O Campeonato Mundial de 1988 chegava ao oriente com dois grandes pilotos, que dominaram a temporada com um carro que entrou para a história, com chances de serem campeões. Alain Prost mostrou o motivo de ser chamado de Professor. Com um pilotagem acadêmica, o francês conseguiu impressionantes treze pódios e seis vitórias em quinze corridas. Senna era o oposto. Desde que tinha entrado na F1 em 1984, o estilo agressivo do brasileiro tinha atraído vários fãs e mesmo que isso causasse alguns abandonos, o jeito de pilotar de Ayrton Senna lhe garantia boas vitórias e voltas de Classificação de cair o queixo. Prost tinha onze pontos de vantagem sobre Senna (90x79), mas sua regularidade tinha lhe custado um preço. Como naquela época existia os descartes, Prost teria que descartar alguns pontos, enquanto Senna, com incríveis sete conquistas, não tinha o que descartar graças a três abandonos. Por causa dessa bizarrice, tanto Senna, como Prost podiam ser campeões com uma vitória em Suzuka, que logo em seu segundo ano poderia decidir o segundo campeonato consecutivo.
Como foi comum em 1988, Senna batia o ponto na primeira posição do grid e abria uma vantagem psicológica em cima de Prost, que mesmo próximo do rival, ficou três décimos atrás. Como se não fosse mostrar o quanto tinha humilhado a concorrência durante toda a temporada, a McLaren deu outra demonstração de superioridade ao colocar 1.5s sobre o carro não-McLaren mais próximo. E como normalmente acontecia, era a Ferrari de Berger. A Lotus, que não esteve bem em nenhum momento da temporada, colocava seus dois carros na terceira fila, com o tricampeão Piquet à frente de Nakajima, que utilizava o seu vasto conhecimento de Suzuka.
Grid:
1) Senna (McLaren) - 1:41.853
2) Prost (McLaren) - 1:42.177
3) Berger (Ferrari) - 1:43.353
4) Capelli (March) - 1:43.605
5) Piquet (Lotus) - 1:43.693
6) Nakajima (Lotus) - 1:43.693
7) Warwick (Arrows) - 1:43.816
8) Mansell (Williams) - 1:43.893
9) Alboreto (Ferrari) - 1:43.972
10) Boutsen (Benetton) - 1:44.499
O dia 30 de outubro de 1988 estava carrancudo em Suzuka. Havia ameaça de chuva e isso favorecia claramente a Senna. Mesmo tendo apenas cinco temporadas de F1, já tinha ficado claro a genialidade de Ayrton em pista molhada e o mesmo não acontecia com Prost. O francês vinha de duas vitórias seguidas e Senna precisava virar o jogo para conquistar o seu sonhado primeiro título. Se aumentasse em três pontos a vantagem sobre Prost, o título estava no papo. Com um carro como a McLaren MP4/4, a tarefa era quase óbvia, porém, uma conquista de Senna não seria tão enigmática sem emoção. E ela veio logo no início. Quando o brasileiro parou seu McLaren na posição de número 1 do grid de largada em Suzuka, o motor Honda diminuiu o giro e o propulsor nipônico silenciou-se. Senna entra em desespero, lembrando-se da primeira prova do Brasil, quando também ficou parado, mas desta vez a largada foi dada com Senna praticamente parado.
Vendo a situação ficar desesperadora, Senna parou de tentar paralizar a largada e tentou religar o carro. Como se os deuses cooperassem, a reta em Suzuka é feita em uma descida e Senna utilizou essa vantagem para tentar reiniciar o carro. Tentou uma... e nada! Tentou duas... e o motor Honda voltou a vida e Senna saiu rumo a uma das mais fantásticas corridas de sua carreira. Prost aproveitou a vantagem e assumiu a liderança e via a oportunidade ideal para tentar o tri, pois Senna aparecia apenas em décimo quarto. Com o melhor carro, disparado, do pelotão, Senna partiu para uma recuperação impressionante na tentativa de conquistar o título. O empenho em suas ultrapassagens, a forma como deixou os demais carros como se estivessem parados e a tenacidade em chegar logo próximo a Prost entrou para a história e no final da primeira volta o piloto da McLaren aparecia em oitavo! E continuava a subir!
