domingo, 7 de setembro de 2025

Italian job

 


Monza e suas longas retas não combinam com carros com grande arrasto aerodinâmico. A McLaren domina a temporada 2025 e tem como uma de suas características ter bastante arrasto e em Monza, isso acabou sendo determinante para que os papaias não dominassem como normalmente fizeram nesse ano, mas ainda assim houve domínio em Monza. Assim como fizera na outra corrida italiana do calendário da F1, em Ímola, Max Verstappen venceu com bastante facilidade em Monza, completando a dobradinha italiana em 2025, porém, para azar de Verstappen, não teremos uma terceira corrida na Itália e nem outro circuito como Monza até o final do ano. A vantagem de Max Verstappen foi tamanha nesse domingo, que ele teve tempo até mesmo de rir da presepada da McLaren, que nesse domingo se embananou inteiramente na estratégia e, principalmente, na gestão dos seus dois pilotos.


Como normalmente ocorre em setembro no parque de Monza, o céu estava claro e o sol radiante para mais um Grande Prêmio da Itália com clima perfeito e arquibancadas lotadas. Porém, ainda antes da largada ocorreu o primeiro drama do dia, com a Sauber chamando Nico Hulkenberg para os boxes ainda na volta de apresentação, fazendo com que o alemão se tornasse o primeiro abandono do dia antes do apagar das luzes vermelhas. A largada em Monza sempre é tensa pela longa reta até a forte freada rumo à estreita chicane da Variante del Rettifilo. Ainda com receio de como seria o ritmo de corrida do seu carro, o pole Max Verstappen fez uma largada bem diagonal, fazendo com que Lando Norris fosse para a grama, mas o inglês se manteve por dentro, enquanto correndo na casa da Ferrari, Leclerc partiu para cima de Piastri. A primeira freada foi hirta, com Lando alargando a primeira curva e fazendo com que Max Verstappen cortasse a chicane. Norris saiu lentamente da chicane, encaixotando atrás de si Piastri e Leclerc, que se aproveitou para tomar a terceira posição do australiano. Na freada da Variante Della Roggia, Norris tentou novo ataque em cima de Max, mas novamente o inglês ficou lento na retomada e dessa vez quem se aproveitou foi Piastri, executando uma bela ultrapassagem por fora sobre Leclerc na segunda de Lesmo. Antes mesmo que a FIA iniciasse qualquer investigação, a Red Bull mandou Verstappen ceder a primeira posição para Norris, enquanto Leclerc usava a velocidade prodigiosa da Ferrari em linha reta para retomar a terceira posição novamente.


Um início elétrico de corrida, mas rapidamente as coisas se acalmaram. Com um ótimo acerto com pouca asa, Verstappen não esperou muito para retomar a ponta, enquanto Piastri demorou um pouco mais para ultrapassar Leclerc. O ritmo de Max lembrou os bons tempos da Red Bull e logo os três primeiros colocados ficaram bem espaçados entre si. Leclerc claramente correu para a torcida e superaquecendo os pneus, viu Piastri ir embora na mesma medida em que Russell se aproximou rapidamente. Se Hulkenberg abandonava tristemente ao fim da volta de apresentação, Gabriel Bortoleto fazia uma bela corrida em Monza, onde ano passado saiu da última posição rumo à vitória na F2, chegou a colocar de lado em cima da Mercedes de Russell durante a primeira volta e segurava um enorme pelotão de carros, com seu Sauber com pouquíssima asa e muita velocidade de reta. A corrida ficou estática, principalmente com a certeza de que a estratégia padrão seria de uma única parada, restando às equipes escolherem o melhor momento de trazer seus pilotos. Lawson foi o primeiro e algumas voltas depois foi Bearman, fazendo com que Bortoleto fosse aos pits, trazendo colado atrás de si Alonso. A parada de Gabriel parecia mais cedo que o normal, numa clara reação à parada de Bearman, mas um pit-stop lento somado a manobra de Alonso, fez com que o espanhol emergisse na frente de Bortoleto com os pit-stops feitos, mas ambos saíram na frente de Bearman e Lawson.


