terça-feira, 29 de janeiro de 2008

História: 30 anos do Grande Prêmio do Brasil de 1978

Apesar do circuito de Interlagos ser um dos melhores do mundo até sua reforma em 1990, não restava dúvidas que o Rio de Janeiro, com suas belezas, era um lugar mais apropriado para que a Fórmula 1 fizesse sua visita anual ao Brasil. O circuito de Jacarepaguá tinha sido reformado em 1977 para poder receber a F1 e foi considerado na época um autódromo modelo. Pilotos e equipe foram à favor da mudança de São Paulo para o Rio de Janeiro, principalmente pelo glamour do lugar do que por algum aspecto mais técnico. Os protagonistas da F1 chegaram cedo ao Rio após passar por Buenos Aires, com o inuito de desfrutarem das belezas tropicais que a Cidade Maravilhosa oferecia.

Emerson Fittipaldi tinha estreado o novo Copersucar F5A em Buenos Aires com um bom nono lugar, mas no Brasil as coisas teriam que ser diferentes. O público brasileiro estava acostumado com as vitórias de Emerson no começo da década e não se conformava em ver o seu ídolo fazendo o papel de retardatário desde que Fittipaldi se uniu ao irmão na tentativa de levantar a equipe Copersucar-Fittipaldi. Com os dois títulos de Emerson, a culpa pelo péssimo desempenho do campeão ficou toda em cima do carro, que recebeu os apelidos de "Açucareiro" e "Tartaruga amarela" da torcida brasileira. Por mais que a família Fittipaldi fizesse de tudo para melhorar o carro, contratando os melhores profissionais do mercado, a equipe não evoluía. Em Jacarepaguá, a equipe faria de tudo para mostrar um bom desempenho na frente dos compatriotas ávidos por um bom resultado na F1.

A Michelin ficou bastante decepcionada com a péssima exibição dos seus pneus na Argentina e trabalhou bastante para que seus pneumáticos não decepcionassem novamente. Nos treinos, a força da equipe Lotus ficou comprovada com a pole de Ronnie Peterson e o terceiro lugar do vencedor da etapa portenha, Mario Andretti. Os pneus Michelin novamente se comportaram bem em condições de Classificação com Reutemann em quarto e o novato Villeneuve em sexto. Emerson superou as expectativas e colocou o seu Copersucar em sétimo, à frente da Brabham de Lauda e o Wolf de Scheckter. Riccardo Patrese, num Arrows com o patrocínio da Varig, conseguiu um bom décimo oitavo lugar na estréia da pequena equipe.

Chegada:
1) Peterson(Lotus) - 1:40.45
2) Hunt(McLaren) - 1:40.53
3) Andretti(Lotus) - 1:40.62
4) Reutemann(Ferrari) - 1:40.73
5) Tambay(McLaren) - 1:40.94
6) Villeneuve(Ferrari) - 1:40.97
7) Fittipaldi(Copersucar) - 1:41.50
8) Jones(Williams) - 1:41.87
9) Stuck(Shadow) - 1:42.07
10) Lauda(Brabham) - 1:42.08

No dia da corrida, o calor de 40 graus do Rio se fez presente, mas muitos cariocas preferiram deixar a praia de lado naquele domingo e encheram as enormes arquibancadas de Jacarepaguá. Na equipe Copersucar, um problema mecânico com o carro titular de Emerson levou a loucura toda a escuderia. Como a equipe brasileira só tinha Emerson Fittipaldi como piloto na ocasião, o carro reserva era acertado na medida em que o titular era mudado à feição do piloto e dono de equipe. Quando finalmente o carro reserva ficou pronto para dar uma volta na pista, Wilson Fittipaldi e o projetista Ricardo Divila ficaram roendo as unhas na expectativa da opinião de Emerson, quando este chegasse aos boxes. Wilsinho diria mais tarde que sabia se o carro estava bom ou ruim apenas pelo olhar do irmão e quando Emerson levantou a viseira, o chefe de equipe ficou mais tranqüilo.

Na luz verde, Reutemann faz uma super-largada e pulou de quarto para primeiro antes da primeira curva. Peterson caí para segundo e era perseguido pela McLaren de Hunt e a outra Lotus de Andretti. Emerson larga maravilhosamente bem e ultrapassa os novatos Villeneuve e Tambay e estava colado na traseira da Lotus de Andretti. A torcida foi à loucura quando os pilotos cruzaram a reta oposta com Emerson num sólido quinto lugar. Na segunda volta Hunt faz uma bela ultrapassagem em cima de Peterson no final da Curva Sul e assumia a segunda posição. Mas Reutemann estava imprimindo um ritmo avassalador e estava se distanciando dos demais pilotos de uma forma impressionante. Todos esperavam que o argentino tivesse o mesmo destino de Buenos Aires, quando liderou no começo da corrida, mas teve que fazer uma parada nos boxes para trocar os desgastados pneus Michelin.

