domingo, 9 de agosto de 2009

Patrick



Normalmente a história da F1 é contada pelos vitoriosos, mas em alguns momentos certos pilotos, mesmo sem ter um grande número de vitórias, marcaram seus nomes na história da categoria. Patrick Depailler faz parte desse rol. Esse francês de estilo arrojado marcou toda a década de 1970 e mesmo não tendo tido nas mãos bons equipamentos na maior parte de sua carreira, sempre devotado a Ken Tyrrell, Depailler marcou toda uma geração. Sua timidez fora das pistas contrastava com seu gosto pelos esportes radicais, algo que atrapalharia bastante sua carreira. Se estivesse vivo, Patrick Depailler estaria completando 65 anos no dia de hoje e por isso vamos conhecer um pouco mais de sua carreira.

Patrick André Eugene Joseph Depailler nasceu no dia 9 de agosto de 1944 na cidade de Clermont-Ferrand, na bonita região de Auvergne. Filho mais novo de um arquiteto, o pequeno Patrick passou sua infância com sua mãe e suas duas irmãs, vivendo com certo conforto junto a sua família. Quando ele foi a escola, Patrick não teve um grande desempenho, mas aos 10 anos descobriram que o pequeno estudante tinha um grande defeito na sua vista, onde ele só podia ver uma parte da frase escrita. Após este diagnóstico, ele teve que usar óculos até que o problema fosse corrigido. Depois de ter saído da escola, Patrick foi a faculdade e eventualmente se tornou mecânico dentista, muito por influencia de sua irmã mais velha, Chantal, que se tornou uma dentista de sucesso na região. Ao contrário de Patrick, que tinha outros interesses bem diferentes do que sua pacata família queria.

Foi durante a sua adolescência que Patrick se apaixonou por carros e motos. Diz a lenda que foi sua avó que lhe patrocinou em sua paixão, lhe dando o dinheiro para que ele comprasse sua primeira moto, uma Velosolex. Patrick transformou a garagem de sua casa em uma pequena oficina e ele passava horas mexendo na sua pequena moto, tentando tirar mais potência. Em 1958 o circuito de Clermont-Ferrand, passando por várias estradas públicas, foi inaugurado e isso fez com que Patrick se apaixonasse ainda mais pelas corridas, enquanto ele se divertia pelas curvas apertadas e perigosas do novo circuito. Ele logo ganhou fama como piloto agressivo e isso extravasava um pouco sua timidez. Quando o Grande Prêmio da França de 1961 do Mundial de Motociclismo foi realizado pela primeira vez em Clermont-Ferrand, isso inspirou de vez Depailler e ele resolveu se enveredar pelo motociclismo. Sua primeira corrida foi no final de 1962 em Monthléry, com uma Norton 500cc emprestada, e mesmo debaixo de chuva, Depailler chegou em segundo lugar. Mesmo com seus pais não sabendo de suas aventuras pelo motociclismo, Patrick preparou sua Benelli 50cc para a primeira etapa do Campeonato Francês de motociclismo de 1963, que seria na porta de sua casa. Foi uma exibição marcante, que impressionou profundamente Jean-Pierre Beltoise, multi-campeão de motociclismo, que se tornaria seu protetor pelo resto da carreira.

Porém, Depailler tinha que cumprir suas obrigações militares e no outono de 1963 ele teve que dar uma parada em sua carreira para ir ao quartel. Em março de 1964, quando já estava se livrando do exército francês, Patrick viu uma reportagem de uma revista de automobilismo francesa, dizendo que seria feito um concurso para encontrar novos talentos para o automobilismo francês. A ‘Operação Jeunesse’ utilizaria vinte Lotus Sevens, com cada uma das regiões da França se responsabilizando pela manutenção dos carros e de indicar um piloto para eles. O Automobile Club d’Auvergne nomeou Patrick Depailler neste concurso após um teste preliminar e no dia 19 de Julho de 1964 ele fez sua estréia na Coupe dês Provincies. Correndo em Clermond-Ferrand, ele terminou a corrida num excelente segundo lugar e na quarta etapa do campeonato, no circuito parisiense de Monthléry, Patrick conseguiu sua primeira vitória. Mas não no automobilismo, pois ele havia vencido uma corrida de Subida de Montanha em agosto, com o mesmo carro.

