Assim como Jackie Stewart fez na F1, Phil Read foi um dos primeiros pilotos do Mundial de Motovelocidade a entenderem a importância deles comercialmente e usufruiu amplamente do dinheiro que ganhou nos seus anos andando de moto, principalmente quando comprou o seu controverso Rolls-Royce branco. Contudo, para conseguir a fama e o dinheiro, Read foi um dos grandes pilotos de motovelocidade nos anos 60 e 70, conquistando vários títulos e se tornando um dos únicos pilotos a conquistar o Mundial das 125, 250 e 500. De personalidade forte e controversa, Read foi um piloto de poucos amigos dentro das pistas, mas que tinha grande admiração por parte dos fãs e completando 70 anos no dia de hoje, vamos olhar um pouco da carreira desse piloto inglês.
Phillip William Read nasceu no dia primeiro de janeiro de 1939 na pequena cidade de Luton, próximo a Londres. Vindo de uma família muito ligada em motos, não demorou muito para que o pequeno Phil se apaixonasse por motos. O interessante foi quem o iniciou nessa paixão. Sua mãe era apaixonada por motos e a Sra. Read andava com uma moto Rudge 1922 para todo canto e foi ela quem ensinou Phil a pilotar. Com 13 anos, Read ganhou uma Matchless 250 e tendo como ídolos as estrelas da época Geoff Duke e John Surtees, Phil iniciou sua carreira em 1957, quando completou 18 anos, numa corrida em Mallory Park. Sua primeira vitória viaria apenas um ano depois, exatamente na mesma pista e sua fama crescia na medida em que conseguia vitórias nas pistas inglesas. Contudo, a fama de Phil Read como promessa surgiu quando ele, surpreendentemente, venceu a categoria novatos na perigosa pista da Ilha de Man, em 1960. No ano seguinte, ele venceria a Junior TT com uma Norton 350, onde Read teve que enfrentar Mike Hailwood e o rodesiano Gary Hocking, que acabaria se tornando Campeão Mundial no final do ano. Era a primeira vitória de Phil Read no Mundial.
Como acontecia na F1, o Mundial de Motovelocidade era dominada pelos pilotos britânicos no início dos anos 60 e as maiores estrelas do momento era Mike Haiwood e Jim Redman. Para se tornar campeão, Read teria que derrubar essas duas lendas. Para 1962, Read permanecia como piloto particular da Norton, participando das 350 e 500cc. Na sua segunda temporada completa no Mundial, Read surpreende ao ser terceiro colocado no Mundial das 500cc, derrotado apenas pela MV Augusta oficial de Haiwood e por Alan Shepherd, na época piloto oficial da Matchless. Read é escolhido o melhor piloto privado do Mundial e isso chama a atenção de Geoff Duke, que tinha sido ídolo de Read na adolescência, e agora era diretor da equipe de fábrica da Gilera. Ao contrário dos anos 50, a Gilera já não era uma potência e Read pouco pôde fazer para evitar o domínio de Haiwood e Redman nas categorias 350 e 500. No entanto, seguindo a Honda e a Suzuki, a Yamaha começa a sua participação no Mundial de Motovelocidade em 1963 com o piloto Fumio Itoh, nas categorias 125cc e 250cc. Sentindo que o futuro do Mundial passava pelas grandes fábricas japonesas, Read aceita o convite da Yamaha para participar dos Mundiais das 125 e 250, enquanto permanecia na equipe de Duke nas 500, que havia perdido o apoio da Gilera. A agressividade de Read leava a Yamaha RD 56 de dois tempos ao pelotão da frente e para a alegria dos japoneses, a briga pelo Mundial das 250cc seria entre a Yamaha da Read e a Honda de Redman. Read dá a primeira vitória do Mundial a Yamaha em Clermont-Ferrand, na França, e o título foi decidido no Grande Prêmio da Itália em Monza, com Read conquistando seu primeiro título com uma vitória. Além de ter sido o primeiro título da Yamaha, foi também o primeiro título de uma moto de dois tempos. Nas 500cc, Read é o melhor piloto privado novamente com um terceiro lugar e uma vitória. Com esses resultados, Read já era considerado um dos melhores pilotos do Mundial e candidato a estrela.
