O Mundial de Motovelocidade viveu sua Era dourada na segunda metade da década de 80, quando a categoria 500cc foi tomada de assalto por pilotos que se tornariam lendas da modalidade. Eddie Lawson, Freddie Spencer, Randy Mamola, Wayne Gardner, Kevin Schwantz, Michael Doohan e, talvez, o melhor entre todas essas estrelas. Wayne Rainey era um piloto extremamente técnico e sua forma limpa de pilotar o fez ser conhecido por seu estilo cartesiano de enfrentar (e derrotar) cada uma dessas feras citadas acima. Sempre atrás do guidão de uma Yamaha e chefiado por Kenny Roberts, essa californiano conseguiu construir uma dinastia e estava a ponto de conquistar seu quarto título consecutivo quando, numa quente tarde de domingo na Itália, Rainey cometesse um raro erro e nunca mais pilotasse uma moto em sua vida. Mesmo numa cadeira de rodas, Wayne nunca abandonou a motovelocidade e o seu vício pelas corridas. Completando 50 anos nessa semana, vamos conhecer um pouco mais deste piloto histórico das 500cc.
Wayne Rainey Wesley nasceu no dia 23 de outubro de 1960, na pequena cidade de Downey, nos subúrbios de Los Angeles, na Califórnia, filho mais velho de Sandy e Ila Rainey. Sandy Rainey era um conhecido piloto de kart na Califórnia no início dos anos 60 e uma das primeiras lembranças de Wayne é ver seu pai carregando um caminhão para ir correr. Em meados da década de 60, Sandy começa a se interessar na nova moda no sul da Califórnia: as corridas de moto na terra, o famoso dirt-track. Criado em meio às corridas, não foi surpresa ver o pequeno Wayne se interessar pelas moto
s e seu pai, longe de se opor, comprou uma minimoto Honda 50cc quando seu filho mais velho tinha cinco anos. Quando completou nove anos de idade, Rainey passou a competir com outras crianças nas várias pistas de terra que haviam no sul da Califórnia, principalmente na famosa pista de Ascot Park, e Wayne conheceu seu primeiro grande ídolo, o piloto local David Aldana, conhecido por sua pilotagem extremamente agressiva. Rainey começava a fazer seu nome nas corridas pelo sul da Califórnia com sua Yamaha 125cc e quando completou 15 anos, começou a participar de outras provas no seu estado natal, se tornando rapidamente Campeão Estadual. Quando atingiu a idade mínima para correr em campeonatos nacionais da AMA, Wayne Rainey traçou como meta atingir o prestigioso Campeonato AMA Grand National, com motos monstruosas de 750cc.
Após dois anos vitoriosos nas categorias de base da dirt-track, Wayne Rainey chegou ao AMA Grand National aos 18 anos, com um equipamento inferior aos adversários, mas em sua primeira corrida, em Houston, Rainey consegue um respeitável nono lugar. Durante sua primeira temporada, em 1979, Wayne conseguia evoluir a olhos vistos e em pouco tempo se tornou um dos principais pilotos de dirt-track dos Estados Unidos, mas ele sofreu um sério acidente em San Jose, que o deixou de fora de várias corridas. Era a primeira vez que Rainey se machucava enquanto corria de moto e isso lhe marcou profundamente. Após dois meses de convalescência, a antes inatingível confiança de Rainey estava arranhada e o californiano não conseguia os mesmos resultados que conquistara antes do acidente. Apesar de sempre andar no pelotão da frente, Wayne nunca venceria no AMA Grand National. Em 1980, Rainey tem suas primeiras experiências em corridas no asfalto, participando de provas menores com o apoio da Kawasaki. Seu velho amigo Eddie Lawson, que era apenas dois anos mais velho que Rainey e foi seu companheiro de equipe nas corridas amadoras na Califórnia, havia aconselhado Wayne a se dedicar às corridas no asfalto. Lawson já estava estabelecido na motovelocidade americana e mesmo tendo pouca diferença de idade para Rainey, já era considerado um tutor para Wayne. Quando completou 21 anos de idade, Rainey se frustrava com a falta de vitórias na terra e se dedicava cada vez mais às corridas no asfalto. Em 1981 Rainey venceu uma corrida em Loudon com uma Kawasaki 250cc e todos percebem que o californiano era um talento extremamente promissor ,fazendo com que Lawson sugerisse a Kawas
aki contratar Wayne como seu companheiro de equipe no time oficial do time japonês no Campeonato AMA Superbike de 1982. A Kawasaki não pensa duas vezes e assina por três anos com Rainey.
