No começo dos anos 90 a F1 tinha inúmeros pilotos italianos, mesmo que sempre andando no pelotão intermediário. Gianni Morbidelli foi um deles e como seus conterrâneos, pouco fez em sua curta passagem na categoria máxima do automobilismo, apesar de ter tido uma bela oportunidade no começo de sua carreira na F1. Completando 40 anos hoje, vamos olhar um pouco da carreira deste italiano que prometeu muito, mas esteve longe de cumprir o prometido.
Gianni Morbidelli nasceu no dia 13 de janeiro de 1968 na cidade de Pesaro. Desde cedo Gianni conviveu de perto com as corridas, pois seu pai, Giancarlo, era do
no da famosa marca italiana de motos Morbidelli, que fez muito sucesso nas categorias menores do Mundial de Motovelocidade, dando alguns dos muitos títulos conquistados pelo espanhol Angel Nieto nos anos 70. Mesmo podendo ter ido para o caminho natural das motos, Morbidelli preferiu as quatro rodas e entrou no automobilismo vi
a kart quando tinha 12 anos. Nos microcarros, Gianni conquistou vários ótimos resultados, como o quarto lugar no Mundial de kart em 1984, o vice-campeonato mundial de kart por equipes em 1982, e as vitórias no GP de Las Vegas e Mônaco de kart em 1985.
Com um cartel tão bom como esse, não é surpresa ver Morbidelli debutar nos monopostos em 1987, dando o enorme pulo para
a F3 Italiana. E vai muito bem! Em seu primeiro ano andando em carros, Gianni consegue a sexta posição no campeonato italiano e conquista o prêmio de novato do ano. Animado com o seu início nas corridas, Morbidelli se muda para a forte equipe Forti de F3, mas ele não consegue brigar pelo título, tendo que se contentar com a quinta posição na classificação final, porém Morbidelli conquista sua primeira vitória na carreira do automobilismo. Mesmo com esse resultado regular, a Forti confia mais um ano em Morbidelli na F3 e não se arrepende. Morbidelli vence não apenas o campeonato italiano, como também o europeu da categoria, conquistando sete vitórias em doze corridas no certame nacional. Com tão poucas corridas, Gianni é chamado para correr pela equipe oficial da BMW no campeonato italiano de superturismo e não vai mal, conseguindo uma honrosa quarta colocação na tabela final do certame.
Mesmo com a decepção por Michele Alboreto, a Ferrari ainda procurava um italiano para vencer em seus carros e levar à loucura os tifosi. Vendo os bons resulta
dos de Morbidelli, a
Scuderia contrata o jovem italiano de 21 anos para ser seu piloto de testes para 1990. Ao lado de Alain Prost e Nigel Mansell, Gianni aprenderia muito até estrear na F1. E isso aconteceria bem antes do planejado. O piloto da Dallara Emanuelle Pirro estava se recuperando de uma hepatite e esteve impossibilitado de disputar as duas primeiras etapas do Mundial de 1990. Querendo dar quilometragem ao seu novo pupilo, a Ferrari o empresta para a pequena equipe italiana e Morbidelli pôde fazer sua estréia antes do imaginado. E Gianni começou a se acostumar às equipes pequenas. O italiano não conseguiu tempo para largar com sua Dallara em Phoenix, mas classificou seu carro em Interlagos e pôde fazer sua primeira corrida na F1, conseguindo levar seu Dallara até o fim da difícil etapa brasileira numa regular décima sexta posição.
Após essa pequena estada pela Dallara na F1, Morbidelli se voltou à F3000 Européia, onde estrearia na então forte catego
ria pela mesma equipe que o levou ao título europeu e italiano de F3, sendo único piloto da Forti. Após um começo difícil, Gianni consegue marcar seus primeiros pontos na tradicional corrida de Pau. E logo com um pódio! Numa corrida extremamente complicada em que apenas seis carros completaram, Morbidelli conseguiria a terceira posição. Porém, o ápice viria em Enna-Pergusa, circuito que Gianni conhecia muito e o italiano não perdeu a chance, conquistando sua única vitória na F3000. Com mais um terceiro lugar em Nogaro, Morbidelli terminaria o campeonato num respeitável quinto lugar, à frente de pilotos com Damon Hill e Heinz-Harald Frentzen. No final do ano, Morbidelli voltaria ao circo da F1 ao ser chamado pela Minardi para fazer as duas últimas corridas da temporada, mas o italiano teve problemas em ambas e abandonou.
A Minardi, na verdade, estava em negociações
avançadas com a Ferrari para ter os potentes motores italianos em 1991. Negociação terminada, a Ferrari exigiu que a pequena equipe contratasse Morbidelli e assim o piloto de Pesaro faria sua primeira temporada completa na F1, enquanto ainda era piloto de testes da Ferrari. A Itália tinha um enorme contingente de pilotos na F1 e Morbidelli se juntava a Stefano Modena, Riccardo Patrese, Michele Alboreto, Alex Caffi, Ivan Capelli, Gabriele Tarquini, Emanuele Pirro, Pierluigi Martini, Andrea de Cesaris e Nicola Larini. Eram nada menos do que onze pilotos da bota! O próprio companheiro de equipe de Morbidelli na Minardi seria um compatriota seu, Martini. Porém, quantidade não indica qualidade e tirando Patrese, nenhum dos demais italianos tinha chances reais de vitória. Inclusive Morbidelli. Mesmo com a potência do motor Ferrari, Gianni não pôde mostrar seu talento e seu melhor momento no ano foi o oitavo lugar no grid para Grande Prêmio de San Marino.