Após seu sucesso na Coupe dês Provincies, Patrick esperava conseguir algumas oportunidades para continuar no automobilismo, mas nenhuma porta foi aberta para ele e em momento de desespero, ele procurou seu protetor Jean-Pierre Beltoise. Semanas mais tarde, Patrick recebeu uma proposta para correr no Campeonato Francês de motociclismo com uma Norton 500cc e Depailler aceitou sem hesitação, já que essa era a única forma de se manter correndo, mas a moto apresentava várias quebras mecânicas. Porém, Beltoise sofre um sério acidente durante as 12 Horas de Reims e fica impossibilitado de correr, tanto em carros, como em motos. O desempenho sólido de Depailler com a Norton convence Beltoise entregar sua Bultaco 250cc a Patrick para o resto do ano e Depailler consegue ótimos resultados. Porém, em 1966 não é um ano feliz para Patrick em sua carreira no motociclismo, com vários problemas na Bultaco de Beltoise. O veterano francês sabia, no entanto, do talento de Depailler e vai a casa dos seus pais para convencê-los a ajudar Patrick a continuar correndo. Sem nenhuma tradição nas corridas, a família Depailler era contra a carreira de Patrick, mas Beltoise convence o patriarca da família do talento do filho e o mesmo entrega 3.500 francos para que o novo talento fizesse sua inscrição no Winfield Racing Drivers School, no circuito de Magny-Cours.

Depailler passa pelas primeiras fases com tranqüilidade e na final, conhecido como Volante Shell 1966, iria enfrentar vários pilotos que fariam sucesso mais tarde, com destaque para François Cevert. Apesar do nervosismo, Patrick fica com o vice-campeonato, atrás de Cevert e então Beltoise entra novamente em ação. Para evitar que acontecesse o mesmo o que houve com Patrick na Coupe de Provincies, Beltoise decidiu entrar em contato com a Alpine, que tinha uma equipe na F3 Francesa. Após longas discussões com o dono da equipe, Jean Redelé, Patrick foi contratado por três anos com a equipe, onde seria, além de piloto, mecânico e piloto de testes. O pequeno salário que receberia seria o primeiro ganho de Depailler no esporte a motor, que também teve que sair de casa e antecipar seu casamento com Michele, namorada do colégio, para junho de 1967. Sua primeira corrida pela Alpine foi em 2 de abril de 1967 em Pau e após largar em 10º, ele não terminou a prova. Essa seria a pior corrida de Patrick, pois, mesmo bastante inexperiente na categoria, ele conseguiu ótimos resultados ao longo da temporada e quando veio a sua primeira vitória na F3 na Coupe de Paris, em Montlhéry, no final de maio, ficou claro seu talento. Infelizmente, a Alpine não era páreo para a força da Matra e a equipe rival ficou com os três primeiros lugares do campeonato, com Henri Pescarolo se tornando campeão, e Depailler terminando em quinto. Ainda em 1967, Patrick participou pela primeira vez das 24 Horas de Le Mans, também com a Alpine, abandonando na 17º hora.

No início de 1968 a Alpine lançou seu novo modelo de F3, mas a equipe estaria mais concentrada no Mundial de Esporte-Protótipo, com a equipe de F3 ficando com um pequeno orçamento, com apenas um carro para Depailler e dois mecânicos. Mesmo com uma ótima exibição na prestigiada corrida de F3 em Mônaco, Depailler claramente não tinha carro para enfrentar seus rivais e terminou o campeonato em 6º. Patrick ainda tinha contrato com a Alpine em 1969, mas a equipe aumentou seu investimento e contratou Jean-Pierre Jabouille para ser companheiro de equipe de Depailler. Ambos se tornaram grandes amigos, mas rivais dentro das pistas. Em Monthléry, Depailler e Jabouille terminaram a corrida com o mesmo tempo, mas Patrick acabou declarado vencedor. Após a conclusão da temporada, Patrick encontrou-se em 4º no Campeonato francês, enquanto ele e Jabouille abandonaram mais uma vez as 24 Horas de Le Mans com problemas de motor. Após três temporadas na F3, Patrick queria subir um degrau na carreira e partir para a F2, principalmente com a Alpine saindo da F3 em 1970. Depailler se juntou à Elf e a Pygmée, com ambas tentando promover a carreira de jovens pilotos franceses. A Pygmée contrata bons pilotos para o Europeu de F2, mas numa estratégia errada, constrói quatro carros (Depailler, Beltoise, Jabouille e Patrick dal Bo) e muitas vezes nenhum dos quatro carros estavam prontos! A primeira corrida de Depailler na equipe e na F2 foi em 3 de maio de 1970, em Nürgurgring e seu melhor resultado foi um nono lugar em Rouen.

