Ano passado Bagnaia chegou a ter mais de noventa pontos de desvantagem para Quartararo no meio do campeonato. A Ducati tinha, sim, a melhor moto, mas faltava uma maior consistência tanto de Bagnaia como da própria Desmodedici. Porém, Pecco colocou a cabeça no lugar, chegou a ter quatro vitórias consecutivas e simplesmente evaporou a vantagem de Fabio, que parecia impotente com uma Yamaha com sérios déficits de velocidade final. Correndo tendo muita pressão em si, Bagnaia ainda cometeu alguns pequenos erros na segunda metade do ano, mas conseguiu o esperado título da Ducati, que amargava um jejum de exatos quinze anos, ainda nos tempos de Casey Stoner. Bagnaia foi ajudado pelo pelotão de Ducatis, que tiravam pontos de Quartararo, mas são esses pilotos que podem fazer frente ao italiano de Turim em 2023.
Na equipe oficial, Jack Miller levou sua irreverência, velocidade e quedas para a KTM. Miller conseguia andar no nível de Bagnaia, mas faltava constância e o australiano se dava muito bem com Pecco. Não é muito o caso de Enea Bastianini. O piloto da equipe Gresini surpreendeu ao levar a equipe, que era a quarta na ordem de forças da Ducati, a vencer corridas e conseguir um ótimo terceiro lugar no campeonato. Com a saída de Miller, a luta pelo posto de companheiro de equipe ficou aberta entre Enea e Jorge Martin, com vantagem inicial para o espanhol, mas Bastianini superou facilmente o espanhol e sua imensa velocidade, além de uma voracidade fora do comum pelos pneus, atrapalhando as corridas de Martin. Bastianini demonstrou algumas vezes que não iria baixar a cabeça para Bagnaia e chegou a tirar uma vitória importante de Pecco na linha de chegada. Com os Pecco e Enea juntos, é esperado que a turma da Ducati saiba administrar bem os seus dois pilotos para não entregarem o ouro aos rivais.
Para sorte da Ducati, as três equipes satélites vem muito fortes, particularmente a Pramac, que manteve um chateado Martin e Johan Zarco, ainda procurando sua primeira vitória na MotoGP. A Gresini substituiu Bastianini por Alex Márquez, que andou muito bem nos testes, mas o jovem ainda vive à sombra do irmão-gênio. A terceira equipe tem Marco Bezzecchi e Luca Marini, irmão de Valentino Rossi e muito provavelmente o principal motivo de estar na equipe do mano famoso. Em seu ano de estreia Bezzechi mostrou ótimos momentos e pode surpreender Marini e todo o esquadrão da Ducati em 2023.
Após muitas especulações, Fabio Quartararo deu um voto de confiança à Yamaha e permaneceu no time japonês, que ainda procura manter a docilidade da máquina, mas com mais velocidade nas retas. Fabio não se mostrou muito satisfeito nos testes e se ano passado lhe faltou apoio dos demais pilotos da Yamaha, esse ano será ainda mais difícil. Franco Morbidelli terá um ano decisivo e outro ano pífio poderá ser definitivo em sua carreira. A Yamaha perdeu sua equipe satélite para a Aprilia e terá apenas dois pilotos no grid. Aproveitando das benesses de não ter bons resultados nos últimos anos, a Aprilia deu um grande salto em 2022, mas talvez tenha faltado piloto. Aleix Espargaró é um ótimo acertador de motos, mas falta algo mais ao espanhol para pensar em título, que venceu pela primeira vez na carreira, mas perdeu muito fôlego no fim do ano. Mavetick Viñales, claramente mais talentoso do que Aleix, tentará aproveitar essa deixa para tomar as rédeas da equipe e aproveitar essa segunda chance, após ser considerado o anti-Márquez em determinado momento da carreira.
A Honda, acostumada a títulos e vitórias, amargou um ano terrível em 2023, ficando em último no Mundial de Construtores. Refém do talento absurdo de Marc Márquez, a Honda ficou na dependência de Márquez tirar coelhos da cartola, mas desde o famigerado acidente em Jerez em 2020, isso não mais aconteceu. Após quatro cirurgias e já contando com 30 anos, Márquez tentará levar a Honda nas costas novamente, circundado pelos dois órfãos da Suzuki, Joan Mir na equipe oficial e Alex Rins na equipe satélite. A KTM ainda sofre com a inconsistência de sua moto e por isso trouxe dois pilotos experientes para ajudar Brad Binder a voltar a vencer. Após dois anos ruins na Honda, Pol Espargaró retornou à KTM, indo para a segunda equipe da marca, a GasGas, enquanto Miller ficará na equipe principal.
Por incrível que pareça, a MotoGP é pródiga em domínios e nos últimos vinte e cinco anos tivemos Doohan, Rossi e Márquez se tornando multi-campeões, mas muito se falava que esses títulos vinham pelo talento dessas três lendas. Pela primeira vez em muitos anos, a MotoGP pode voltar a ter um domínio, mas devido a uma montadora, tendo o atual campeão Pecco Bagnaia como ponta da espada.
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