História: 15 anos do Grande Prêmio da Europa de 1995

O sucesso de Michael Schumacher na F1 já trazia dividendos para a Alemanha, com o país recebendo duas corridas da categoria em 1995. O histórico circuito de Nürburgring fica próximo da cidade natal de Schumacher e com o campeonato chegando aos seus momentos decisivos, a torcida alemã lotou o autódromo em todos os dias, mas a Williams, ainda tentando tomar o bicampeonato de Schumacher, havia melhorado consideravelmente seus carros e Coulthard, ainda motivado pela sua bela primeira vitória em Portugal apenas uma semana antes, ficou com a pole.

Porém, o clima instável foi a principal característica daquele final de semana. Apesar da velocidade de Coulthard, a Classificação foi atrapalhada pela chuva e o escocês não foi realmente ameaçado nos decisivos momentos finais de treinos. Schumacher já estava anunciado na Ferrari a partir de 1996 e talvez não querendo ceder importantes segredos ao alemão, a Benetton parecia complacente com a velocidade da Williams, praticamente entregando nas mãos habilidosas de Schumacher a glória (ou não) de mais um título. Correndo em casa, a Mercedes queria um bom resultado, mas pelo desempenho da McLaren, a montadora germânica teria que esperar por um verdadeiro milagre, num ano muito difícil do time de Ron Dennis. Irvine foi anunciado como companheiro de equipe de Schummy na Ferrari, frustrando muita gente no Brasil, que gostaria de ver Rubens Barrichello num time grande. Houve comentários que Schumacher teria barrado a contratação de Barrichello, pois teria 'medo' das habilidades do brasileiro. Pelo retrospecto entre 2000 à 2005, provavelmente Schumacher não precisasse de tanto medo assim...

Grid:

1) Coulthard (Williams) - 1:18.738

2) Hill (Williams) - 1:18.972

3) Schumacher (Benetton) - 1:19.150

4) Berger (Ferrari) - 1:19.821

5) Irvine (Jordan) - 1:20.488

6) Alesi (Ferrari) - 1:20.510

7) Herbert (Benetton) - 1:20.653

8) Frentzen (Sauber) - 1:20.749

9) Hakkinen (McLaren) - 1:20.866

10) Blundell (McLaren) - 1:20.909

O dia 1º de outubro de 1995 estava frio e chuvoso na região do castelo de Nürbur, fazendo da corrida uma loteria. Mesmo não chovendo mais na hora da largada, a pista estava molhada e ficou a velha interrogação de que tipos de pneus usar. Usando a via mais segura, os líderes escolheram os pneus para piso molhado. Entretanto, Ferrari e McLaren optaram pelos pneus slicks. A Ferrari só conseguira uma única vitória com Alesi no Canadá e queria provar a torcida alemão que poderia dar um carro vencedor ao favorito local, Schumacher. Já no desespero, a McLaren queria um bom resultado na frente dos chefões da Mercedes e utilizando a estratégia, tentariam o pulo do gato para conseguir uma performance fora do comum. Ainda antes da largada, Coulthard repetiu a presepada de Monza e destruiu seu carro durante as voltas de alinhamento no grid, tendo que voltar correndo aos boxes para pegar o carro reserva. Mesmo o escocês mostrando muita velocidade, foi por essas e outras que a Williams não renovou contrato com Coulthard, preferindo apostar em Jacques Villeneuve.

Porém, Coulthard teve a frieza de colocar este seu bizarro incidente de lado e fazer uma ótima largada, permanecendo na ponta. Numa pista suja e ainda mais molhada, largar no lado par era um problema sério e Schumacher se aproveitou disso para ultrapassar Hill, melhorando ainda mais suas chances de título. Como não poderia deixar de ser, Ferraris e McLarens perderam muitas posições com suas escolhas de pneus, mas enquanto Alesi e Berger permaneceram entre os dez primeiros, Hakkinen e Blundell passaram a vergonha de serem ultrapassados por Pacifics e Simteks nas primeiras voltas. Por enquanto. Logo nas primeiras voltas ficou claro que a pista não estava muito molhada, com pouco spray saindo da traseira dos carros e não demorou para que os primeiros pilotos fossem aos boxes colocar pneus slicks. Isso causou uma confusão nos pits entre as voltas 12 e 15, com vários carros entrando e saindo dos boxes.