Apesar dos parcos resultados, a Elf estava disposta a continuar investindo na carreira de Depailler e o francês se muda para a Tecno em 1971, além de um novo contrato com a Alpine para o Campeonato Francês de F3. A equipe tinha vencido o Campeonato Europeu de F2 em 1970 com Clay Regazzoni, mas o moto Ford BDA se provou pouco confiável, atrapalhando a temporada de Depailler na F2. No final de março, Patrick fez sua primeira corrida na temporada de F3 em Monthléry e acabou em 3º. No dia 25 de abril de 1971, Patrick venceu em Pau e no mesmo dia ele conseguiu o 6º lugar na corrida de F2. A partir da vitória em Pau, Depailler não deu mais chances a concorrência e com mais seis vitórias na temporada, Patrick se sagrou Campeão Francês de F3 de 1971 de forma dominante. No final de outubro, Patrick foi convidado, como Campeão Francês, para competir num torneio de F3 em Brands Hatch. No final da corrida, ele cruzou a linha de chegada em primeiro, derrotando pilotos do quilate de James Hunt, Roger Williamson, Jody Scheckter e Alan Jones, mas numa manobra altamente discutível, Depailler foi desclassificado após a corrida por ter, supostamente, desobedecido uma bandeira amarela. Por outro lado, sua temporada de F2 em 1971 trouxe pouco sucesso a Depailler, com apenas um 4º lugar em Crystal Palace como melhor resultado.

A passagem de Depailler em Brands Hatch chamou a atenção do chefe de equipe John Coombs, que o contratou para a temporada de 1972 do Europeu de F2, com o patrocínio da Elf. Logo em sua primeira corrida em Hockenheim, Depailler impressiona ao largar em 13º e chegar em 2º. Na etapa seguinte, em Pau, Patrick consegue a pole e vence de ponta a ponta, colocando 10s no segundo colocado Niki Lauda. No dia 13 de maio de 1972, Depailler foi convidado a participar da corrida de F3 em Mônaco e após conseguir uma pole dominante, Patrick venceu de forma enfática, debaixo de muita chuva. Naquela época, vencer a corrida em Mônaco de F3 era abrir uma porta para a F1 e já contando com 28 anos, Depailler sabia que tinha que conseguir logo uma vaga na categoria máxima do automobilismo. Contando com a ajuda da Elf e de John Coombs, ambos com fortes ligações com Ken Tyrrell, Patrick Depailler fez sua estréia na F1 ainda em 1972, durante o Grande Prêmio da França. Para aumentar ainda mais a emoção do francês, a corrida seria realizada na sua cidade natal. Largando no meio do pelotão, Depailler teve algumas dificuldades com alguns furos de pneus e ele acabou a prova em último, mas Ken Tyrrell fica impressionado com a atuação de Patrick e lhe promete um carro para o final do ano. As boas performances de Depailler no Europeu de F2 lhe garante a 3º posição no campeonato e o francês participa das duas últimas provas do Mundial de F1 na América do Norte, com Depailler conseguindo um bom sétimo lugar em Watkins Glen.