O desafio seria imenso para o jovem Wayne, pois se estava acostumado com motos de 250cc, agora teria que enfrentar as monstruosas 1000cc, mas Rainey se mostrou competitivo desde o início e logo em sua primeira corrida, em Daytona, chegou em 5º lugar. Após três pódios consecutivos, a vitória de Rainey amadurecia e ela veio em Loudon, no dia 19 de junho de 1982. Nessa corrida, Wayne lutou contra seu companheiro de equipe Lawson e com a Honda de Steve Wise. Rainey ficou muito feliz com sua primeira vitória e finalizaria o campeonato em terceiro, atrás do campeão e companheiro de equipe Lawson e do piloto oficial da Honda, Mike Baldwin. Outro que faria sucesso no Mundial das 500cc mais tarde. Com o título, Lawson chamou a atenção dos dirigentes do Mundial das 500cc e com a intervenção de Kenny Roberts, Eddie se mudou para a Europa para a equipe oficial da Yamaha em 1983. Rainey agora era o principal piloto da Kawasaki no Campeonato AMA Superbike, que agora utilizaria motos de 750cc. Mesmo tendo o experiente Mike Cooley como companheiro de equipe, Rainey o superou com facilidade e após seis vitórias durante o ano, conquistou seu primeiro campeonato importante na carreira. O feito de Rainey era impressionante, pois a Honda investia forte na sua moto e em Mike Baldwin, mas para surpresa geral, mesmo com o bicampeonato, a Kawasaki anunciou no final de 1983 o fim de sua equipe oficial na Superbike, por causa da recessão da economia americana no início da década de 80. Com isso, Wayne Rainey se juntava aos vários americanos desempregados naqueles tempos difíceis. Porém, a salvação do californiano viria do outro lado do Atlântico. Kenny Roberts havia acabado de perder o título do Mundial das 500cc para a Honda de Freddie Spencer e cumpre a promessa de se aposentar no final de 1983, deixando Lawson como seu sucessor e iniciando uma equipe própria. Inicialmente pequena, mesmo com o apoio da Yamaha e da Marlboro, o Team Roberts estreava no Mundial das 250cc e já enxergando o talento de Rainey, Kenny Roberts contrata o californiano para a temporada de 1984. Ao lado do inglês Alan Carter, Rainey sofria com a falta de competitividade da sua moto e ainda tinha que aprender todas as pistas, mas o talentoso piloto ainda conseguia resultados surpreendentes, como o terceiro lugar em Misano, pista que lhe marcaria para sempre. Mesmo com o respeitável oitavo lugar no Mundial das 250cc, Rainey não foi feliz nesse seu primeiro contato com o Mundial de Motociclismo e o próprio Kenny Roberts sabia que não tinha um equipamento competitivo em mãos, liberando Rainey do seu contrato amigavelmente.
De volta aos Estados Unidos, Wayne Rainey foi contratado pela equipe oficial da Honda para o Campeonato de Formula Um da AMA, novo nome do Campeonato Americano de Superbike, e também correria pela equipe MacLean Racing, que competia com motos Honda na categoria Formula Dois, com máquinas de 250cc. Rainey começou a temporada como favorito em ambas as categorias, mas seu ano foi arruinado com várias quebras mecânicas e mesmo com duas vitórias na Formula Um, obteve apenas o oitavo lugar, enquanto na Formula Dois a temporada foi ainda mais frustrante, pois conseguiu cinco vitórias, mas terminou o campeonato apenas em terceiro. Apesar da frustração, Rainey permaneceu na Honda em 1986 e consegue a proeza de vencer seis das nove corridas do ano, mas ainda perder o campeonato para o seu companheiro de equipe Fred Merkel. Todos sabiam do excepcional talento de Rainey, mas faltava o americano ser um pouco mais constante
, assim como seu mestre, Eddie Lawson, conhecido pela frieza debaixo de pressão. Wayne estava desesperado em conquistar seu segundo título no Americano de Superbike e após dois anos frustrantes, sabia que 1987 seria um ano decisivo. Mas um homem queria estragar os planos de Wayne Rainey.
