sábado, 29 de dezembro de 2007

História: 45 anos da decisão do campeonato de 1962

Após três longos meses depois da penúltima etapa realizada em Watkins Glen, a F1 iria conhecer o seu campeão de 1962. Após um domínio avassalador da Ferrari em 1961, a equipe italiana se perdeu completamente no acerto dos seus carros e Phil Hill esteve longe de poder defender o seu título. Para piorar as coisas para os italianos, logo após a corrida norte-americana a F1 realizou uma corrida fora do campeonato no México e o Autódromo na Cidade do México lotou para ver seu compatriota e sensação Ricardo Rodriguez. A Ferrari não correu no México, mas Rodriguez, que era contratado da equipe, não podia ficar de fora da festa e se inscreveu numa Lotus da equipe de Rob Walker. Nos treinos, Rodriguez sofreu um sério acidente, perdendo a vida com apenas 20 anos de idade, se tornando o piloto mais jovem a perder a vida ao volante de um F1. Com a morte do seu piloto, a Ferrari decidiu não correr na África do Sul.

A África do Sul vivia sobre o regime do Apartheid e as pessoas ricas do país tinham bastante dinheiro para promover um campeonato nacional de F1. Pilotos como Neville Lederle e John Love dominavam o forte campeonato sul-africano e a não demorou para a F1 fazer novamente uma corrida na África, quatro anos após o trágico Grande Prêmio do Marrocos, na África do Sul. A corrida seria realizada no circuito de East London nas vésperas do Ano-Novo. Algo impensável hoje em dia! Como forma de preparação, duas corridas seriam realizadas na África do Sul no mês de dezembro. A primeira em Kyalami foi vencida por Jim Clark e a segunda em Westmead deu a primeira vitória para Trevor Taylor na F1, companheiro de equipe de Clark na Lotus. Porém, a corrida em Westmead custou a vida de Gary Hocking, ídolo local que competia em corridas de motos e estava em transição para as quatro rodas. Hocking corria com um Lotus de Rob Walker e assim o velho chefe de equipe via a segunda morte em dois meses em um dos seus carros.

Mesmo com um campeonato bem irregular, Jim Clark ainda tinha chances de ser campeão em 1962, graças ao regulamento que só permitia os cinco melhores resultados de cada piloto e como Clark ou ganhava ou quebrava, o escocês só precisava de mais uma vitória para levar o caneco para casa. Graham Hill, que tinha sido bastante regular durante o ano e era o líder do campeonato até então, era o outro concorrente ao título. A Lotus 25 de Clark era o melhor carro disparado em 1962 e demonstrou isso nos treinos, com Jimmy conseguindo uma tranqüila pole-position, enquanto a BRM tentava de tudo para colocar Hill no páreo. Durante os treinos, a equipe tirava peso do carro de Hill na tentativa de colocá-lo em condições de igualdade com a Lotus de Clark. Com os dois protagonistas na primeira fila, o resto do grid ficou em segundo plano, com o terceiro colocado Jack Brabham, já em sua própria equipe, ficando 2s atrás do tempo da pole.

Grid:
1) Clark(Lotus) - 1:29.3
2) Hill(BRM) - 1:29.6
3) Brabham(Brabham) - 1:31.0
4) Ireland(Lotus) - 1:31.1
5) Surtees(Lola) - 1:31.5
6) Maggs(Cooper) - 1:31.7
7) Ginther(BRM) - 1:31.7
8) McLaren(Cooper) - 1:31.7
9) Taylor(Lotus) - 1:32.6
10) Lederle(Lotus) - 1:33.6

Com muito sol e calor, mais de 90.000 espectadores foram ao autódromo de East London acompanhar a primeira corrida do Campeonato Mundial de F1 na África do Sul. Na largada, Clark sai queimando pneus, demonstrando o que vinha pela frente. O escocês permaneceu na liderança, seguido por Hill e um surpreendente Tony Maggs, segundo piloto da Cooper, que era sul-africano e se aproveitou do conhecimento da pista para andar no primeiro pelotão. Como era do seu estilo, Clark disparou na frente, aproveitando-se da potência do seu Lotus. Hill fazia o que podia e também forçava bastante, mas seu ritmo não era páreo ao de Clark. Isso provocou um grande espaçamento no pelotão, com Clark, despencado na frente, Hill num solitário segundo lugar e uma briga animada pelo terceiro lugar que envolvia Maggs, Bruce McLaren e John Surtees.

Na volta 20, a diferença de Clark para Hill já era de 13s. Na volta 26 John Surtees abandona seu Lola com problemas de motor, deixando os pilotos da Cooper sozinhos na briga pelo terceiro lugar. Porém, McLaren usa a prerrogativa de ser o primeiro piloto da Cooper e deixa seu jovem companheiro de equipe Maggs atrás de si até o final da corrida. Eram as ordens de equipe há 45 anos atrás! Porém, isso era o menos importante, pois a briga do campeonato se desenvolvia lá na frente, com Clark já abrindo uma inacreditável vantagem de 30s ainda na volta 50. O piloto da Lotus vinha andando muito forte. Talvez forte demais. Na volta 52, uma fumaça branca saía da traseira da Lotus de Clark e com o passar do tempo essa fumaça aumentava de quantidade. Colin Chapman e um barbudo Stirling Moss olhavam a situação de Clark e não acreditavam no que viam!

Na volta 62, faltando vinte para o final, Jim Clark encostou nos boxes da Lotus na vã esperança de ver consertado o já identificado vazamento de óleo no seu motor Climax. Mas não havia nada a ser feito. O campeonato estava acabado e Graham Hill acabara de se tornar o primeiro piloto inglês a ser campeão a bordo de um carro inglês. A equipe Lotus fez uma investigação das causas da perca de um título tão ganho e chegou a uma conclusão de se fazer chorar. Um mecânico da Lotus (que deve ter sido demitido!) esqueceu de colocar uma arruela no parafuso de suporte do mancal do eixo do motor. Com as vibrações, o parafuso afroxou-se e o óleo do motor esvaiu-se junto com o sonho de Clark e Chapman se tornaram campeões. Ao perceber o carro de Clark parado nos boxes, imediatamente Hill diminuiu o seu ritmo e apenas administrou a corrida para conquistar sua quarta vitória na temporada e um merecido título. Com muita sorte, é verdade, mais muito merecido!

Chegada:
1) Hill
2) McLaren
3) Maggs
4) Brabham
5) Ireland
6) Lederle

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