Enquanto os pilotos do pelotão intermediário colocavam as cartas na mesa na estratégia, a pergunta que ficava era quando os líderes parariam. Max, Lando e Oscar faziam corridas tranquilas e distantes dos rivais quando Verstappen fez o trivial e parou nos boxes no último terço de corrida e colocou pneus duros para levar seu carro até a bandeirada. A McLaren tentou fazer diferente e deixou seus dois pilotos na pista, esperando por um Safety Car que não veio. Deixando para parar tão perto da bandeirada, a McLaren optou por colocar pneus macios usados nos carros dos seus pilotos, mas a programação saiu de forma errada. Com Piastri se aproximando de Norris no final do stint, a McLaren trouxe o australiano primeiro, na vã tentativa de evitar um undercut involuntário. O problema foi que a McLaren errou no pit de Norris, com a pistola pneumática do pneu dianteiro esquerdo não funcionando e Lando perdendo 6s na parada. Quando o inglês da McLaren retornou à pista, Piastri tinha acabado de passar. Para completar, Verstappen tinha quase 20s de vantagem sobre eles, numa tática que saiu pela culatra, mas o pior ainda estava por vir. Norris começou a tirar a vantagem de Piastri, quando a McLaren interveio na disputa e mandou Oscar ceder sua posição, numa atitude inacreditável de Andrea Stella seus papayas caps. Com os dois lutando diretamente pelo título e vendo a chance de aumentar a vantagem de forma inesperada, Piastri não discutiu muito e simplesmente deixou Lando passar para receber a informação: agora está valendo! Um erro estratégico se transformou numa situação desconfortável dentro da equipe, com Norris e, principalmente, Piastri com caras de poucos amigos depois da corrida ante a situação. Um erro de pit-stop não era motivo para ordens de equipe, ainda mais com dois pilotos lutando pelo título. A McLaren abriu um precedente perigoso e torna a gestão dos seus jovens pilotos ainda mais delicada.


Enquanto isso, a situação de Max Verstappen na frente da corrida era tão confortável que o neerlandês achou tempo para rir da desgraça alheia. Ao saber que a dupla da McLaren trocou de posições, Max riu da situação e seu bom humor tinha razão de ser. Com a McLaren não estando tão confortável em Monza, Verstappen enxergou uma chance de agitar o status quo de 2025 e como normalmente acontece, Max agarrou a oportunidade com as duas mãos. Foi uma vitória sem qualquer contestação de Verstappen, que conseguiu um Grand Slam e mostra mais uma vez que é o melhor piloto da atualidade. Um carro melhor, e Max entraria de vez na cabeça de Lando e Oscar. Já o outro carro da Red Bull segue seu calvário. Mesmo largando entre os dez primeiros e se mantido na zona de pontuação o primeiro stint inteiro, Yuki Tsunoda se perdeu completamente após sua parada e com pneus duros, o nipônico caiu pelas tabelas. Yuki também reagiu a parada prematura de Bearman, mas ao contrário de Bortoleto, Tsunoda foi se apagando a ponto de Isack Hadjar, que largou dos boxes após trocar o motor, estender seu stint e ainda marcar um ponto. E quase Tsunoda levou uma ultrapassagem de Lawson, mas o atabalhoado neozelandês acabou tendo que devolver a posição após sua tentativa temerária na Variante Della Roggia. Enquanto Verstappen recebia a bandeirada, o carro de Tsunoda estava logo à frente, quase tomando uma volta do companheiro de equipe. Com a Honda indo embora do programa Red Bull, Tsunoda dificilmente permanecerá na equipe, ainda mais com desempenhos tão abaixo. O problema de Helmut Marko será quem ficará na ingrata situação de companheiro de equipe de Max Verstappen.