Desde 1985 Kevin Schwantz corria no Campeonato Americano de Superbike e mostrava um estilo de pilotagem selvagem em que isso lhe garantia boas classificações misturados com muitas quedas e acidentes. Porém, o jovem texano, quatro anos mais jovem do que Rainey, evoluía com o passar dos anos e em 1987 teria o apoio oficial da Suzuki. Num torneio amistoso na Inglaterra, no início de 1987, onde os melhores pilotos de Superbike ingleses enfrentariam os americanos, Rainey e Schwantz eram ‘companheiros de equipe’, mas o que se viu foi uma briga encardida entre os dois americanos e mesmo com a vitória da equipe ianque, todos ficaram ansiosos para ver a briga entre Rainey e Schwantz no Campeonato Americano de Superbike. E não se arrependeram. Rainey começou o ano vencendo em Daytona, Atlanta e Brainard, mas Schwantz venceu as cinco últimas corridas, porém Rainey conquistou o título. Essa temporada mostrou muito bem o temperamento dos dois talentosos pilotos. Enquanto Wayne Rainey era mais regular e pragmático, Kevin Schwantz tinha um talento mais puro e selvagem. Mesmo amigos fora das pistas, Rainey e Schwantz protagonizaram, para muitos, a maior rivalidade da história do Americano de Superbike. Os dois americanos chamaram a atenção dos chefes de equipe do Mundial das 500cc e a dupla pode mostrar a rivalidade a um nível global.
Do outro lado do Atlântico, Kenny Roberts agora tinha uma das melhores equipes do Mundial de Motovelocidade e após um ano com os americanos Randy Mamola e Mike Baldwin, Roberts resolveu investir em pilotos mais jovens. Mesmo com a decepção em sua passagem pelo Mundial em 1984, Rainey sabia que agora podia conseguir bons resultados com o time de Roberts e aceitou o convite para um retorno à Europa. Ao lado do australiano Kevin Magee, que tinha feito ótimas corridas como convidado em 1987 e por isso foi convidado por Roberts, Wayne Rainey enfrentaria os melhores pilotos do mundo com uma das motos mais carismáticas da história: a Lucky Strike Yamaha. A primeira corrida de 1988 seria em Suzuka, na frente dos patrões japoneses, mas Rainey não era o único a fazer sua estréia nas 500cc. Seu arqui-rival Kevin Schwantz também debutava no Mundial pela equipe oficial da
Suzuki e de forma surpreendente, o americano venceu em sua estréia, após uma linda briga com a Honda de Wayne Gardner. Rainey ficou furioso ao ser eclipsado por Schwantz e correndo no quintal de casa, em Laguna Seca, 2º etapa do Mundial, Wayne se vingou ao conquistar sua primeira pole na carreira e terminou a corrida na frente de Schwantz, em 4º. Mesmo sendo considerado o melhor piloto do Team Roberts, Rainey sofre outro baque ao ver seu companheiro de equipe Magee vencer antes dele, em Jarama. Aquela seria a última vez que Rainey seria derrotado pelo companheiro de equipe. Uma semana depois, em Jerez, Wayne disputou a vitória com seu amigo Eddie Lawson, mas acabou perdendo rendimento quando ficou sem pneus, conseguindo assim seu primeiro pódio, em segundo. Nas sete corridas seguintes, Rainey marcou pontos de forma regular, culminando no Grande Prêmio da Inglaterra, em Donington Park. Mesmo largando em quinto, Rainey conseguiu uma ótima largada e rapidamente estava em primeiro e nunca mais olhou para trás. Era a sua primeira vitória, em grande estilo. Embora Wayne não conseguisse repetir a vitória até o fim da temporada, sua regularidade o fez terminar seu primeiro campeonato do Mundial das 500cc em terceiro. Para coroar essa temporada de estréia, Rainey venceria a tradicional 8h de Suzuka, ao lado de Kevin Magee.
