domingo, 18 de dezembro de 2011

Um novo domínio

2011 será um ano atípico para a F1, pois se ano passado tivemos um campeonato espetacular, mas com corridas na maioria das vezes chatas, este ano tivemos grandes corridas, mas um campeonato em que ainda no quarto inicial já se sabia o campeão. Grandes domínios podem demonstrar uma pretensa chatice, mas o que Sebastian Vettel fez em 2011 entrará para a história da F1. Se já tem vários recordes de precocidade, o jovem alemão já começa a conquistar recordes como o de maior número de poles numa mesma temporada. Apoiado por uma equipe gerenciada de forma diferente e tendo um trunfo na mão como Adryan Newey, Vettel conquistou onze vitórias, quinze poles e ‘apenas’ três melhores voltas, conquistando o título com quatro corridas de antecedência, mas a forma como vinha guiando durante o ano já mostrava que ninguém tiraria esse título do hoje mais jovem bicampeão mundial de F1.

O ano teria a novidade da volta da Pirelli depois de exatos vinte anos. A Bridgestone se despediu da F1 produzindo uma borracha boa o suficiente para que os pilotos fizessem apenas um pit-stop em 2010. E se não fosse o regulamento obrigar os pilotos terem que utilizar dois compostos diferentes por corridas, talvez nem fosse preciso parar. A FIA pediu a Pirelli que houvessem mais pit-stops e que os pneus tivessem um desgaste maior. Os italianos obedeceram, mas erraram na conta. Houve corridas com três ou até mesmo quatro pit-stops como padrão. A pista ficava cheia de detritos e a própria Pirelli sentiu que isso estava prejudicando sua marca e na metade final da temporada, duas paradas era o normal nas corridas. Porém, isso trouxe uma movimentação inédita entre equipes e pilotos, com a diferença de rendimento entre os dois compostos fazer com que as ultrapassagens ocorressem em profusão. Ultrapassagens que foram também ajudadas pela estréia na asa móvel, um dispositivo que funciona para diminuir o arrasto aerodinâmico nas retas, mas que só seria usado pelo piloto de trás, ficando o piloto atacado totalmente indefeso frente a ataques. Não foi raro pilotos passarem voando por rivais onde ano passado poderiam ficar voltas e mais voltas empacado atrás. Chegou um momento em que as ultrapassagens ficaram banalizadas e talvez um melhoria de procedimentos seria a não obrigatoriedade do piloto usar a asa móvel em determinados locais e apenas quando não tivesse alguém a sua frente. O piloto escolheria onde utilizar, mas teria uma limitação, como ocorre na Indy, por exemplo. São opiniões que dificilmente serão ouvidas... A temporada desse ano começou tumultuada com o cancelamento da corrida no Bahrein devido aos problemas políticos no país. Foram vários anos sem que nenhuma corrida fosse cancelada e mesmo estando no calendário de 2012, há quem afirme que não haverá corrida na pequena península árabe.

Desde cedo Sebastian Vettel mostrou que defenderia seu título com ainda mais solidez do que o vitorioso, mas acidentado 2010. O alemão venceu, com direito a pole, as duas primeiras corridas do ano, perdendo para Hamilton na China, para acumular três triunfos consecutivos. Nesse momento, ninguém duvidava mais quem seria o campeão. A questão era quando e aonde. Vettel tem um estilo de pilotagem muito particular. Ele procura a pole para disparar na ponta e depois apenas administrar a corrida. Simples assim, mas que poucos conseguiram emular. Pode parecer chato, mas o estilo despojado de Vettel, sempre sorridente, faz com que os fãs não se emburrarem com as vitórias consecutivas do alemão. É fato que o domínio de Schumacher foi muitas vezes entediante quando o tedesco da Ferrari parecia apenas cumprir seu expediente de trabalho. Já Vettel parece estar se divertindo e quer mostrar isso a todos com brincadeiras, entrevistas espirituosas e muita simpatia. Super Seb fez muito bem a F1 e ela poderá lhe dar muito nos anos vindouros. Com o melhor carro, Vettel dominou, enquanto Mark Webber, favorito ao título em 2010, fez uma temporada que beirou o ridículo, com apenas uma vitória no ano, ainda assim porque Vettel teve problemas. Foi claro que o baque de ter perdido o título ano passado fez muito mal a Webber e o fato de não ter se dado muito bem com os pneus Pirelli desmotivou ainda mais o australiano. Webber era sempre um dos primeiros a fazer sua parada, bem ao contrário de Vettel, que assim tinha uma variedade de opções de estratégia.