 Após uma primeira volta empolgante, a corrida de Charles Leclerc murchou. O monegasco ainda teve que controlar alguns ataques de Russell, mas sem maiores problemas. Depois disso Leclerc questionou o momento de sua parada, recebendo um 'depois da corrida vemos isso' antes de receber a bandeirada em quarto lugar próximo da dupla da McLaren mais pelos estrategistas papaias do que pelo desempenho da Ferrari. Hamilton foi punido por um incidente em Zandvoort e largou em décimo. O veterano soube fazer uma boa corrida de recuperação, ultrapassou Antonelli e Tsunoda na pista e ao estender seu stint, facilmente ultrapassou Bortoleto, chegando a pensar em fustigar Russell, mas isso não foi possível, fazendo com que Lewis se conformasse com o sexto lugar. Russell ficou no meio do sanduíche das Ferrari numa corrida praticamente incógnita, trazendo mais pontos para a equipe, enquanto Antonelli fazia uma corrida de altos e baixos. O jovem italiano foi ajudado pela estratégia para ficar na frente de Bortoleto, mas seu ritmo de corrida não era exatamente dos melhores e quando foi atacado por Albon, Kimi acabou jogando o piloto da Williams para fora na Curva Biassono e seria punido em 5s por isso. Para piorar, Albon mais tarde completaria a ultrapassagem e Antonelli ficou atrás do piloto da Williams no campeonato. Uma temporada de estreia nada animadora para Antonelli.


Falando em novatos, Gabriel Bortoleto fez outra boa prova rumo aos pontos em 2025. Após segurar sem maiores problemas um pelotão de carros no primeiro stint, Gabriel não foi muito ajudado pela Sauber, que lhe trouxe para uma prematura parada reagindo ao movimento de Bearman e fez um pit-stop lento. Bortoleto teve sorte com a estranha quebra de Alonso, mas foi superado por Antonelli no ritmo e por Albon na estratégia, mas com o entrevero entre eles, Gabriel herdou uma posição com a punição de 5s de Kimi, subindo para oitavo e ganhando uma posição no campeonato, superando Bearman. O inglês teve um toque com Sainz que quase fez a alegria da McLaren, que torcia por um SC desesperadamente, mas os dois pilotos voltaram à corrida sem problemas, contudo, Bearman foi punido e acabou fora dos pontos, o mesmo acontecendo com Ocon, punido por um toque com Stroll ainda no começo da corrida. Sainz escapou de uma punição por cortar a chicane, mas o toque com Bearman não o ajudou muito, principalmente com seu companheiro de equipe continuando a marcar pontos para a equipe, enquanto o espanhol se atrapalha no trânsito. A Alpine teve um dia para esquecer e mesmo escolhendo estratégias distintas para os seus dois pilotos, os pontos não foram uma questão para Gasly e Colapinto. Stroll largou nas últimas filas e assim como a McLaren, esticou seu stint ao máximo rezando por um SC que não veio, fazendo com que o canadense terminasse em último, contudo, nem de longe Stroll andou como Alonso, que caminhava para marcar mais pontos, mas acabou tendo sua suspensão dianteira direita quebrada após um toque aparentemente normal na zebra da Variante Ascari. Alonso lamentou mais pontos perdidos.


Mesmo com Max Verstappen completando a dobradinha italiana com todo mérito e dando um recado claro para a concorrência que ele pode fazer muito mais se tiver o equipamento certo, a presepada da McLaren foi o grande assunto do pós-corrida. Uma série de questionamentos se levantam na medida em que a McLaren se intrometeu na briga dos seus pilotos, no que poderia ser uma bela batalha dentro das pistas. Aparentemente a McLaren se lembrou do caso da Hungria ano passado, quando quase entregou a vitória à Norris após Piastri dominar a prova. Com a volta paga, isso significa que daqui em diante não teremos mais ordens de equipe como essa? Piastri e Norris não estão se portando de forma passiva demais frente à McLaren? Essas respostas serão dadas até o final do campeonato. 

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