O ano de 1972 tinha sido de afirmação para Depailler, mas ele ainda não conseguiria um lugar na F1 para 1973, permanecendo mais um ano na F2 com John Coombs. Ele consegue vencer algumas baterias, algumas poles, mas nenhuma vitória no geral e Depailler fica novamente em 3º lugar no campeonato, com quatro segundos lugares no geral (Hockenheim, Kinnekullering, Monza e Salzburgring). Essas boas atuações na F2 fazem com que Tyrrell convidasse novamente Depailler a pilotar para ele no final de 1973. Porém, em setembro, Patrick foi andar de moto nas trilhas de Clermont-Ferrand e ele acabou batendo numa árvore, quebrando a perna em dois lugares. Isso acabou com todas as chances de Depailler correr para Tyrrell e ainda deixou os homens da Elf extremamente irritados. Como Jackie Stewart iria se aposentar no final de 1973, tudo indicava que Depailler seria companheiro de equipe de Cevert em 1974, mas isso agora era quase impossível. O único consolo de Patrick era que seu filho, Loic, nasceu no dia 20 de setembro de 1973. Porém, quando tudo indicava que Depailler não correria pela Tyrrell, uma tragédia se abateu na equipe. Cevert acabou morrendo nos treinos para o G.P. dos Estados Unidos e mesmo com o choque de perder o compatriota, Depailler retomou as negociações com Tyrrell. Com Jody Scheckter já contratado, a Elf exigiu que Tyrrell contratasse um francês e Depailler foi o escolhido. Patrick iniciou um intenso programa de recuperação para voltar a correr e no início de novembro de 1973 ele fez um teste com a Tyrrell em Paul Ricard, mas Depailler ainda andava de muletas e precisava ser levado ao cockpit do seu carro, contudo, em dezembro o contrato foi assinado, com Patrick ficando com o cargo de segundo piloto.

Depailler ainda andava de muletas quando ele fez sua primeira corrida como piloto oficial da Tyrrell em 1974, na Argentina. Mesmo com o ceticismo de todos, Patrick fez uma boa corrida em Buenos Aires e quando Carlos Reutemann e Howden Ganley abandonaram na última volta, Depailler ganhou duas posições e terminou em 6º, marcando seu primeiro ponto na F1. Na África do Sul, Depailler fez sua melhor corrida na F1 até então e chegou em quarto, colado no 3º colocado Mike Hailwood. O status de segundo piloto de Depailler ficou claro quando apenas um modelo do novo 007 estava disponível no Grande Prêmio da Espanha e este ficou com Scheckter. Em Mônaco, circuito que gostava muito, Patrick consegue sua melhor posição de grid, quarto, e pela primeira vez ele superava Scheckter, mas na volta de alinhamento, um vazamento de combustível pôs tudo a perder e Depailler teve que largar em último com o carro reserva. No Grande Prêmio da Suécia, Patrick surpreendeu a todos quando ele conseguiu a pole para a corrida, com Scheckter ao seu lado. Na largada, Depailler deixa as rodas patinarem e é ultrapassado por Scheckter e Peterson, mas quando o sueco abandonou no início da corrida, a prova é toda dominada pelos pilotos da Tyrrell, com a equipe dando a ordem para que seus pilotos não brigassem pela ponta. Scheckter acaba vencendo sua primeira corrida na F1 e Depailler termina no pódio pela primeira vez, menos de meio segundo atrás do vencedor. Na Áustria, Depailler abandona a corrida por exaustão e Ken Tyrrell ameaça o francês de demissão, fazendo com que Patrick se dedicasse mais a preparação física. No entanto, Patrick faz uma boa temporada na F1 e mesmo com sua notória dificuldades em se comunicar com os engenheiros em inglês, o francês fica mais um ano com a Tyrrell.

Concomitantemente ao Mundial de F1, Depailler tinha sido contratado pela equipe March de F2 em 1974 e logo na primeira etapa, Patrick vencia pela primeira vez uma corrida de F2 no global, em Pau. A batalha pelo campeonato acabou sendo com seu companheiro de equipe, Hans-Joachim Stuck, e na penúltima etapa do ano, em Hockenheim, Depailler venceu a etapa e se sagrou Campeão Europeu de F2.