Sendo assim, o vice campeonato acabou ficando para Jenson Button. Quando foi campeão em 2009, não faltou quem dissesse que o inglês tinha sido o pior campeão do mundo, como se ele tivesse culpa de ter o melhor carro nas primeiras corridas e a Brawn não ter tido oportunidade de desenvolver o carro naquela temporada. A ida para a McLaren, feudo de Hamilton, elevou ainda mais a pilotagem de Button e o inglês, assim como Vettel, conseguiu desenvolveu um estilo de pilotagem próprio, sendo mais cauteloso com pneus sem perder a velocidade e nas corridas, normalmente o inglês era o mais rápido. Inteligente e com visão ampla de uma corrida, Jenson Button venceu corridas complicadas, onde uma decisão certa ou errada poderia definir o vencedor ou o perdedor de uma corrida. No inesquecível Grande Prêmio do Canadá, Button teve uma das maiores atuações individuais dos últimos tempos, quando sofreu uma punição, caiu para as últimas posições duas vezes e ainda assim conseguiu a vitória com uma ultrapassagem na última volta sobre Vettel. Button teve um ano melhor do que foi campeão e esse reconhecimento tardio do talento de Button o faz ser ainda mais respeitado do que no fim de 2009. Um dos motivos para Button ter elevado seu nível foi o fato de ter ao seu lado um cara com Lewis Hamilton na McLaren. Rapidíssimo, Hamilton largou mais vezes na frente de Button durante o ano, mas em ritmo de corrida normalmente era superado pelo companheiro de equipe, sendo derrotado por um vizinho de boxe pela primeira vez em cinco anos de F1. O ano de Hamilton foi turbulento, mesmo com as três vitórias este ano. A separação com o pai e o fato de ter se aproximado de pessoas do show-business fizeram com que Lewis perdesse o foco e o inglês passou mais tempo na sala dos comissários do que no pódio, se envolvendo em acidentes evitáveis e tendo uma briguinha até cômica com Felipe Massa no final da temporada. Talentoso, Hamilton terminou com a namorada famosa e passou a ficar mais com a família. Isso já é um indicador de um 2012 melhor para o inglês.

