Após as impressionantes vitórias de Max Verstappen no final do verão europeu, parecia que o novo dominador da F1 estava apenas esperando o carro certo para começar a vencer. No entanto, Max tem um rival desde os tempos do kart que também já aparece na ponta da F1 e hoje provou que Verstappen não terá uma vida tão fácil num futuro a médio prazo. Se a vitória de Charles Leclerc em Spa foi conseguida nos detalhes, a de hoje em Monza foi conseguida com um talento defensivo de deixar orgulhoso um Gilles Villeneve. O jovem monegasco não teve sossego em momento algo do Grande Prêmio da Itália, sendo sempre acossado pela dupla da Mercedes, mas Leclerc soube usar a potência superior do motor Ferrari para garantir sua segunda vitória consecutiva na F1.
O Grande Prêmio da Itália de 2019 foi um dos mais tensos dos últimos tempos, prolongando o ótimo momento da F1 nas últimas corridas. Para quem apostava na morte da F1, está na hora de rever alguns conceitos históricos e apostar fichas em outras coisas. A corrida foi um incrível jogo de gato e rato protagonizado por Charles Leclerc e a dupla da Mercedes, com o monegasco se defendendo o tempo inteiro dos ataques de Lewis Hamilton e Valtteri Bottas. Leclerc não largou bem, mas mostrou a Hamilton suas táticas defensivas ao espremer o inglês na freada para a primeira curva deixando ainda o legal espaço de um carro, não deixando muitas alternativas para o inglês, a não ser recolher. A potência do motor Ferrari garantia uma vantagem para Leclerc, mas os pneus se mostraram primordiais para a Mercedes equilibrar a disputa. Ao contrário do que indicava a previsão, o sol se fez presente em Monza e não demorou muito a Hamilton encostar em Leclerc, antes que eles trocassem os pneus. Foi então que a Ferrari deu o pulo do gato. Percebendo o desgaste de pneus, a Ferrari colocou os pneus duros no carro de Charles, enquanto a Mercedes, que tentou blefar sem sucesso, colocou os médios no bólido de Hamilton. Leclerc permaneceu na ponta, mas Hamilton foi com tudo para o ataque. O inglês colocou de lado, abriu a asa, mas Leclerc foi quase perfeito. O quase foi pela ligeira saída de pista na primeira chicane. Ontem na prova de F2, Sergio Sette Câmara foi punido por manobra idêntica. Derek Warwick (ou qualquer comissário) não teria peito para punir um piloto da Ferrari liderando em Monza. Além do que, Leclerc não obteve vantagem. Bola para frente. Enquanto isso, a Mercedes adotava uma tática diferente com Bottas, esticando ao máximo a permanência do nórdico, para deixa-lo com pneus em melhores condições nas voltas finais. Quase deu certo.
Enquanto Hamilton vazava a Variante Della Roggia ao ser espremido por Leclerc, Bottas chegou rapidamente e quando se imaginava qual seria o comportamento da Mercedes, Hamilton errou na primeira chicane e Bottas assumiu a segunda posição. Tantas voltas colado em Leclerc derreteram os pneus da Mercedes e Hamilton saiu da luta pela vitória, não sem antes colocar pneus macios e garantir o ponto da melhor volta, no lugar mais baixo do pódio. Bottas esperou um pouco antes de dar o bote. O finlandês tinha pneus sobrando em comparação com Leclerc, mas se o piloto da Ferrari induziu a Mercedes mais forte ao erro, porque não com a mais fraca? Bottas atacou, mas cometeu pequenos erros que se mostraram decisivos, mostrando bem a diferença entre um bom piloto e um campeão. Ou futuro campeão. Charles Leclerc recebeu a bandeirada para delírio dos tifosi, além de um grande alívio, pois as 53 voltas em Monza foram de intensa pressão para o monegasco, que se comportou muito bem na sua segunda vitória. Enquanto comemorava com o público, Leclerc foi cumprimentado pelo 13º colocado de forma tímida. Sebastian Vettel teve outro final de semana para esquecer. Um ano depois do erro decisivo na mesma Monza, Vettel errou feio na Variante Ascari quando já se aproximava das duas Mercedes, com um ritmo até melhor. Se o erro do alemão foi feio, o que veio a seguir foi ainda pior. Depois de esperar passar a dupla da Renault, Vettel voltou a pista de forma irresponsável e quase provocou um sério acidente com Lance Stroll, que repetiu a trapalhada metros mais tarde ao voltar à pista na frente de Gasly, fazendo o francês quase bater. Devidamente punido, Vettel caiu para as últimas posições e no final, com o mesmo carro do vencedor, tomou uma volta e ficou 14s arás da Williams de George Russell. Já não é mais possível não comparar a chegada de Leclerc na Ferrari à chegada de Ricciardo à Red Bull em 2014. O alemão estava tranquilo com um dominado Kimi Raikkonen, mas com Leclerc chegando como um furacão dentro da Ferrari, Vettel saiu de sua zona de conforto e o alemão vai se mostrando tão latino quanto os italianos, cometendo erros em cima de erros, nada comuns para um tetracampeão. A segunda vitória seguida de Leclerc coloca ainda mais pressão em Vettel, que se vê numa situação nada boa dentro da Ferrari.
Com a Red Bull com problemas, a Renault ficou nas duas posições seguintes aos lugares do pódio, conseguindo o melhor resultado do ano para a equipe da montadora francesa, dando um pouco de alento numa temporada aquém do esperado. Quem esperava um show de Max Verstappen largando da última fila se decepcionou com uma corrida burocrática do holandês, que avariou seu bico na primeira volta e atrapalhou toda a sua corrida, mas Max ainda foi capaz de conseguir um oitavo lugar. Albon tentou outra manobra bonita sobre Carlos Sainz, mas o espanhol jogou duro e o tailandês acabou fora da pista, contudo Albon ainda foi capaz de conseguir um sexto lugar. Entre os dois carros da Red Bull, um dos destaques do meio do pelotão. Sérgio Pérez teve o motor quebrado na classificação e largou na penúltima fila. O mexicano usou a potência do motor Mercedes para fazer uma bela corrida de recuperação para ficar em sétimo, garantindo mais pontos para a Racing Point. Stroll foi vítima da besteira de Vettel, mas o canadense acabou se tornando infrator ao quase bater em Gasly, acabando por ser punido e perdendo a chance de pontuar. Outro que jogou fora a chance de pontuar bem foi a McLaren, com a equipe mandando Carlos Sainz ir para a pista sem ter apertado um pneu direito, fazendo-o abandonar na saída dos pits. Antonio Giovinazzi salvou a honra da Alfa Romeo marcando pontos, enquanto Kimi Raikkonen largou dos boxes e ainda foi punido por ter largado com os pneus errados. O motor Honda esteve longe de brilhar e ainda viu o motor de Kvyat explodir quando o russo estava na zona de pontos. A Haas continuou seu desempenho pífio em ritmo de corrida, com Grosjean ainda destruindo seus pneus numa rodada nas primeiras voltas, enquanto Magnussen abandonou no final da prova.
Foi outra grande prova nesse ano de 2019, que se não está tendo uma boa disputa pelo campeonato, pelo menos está nos oferecendo ótimas corridas. Numa disputa em que teve pela frente a dupla da Mercedes, Charles Leclerc se mostrou vitorioso atuando sozinho, sem a ajuda do seu companheiro de equipe Vettel, que vai se afundando numa má fase sem fim. Com essa segunda vitória consecutiva, dessa vez na frente dos tifosi da Ferrari, Charles Leclerc mostra que tem ainda muito futuro pela frente na F1.
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