Na medida em que a temporada 1983 ia chegando ao fim, o campeonato caminhava lentamente na direção das pequenas e habilidosas mãos de Alain Prost. Após a sua vitória na Áustria, o piloto da Renault tinha uma confortável diferença para os seus perseguidores diretos, Piquet, Arnoux e Tambay. No entanto, movimentos de bastidores poderiam mudar o cenário daquele campeonato emocionante. Satisfeitos com os franceses que tinham atrás do volante, a Ferrari estaria interessada em trazer Prost, para reeditar a explosiva dupla com Arnoux nos tempos da Renault. O problema era que Prost e Arnoux não se bicavam e Tambay era extremamente popular entre os tifosi. No pelotão intermediário, a McLaren tentava uma volta ao pelotão da frente e estreava no circuito de Zandvoort o motor TAG-Porsche turbo. Inicialmente apenas Niki Lauda teria esse motor a disposição, enquanto John Watson ainda sofreria com o motor Cosworth aspirado.
E sofreria ainda mais na enorme reta dos boxes de Zandvoort, que garantia uma dominação das equipe com motores turbo. Durante os treinos, Patrese e Andrea de Cesaris quase brigaram nos boxes por causa de uma confusão dentro da pista. A cena só não foi pior porque Patrese permaneceu sentado em seu carro, enquanto De Cesaris esbravejava! Nelson Piquet conquistou a pole, ficando à frente de Patrick Tambay, outro que brigava pelo título. Prost, naquele momento o maior favorito ao título, ficava num conservador quarto lugar, enquanto René Arnoux teve problemas de motor durante os treinos e teve que se contentar com a décima posição. Lauda, ainda se acostumando com o novo motor, teve que se contentar com a décima nona posição.
Grid:
1) Piquet (Brabham) - 1:15.630
2) Tambay (Ferrari) - 1:16.370
3) De Angelis (Lotus) - 1:16.411
4) Prost (Renault) - 1:16.611
5) Mansell (Lotus) - 1:16.711
6) Patrese (Brabham) - 1:16.940
7) Warwick (Toleman) - 1:17.198
8) De Cesaris (Alfa Romeo) - 1:17.233
9) Winkelhock (ATS) - 1:17.306
10) Arnoux (Ferrari) - 1:17.397
O dia 28 de agosto de 1983 estava nublado no litoral holandês e o circuito de Zandvoort estava preparado para mais uma corrida decisiva do campeonato. A maior preocupação dos organizadores era com o pouco espaço do pit-lane, já que o reabastecimento estava na moda, os boxes sempre estariam movimentados, podendo causar um acidente. Porém, a primeira preocupção dos pilotos era com a largada. E ela seria surpreendente! Piquet larga muito bem e disprava rumo a famosa curva Tarzan. Porém, Tambay quase deixa sua Ferrari empacada na primeira fila e isso causou uma grande confusão nas filas posteriores. O resultado foi que Eddie Cheever, que largava em décimo segundo (!), completou a primeira curva confortavelmente sem segundo, com o seu companheiro de equipe Prost logo atrás.
Piquet começou a disparar, enquanto as duas Renaults ficavam para trás e já eram ameaçadas pela segunda Brabham de Patrese. Era preciso que algo fosse feito pela equipe francesa e Cheever cedeu sua posição para Prost ainda na quarta volta. Mais atrás, Arnoux tinha feito uma grande largada e pulara para sétimo e em apenas cinco voltas já estava em quinto. E pressionando Patrese! Tambay, que completara a primeira volta na longuínqua vigésima primeira posição, teria que fazer uma longa e penosa corrida de recuperação.