A Ferrari errou novamente a mão em 2011 e desde 2008 não faz um carro que preste na F1. O time italiano viveu unicamente do talento esmagador de Fernando Alonso, que se sobressaiu em várias oportunidades, andando mais do que o carro para conquistar nove pódios e uma vitória na Inglaterra. A forma como Alonso guiou em 2011 foi até comovente, pois vimos um talento imenso limitado por um carro que não está a sua altura, mas nem por isso o espanhol desanimou, procurando os limites do carro e o utilizando a todo momento em 2011. Mesmo apenas em quarto no mundial, Alonso deu show! Bem ao contrário de Massa. Felipe deve ter mesmo um enorme respeito da equipe Ferrari, pois com uma temporada como a desse ano, Massa estaria no olho da rua em outros anos ferraristas, mas por incrível que pareça o brasileiro ficará mais um ano na Ferrari. Massa teve um ano abaixo da crítica, ficando no máximo em quinto lugar nas corridas, amplamente dominado por Alonso tanto em ritmo de classificação, como em corridas. Por sinal, ao contrário de Button, Massa teve um desempenho descendente ao longo das provas, conseguindo boas largadas, para cair de rendimento e não raro tomar mais de 40s de Alonso. O destino do Brasil na F1 é obscuro e até mesmo a Globo já percebeu isso. Massa terá que melhorar da água para o vinho se quiser ficar na Ferrari ou ir para uma equipe competitiva em 2013. Rubens Barrichello fez o que pôde para ficar na decadente Williams, mas com o time precisando de dinheiro, será difícil o brasileiro permanecer na F1 em 2012 e Interlagos pode ter visto a sua última corrida na F1. Por sinal, a forma como Rubens demonstrou querer ficar na F1 não foi muito digno a sua bonita passagem pela categoria. Se não foi vitorioso, Barrichello entrou para a história da F1 como um piloto querido e que marcou uma época. Um Ricardo Patrese um pouco melhorado. Bruno Senna começou o ano como reserva na Renault, mas o time francês teve sua temporada destruída ainda antes da primeira corrida do ano. Dias após ter feito o melhor tempo em Valencia nos testes de inverno, o polonês participou de um rally e escapou da morte por muito pouco. Com o lado direito do seu corpo afetado, será um milagre ver o talento de Kubica na F1 em alto nível novamente, o que é um enorme pesar, principalmente para a Renault, que dependia do talento de Kubica para se sobressair. Sem ele, o time ainda deu um suspiro na primeira parte do ano, com dois pódios consecutivos nas duas primeiras etapas do ano, mas a equipe decaiu a ponto de ser considerada a sexta força no final do ano. O interminável Nick Heidfeld substituiu Kubica na Renault e mesmo com um pódio, o alemão nunca impressionou a cúpula da Renault e da Genni, empresa que gerencia o time, acostumados a ver Kubica fazer um algo mais nas corridas. Bruno substituiu Heidfeld de forma surpreendente em Spa e em Monza, conquistando seus primeiros pontos, mas Senna mostrou muita irregularidade depois, fazendo corridas terríveis em outras provas, e se sobressaindo nos treinos para o Grande Prêmio do Brasil, onde foi o grande chamariz da prova. Demitido junto com Petrov, que deu o primeiro pódio a Rússia na Austrália, Bruno Senna ainda busca um lugar ao sol em 2012, mas com as vagas se fechando cada vez mais, será difícil vê-lo como titular em 2012. Com isso, o Brasil só terá um cambaleante Felipe Massa no próximo ano e sem nenhum jovem piloto a vista. Preocupante.

Desde que comprou a Brawn, a Mercedes ainda não disse a que veio. O time germânico ficou numa situação peculiar na distribuição de forças da F1 em 2011. Se não atacava a trinca Red Bull-McLaren-Ferrari, com a queda da Renault a Mercedes ficou sozinha como a quarta força do campeonato, com Nico Rosberg normalmente ficando em sétimo lugar nos treinos e corridas, com Schumacher logo atrás. O heptacampeão fez provas bem melhores esse ano do que no seu retorno em 2010. Ainda longe dos seus tempos áureos, Schumacher superou algumas vezes Rosberg, principalmente em ritmo de corrida, e fez provas espetaculares, como no Canadá, onde ficou próximo de retornar ao pódio. A Mercedes precisa mostrar que seu investimento terá bom retorno e não ser reconhecido apenas como ter o melhor motor da F1. Apesar disso, a Renault equipa o motor do campeão e tem várias equipes clientes. Alinhando uma nova estratégia, a montadora só serve seus clientes e com a mudança de nome da Renault para a Lotus, dará um apoio ainda maior para a Red Bull. A Turquia e sua famosa curva 8 sairá da F1 com os pilotos adorando a pista, mas com o público nunca tendo abraçado a corrida, mas a pista de Kurtkoy já tem um substituto a altura com o novo circuito de Buddh, na Índia, que fez sua estréia com sucesso em 2011. Ano que vem, entrará Austin, em mais uma tentativa da F1 em se firmar nos Estados Unidos.