Para 1965, Read domina o Mundial das 250cc de maneira arrasadora, vencendo sete das treze etapas do ano, sendo que cinco de forma consecutiva. Read participa do desenvolvimento da nova Yamaha 350cc e participa de algumas etapas deste Mundial, onde encotraria aquele que seria seu maior adversário nos próximos anos: o novo piloto da MV Augusta, Giacomo Agostini. Após duas temporadas em que levou uma surra da rival Yamaha, a Honda reage e contrata Mike Haiwood para acabar com o domínio de Read nas 250cc. A Yamaha tinha uma nova moto V4, mas isso trouxe alguns problemas para Read, que viu atônito as dez vitórias de Hailwood com sua Honda, enquanto nas 125cc, termina o campeonato atrás do seu novo companheiro de equipe na Yamaha, Bill Ivy. Isso traria problemas mais tarde. Mesmo com uma vitória nas 125cc e nas 350cc, 1966 não tinha sido um grande ano para a Phil Read e ele exige que a Yamaha reaja para a temporada seguinte. Para isso, Read decide se concentrar apenas nas 125 e 250. A Honda investia em praticamente todas as categorias do Mundial, mas deixou um pouco de lado as 125cc e a Yamaha aproveitou para dominar a categoria, com Ivy dominando o campeonato, enquanto Read teve que se conformar com o vice-campeonato, causando uma ponta de rancor no piloto inglês. No entanto, a Yamaha deu uma ótima moto para Read nas 250cc e ele disputou o campeonato palmo a palmo com a Honda de Hailwood. Os dois chegam para a última prova, o Grande Prêmio do Japão em Fisco, empatados com 50 pontos. Quem chegasse à frente, seria o campeão, mas como nenhum dos dois viu a bandeirada, o título ficou para Hailwood, que tinha uma vitória a mais (5x4).
Durante a temporada das 250cc, Ivy conseguiu algumas vitórias e terminou o campeonato em terceiro, pouco ajudando Read na briga contra Hailwood. Isso deixa o inglês irritado e acabou causando um das maiores confusões da história do esporte a motor. Para 1968, a Honda surpreendeu o mundo ao abandonar o Mundial de Motovelocidade, enquanto Hailwood faz o mesmo, ganhando o farto salário da Honda para ficar em casa, pensando na sua mudança para o automobilismo. Sem a sua maior rival e com Hailwood de fora, a Yamaha era a favorita destacada para a temporada 1968. Sabendo que Read e Ivy não se davam muito bem e o primeiro não estava muito satisfeito, a Yamaha resolveu decidir o campeonato antes da largada para a primeira corrida. Foi decidido que Read finalmente venceria o Mundial das 125cc, enquanto Ivu seria o campeão das 250cc, o que seria o primeiro do inglês. Como acordado, Read venceu seis das primeiras sete etapas do Mundial das 125cc e garantiu mais um título Mundial, mas resolve desobedecer as ordens da equipe Yamaha e começa a vencer no Mundial das 250cc. Como resultado, acaba o ano empatado com Ivy em 50 pontos. Como ambos tinham o mesmo número de vitórias (5), o campeonato seria decidido na somatória de tempo das dez corridas do ano. Read foi campeão por 2:05s2. A Yamaha fazia dobradinha nas 125 e 250, com Read à frente, mas ficou irritadíssima com a rebeldia do seu piloto e o demitiu no final dessa temporada.
Apesar da manobra discutível da Yamaha, Read foi duramente criticado por pilotos e as demais equipe, que não o contratam para 1969. Apesar de Read ter tido a gana para vencer o título daquele ano, o acordo estava acertado antes da temporada começar e todos os demais disseram que Read não tinha palavra. Fora das pistas, o inglês era considerado arrogante e para aumentar ainda mais essa impressão, ele ia para os autódromos europeus com um Rolls-Royce branco. Read ganhava muito dinheiro com sua fama e passou a usar isso para conseguir patrocínio para sua própria equipe, já que nenhuma fábrica o quis contratar para os próximos anos. Como esperado, os resultados de Read minguam, mas em 1971 o inglês dá a volta por cima. Com uma Yamaha privada, Read disputa apenas o Mundial das 250cc e teria pela frente a sensação Jarno Saarinen e Rodney Gould, com uma Yamaha oficial. O resultado seria uma temporada acirrada, onde Read acabaria conquistando mais um Mundial!