Alesi finalmente capitaliza sua escolha de pneus e assume a liderança com boa vantagem sobre Coulthard, mas o escocês estava mais preocupado em obedecer sua equipe. Com Schumacher logo atrás de si, Coulthard passa a retardar o alemão para permitir a aproximação de Hill, que vinha em quarto. Com a mudança dos pneus, o equilibrio dos carros também mudou e parecia que Hill tinha o carro mais rápido no momento e passa a atacar Schumacher. O alemão, correndo em casa e já conhecido pelas suas manobras de gosto duvidoso em se tratando de defender posições, se segurava como podia. Hill chega a ultrapassar Schumacher na chicane, mas na curva seguinte erra e o alemão retoma a terceira posição. Coulthard estava claramente tendo problemas com seu carro reserva e é facilmente ultrapassado por Schumacher e Hill. Nesse momento, a corrida se acalma, com Alesi tendo uma diferença superior a 30s sobre Schumacher, com Hill ainda à espreita, em terceiro.

Na metade da corrida, ocorrem as primeiras paradas programadas, para reabastecimento. Alesi estava soberano naquele dia e parecia que venceria pela segunda vez na carreira, mas a verdade era que Schumacher era o piloto mais rápido da pista e tirava a diferença aos poucos. Após as paradas, o alemão inicia uma perseguição alucinante, imprimindo um ritmo impressionante, que foi capaz de desconcentrar tanto quem vinha na frente, como também quem vinha atrás. Com seu arquirrival cada vez mais longe, Hill vê suas chances de título indo embora e tenta forçar o ritmo, mas ele acaba quebrando seu bico numa zebra alta e tem que ir aos boxes. Com mais tempo perdido, Hill também começa a andar muito forte, na tentativa de se aproximar de Schumacher, já que Coulthard, então 3º colocado, lhe cederia a posição sem muitos problemas. Quando já estava próximo do seu companheiro de equipe, Hill escorrega nos esses e bate muito forte seu Williams. Dias mais tarde, foi descoberto que Damon tinha uma fissura na perna esquerda, mas o pior era que o inglês praticamente entregava o título para Schumacher com aquela saída de pista, aumentando ainda mais as críticas que diziam que Damon Hill não estava no mesmo nível de Schumacher.

Lá na frente, Alesi claramente sentia a aproximação implacável de Schumacher, isso sem contar que nuvens ameaçadoras podiam trazer mais chuva e emoção para o final da prova. O francês comete um erro nas voltas finais, permitindo que Schumacher colasse na traseira de sua Ferrari. O palco para uma briga titânica estava armada, com alguns ingredientes a mais. Schumacher estava indo para a Ferrari no lugar de Alesi, que muito provavelmente queria provar que os italianos estava errados em sua escolha. O francês não abriria a porta de maneira alguma! Já Schumacher corria em casa e muito provavelmente sentia a torcida lhe empurrando no velho circuito de Nürburgring, onde assistiu tantas corridas quando era mais novo. O alemão iria com tudo para cima! Alesi parecia ter um carro nitidamente mais desequilibrado, mas se segurava como podia, enquanto Schumacher permanecia surpreendentemente calmo, mas a verdade era que o alemão estava armando o bote em cima de Alesi. Faltando três voltas, Schumacher atacou Alesi na chicane que antecede a última curva. O francês deu o lado de fora para o alemão, talvez esperando que Schumacher, ainda brigando pelo título, não se arriscasse daquela maneira. Porém, o piloto da Benetton freou o mais tarde possível, contornou os pneus externos de Alesi e completou a belíssima manobra, para delírio do público alemão presente. Schumacher recebeu a bandeirada em júbilo, enquanto Alesi se conformava com a segunda posição. Até mesmo Hill, que estava de fora da corrida há muito tempo, bateu palmas para Schumacher naquele dia. O alemão bateu bons pilotos em ótimos carros, até melhores do que o seu, mas Schumacher provou naquele dia a diferença entre pilotos capazes de vencer corridas e pilotos capazes de entrar para a história.

Chegada:

1) Schumacher

2) Alesi

3) Coulthard

4) Barrichello

5) Herbert

6) Irvine