O final de semana estava todo a feição da Ferrari. Durante todos os treinos a Ferrari dominou a Mercedes como bem entendeu e mesmo com Kimi Raikkonen ficando com a pole, ninguém imaginaria uma derrota da Ferrari no berço de Monza, de preferência com Sebastian Vettel na frente, diminuindo a desvantagem para Hamilton. Porém, o esporte não vive de certezas ou é uma ciência exata, mesmo numa categoria tão científica como a F1. O fator humano ainda faz a diferença, mesmo alguns críticos dizerem o contrário. Lewis Hamilton fez a diferença numa corrida histórica, onde derrotou os dois carros da Ferrari na frente da torcida italiana numa mistura de talento e astúcia da sua equipe.
A vitória de Vettel em Spa parecia indicar que o campeonato seria tingido de vermelho dali para frente, com a saída de Hamilton da liderança sendo apenas uma questão de tempo. Para completar, uma semana mais tarde a corrida seria em Monza, santuário espiritual da Ferrari e numa pista onde a equipe italiana estava em vantagem. Os treinos mostraram a superioridade da Ferrari, mas Hamilton dava claros indicativos que a vitória vermelha não seria sem luta. O inglês elevou seu nível para ficar sempre próximo da Ferrari, mesmo tendo que largar em terceiro, na primeira dobradinha da Ferrari em Monza desde 2000. O tempo nublado e a perspectiva de chuva também eram esperanças, mas Hamilton não poderia contar com o imponderável. Ele teve que ir a luta! Logo na primeira volta, Vettel atacou Raikkonen para tentar assumir a ponta da corrida logo de cara, como fez semana passada em Spa. De saída da Ferrari, pelas notícias surgidas hoje, Kimi não aliviou, permitindo a Hamilton se colocar na briga. Na Variante Della Roggia, Raikkonen se colocou por dentro, com Vettel por fora. Hamilton viu a brecha e seguiu Kimi. Correndo na casa da Ferrari, Vettel não iria permitir ser ultrapassado daquela maneira na frente dos tifosi. Ele forçou a barra. E acabou rodando, com a asa dianteira quebrada após um toque com Hamilton. Último lugar para o alemão e menos uma Ferrari para Lewis. Ainda tinha um Kimi Raikkonen querendo seu canto do cisne e com um ótimo carro. A vida de Hamilton seguia difícil, mas se Kimi estava nessa luta sozinho, Lewis teria um aliado.
Bottas fazia uma corrida sem vergonha, ficando empacado atrás de Verstappen com um carro nitidamente melhor. O finlandês simplesmente não teve ritmo para seguir seu companheiro de equipe e faria uma corrida anônima e discreta. Foi então que a Mercedes entrou em cena. Primeiro, mandou seus mecânicos irem para o pit-lane, induzindo a Ferrari chamar Raikkonen para os boxes. Os italianos caíram direitinho. A Mercedes retardou ao máximo as paradas dos seus pilotos e mesmo Hamilton tendo perdido a vantagem que lhe permitiria sair na frente de Raikkonen, o piloto da Ferrari se aproximou de Bottas. Mesmo 1s mais rápido do que o compatriota, Kimi simplesmente ficou por ali, perdendo tempo para Hamilton e, mais importante, superaquecendo seus pneus. Hamilton fez sua parada, mas não demorou em encostar nos dois finlandeses. Bottas deixou a disputa, mas seu trabalho estava feito. Tendo parado mais cedo e ficado um bom tempo colado atrás de um carro mais lento do que o seu, os pneus de Raikkonen se encheram de bolhas. E ainda haviam mais quinze voltas para o fim. Hamilton foi paciente e numa manobra belíssima, colocou por fora de Raikkonen na freada da primeira chicane para conseguir o que pode ter sido a manobra do seu pentacampeonato.
Contra todas as possibilidades, Lewis Hamilton cruzou a bandeirada em primeiro e se igualou a Michael Schumacher como o grande vencedor em Monza. O inglês levou vaia da torcida italiana, mas seu nome na história no tradicional circuito italiano já estava devidamente escrito. Hamilton fez a diferença numa corrida toda da Ferrari, mas o inglês teve a preciosa ajuda da sua equipe, que soube usar muito bem Bottas num momento crucial da corrida. Com os pneus cheio de bolhas, Raikkonen teve sorte em completar em segundo, enquanto Bottas se utilizou de outro afobamento de Verstappen para subir ao pódio. Quem sabe um dia Max perceba que Hamilton era assim, mas com o tempo foi amadurecendo a ponto de conseguir performances como a de hoje. O holandês da Red Bull segurou de forma magnífica a terceira posição, mas aprontou outra das suas quando se moveu na freada da primeira chicane e tocou em Bottas, causando uma posterior punição. Bottas subiu para terceiro, com Vettel fazendo sua protocolar corrida de recuperação para ser um infeliz quarto colocado e sendo derrotado de forma categórica dentro da casa da Ferrari.
A Red Bull ainda terá do que reclamar ao ver o novo motor de Ricciardo explodir quando o australiano fazia uma bom papel ao largar tão atrás. Daniel fica numa situação complicada, pois vê sua futura equipe não conseguindo bons resultados e ter um motor que ainda deixa muito a desejar. Se em Spa a Force India foi a melhor do resto, desta vez coube à Haas ficar com a sexta posição com Grosjean, já que Magnussen se envolveu num toque com Ocon ainda na primeira volta e terminou em último. A dupla da Force India veio logo à seguir, com Sainz e Stroll fechando a zona de pontuação. Numa pista onde o downforce não faz a menor diferença, a Williams conseguiu pelo menos pontuar, superando Sauber, Toro Rosso e McLaren. Hartley bateu na largada, enquanto Fernando Alonso continua sua sina e abandonou cedo. Um final de carreira indigno para um piloto tão forte.
Hoje tivemos a oportunidade de ver uma corrida histórica e que podemos contar pros nossos filhos. Não foi a mais emocionante do mundo, mas vimos um piloto usar seu talento para vencer não apenas dois pilotos rivais. Mas também toda a força de uma equipe, de uma torcida e de uma nação. E Hamilton fez isso na casa da Ferrari. Ainda faltam mais sete corridas, mas Hamilton pode ter conquistado seu pentacampeonato hoje.
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