quinta-feira, 25 de março de 2010

História: 20 anos do Grande Prêmio do Brasil de 1990


Faziam dez anos que Interlagos havia perdido a F1 para Jacarepaguá e o tradicional circuito paulistano atravessou a década de 80 com muitas dificuldades, mas o autódromo do Rio começava a sofrer ameaças pela falta de organização e o acidente que deixou Phillipe Streiff paralítico durante um teste de pneus no início de 1989 foi a senha para que Interlagos entrasse em contato com Bernie Ecclestone para que a pista voltasse a sediar o Grande Prêmio Brasil de F1. Porém, a pista era muito grande para os já rígidos padrões da FIA e mesmo tendo um dos melhores traçados da história do automobilismo, a pista estava um pouco defasada para a F1. Ayrton Senna foi um dos que ajudaram a refazer a pista, inclusive criando o S do Senna, praticamente acabando com as famosas curvas um e dois de Interlagos. Numa obra em tempo recorde, Interlagos perdeu 3km de extensão e seus boxes eram modernizados. Erundina, do PT, gastou dinheiro público a beça para que a corrida fosse realizada, mas parece que os mesmos que criticaram a vinda da Indy para São Paulo quinze dias atrás não lembram muito disso...

Voltando à pista, Senna correria pela primeira vez como profissional em sua cidade natal e não decepciona ao conseguir mais uma pole em sua vasta coleção, tendo Berger ao seu lado, completando a dobradinha da McLaren. Depois da primeira fila da McLaren, a segunda fila era toda da Williams e a terceira toda da Ferrari, com Alesi novamente surpreendendo ao ficar entre os dez primeiros. Se até Phoenix os pilotos com pneus Pirelli sempre garantiam bons lugares no grid por causa da borracha de Classificação, em Interlagos isso não funcionou muito bem, com o piloto da Tyrrell sendo o melhor com pneus Pirelli.

Grid:
1) Senna (McLaren) - 1:17.277
2) Berger (McLaren) - 1:17.888
3) Boutsen (Williams) - 1:18.150
4) Patrese (Williams) - 1:18.288
5) Mansell (Ferrari) - 1:18.509
6) Prost (Ferrari) - 1:18.631
7) Alesi (Tyrrell) - 1:18.923
8) Martini (Minardi) - 1:19.039
9) De Cesaris (Dallara) - 1:19.125
10) Alliott (Ligier) - 1:19.309

O dia 25 de março de 1990 estava nublado em São Paulo e havia o risco bem real de cair a chuva que tanto atrapalhou as obras de 'mutilação' de Interlagos e a sexta-feira. Correndo em São Paulo, na frente de sua torcida que gritava de forma emocionante seu nome antes da largada, e não tendo muita sorte no Brasil, Senna queria a vitória de qualquer maneira, ainda mais com a presença de Jean-Marie Balestre nos boxes, que foi devidamente insultado de tudo quanto era jeito pela torcida brasileira, ainda rescaldo da polêmica em Suzuka em 1989. Mostrando sua gana de vencer naquele dia, Senna largou muito bem e não teve problemas em segurar a ponta, à frente de Berger, Boutsen e Prost, que havia largado muito bem e pulara para quarto. Com cinco vitórias no Brasil, Prost fazia sua costumaz corrida de espera. Mais atrás, Andrea de Cesaris continuava com sua chama por acidentes e saía da corrida logo na primeira curva.

No início da prova, não havia quem dissesse que Senna perderia aquela prova e seu ritmo no início da corrida era avassalador, como se aquela McLaren número 27 estivesse numa categoria à parte. Berger ainda tentou acompanhar seu companheiro de equipes, mas o austríaco logo perdeu rendimento por pura falta de pneus e já na sétima volta ele foi ultrapassado por Boutsen e algumas voltas depois por Prost. Boutsen vinha fazendo uma ótima prova e se mantinha num sólido segundo lugar até que resolveu fazer seu pit-stop na volta 30. O belga se atrapalhou na entrada do box e quase atropela seus mecânicos, atingindo um pneu e quebrando o nariz do seu Williams. Como resultado, Boutsen perdeu muito tempo no box e acabava com suas chances de conquistar um bom resultado naquele momento.

Com Boutsen fora do páreo, Senna tinha agora Prost como segundo colocado, mas o francês não tinha a mínima condição de se aproximar da McLaren, que mantinha praticamente o mesmo ritmo após as paradas. Senna tinha 13s de vantagem sobre seu arqui-rival quando se aproximou para colocar uma volta na Tyrrell de Satoru Nakajima, 12º colocado. Piquet e Prost sempre criticaram a forma como Senna ultrapassava os retardatários, dizendo que ele era agressivo demais, preferindo arriscar sua posição ou até mesmo um acidente para deixar um piloto mais lento para trás. Nakajima também era conhecido pelas suas trapalhadas, mas nunca um piloto desonesto. Porém, Satoru passou a ser motivo de chacota nacional quando Senna, agressivo como sempre, tentou uma ultrapassagem para lá de otimista em cima do japonês no Bico de Pato. Senna não tinha um quarto de carro à frente do Tyrrell de Nakajima, mas não recolheu seu McLaren e o resultado foi um sórdido acidente, em que Satoru Nakajima saiu ileso, mas Senna perdeu o bico do seu carro e teve que fazer uma parada não programada.

O público brasileiro imediatamente murchou, pois Senna tinha não apenas perdido a liderança, como caiu para terceiro e longe dos seus adversários. Como desgraça pouca era bobagem, Alain Prost, o grande vilão brasileiro na época, assumia a liderança da corrida e com mais uma de suas famosas corridas cerebrais, vencia pela primeira vez na Ferrari, a sexta no Brasil. Ao chegar aos boxes, Prost estava nitidamente emocionado e chegou a chorar nos boxes da Ferrari. O Rei do Rio, com suas cinco vitórias em Jacarepaguá, também triunfava em São Paulo, recebendo o trófeu do presidente Fernando Collor, com o gostinho de conseguir essa vitória no quintal da casa de Senna, que amargou uma de suas derrotas mais doloridas da carreira.

Chegada:
1) Prost
2) Berger
3) Senna
4) Mansell
5) Boutsen
6) Piquet

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