O primeiro ano de Wayne Rainey o colocou como um dos favoritos para a temporada de 1989 e sua regularidade poderia lhe dar uma chance de bater seu mentor, Eddie Lawson, que trocara a Marlboro Yamaha pela Rothmans Honda, onde seria companheiro de equipe do que inimigo fidagal Wayne Gardner. Rainey foi o mais rápido nos testes de pré-temporada e era favorito a vencer em Suzuka, mas para desgosto do piloto da Yamaha, ele acabaria sendo derrotado por Schwantz, numa batalha que durou a corrida inteira. No belíssimo circuito de Philip Island, Rainey novamente chegou em segundo, mas pela primeira vez na carreira liderava o campeonato, à frente de Gardner e Schwantz. Wayne Rainey foi para Laguna Seca, sua corrida caseira, em alto astral e confirmando seu favoritismo, venceu a prova com extrema facilidade, mas uma quase tragédia maculou a alegria de Rainey. Kevin Magee tinha ficado sem combustível na última volta e lentamente tentava chegar aos boxes. Após cruzar a linha de chegada, o americano Bubba Shobert, melhor amigo de Rainey nas pistas, cumprimentava o segundo colocado Eddie Lawson e não olhava para frente. De uma forma bizarra, Shobert acertou em cheio a traseira da moto de Magee e dois foram ao chão. Lawson abandonou sua moto para socorrer os dois. Magee tinha quebrado seriamente o seu tornozelo e ficaria várias corridas de fora. O promissor australiano nunca mais seria o mesmo. Já a situação de Shobert era pior. O americano foi levado para o hospital em coma e mesmo se recuperando mais tarde, ele nunca mais pilotaria profissionalmente na vida. Rainey não teve muito tempo para lamentar o azar dos seus amigos e liderava o campeonato com folga após a vitória em Laguna Seca, mas o triunfo de Lawson em Assen, sua primeira na Honda, o pôs como maior adversário de Rainey pelo título de 1989. Após vários anos como aluno, agora Rainey queria derrotar seu mestre Lawson! Em Hockenheim, pista que teorica
mente favoreceria a potência da Honda, Rainey surpreende Lawson e vence, fazendo com que o californiano se tornasse o principal favorito ao título. Porém, muitas coisas dão errado para o piloto da Yamaha, ao mesmo tempo em que Lawson acertava sua indomável Honda ao seu estilo. Lawson começou a usar sua experiência para tirar a desvantagem que tinha para Rainey e uma queda de Wayne na Suécia praticamente selou o quarto título de Eddie Lawson, o coroando entre os grandes do Mundial de Motovelocidade. Mesmo tendo que se conformar com o vice-campeonato, Wayne sabia que tinha condições de ser Campeão Mundial e sua evolução mostrava que isso seria logo. Em 1990, Kenny Roberts tira o patrocínio da Marlboro da equipe de Giacomo Agostini e se torna a equipe oficial da Yamaha, enquanto a Lucky Strike embelezaria as motos Suzuki de Kevin Schwantz. Porém, isso não foi a maior aquisição de Roberts para sua equipe. Numa manobra audaciosa, Roberts tira Eddie Lawson da equipe Honda e forma o que seria chamado de ‘Dream Team’, juntamente com Rainey. Relembrando os tempos em que eram companheiros de equipe nas corridas amadoras de dirt-track na Califórnia pela Yamaha, Rainey e Lawson agora disputariam algo maior e isso causaria problemas na amizade entre eles. Após várias tentativas, Rainey finalmente vence a corrida em Suzuka, mas em Laguna Seca Wayne teria a certeza que o título viria de forma tranqüila que o imaginado. Eddie Lawson era um piloto de estilo muito parecido com o de Rainey e acidentes eram raros, mas o americano ficou sem freios no final da reta dos boxes em Laguna Seca e quebrou o pé, fazendo com que ficasse de fora de algumas etapas, enquanto Rainey vencia em seu circuito favorito. O adversário principal de Rainey no campeonato seria Schwantz, mas o piloto da Suzuki não era páreo para o poderio da equipe Yamaha e a ótima fase de Rainey, que consegue onze pódios consecutivos, além de cinco vitórias, e conquista seu primeiro Mundial com duas provas de antecedência. Lawson deixa a equipe no final de 1990 e se transfere para a Cagiva acusando Rainey de ter exigido que o Team Roberts o favorecesse ao longo do ano. Sua insatisfação era flagrante a ponto de não subir no pódio em Brno, local onde Rainey garantiu seu título...