Após deixar Patrese, ainda na curva 1, e Nannini para trás na segunda volta, Senna já entrava na zona de pontuação e em duas voltas consecutivas, deixou para trás Boutsen e Aboreto. Ou seja, quarto colocado em quatro voltas! Mais a frente, Prost parecia administrar a liderança, enquanto Capelli continuava impressionando em sua segunda temporada na F1 com um raquítico March. Brigando de forma animada com a poderosa Ferrari de Berger, o italiano deixou o austríaco para trás na quinta volta e partiu para cima da ainda mais poderosa McLaren de Prost. O piloto da Ferrari fica para trás e é ultrapassado por Senna na décima volta, mas todas as atenções se voltam para a disputa pela liderança entre Prost e Capelli. Os dois estavam longe de Senna, mas com o brasileiro mais rápido. A disputa entre a McLaren e a March era o típico caso de 'Davi x Golias', e Capelli quase conseguiu repetir a história do pequeno rei. Na volta 16, o italiano colocou de lado na McLaren na entrada da reta dos boxes e por apenas alguns metros, liderou a corrida. Esse momento sublime de alegria foi o início do fim da corrida de Capelli. O motor aspirado Judd falhou e Prost nem esperou o fim da reta para retomar a liderança. O fato interessante era que pela primeira vez em cinco anos, um motor aspirado liderava uma corrida de F1. Mesmo que por 200 metros...
Não demorou e o motor de Capelli se entregou e o italiano ficou pelo caminho. Isso significava o que todos esperavam. Um duelo direto pela liderança entre Senna e Prost. Se o brasileiro teve todo o seu drama na largada, Prost tinha dois dramas para se confrontar naquele momento. A chuva, tão esperada, apareceu em forma de uma pequena garoa. Não a ponto de encharcar a pista de Suzuka, mas transformou o asfalto bastante escorregadio. Era o habitat natural de Senna. Como se todas essas adversidades não fossem o bastante, Prost começou a ter problemas de câmbio e Senna se aproximava de forma gradual, desta vez. O brasileiro encostou no francês, mas parecia querer estudá-lo. Senna ficou algumas voltas atrás do seu companheiro de equipe até o final da volta 26. Usando a mesma tática de Capelli, Senna colocou sua McLaren ao lado de Prost. O motor Honda não era o Judd, mas o carro ao lado de Prost não era Capelli e o francês ainda esboçou uma reação, tentando fechar o brasileiro, mas Prost foi correto em sua defesa de posição e Senna completou a ultrapassagem na freada da curva 1.
Tudo o que Senna precisava dali adiante era levar seu carro até o final. E o fez com mestria. Não precisava forçar demais, pois o único carro que poderia lhe ameaçar estava com sérios problemas, já que Prost tinha seu problema de câmbio agravado e não podia fazer mais nada. Boutsen, Nannini, Berger e Patrese eram inofensivos perante a potência da McLaren. A chuva, que na verdade era uma pequena garoa, desapareceu e Senna tinha pista livre à frente. Nada podia atrapalha-lo. Na última volta, Senna levou seu McLaren rumo a bandeirada com extremo cuidado, sem querer brigar com retardatários, e recebeu a bandeirada para sua décima quarta vitória, mas com um gostinho especial. Era a vitória que lhe garantia o primeiro título mundial na carreira. Se não teve adversários longe da McLaren, Senna teve que derrotar um super-adversário, que se provaria ainda mais perigoso no ano seguinte, dentro da própria equipe e confirmou um dos maiores talentos que já apareceram nas pistas em todos os tempos.
Chegada:
1) Senna
2) Prost
3) Boutsen
4) Berger
5) Nannini
6) Patrese