Contudo, o mundo dá suas voltas e quando menos se espera, tudo em sua volta dá um grande reviravolta inesperada. Alain Prost criticou abertamente a Ferrari durante todo o ano de 1991, chegando a comparar o chassi 643 com um caminhão. Na verdade, Prost estaria forçando a barra para sair da equipe italiana, que na opinião do francês não tinha mesmo jeito, e ir para a Williams o mais rápido possível. Cansada de tantas críticas, a Ferrari demitiu Prost no último Grande Prêmio da temporada 1991, na Austrália, e para o seu lugar entrou Morbidelli. Mesmo com um carro de equipe grande (e que o italiano conhecia muito bem), Gianni apenas pôde repetir a oitava posição em San Marino. No dia da corrida, um dilúvio se abateu sobre Adelaide e por muito pouco a corrida não foi cancelada. De forma irresponsável
a organização permitiu a largada em tamanho aguaceiro e na quinta volta o companheiro de equipe de Morbidelli, Jean Alesi, aquaplanava em plena reta oposta. Após vinte e quatro voltas de muitos acidentes e rodadas, a corrida foi interrompida e nesse momento Morbidelli estava na sexta posição, pressionando a Williams de Patrese. Como a corrida não foi mais reiniciada, Morbidelli conquistou seu primeiro ponto na F1. Na verdade, meio ponto, pois como a corrida não completada em 75%, os pontos valeram pela metade.
Mesmo com essa boa atuação do seu piloto de testes, a Ferrari preferiu contratar outro piloto italiano, Ivan Capelli, para 1992. Morbidelli ficaria mais um ano como piloto de testes e na Minardi, que agora teria os motores Lamborghini. Motor novo, resultados velhos. Gianni passa o ano em branco e ainda vê a Ferrari substituir Capelli, por deficiência técnica, pelo outro piloto de testes da equipe, Nicola Larini. Cansado de ser posto de lado, Morbidelli sai da Ferrari em 1993 e se dedica ao Campeonato Italia
no de Superturimo pela equipe Alfa Romeo, conseguindo duas vitórias em Maggione. Porém, Morbidelli ainda tinha 26 anos e pensava na F1. Em 1994 ele voltou à categoria na equipe Footwork, sendo companheiro de equipe de Christiano Fittipaldi. Como tinham sido suas experiências anteriores, o italiano sofreu com uma equipe pequena, mas Morbidelli conseguia algumas proezas, como o sexto lugar no grid do Grande Prêmio do Brasil. Ele marcaria pontos no confuso Grande Prêmio da Alemanha, quando mais de dez carros abandonaram ainda na primeira volta, e no Grande Prêmio da Bélgica, graças a desclassificação do vencedor da prova Michael Schumacher.
Gianni permanece mais um ano na Footwork, mas a equipe já passava por graves problemas financeiros e assim Morbidelli não fez todas as corridas, cedendo seu
lugar a pilotos que compravam o seu cockpit em determinadas etapas. Porém, o melhor momento da carreira de Morbidelli estava por vir. Na última vez que a F1 visitou Adelaide, Morbidelli seria o piloto da Footwork e como sempre o italiano largou no meio do grid. Numa corrida extremamente difícil, em que muitos pilotos de ponta abandonaram à sua frente, Morbidelli fez uma corrida cerebral e terminou numa excepcional terceira posição, conquistando seu único pódio na F1. Esse resultado lhe garante o emprego de piloto de testes da Jordan para 1996, mas a passagem pela equipe irlandesa só dura um ano. Em 1997 Morbidelli é chamado novamente pela Ferrari para ser seu piloto de testes, pois Larini, então eterno piloto de testes da Ferrari, tinha sido contratado pela Sauber, como forma de compensação
da equipe suíça usar os motores Ferrari naquele ano. Porém, Larini, há muitos anos sem fazer uma temporada completa na F1, é sacado no meio do ano e Morbidelli é chamado para o substituir. Contudo, o problema da Sauber não estava nos pilotos, mas sim no carro. Gianni não melhora os desempenhos de Larini e ainda sofre um acidente num teste privado em Magny-Cours, quebrando o braço esquerdo. Morbidelli fica umas etapas de fora, mas volta para o Grande Prêmio de Luxemburgo, aonde termina sua última corrida na F1 na nona posição. Foram 67 Grandes Prêmios, um pódio e 8,5 pontos.
Cansado da vida de piloto de testes e praticamente sem chances de ser piloto titular numa equipe decente na F1, Morbidelli resolve desistir de vez da categoria e passa a focar nas categorias de turismo. Mesmo quando estava na F1, Gianni participava de algumas provas do campeonato italiano de superturismo. Em 1998 o italiano é contratado pela Volvo para disputar o BTCC, campeonato inglês de superturismo, mas Morbidelli não
obtém sucesso. Em 2001 Gianni se muda para a BMW com o intuito de disputar o recém-lançado campeonato europeu de turismo e Morbidelli consegue um bom terceiro lugar no campeonato, com uma vitória no Estoril. Em 2002 Morbidelli faz algumas etapas da American Le Mans Series com um Viper e a partir daí se torna num cigano das pistas. Em 2006, Morbidelli é contratado como piloto oficial da Alfa Romeo no Mundial de Turismo (WTCC), mas é massacrado pelo seu companheiro de equipe Augusto Farfus Jr. e deixa a equipe no final do ano. Hoje, Morbidelli está sempre pronto para correr quando é convidado, não disputando mais campeonatos inteiros ou tendo que se estressar em manter contratos. Ou seja, está curtindo uma aposentadoria feliz, fazendo o que mais gosta.
Parabéns!
Gianni Morbidelli