Com a Índia no calendário, Vijay Mallya vê sua equipe correr em casa pela primeira vez e com apoio forte da Mercedes, a Force Índia foi um dos destaques na segunda metade da temporada, superando a Renault e conseguindo um bom sexto lugar no Mundial de Construtores. Nem assim isso fez com que Sutil permanecesse na equipe, mesmo o alemão tendo ficado em nono no Mundial de Pilotos, ou seja, atrás apenas das quatro grandes. O fato de ter se envolvido numa briga em Xangai com um dirigente da F1 fez mal a Sutil, mas que mostrou na pista ser um piloto rápido e em ascensão e sua confirmação na Williams deve ser questão de tempo. Paul di Resta mostrou uma maturidade enorme em seu primeiro ano de F1 e apoiado fortemente pela Mercedes, que já pensa no escocês em sua equipe no futuro, o jovem merece ficar na equipe em 2012 ao lado de Nico Hulkenberg. O outro estreante foi Sergio Pérez, mexicano bancado pela Telmex, mas nem por isso poderá ser chamado simplesmente de piloto-pagante. Rápido e consistente, Pérez tentava boas corridas baseado em estratégias diferentes da Sauber, que tinha um carro que tratava bem os pneus. Porém, o mexicano deu o susto do ano ao sofrer um forte acidente em Mônaco no mesmo local em que Karl Wendlinger quase morreu 17 anos atrás. Pérez demorou a retornar com o mesmo ímpeto de antes, mas está confirmadíssimo na Sauber em 2012 ao lado de Kamui Kobayashi, que se não foi espetacular como em 2010 com suas ultrapassagens, foi um piloto mais cerebral esse ano, onde não raro ficou no Q1 para fazer uma boa corrida de recuperação. Pastor Maldonado sofreu numa Williams em seu pior ano na história, mas o venezuelano mostrou velocidade com uma linda corrida em Mônaco, mas que foi estragada por um Hamilton em seus piores dias. Jerome D’Ambrosio, coitado, numa Virgin pouco apareceu e perdeu seu lugar pelo desconhecido Charles Pic, fazendo com que a França tenha três pilotos na F1 em 2012, com a volta de Romain Grosjean com a Lotus.

O outro será Jean-Eric Vergne, que estreará na F1 em 2012 com a Toro Rosso. Se auto definindo com uma escola de pilotos para a Red Bull, o time italiano dispensou o insosso Sebastien Buemi e o aguerrido Jaime Alguersuari, esse uma tremente injustiça. O espanhol cresceu muito ao longo do ano e suas corridas de recuperação após ficar no Q1 lhe renderam pontos que fizeram superar com folga Buemi. O outro piloto a fazer parte da STR é Daniel Ricciardo. Campeão da F3 Inglesa em 2009, o australiano fez metade da temporada na Hispania e já mostrou um algo a mais quando superou com alguma freqüência o mais experiente Vitantonio Liuzzi, ex-Red Bull e que após inúmeras chances, deve deixar a F1 pelas portas dos fundos. Um novo Vettel? Ricciardo nos mostrará em 2012. Das equipes pequenas, a Lotus se descolou de Hispania e Virgin, mas ainda permanece num pelotão único e intermediário entre as equipes médias e nanicas, muito por causa do talento de Heikki Kovalainen, outro que fez uma bonita temporada, mesmo sem ter conquistado uma vitória ou pontos. Enxotado de Renault e McLaren, o finlandês finalmente vem mostrando a que veio. Jarno Trulli e seus olhos de cachorro que caiu da mudança foi esmagado por Kova e pode até mesmo perder seu lugar na Caterham, novo nome da Lotus para 2012. O fato de termos duas Lotus em 2011 foi motivo de muita confusão e ainda mais que isso acabará no próximo ano. A Virgin já está ficando atrás da Hispania, o que não deixa de ser ruim para um patrocinador que começou como campeão mundial e agora está na rabeira, para desespero de Timo Glock, que não agüenta mais tanta ruindade!

E isso foi a temporada 2011 da F1. Tivemos ótimas corridas, um Sebastian Vettel dominador e os demais pilotos correndo atrás do alemão da Red Bull. Um cenário bem parecido de dez anos atrás, quando o personagem era Michael Schumacher e a equipe era a Ferrari. Vettel derrotou com imensa facilidade pilotos do calibre de Alonso, Hamilton e Button. Seu nome está entrando para a história e mesmo com o campeonato ficando sem graça, sempre é bom ver alguém fazer história na frente dos nossos olhos.

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