Apesar de ser segundo piloto na equipe Tyrrell, Depailler e Scheckter se davam muito bem. Durante o Grande Prêmio do Brasil de 1975, ambos combinaram ir para o autódromo no domingo de helicóptero, para evitar os engarrafamentos, mas quando a aeronave não estava no local determinado, ambos arranjaram um carro e partiram desesperados rumo a Interlagos, vestidos de macacão. Depailler fazia tantas loucuras atrás do volante, que Scheckter chegou a fechar os olhos várias vezes e a polícia parou o carro deles. Comovido pela situação, ao invés de prender Depailler, a polícia armou uma escolta para que os pupilos de Ken Tyrrell chegassem a tempo a Interlagos. No GP da África do Sul, a Tyrrell faz uma ótima prova e Scheckter vence em casa, com Depailler em terceiro, mas esse seria o melhor resultado da equipe em 1975. Ainda houve alguns bons resultados, como na Suécia, quando Depailler colocou seu carro na primeira fila, mas abandonou ainda no início da prova. Em Nürburgring, Patrick largou em quarto e passou boa parte da corrida pressionando Niki Lauda. Na nona volta, a emocionante perseguição do francês terminou quando a suspensão do seu Tyrrell quebrou e para piorar, a Ferrari de Lauda quebrou no finalzinho, no que poderia ser a primeira vitória de Patrick. Todos esses resultados e azares significavam que Depailler terminou o campeonato em nono, com 12 pontos.

Para tentar voltar aos tempos de glória, a Tyrrell tinha um projeto audacioso para 1976. Em outubro de 1975, o revolucionário P34, o carro de seis rodas projetado por Derek Gardner, ficou pronto e Depailler passou o inverno testando o carro e Patrick ficou muito entusiasmado com o novo modelo. Após duas corridas fracas no Brasil e na África do Sul, ainda com o modelo antigo, a F1 se foi para o novo circuito de rua em Long Beach. Conhecido como um bom piloto em circuitos de rua, Depailler largou em segundo, mas não foi capaz de segurar Clay Regazzoni, que venceu de ponta a ponta. Porém, Depailler teve que se defender dos ataques de James Hunt no início da corrida e numa disputa mais forte no grampo, Hunt acabou no muro. O inglês ficou furioso com Patrick e passou várias voltas acenando agressivamente para o francês, ao lado do muro. Após rodar e se recuperar, Depailler terminou a prova americana em 3º e na entrevista após a corrida, Hunt partiu para cima de Depailler, mas o piloto da Tyrrell se manteve frio para evitar sopapos entre os pilotos. O Grande Prêmio da Espanha marcou a estréia do novo Tyrrell P34 nas mãos de Depailler e logo de cara o francês foi um dos mais rápidos nos treinos e no dia 2 de maio de 1976 Depailler fez história ao largar com o mítico carro, mas ele acabou abandonando com o motor quebrado.

Em Mônaco, poucos podiam imaginar que o monstrengo de seis rodas podiam se dar bem, mas após a primeira sessão classificatória, Depailler e Scheckter fizeram uma dobradinha, com Patrick terminando a prova em terceiro, mesmo com um problema na roda traseira. Os dois P34 andaram muito bem em Anderstorp, circuito no qual a Tyrrell tinha tradição de vitórias e bons resultados, Scheckter e Depailler dominaram a primeira fila e o sul-africano conseguiu sua única vitória na temporada, com Patrick 20s atrás. Após um 2º lugar na França, Depailler estava empatado com Hunt na vice-liderança, mas as esperanças de título do francês acabaram nas quatro corridas seguintes, quando não marcou ponto. Em Monza, Depailler foi protagonista de uma emocionante disputa com Ronnie Peterson pela vitória, mas quando o motor Cosworth do Tyrrell começou a ratear, Patrick acabou perdendo posições no final. No Grande Prêmio do Canadá em Mosport Park, Depailler passou a corrida inteira pressionando Hunt pela ponta da corrida, mas próximo ao fim da corrida, o piloto da Tyrrell começou a perder rendimento e Hunt acabou vencendo com tranqüilidade, com Depailler chegando em segundo. Após cruzar a linha de chegada, Patrick encostou seu carro e ao sair do seu Tyrrell, ele acabou desmaiando. Descobriu-se depois que um vazamento de combustível estava fazendo com que a gasolina ficassem impregnados no seu capacete, intoxicando o francês. O resultado foi que Depailler fez as últimas voltas quase inconsciente! Uma semana depois, em Watkins Glen, Patrick sofreu um acidente muito parecido com o que sofreu Felipe Massa na Hungria em 2009, mas o cilindro do motor da McLaren de Hunt acertou a roda traseira do Tyrrell. Quando voltou aos boxes, Depailler ainda brincou. “Eu sei que ele não gosta de mim, mas não precisa ficar jogando coisas!”