Nas categorias maiores, 350 e 500cc, o Mundial vinha sendo amplamente dominado pela MV Augusta de Giacomo Agostini, com o italiano vencendo em ambas as categorias em 1969 após triunfar em todas as corridas. Com sua equipe própria, Read voltava à 500cc à bordo de uma Ducati, mas pouco pode fazer para evitar as vitórias de Agostini. Se não podia vencer na pista, Read começou a mexer no psicológico de Agostini. No início de 1972, Read declarou que podia vencer o italiano com máquinas iguais e quanto Agostini começou a temporada sendo derrotado pela Yamaha particular de Jarno Saarinen nas 350cc, Read disse que venceria o finlandês facilmente se tivesse uma MV Augusta nas mãos. Em Clermont Ferrand, Read se inscreve para a corridas das 500cc com uma Yamaha 250cc e por poucas voltas fica à frente de Agostini. Conde Augusta fica encantado e contrata Read para o Mundial das 350cc. Mesmo assim, Agostini permanece com seu domínio e derrota seu desafeto no Mundial das 350cc.
A MV Augusta tinha um "doce" problema para 1973. Como ter dois grandes pilotos que não se gostavam dentro da equipe? Nem se cogitava tentar fazer a mesma jogada da Yamaha em 1968, enquanto Read e Agostini se degladiavam dentro e fora das pistas. Nas 500cc, a Yamaha tinha Jarno Saarinen em ótima forma e quando o finlandês tinha tudo para se tornar campeão, ele veio a falecer no Grande Prêmio da Itália em Monza. Agostini não teve uma temporada muito regular e isso fez com que Phil Read conquistasse o principal campeonato do Mundial de Motovelocidade. Só que Agostini evitou a dobradinha do inglês ao faturar o Mundial das 350cc e se despediu da MV Augusta, que tantos títulos tinha lhe dado nos últimos tempos. Motivos? O ambiente da equipe era insuportável ao lado de Read e uma proposta milionária da Yamaha. Infelizmente para o italiano, a Yamaha erra a mão a moto das 500cc e isso permite o sétimo e último título de Phil Read. Após um ano de desenvolvimento, a Yamaha dá a Agostini uma grande moto para 1975 e foi com ela que o italiano disputaria palmo a palmo o Mundial das 500cc com a MV Agusta de Read. Foi um campeonato extremamente disputado entre a ágil Yamaha dois tempos de Agostini contra a pesada MV Augusta de quatro tempos de Read. Apesar de ter forçado tudo o que podia e ter conquistado duas vitórias, o inglês teve que se contentar com o vice-campeonato.
Vendo o surgimento de uma nova era, das motos dois tempos, a MV Augusta decidiu se retirar do Mundial de forma oficial e isso foi praticamente o fim dos bons tempos de Phil Read. Já com 36 anos, Read via surgir novos pilotos como Marco Lucchinelli, Johnny Cecotto e Barry Sheene, que tirou uma foto com Read quando era uma criança. Read volta a ser um piloto privado e mesmo correndo com a mesma Suzuki que dominou o ano com Sheene, Phil se contenta com a décima posição no campeonato. Read decide se afastar do Mundial após dezessete temporadas, sete títulos mundias (1964{250}, 1965{250}, 1968 {125 e 250}, 1971 {250}, 1973 {500} e 1974 {500}), 113 Grandes Prêmios, 52 vitórias, cinco poles, uma volta mais rápida e 121 subidas ao pódio, contabilizando as três categorias. Até o surgimento da lenda Valentino Rossi, Phil Read foi o único a ter vencido pelo um título Mundial nas três categorias (125, 250 e 500). Read passa a disputar corridas esporádicas, inclusive com uma vitória marcante no TT, na Ilha de Man, em 1977, derrotando na ocasião Mike Hailwood, levando o troco no ano seguinte. A última corrida de forma competitiva de Phil Read foi o TT de 1982, quando o inglês tinha 43 anos. Até hoje, Read, mais conhecido na Inglaterra como o "Princípe da Velocidade", participa de eventos históricos de motos e em 2002 entrou, de forma legítima, no hall das legendas do Mundial de Motociclismo. Read pode ter tido seus defeitos e trazido vários inimigos para si, mas não restam dúvidas que o inglês foi um dos grandes da história do Mundial de Motociclismo.
Parabéns!
Phil Read
Muito bom!
ResponderExcluirDificil ler textos em portugues sobre os grandes nomes das motos!
valew