de equipe, mostrando as qualidade do jovem piloto de desenvolvimento da Mercedes. Porém, o outro pupilo da Mercedes foi ainda mais impressionante. Usando-se de uma tática arriscada da Sauber, Wehrlein esticou ao máximo seu primeiro stint e se colocar entre os pilotos na zona de pontos, mas estava claro que o alemão perderia esse status quando parasse, mas o safety-car virtual fez com que Pascal igualasse sua janela de paradas com os demais pilotos e o alemão da Sauber conseguiu um extraordinário sétimo lugar, passando boa parte da corrida tendo em seus retrovisores o motivado Carlos Sainz, que correndo em casa, fez de tudo para agradar sua torcida, mas foi derrotado por Wehrlein, que conseguiu o seu melhor resultado na carreira e dando pontos importantes para a Sauber. Provavelmente o ritmo ruim de Bottas deveu-se aos problemas de motor que o fizeram abandonar e quem subiu ao lugar mais baixo do pódio foi Daniel Ricciardo, mas a Red Bull não tinha muito o que comemorar. O novo pacote aerodinâmico da Red Bull trouxe grandes expectativas de levar o time austríaco próximo de Mercedes e Ferrari, mas a realidade foi que Ricciardo terminou em terceiro um minuto inteiro atrás de Hamilton. Por trás do sorriso do sempre alegre Ricciardo, existe uma clara preocupação da Red Bull ser mais uma vez coadjuvante.

O miraculoso sétimo lugar de Alonso no grid se desfez na má largada do espanhol e pelo toque com Felipe Massa, que tentava desviar de Raikkonen e Verstappen, na segunda curva, que fez o piloto da McLaren sair da pista e também da zona de pontuação, onde não entrou mais, apesar de um final de corrida forte de Alonso, que permitiu o espanhol ultrapassar as duas Williams e terminar sua primeira corrida de 2017 próximo dos pontos. Massa teve uma corrida confusa, onde um pneu furado o colocou nas últimas posições, mas o brasileiro ainda teve tempo para se estranhar com Vettel novamente, se envolver em um incidente com Stoffel Vandoorne que trouxe o safety-car virtual (culpa inteiramente do belga, diga-se) e ultrapassar Stroll. O jovem canadense vem se transformando na grande desilusão da temporada. Kvyat saiu da última fila para marcar pontos após uma briga encarniçada com Kevin Magnussen, que fez o danês ter um furo de pneu. Magnussen sempre andou mais rápido do que Grosjean, que aproveitou o incidente para pontuar, por um motivo bizarro. A Haas atrasou a produção das atualizações para dois carros e apenas um dos pilotos usaria as novidades em Barcelona. Num simples cara-ou-coroa, Magnussen foi bafejado pela sorte e ficou com as atualizações...

A corrida desse domingo mostrou uma F1 bipolarizada como não se via desde 2006, com Schumacher (Ferrari) e Alonso (Renault), com vantagem para o último. Em 2017, Sebastian Vettel da Ferrari e Lewis Hamilton da Mercedes deverão brigar até o final do ano pelo título e havendo mais corridas como essa nesse ano, teremos uma temporada histórica, com dois gigantes se digladiando corrida a corrida pela vitória. 

2 comentários:

  1. Só uma correção: Wehrlein foi punido com acréscimo de cinco segundos no tempo final da corrida pela direção de prova por entrar de forma irregular nos boxes, não se mantendo na linha da direita no momento em que deveria entrar no pit lane,e por isso caiu de sétimo pra oitavo.

    Mas em nada apaga a brilhante exibição de Wehrlein,extraíndo muito mais que seu pouquíssimo competitivo Sauber poderia oferecer.

    E Nasr deveria ver e rever essa corrida: Se tivesse feito o que Wehrlein fez hoje,em boa parte das corridas de 2016,o brasileiro não estaria fora da F1 pra 2017...

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    1. É o que sempre falo: não adianta levar o carro até o final. É fazer o algo a mais. O diferente. Como Wehrlein fez. Bianchi fez e por aí vai. Eles são diferentes. Nasr, assim como Lucas di Grassi e Bruno Senna, que andaram em equipes nanicas e nada fizeram demais, são apenas bonzinhos e logo saíram. Bruno ainda ficou um pouco mais pelo sobrenome...

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