Se aproveitando do bom rendimento da Ferrari e da Michelin, o segundo piloto da equipe Gilles Villeneuve aumenta o ritmo, ultrapassa o sexto colocado Patrick Tambay e se aproximava de Emerson. Logo, cinco carros brigavam pela segunda posição, com várias trocas de posição entre Hunt, Peterson, Andretti, Fittipaldi e Villeneuve. Era uma briga de titãs!

Com tanto calor, não foi surpresa ver James Hunt indo aos boxes na nona volta para colocar pneus mais duros. Quem se aproveitou disso foi Andretti, que colocou sua Lotus em segundo, seguido por Peterson, Fittipaldi e Villeneuve. Como tinha acontecido em Buenos Aires, a Lotus de Peterson não funcionava como o carro de Andretti e o sueco foi ultrapassado por Emerson na volta 12 no final da Curva Sul, para delírio do público carioca. E então Peterson passou a ser atacado por Villeneuve. Sem dúvida alguma, dois dos pilotos mais talentosos e agressivos da história da F1. O canadense já tinha afirmado que Peterson era um ídolo para ele, mas ambos já tinham se envolvido num sério acidente na última etapa de 1977, no Japão, que causou a morte de dois torcedores.

Na volta 15 Villeneuve tentou uma manobra bastante otimista em cima de Peterson na Curva 1 e o toque foi inevitável. O canadense conseguiu manobrar sua Ferrari e voltou à pista bastante atrasado, enquanto Peterson abandonou sua Lotus no local. Extremamente irritado, Peterson ficou na beira da pista e passou algumas voltas gesticulando contra Villeneuve quando o canadense passava pelo local. No céu, os dois devem rir cada vez que lembram disso...

Depois do acidente entre Villeneuve e Peterson, a corrida ficou bem estática, com Reutemann disparado na frente, seguido por Andretti, Fittipaldi, um surpreendente Stuck e um discreto Niki Lauda. O austríaco ganhou uma posição quando Stuck teve problemas de alimentação e abandonou a prova na volta 25. Não demorou e o forte calor começava a fazer suas primeiras vítimas, com o quinto colocado Patrick Tambay sofrendo um acidente após passado mal dentro da sua McLaren. Hector Rebaque encostou seu carro na volta 40 simplesmente por que estava esgotado. Mas nem o calor podia arrefecer os ânimos da torcida carioca. Emerson Fittipaldi fazia uma corrida explêndida e estava andando no mesmo ritmo da Lotus de Mario Andretti. Os cariocas que lotavam Jacarepaguá sentiam um mix de alegria e surpresa. Afinal, não era esse carro amarelo que era chamado de lento e vergonha nacional? Mas as emoções ainda não tinham acabado!

Na volta 57 o câmbio de Andretti ficou preso na quarta marcha e o americano foi perdendo rendimento até ser ultrapassado por Fittipaldi e Lauda, que se aproximara do brasileiro. Já sem esperanças de que os pneus Michelin fizessem com que Reutemann fosse aos boxes e com o argentino disparado na frente, só restou a torcedor carioca secar. Cada vez que Reutemann passava em frente às arquibancadas, o público gritava "quebra! quebra! quebra!" Mesmo com toda a "torcida", a Ferrari resistiu até o fim e Reutemann venceu com muita facilidade, dando a primeira vitória da Michelin na história da F1. Mas naquele momento isso não importava. O público invadiu o autódromo de Jacarepaguá e vibrou como nunca quando Emerson conquistou um segundo lugar com gostinho de título!

Esse segundo lugar seria o melhor resultado da equipe Copersucar em sua história. Emerson ficaria na F1 até 1980 e a sua equipe, que depois passaria a se chamar simplesmente Fittipaldi, fecharia as portas no final de 1982. Porém, destino mais cruel teve o Autódromo Jacarepaguá. Trinta anos depois de uma festa tão bonita, políticos irresponsáveis e dirigentes oportunistas (esse faço questão de dizer o nome: Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB que fez o Brasil pagar uma conta na casa dos bilhões de reais com o Pan) decretaram o fim de um dos melhores e mais belos autódromos do mundo no começo desse ano. Se a equipe Copersucar não mereceu o tratamento que recebeu, os cariocas não mereciam o destino da sua histórica praça esportiva.

Chegada:
1) Reutemann
2) Fittipaldi
3) Lauda
4) Andretti
5) Regazzoni
6) Pironi

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