Sem ritmo para se segurar entre os primeiros, Cheever foi perdendo rendimento e foi ultrapassado por Patrese e Arnoux, mas não antes vender caro sua posição. Patrese e Arnoux continuavam a briga pela terceira posição e só apenas na volta 22 foi que o piloto da Ferrari conseguiu ultrapassar Patrese e consolidar uma bela corrida. No entanto, todas as atenções estavam lá na frente. Piquet e Prost eram os pilotos do momento e o francês começava a se aproximar do brasileiro. Prost usava a potência do seu motor Renault para mostrar seu carro por dentro na entrada da curva Tarzan. Piquet fazia uma trajetória normal, como se ignorasse a presença do piloto da Renault. Era uma briga fascinante! Prost sabia que teria que efetuar a ultrapassagem na freada para a curva Tarzan. O problema era que Piquet também sabia disso. O resultado não podia ser outro. Na volta 38, Prost colocou de lado no meio da reta e Nelson ficou por dentro. Prost recolheu e por um átimo de segundo, Piquet pensou que Prost não tentaria mais nada naquele momento. No entanto Prost tentou uma manobra desesperada e colocou por dentro, deixando sua Renault totalmente de lado. Era aquela história de que, se Piquet não estivesse ali, Prost teria passado reto. Mas como a Brabham do brasileiro estava lá, Piquet acabou atingido por Prost e batendo forte na barreira dos pneus, acabando sua corrida ali.
Parecia que Prost teria uma vantagem injusta, após colocar Piquet para fora da corrida. Porém, a asa dianteira do Renault estava danificada e poucas curvas depois Prost passou reto e bateu forte no guard-rail, terminando sua corrida naquele momento. Era tudo que Arnoux precisava! Após largar em décimo, o piloto da Ferrari estava em primeiro e com seus dois maiores rivais agora como espectadores. A partir daí, a corrida transcorreu normalmente, com Arnoux à frente de Patrese e de um impressionante Tambay. Contudo, nas voltas finais, o turbo de Patrese quebrou e o italiano apenas se arrastava pela pista até o final. Mostrando o seu lado moleque, Piquet foi ao muro dos boxes, já de roupa trocada, e ficou brincando com Patrese, como se estivesse pedindo uma carona ao companheiro de equipe.
No final, a Ferrari conseguia uma improvável dobradinha com Arnoux assumindo a vice-liderança do campeonato, apenas oito pontos atrás de Prost. Porém, a Ferrari não era a única equipe feliz em Zandvoort. Logo atrás de John Watson, a Toleman marcava seus primeiros pontos com Derek Warwick em quarto lugar, após várias tentativas frustradas em que bons treinos sempre acabavam em quebras mecânicas. Após a corrida, todos queriam saber a opinião dos dois protagonistas da corrida, mas quem esperava uma polêmica, se enganou. "Não estou chateado pois ele errou, mas não acho que ele fez isso de propósito, pois ele é um ser humano e pode errar e também está brigando pelo título", declarou Piquet. Prost, como não poderia deixar de ser, assumiu toda a culpa pelo incidente. "Claro que não foi culpa dele, mas foi culpa minha. Eu vi uma chance naquela curva e errei. Sinto muito por ele, mas deveria ter pensado que o segundo lugar seria melhor para o campeonato". Piquet e Prost eram e continuam bons amigos, mas o campeonato começava a se distanciar, pouco a pouco, de Prost.
Chegada:
1) Arnoux
2) Tambay
3) Watson
4) Warwick
5) Baldi
6) Alboreto
Acabei de rever a cena, e não confere o "Piquet fazia uma trajetória normal". O brasileiro, na abertura da volta do acidente, mudou a trajetória pelo menos 2 vezes, uma abrindo (no início da volta)para evitar que Prost pegasse o vácuo para imediatamente fechar (+/- o que o Hamilton fez com Alonso e Petrov), mas no final da reta resolveu abrir de novo e Prost, podendo até estar em velocidade além pela falta de referência nas "fechadas", fez a lambança.
ResponderExcluirQ
Relatos da prova:
ResponderExcluir- A última vitória do francês René Arnoux na Fórmula 1;
- O último podium na carreira (3º lugar) do norte-irlandês John Watson, e a última vez que ele pontuou na Fórmula 1 e
- A última vez que o motor Ford Cosworth esteve no podium com o 3º lugar de Watson. Nas corridas seguintes, os motores Turbo domiram os podiuns e a categoria pra valer.
No Campeonato Mundial de Pilotos após 12 etapas:
- 1ª Alain Prost (França)
51 pontos;
- 2ª René Arnoux (França)
43 pontos;
- 3ª Nelson Piquet (Brasil)
37 pontos* e
- 4ª Patrick Tambay (França)
37 pontos.
* desempate no número de 2º lugar:
- 3 para Piquet e 2 para Tambay.