Para o lugar de Lawson, Kenny Roberts contrata seu protegido John Kocinski, que havia acabado de conquistar o Mundial das 250cc. Kocinski era conhecido pela sua velocidade e arrogância, fazendo com que o clima do time Marlboro Yamaha não melhorasse muito. Porém, o domínio da equipe em 1990 fazia com que Wayne Rainey fosse o grande favorito para 1991 e mesmo com pilotos como Lawson, Spencer, Gardner, Doohan e Schwantz correndo, todos apostavam em Rainey no início do ano. Porém, Michael Doohan, piloto da Rothman Honda, mostrava que Rainey teria que lutar muito para conquistar o bicampeonato ao vencer as duas primeiras corridas do ano e Wayne ainda teria que lhe dar com a imensa velocidade de Kocinski, que chegara colado em sua moto nas duas corridas e dizia que podia bater o campeão. Em Laguna Seca, local onde os dois pilotos da equipe Roberts conheciam muito bem, era a chance de Kocinski derrotar Rainey, mas Wayne largou na pole, disparou e venceu a corrida, enquanto Kocinski caía enquanto tentava alcançar seu companheiro de equipe. Além de extremamente talentoso, Rainey era conhecido por sua força psicológica frente aos companheiros de equipe, derrotando-os de forma até cruel, para colocar rapidamente ordem na casa. Derrotando seu companheiro de equipe, agora Rainey teria que lhe dar com Doohan, que vinha em ótima fase. Schwantz conseguia vitórias eventuais misturadas com muitas quedas e isso praticamente lhe tirava as chances de título, mas em um desses triunfos, Schwantz proporcionou uma disputa eletrizante com Rainey em Hockenheim, que entrou definitivamente na história. É só procurar no youtube para reviver as emoções da última volta do Grande Prêmio da Alemanha de 1991. Porém, a principal preocupação de Rainey era Doohan, com quem brigava pelo título de forma igual até o campeonato chegar a Assen. Doohan nunca gostou da pista holandesa e enquanto brigava com Rainey, uma queda praticamente selou sua sorte no campeonato. Rainey venceu e em conjunto com uma série de pódios, o americano conquistou o bicampeonato. Porém, um acidente nos treinos para o Grande Prêmio da Malásia fez com que Wayne sofresse sua maior contusão até então no motociclismo. Rainey teve uma perna quebrada e precisou fazer uma operação reconstrutiva, significando que o americano teria dificuldades para andar. Isso atrapalhou sua pré-temporada e uma nova queda fez com que Rainey tivesse que amputar o dedo mínimo da mão esquerda. Para aumentar os problemas de Wayne, a Honda estreava em 1992 sua nova moto e Doohan tinha sido o mais rápido em todos os testes de pré-temporada. O australiano comprova sua superioridade ao conseguir quatro vitórias consecutivas, enquanto Rainey assistia machucado, o domínio do duo Doohan-Honda. Em Barcelona, quinta etapa do mundial, Rainey finalmente vence sua primeira corrida após uma emocionante briga com Doohan, mas a alegria dura pouco quando o americano sofre uma queda no Grande Prêmio da Alemanha e quebra algumas costelas.
Nesse momento, Michael Doohan tinha 65 pontos de vantagem sobre Rainey, que correria em Assen com fortes dores internas, mas tentaria uma virada sobre o piloto da Honda. Na Holanda, essa virada aconteceria, mas não da forma que Wayne queria. Durante os treinos, Doohan sofre uma queda e desliza com sua perna direita embaixo da moto a mais de 160 km/h. O australiano foi levado ao hospital ‘apenas’ com a perna quebrada, mas complicações na cirurgia e uma infecção puseram a perna de Doohan em perigo. O australiano lutava para não ter sua perna amputada, enquanto Rainey, com fortes dores, vencia em Assen. Apesar de todo o azar de Doohan, Wayne sabia que aquela era sua chance de conquistar o título. Um quinto lugar na Hungria foi seguido por uma vitória na França e um 2º lugar na