Após um segundo lugar no polêmico Grande Prêmio do Japão, Patrick terminou o Campeonato Mundial em quarto lugar, seu melhor resultado na F1, mas sua primeira vitória custava a acontecer. Mesmo com essa ótima temporada, que seria sua melhor na F1, ele conseguiu cinco 2º lugares e nenhuma vitória. Tudo indicava que a glória viria em 1977, mesmo com Depailler tendo um novo companheiro de equipe, já que Scheckter tinha ido para a Wolf e Ronnie Peterson ia para a Tyrrell. Seria um desafio e tanto para Patrick, pois Peterson era considerado o piloto mais rápido do pelotão, mas as coisas não saíram como planejado para a Tyrrell. A Goodyear não investia mais nos pequenos pneus dianteiros do carro da Tyrrell e isso significava uma diferença de aderência entre a dianteira e a traseira, ocasionando um desgaste brutal dos pneus traseiros. Isso significou uma temporada difícil para a Tyrrell e poucos momentos bons para Depailler. Quando Derek Gardner, pai do P34, saiu da equipe em setembro de 1977, o projeto foi praticamente abandonado. Fora das pistas, Patrick Depailler também passava por um momento difícil, com a dolorosa separação com Michelle. Ela não gostava muito de corridas e mesmo acompanhando o marido em todas as provas, ela preferia ficar dentro dos boxes, com medo de um acidente com Patrick. O horrível acidente que matou Tom Pryce no GP da África do Sul ocorreu bem na frente de Michelle e isso a deixou aterrorizada, fazendo com que a separação acontecesse alguns meses mais tarde. O único bom momento de Depailler em 1977 foi na última etapa do ano, no Japão, quando o francês fez uma corrida de paciência para terminar em terceiro e protagonizar um momento bizarro. Com Hunt e Reutemann apressados em pegar o avião de volta, ambos não foram pegar seus troféus e Depailler foi o único a subir ao pódio. Com essa terceira posição, Depailler terminou o campeonato em oitavo e pela primeira vez desde que chegou a F1, a Tyrrell passou um ano sem vitórias.

Para 1978, a Tyrrell teria um carro de quatro rodas e Depailler teria uma novidade tecnológica. A Tyrrell teria um gravador eletrônico na suspensão e a equipe teria informações sobre o carro após os treinos. Era o início da telemetria moderna. Com essa novidade, Patrick pode melhorar seu carro ao longo do final de semana na Argentina e no final ele acabou a prova em terceiro. Após uma corrida decepcionante no Brasil, Depailler foi a Kyalami fazer uma de suas melhores corridas na F1. Após um treino difícil, Patrick rapidamente se achou em segundo e quando o surpreende Riccardo Patrese abandonou quando liderava, Patrick estava numa confortável liderança. Faltando 14 voltas para o fim da corrida, o sistema de alimentação do carro de Depailler quebrou e uma pequena fumaça podia ser vista saindo da traseira do seu carro. Os dois pilotos da Lotus, Andretti e Peterson, se aproximavam rapidamente da Tyrrell, mas o americano tem problemas e na última volta, Peterson estava colado na traseira de Depailler. O francês se segurava como podia apesar dos problemas, mas quando o duo encontrou o retardatário Hector Rebaque, Peterson aproveitou a situação para colocar de lado e após algumas curvas lado a lado, o sueco levou a melhor e um decepcionado Depailler teve que se conformar com mais uma segunda posição.

