Nos tempos de Ross Brawn, a Ferrari ficou conhecida por suas táticas vitoriosas que garantiram muitas vitórias para os seus pilotos, mas desde a saída do inglês, a Ferrari passou a viver o inverso da fortuna, onde seus novos táticos ficaram conhecidos por perderem corridas para os seus rivais. Nesse domingo na cidade-estado de Cingapura, a Ferrari cometeu um pequeno erro de cálculo, mas que acabou lhe garantindo uma dobradinha no sudeste asiático, além de ter dado a primeira vitória em mais de um ano para Vettel, enquanto Leclerc, o prejudicado não intencional, teve que engolir um segundo lugar que lhe valeu como uma derrota.
O Grande Prêmio da Cingapura foi cheio de ultrapassagens e entradas do safety-car, mas a corrida foi decidida mesmo pela estratégia das equipes e a administração dos pneus. Os seis primeiros do grid, sem novidade nas equipes top-3 de 2019, largaram calmamente e permaneceram em suas posições nas primeiras voltas. Apesar de ser realizado a noite, Cingapura tem como característica o forte calor e isso desgasta bastante os pneus. Além do mais, estatisticamente sempre entra um safety-car na pista de rua asiática. O que pensaram os táticos de Ferrari, Mercedes e Red Bull praticamente ao mesmo tempo. Vamos alongar ao máximo o primeiro stint com os pneus macios para colocar os duros e, quem sabe, dar a sorte de aparecer um safety-car no meio do caminho. Com tudo mais ou menos 'combinado', os seis primeiros colocados imprimiram um ritmo muito lento no stint inicial da corrida. Os seis primeiros ficaram separados por apenas 5s na maior parte do tempo, enquanto o sétimo colocado Lando Norris vinha apenas 2s atrás, sendo que o normal é que essa diferença fosse aberta em cada volta! Na medida em que os pilotos do pelotão intermediário iam para os boxes, começavam a andar mais rápido do que os líderes! A ordem da corrida tinha Leclerc na ponta, seguido por Hamilton, Vettel, Verstappen, Bottas e Albon. O primeiro pneu a ir embora foi o de Verstappen. Antes que fosse ultrapassado por Bottas, Max foi para os boxes da Red Bull colocar pneus novos. Percebendo que poderia perder a posição para o holandês, Vettel que vinha logo à frente também entrou nos boxes. Quando voltaram à pista, Vettel e Verstappen tinham um ritmo muito superior aos líderes. Leclerc também começava a perder terreno para Hamilton e foi aos boxes. A tática para derrotar o inglês da Mercedes parecia perfeita! Com uma volta com pneus novos, Leclerc sairia na frente de Lewis com certeza quando este parasse. Porém, como diria Garrincha, faltou combinar com os russos. Ou com Vettel. O alemão tinha um ritmo tão mais forte, que simplesmente surgiu na frente de Leclerc.
Com a Mercedes esperando um safety-car cair do céu, a Ferrari conseguiu uma inédita dobradinha em Cingapura muito por um vitorioso erro de cálculo que favoreceu Vettel, que no momento em que entrou nos pits, esperava se defender de Verstappen, mas acabou dando o bote nos dois líderes. Se algum tático ferrarista levantar a mão e dizer que adiantou a parada de Vettel para dar a vitória ao alemão, uma salva de palmas para esse gênio tático, mas tudo leva a crer que a Ferrari acertou errando. Quem saiu cuspindo abelha africana foi Leclerc. O monegasco tinha tudo para conquistar sua terceira vitória consecutiva e, quem sabe, pensar no vice-campeonato, mas o undercut não intencional de Vettel deixou Leclerc completando a dobradinha da Ferrari com a segunda posição. Vettel vinha numa fase nada boa e seu prestígio dentro da Ferrari já tinha ido para o espaço não apenas com o sucesso de Leclerc, mas também com os seus próprios erros. Quando percebeu que tinha uma bela chance de vencer, Vettel botou a faca entre os dentes e a imagem dessa atitude foi a ultrapassagem audaciosa em cima de Gasly. Com os líderes lentos e retornando dos pits no meio do pelotão, a corrida de hoje viu pilotos incomuns ponteando a prova. Antonio Giovinazzi liderou algumas voltas antes de ser alcançado pelos líderes, mas se tornou o primeiro italiano em dez anos a liderar uma corrida de F1, enquanto a Alfa Romeo liderou uma corrida de F1 após quase quarenta anos!
Verstappen fez uma corrida no bolo dos líderes e no final teve que segurar o seu lugar no pódio dos ataques de Hamilton. Vendo que as suas duas rivais estavam numa estratégia parecida, a Mercedes tentou fazer diferente. Seria a velha tática do besta ou bestial. Como o safety-car não apareceu na hora certa, a trupe de Toto Wolff ficou mesmo como bestas e com seus dois pilotos fora do pódio. Mesmo com o título praticamente assegurado, a Mercedes não está tendo o domínio que mostra os números de 2019. Albon fez seu papel de segundo piloto da Red Bull e finalizou em sexto, à frente das equipes do meio do pelotão, que garantiram a animação da corrida. Dois incidentes e uma quebra nessa área do pelotão trouxeram o safety-car para a pista na metade final da prova três vezes, trazendo também a tensão de uma relargada, mas que Vettel controlou muito bem e não houveram trocas de posição na frente. Enquanto os pilotos das equipes top-3 se comportaram como bom beneditinos, no pelotão de trás o tiroteio foi forte. Logo de cara Nico Hulkenberg e Carlos Sainz bateram na curva 4, mas o alemão fez uma boa corrida de recuperação após duas paradas e fechou nos pontos, além de mostrar sua bela namorada. Com pneus novos Gasly tentou um ataque em cima de Norris, mas teve que se contentar com os pontos, mas o francês dá mostras que está mais à vontade na Toro Rosso do que na Red Bull. Giovinazzi ainda garantiu um pontinho, enquanto Raikkonen batia em Kvyat e abandonava, enquanto russo praticamente fechava o pelotão. Com o contrato recém renovado, Grosjean contribuiu para o primeiro abandono da Williams num entrevero com Russell, mas pior corrida do que a Haas teve a Racing Point, com Pérez abandonando por problema mecânico quando estava nos pontos e Stroll tendo um pneu furado, caindo para as últimas posições.
A corrida de hoje não teve o agito de outras provas que vem caracterizando esse bom campeonato de 2019, mas esteve longe de ser chata. Hamilton vai garantindo seu título muito pelas oportunidades que a Mercedes construiu para agarrar na primeira metade da temporada e agora o inglês apenas administra sua enorme vantagem para os demais, mas Red Bull e Ferrari cresceram a ponto de equilibrar as corridas, além de trazer vários vencedores diferentes. Esse ano já são cinco pilotos que venceram pelo menos uma prova. Vettel vinha numa fase muito ruim, mas o alemão teve corridas de destaque e não merecia passar 2019 em branco.
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