Inglaterra. A penúltima etapa do campeonato seria em Interlagos, que pela primeira e única vez receberia o Mundial de Motovelocidade. Rainey ainda tinha 22 pontos de desvantagem para Doohan, quando o australiano tentou um emocionante retorno às pistas. Doohan chegou ao aeroporto de São Paulo de cadeira de rodas, com as pernas extremamente finas e não conseguia sequer andar de bicicleta. Ele era colocado em sua moto pelos seus mecânicos e todos acharam uma temeridade ver o australiano em cima de sua indócil Honda NSR. Porém, houve uma chance para Doohan. Aquela final de semana em São Paulo foi chuvoso e aconteceram vários acidentes. Uma chicane foi inventada logo após a curva do Café e houve vários pedidos para que se cancelasse a etapa brasileira, temendo uma tragédia. Porém, isso influenciaria decisivamente no campeonato, pois se a corrida em Interlagos fosse cancelada, Doohan seria o campeão com uma etapa de antecedência e por isso a prova foi realizada normalmente com Rainey vencendo facilmente, reduzindo a desvantagem de Doohan para apenas dois pontos que, apesar da bravura em largar sem condições físicas, ficou fora dos pontos. “Dois pontos é uma enorme diferença para dois grandes pilotos,” falou Wayne Rainey após a corrida paulistana, mas o fato era que o americano não podia sentir compaixão do amigo acidentado e tentaria o título na última etapa do ano, em Kyalami. Já nos treinos para a corrida sul-africana, ficava claro que Wayne não perderia o título, com Doohan tendo enormes dificuldades em correr com sua Honda e ainda havia o problema da altitude, que fazia os pilotos se cansar mais ainda. Usando sua experiência, Rainey não forçou em nenhum momento e com o 4º lugar, conquistou seu terceiro título consecutivo. Muitos argumentaram que o triunfo veio pelo acidente que quase e
ncerrou a carreira de Michael Doohan na Holanda, mas Wayne Rainey teve que enfrentar duas cirurgias antes de começar a temporada e uma moto que não era a melhor do pelotão. Por isso, aos 32 anos, Wayne Rainey já estava na história do Mundial de Motovelocidade.
Mesmo dominando o Mundial das 500cc, Wayne Rainey sabia dos problemas que enfrentaria para 1993. Mesmo com o azar de Doohan, estava claro que a Honda tinha a melhor moto disparada do pelotão e a Yamaha necessitava urgentemente de melhorar sua máquina. Schwantz caía cada vez menos e sua Suzuki vinha evoluindo ao longo dos anos e, após vários anos andando mais do que a moto, o americano poderia ter um equipamento a sua altura nas mãos. Os testes de pré-temporada confirmaram as expectativas, mas como Doohan ainda se recuperava, Kevin Schwantz seria a maior ameaça para o tetracampeonato de Wayne. Se havia algum alívio, era que a equipe Roberts não teria mais John Kocinski, que voltava ao Mundial das 250cc, e para o seu lugar viria o bicampeão das 250cc Luca Cadalora. Isso seria um fator negativo a menos e mostrando o quanto poderia fazer com motos inferiores, Rainey consegue duas vitórias e um segundo lugar nas três primeiras corridas da temporada. Ao contrário dos anos anteriores, Schwantz teve a paciência de se manter na pista e estava próximo de Rainey no campeonato. No rápido circuito de Hockenheim, as deficiências da Yamaha não puderam ser mascaradas e Wayne se esforçou ao máximo para chegar apenas em quinto, enquanto Schwantz vencia a etapa alemã e a prova seguinte em Assen para assumir a liderança do Mundial. Claramente com uma moto inferior, Rainey sabia que precisava se reinventar para conseguir reagir no campeonato e o americano consegue uma vitória surpreendente em Barcelona, derrotando as mais acertadas motos de Schwantz e Doohan na base da garra, tirando velocidade nas curvas. O que ninguém sabia, era que essa vitória seria a última de Rainey na carreira...