Contudo, a primeira vitória de Depailler não demoraria a acontecer. No seu terreno favorito, Monte Carlo, Patrick largou em quarto e pulou para segundo na largada. O piloto da Tyrrell ficou num sanduíche de Brabhams, com Watson à frente e Lauda logo atrás, mas quando o austríaco foi aos boxes trocar um pneu e Watson teve problemas nos freios na metade da corrida, Depailler assumiu a liderança da corrida para não mais perde-la. Era a primeira vitória de Patrick na F1 e isso significava outra coisa. Pela primeira vez na história da F1, um piloto francês liderava o Mundial de Pilotos. Porém, essa honra duraria pouco, com o domínio avassalador da Lotus nas próximas corridas. Em 1978 Depailler fez sua volta às 24 Horas de Le Mans com a Renault e o carro era tão veloz que atingiu a marca de 359 km/h na reta Hunadieres. Após uma briga com a Porsche, o Renault de Depailler acabou abandonando às 10:00, quando tinha 9 voltas de vantagem sobre o 2º colocado. Voltando à F1, Depailler só marcaria pontos novamente no Grande Prêmio da Inglaterra e o francês terminaria o confuso Grande Prêmio da Áustria em 2º. Após cinco temporadas na Tyrrell, havia rumores que Depailler estaria saindo da equipe. Em Monza, Patrick se envolveu no acidente que mataria Ronnie Peterson no dia seguinte e o francês foi um dos que participaram do resgate improvisado do sueco. Mesmo com a primeira vitória na F1, Depailler terminou o campeonato apenas em quinto, com 38 pontos e com as malas arrumadas para sair da Tyrrell.

Durante o GP da Holanda, Depailler e Guy Ligier praticamente acertaram as bases de contrato e no final de 1978, Patrick fez seu primeiro teste com a Ligier. Patrick estava ansioso em estrear na nova equipe e ele teria como companheiro de equipe Jacques Laffite. Guy Ligier deixou claro que não daria nenhuma preferência a nenhum piloto e eles poderiam correr livres. O Ligier JS11 seria o primeiro modelo da equipe com efeito-solo e motor Cosworth, no lugar do Matra. A Ligier dominou a F1 nas duas primeiras corridas da temporada, com ambos os pilotos fazendo dobradinha no grid. Se na corrida, Laffite confirmou a pole e venceu as duas corridas, Depailler teve pequenos problemas e só havia conquistado um quarto lugar na Argentina. Com as duas vitórias convincentes nas duas primeiras corridas, a Ligier se tornou favorita absoluta ao campeonato, mas o avanço da Ferrari dificultou as coisas para a equipe francesa. Os pilotos da equipe italiana dominaram as duas corridas seguintes (África do Sul e Long Beach), enquanto a Ligier tinha problemas. Quando a F1 chegou a Europa em Jarama, a Ligier parecia voltar a boa forma com a equipe dominando a primeira fila, com Laffite ficando com a pole. A Ligier dominou amplamente a corrida espanhola e despachou seus adversários. Percebendo que estava chegando a hora de dar o bote em cima do se companheiro de equipe, Depailler andou colado atrás de Laffite a prova inteira e efetuou a ultrapassagem no início da prova e quando Laffite abandonou na volta 16, Depailler ficou tranqüilo para vencer pela segunda vez na carreira. Com esse resultado, Patrick assumiu a liderança do campeonato, empatado com Gilles Villeneuve.

Porém, no Grande Prêmio da Bélgica, logo na corrida seguinte, Depailler roda sozinho quando liderava e desperdiça uma ótima chance de disparar no campeonato, além de ter machucado o pulso. Após ser jogado para fora da corrida em Mônaco por Pironi, Depailler volta a Clermont-Ferrand para passar uns dias de descanso. Porém, descanso para Patrick era participar de esportes bem exóticos, como o esqui, o mergulho e sua nova paixão, a asa-delta. Durante um dos seus vôos, Patrick é atingido por algumas turbulências e ele bate numa montanha a 50 km/h, resultando em graves lesões em ambas as pernas, além de escoriações em ambos os braços e pulsos. Ele foi hospitalizado em Clermont-Ferrand, onde uma série de operações foi feitas para reconstruir suas pernas e tornozelos e os médicos discutiam a possibilidade de amputação. Patrick foi levado a Paris e suas pernas foram salvas, mas sua carreira estava seriamente ameaçada. Guy Ligier ficou irritado com Depailler e rescindiu o seu contrato. Para passar o seu tempo no hospital, Depailler passou a pintar quadros e quando saiu do hospital no final do ano, ele começou um intensivo programa de fisioterapia. Renault e Williams estavam interessadas nos préstimos de Depailler em 1980, mas o francês não se interessou em ser 2º piloto. A Alfa Romeo precisava de um piloto experiente e em Setembro de 1979 Depailler aceitou a oferta da equipe italiana. Em dezembro de 1979, ele fez seu primeiro teste com a Alfa Romeo, mas ele não tinha condições de andar sem auxílio de muletas. Depailler sentia dores terríveis para pilotar. A primeira corrida de 1980 seria ainda em janeiro na Argentina, e mesmo participando de todos os treinos, Depailler ficou na última fila do grid. Na corrida, tudo o que Patrick queria fazer era terminar a prova e testar sua resistência física e mental, mas ele acabou abandonando no final da corrida.

Após essa vitória moral, Depailler agora teria que desenvolver o difícil carro da Alfa Romeo e mostrando a sua evolução, ele largou em sétimo em Kyalami. Em Long Beach, pista que sempre andava bem, Depailler largou num ótimo 3º lugar, provando que estava totalmente recuperado, mesmo não terminando a prova. Em Paul Ricard e Silverstone, Depailler sofreu dois sérios acidentes quando a suspensão traseira do seu carro quebrou em curvas rápidas. Mesmo não terminando nenhuma prova até ali, Patrick estava satisfeito com seu próprio desempenho e após alguns dias na Ilha dos Açores, ele partiu para Hockenheim na manhã de sexta-feira, dia primeiro de agosto de 1980. A Alfa Romeo tinha reservado o circuito testes das 8:00 às 12:00 da manhã em preparação ao Grande Premio da Alemanha. Às 11:20 Depailler saiu dos boxes com seu Alfa Romeo para mais algumas voltas e quando o Estádio marcava 11:35, Depailler entrou na curva Ostkurve à 270 km/h, mas de repente o carro saiu reto rumo ao guard-rail e o violento impacto fez com que o carro capotasse e ficasse se arrastando por 50 metros.

O socorro médico e a própria equipe Alfa Romeo chegou rapidamente ao local, mas imediatamente ficou claro que Patrick estava gravemente ferido, com traumatismo craniano, hemorragia interna e suas duas pernas amputadas. Patrick chegou ao hospital de Heidelberg de helicóptero às 12:10, mas 50 minutos depois foi anunciada a morte de Patrick Depailler, aos 35 anos de idade. A F1 ficou chocada com a morte de um dos seus pilotos mais espetaculares e populares e mesmo com a suspeita forte de uma suspensão ter quebrado, como tinha acontecido na Inglaterra e na França, a Alfa Romeo sempre negou qualquer responsabilidade. Na quinta-feira, dia 7 de agosto, o funeral de Patrick se realizou em Clermont-Ferrand, com mais de 2000 pessoas presentes, inclusive Gilles Villeneuve, Jody Scheckter e Emerson Fittipaldi. O mundo disse adeus a um homem tímido e humilde, que ofereceu sua vida ao automobilismo.

5 comentários:

  1. Uma bela biografia, sim senhora. Já tinha feito uma antes, nos primórdios do meu blog. Fiquei interigado com uma coisa: ele passou as férias de Verão de 1980 noa Açores? Maravilha...

    ResponderExcluir
  2. Ótimo texto, superlativo. Um dos meus pilotos favoritos, senti muito a sua morte e guardei por muitos anos a edição da Autosport com sua foto na capa, Tribute to Patrick Depailler.

    Abrsço.

    ResponderExcluir
  3. Hadson - Gov. Valadares-MG10 de agosto de 2009 às 11:09

    Excelente texto e uma bela homenagem.
    Era e continuo sendo fã de Patrick Depailler.
    Suas duas únicas vitórias na F1 equivalem a umas 30 desses "cabeças-de-bagre" de hoje.
    Valeu!

    ResponderExcluir
  4. Eu tenho a impressão de que ele foi muito mal aproveitado.

    Aquela foto dos dois f1 derrapando é classica.

    ResponderExcluir
  5. amigo ! parabéns por manter este blog, realmente cada vez que entro aqui aprendo coias novas sobre a F1...abração! Fernando Gennaro

    ResponderExcluir