Em Donington Park, Rainey tem uma chance de ouro quando logo na primeira volta um acidente tira Schwantz e Doohan da corrida, deixando a corrida para o piloto da Yamaha. Na teoria. Wayne foi ultrapassado pelo companheiro de equipe Cadalora, que procurava sua primeira vitória nas 500cc, mas a equipe Marlboro Yamaha mostrava placas indicando para Cadalora devolver a posição para Rainey. Cadalora se vez de desentendido e venceu a corrida, com Wayne em segundo e um desesperado Ke
nny Roberts balançando cabeça negativamente nos boxes. Se alguma coisa ainda servia de consolo, era que Rainey reassumia a liderança do campeonato, quando o circo da motovelocidade se mudou para Misano. O circuito italiano era um dos favoritos de Rainey, mesmo sendo uma pista considerada muito perigosa por todos os pilotos, inclusive com um boicote em 1989. O dia 5 de setembro de 1993 estava quente e ensolarado e Cadalora, piloto local e com grande conhecimento da pista, liderava a corrida, com Rainey em segundo e Schwantz em terceiro. Na décima volta de trinta, Rainey tentava aumentar seu ritmo para se ver livre do seu rival, mas numa entrada de curva, o piloto da Yamaha acelera demais e sai de frente. Não existem imagens esclarecedoras do acidente, mas Rainey foi jogado violentamente ao chão e deslizou em direção a brita. Em Misano, a brita tinha grandes sulcos para segurar os carros em caso de saídas de pista, mas isso não era válido para as motos e Rainey deslizava violentamente e velozmente na brita, sendo ainda atingindo por sua moto. Ele parou e ficou deitado, imóvel, mas claramente consciente. Os comissários se aproximaram rapidamente e Rainey sinalizava que tinha várias dores e permanecia imóvel. Infelizmente, a coluna de Wayne Rainey foi quebrada ao meio e ao chegar ao hospital, corria sérios riscos de vida. Após um longo período de internação, sua sexta e sétima vértebras foram reconstruídas, mas sua medula não pode ser consertada. De forma abrupta, a carreira de Rainey estava terminada e ele estava paralítico. Foram apenas 95 corridas, mas 24 vitórias, 16 poles, 23 voltas mais rápidas, 65 pódios, 1270,5 pontos e os três títulos mundiais na categoria 500cc (1990,91,92).
Com essa tragédia, Kevin Schwantz conseguia finalmente seu único título mundial, mas no ano seguinte, recheado de lesões, Schwantz abandonou sua carreira. O americano disse que sem Rainey, não havia mais motivação para permanecer no Mundial, pois ele sempre tentava acompanhar o seu eterno rival. A saída de Rainey também l
evantou várias perguntas. Após a saída de Wayne, Michael Doohan iniciou um período de dominação com cinco títulos consecutivos e como o piloto da Yamaha ainda estava no auge da carreira, a pergunta é: será que Doohan conquistaria tantos títulos? Até quanto Wayne Rainey iria e conquistaria mais? Isso nunca será respondido. Porém, Rainey não queria ficar parado e após uma consulta a Frank Williams, entrou de cabeça para se tornar um chefe de equipe no Mundial de Motovelocidade. Kenny Roberts cria um apêndice de sua equipe no Mundial das 250cc e é formado o Team Marlboro Rainey em 1994, cujo único piloto seria Kenny Roberts Jr. O ano foi de aprendizado, mas Rainey já mostrava olho clínico para achar grandes pilotos e indica o hiper-agressivo Norifume Abe a Roberts, que o contrata para o Mundial das 500cc em 1995, enquanto Rainey ainda teria Roberts Jr e Tetsuya Harada como principal rival à Aprilia de Massimiliano Biaggi nas 250cc em 1995. Mesmo sem nenhum título na categoria inferior, Rainey resolve subir para o Mundial das 500cc em 1996, trazendo consigo Loris Capirossi e após um ano cheio de altos e baixos, o italiano acabaria dando o que seria a única vitória da equipe de Rainey na última corrida do ano, na Austrália, após um acidente sórdido entre os pilotos da Repsol Honda, Doohan e Alex Críville. Wayne ficaria mais dois anos no Mundial das 500cc junto com Norifume Abe, com resultados apenas regulares, por causa da falta de regularidade do japonês, mas a verdade era que Rainey nunca havia ficado muito à vontade como dirigente. O negócio desse californiano era acelerar! Um pouco antes do seu acidente, Rainey havia comprado uma casa com vistas para a pista de Laguna Seca e no final de 1998 ele fechou sua equipe e passou a correr com karts adaptados, que foram projetados por Eddie Lawson, e sempre que pode Rainey corre na pista de Laguna Seca com seus velozes karts, inclusive, contornando a curva Rainey, que foi batizada em sua homanagem. Em 1999, Rainey foi introduzido no Hall da Fama da AMA e no ano seguinte foi nomeado como ‘Grand Prix Legend’ pela FIM. Ainda hoje Rainey acompanha algumas corridas da MotoGP e sempre que pode é homenageado pela Yamaha e pelos seus pilotos, não importando a geração. Seu estilo entrou para a história da Motovelocidade e a forma como dominou o Mundial das 500cc quando havia pilotos tão fortes como ele nunca será esquecido. Wayne marcou época na Era de Ouro do Motociclismo.
Parabéns!
Wayne Rainey