Num momento de grande globalização atual, vimos a chegada de pilotos de países sem tradição no automobilismo. Malásia, Polônia, Rússia... Porém, antes mesmo que a F1 existisse, um piloto da Tailândia de sangue real fez sucesso nas corridas européias do pré-guerra e ainda teve tempo de fazer algumas corridas de F1. Prince Bira foi um homem versátil e culto, mas foi graças ao seu talento e riqueza ele pôde vencer corridas e chamar atenção de todos pelas suas origens. Completando 25 anos de sua morte, vamos ver um pouco da carreira desse tailandês de sangue azul.
Birabongse Bhanutej Bhanurangsi Savangwongse nasceu no dia 15 de julho de 1914 em Bangcoc, capital do então reino de Sião e era neto do rei Mongkut, que abriu o país a influência do Ocidente no final do século 19, sendo ele o personagem do filme “O Rei e Eu”. Louco por carros, o pequeno príncipe desde muito novo pedia para ficar sentado no colo do motorista e ainda criança lhe foi permitido dirigir os carros reais no estacionamento do palácio. Continuando o projeto do seu avô de uma ocidentalização do país, Bira, como ficaria conhecido nas corridas, foi a Inglaterra em 1927 para estudar no conceituado Colégio Eton e aos 18 anos, altura em que ganhou seu primeiro carro, um MG Magna, entrou na Universidade de Cambridge. O anfitrião de Bira na Inglaterra era seu primo, o também príncipe Chula Chakrabongse, que também lhe apresentou ao automobilismo. Em 1935, Bira correu com um Imp Riley em Brooklands na equipe do seu primo, a White Mouse Racing (Rato Branco). Após esta corrida, Bira tomou duas atitudes. Seria piloto e também decidiu qual seriam as cores oficias do seu país no automobilismo: azul celeste com rodas amarelas. O interessante foi o porquê de Bira ter escolhido essas cores. No final de semana anterior, Bira conhecera uma bela garota que usava um vestido azul celeste com detalhes em amarelo. Uma bela forma de tentar impressionar uma garota...
Para ficar mais próximo das corridas na Europa Continental, na época mais desenvolvida do que na Inglaterra, Bira se mudou para Genebra em julho de 1935. Como aniversário de 21 anos, Bira ganhou de presente do seu primo um ERA de Grande Prêmio que foi nomeado de Romulus e o príncipe finalizou sua corrida de estréia em segundo. Bira teve a sorte de poder contar com o dinheiro que lhe era farto, mas o tailandês também mostrava talento, mesmo que seu estilo de pilotagem era mais suave e de ‘levar a criança para casa’. Ainda durante 1935 Bira conseguiria bons resultados, inclusive um 5º lugar na famosa corrida em Donington Park. Porém, os melhores carros da época eram os italianos e a equipe White Mouse adquiriu uma Maserati 8CM em 1936 e foi com esse carro que Bira consegue sua vitória mais importante, o Grande Prêmio de Mônaco. Enquanto usava a Alfa em corridas internacionais, Bira utilizava seu ERA em provas inglesas e conseguia algumas vitórias, se tornando um dos grandes nomes do automobilismo inglês. Conta a lenda que, junto com os carros, a equipe de Bira também levava uma espécie de harém, com várias mulheres bonitas, para deleite do jovem príncipe, mas no final de 1936 se casaria pela primeira vez.
Depois de uma temporada de sonho, a ganância nazista acabaria com o parco momento de glória de Prince Bira e a equipe White Mouse. Os alemães entraram com tudo no automobilismo em 1937 e os times da Mercedes e da Auto Unions passaram a dominar o automobilismo europeu, sobre julgando os carros italianos e ingleses. Porém, Bira continuava com sucesso nas corridas inglesas, conseguindo vitórias com sua equipe particular, que tinha em seu plantel os melhores profissionais da área da Inglaterra. Enquanto fazia carreira na Europa, as coisas estavam bem diferentes em seu país. Seu tio, Rei Prajadhipok, havia abdicado do trono e o país passava a se chamar Tailândia e seria invadida na década de 30 por tropas japonesas. Por isso, Bira ficou impossibilitado de visitar seu país natal, mas no início de 1939 ele marcou uma corrida de Grande Premio em Bangcoc em dezembro, mas a Segunda Guerra acabaria impedindo o sonho do príncipe. Apesar da inferioridade técnica, Bira ainda foi capaz de conseguir vitórias em corridas menores pela Europa, mas a deflagração da Guerra no segundo semestre de 1939 interrompeu a carreira do jovem piloto tailandês. Com apenas 25 anos, Bira era considerado muito jovem para as corridas de Grande Prêmio e por isso os seus melhores anos foram roubados pela Guerra. Ainda com 31 anos, Bira participou das primeiras corridas pós-Guerra, ainda utilizando seu velho Maserati 8CM. Em 1947 o tailandês comprou a ‘nova’ Maserati 4CL e com ela venceu o Grande Prêmio das Fronteiras, na Bélgica. Com esse resultado, ele foi contratado pela equipe Gordini e venceu o Grande Prêmio da França, em Rouen.
Porém, Bira ainda corrida pela velha equipe White Mouse na Inglaterra e com os velhos ERAs e Maseratis, conseguia várias vitórias na ilha, mas o automobilismo tinha ficado caro demais até mesmo para pilotos com dinheiro sobrando e Bira passou a correr em equipe satélites de Maserati. Na estréia da F1 no início da década de 50, Bira correu sempre em Maseratis de equipes particulares e sem grandes resultados. Em janeiro de 1955 Prince Bira conseguiu uma vitória no Grande Prêmio da Nova Zelândia e resolveu encerrar sua carreira no automobilismo. Mas ainda assim ele não deixou os esportes. Paralelamente ao automobilismo, Bira também velejava e ainda disputou quatro olimpíadas pela Tailândia, mas sem medalhas. Prince Bira era um piloto a modo antiga, o que chamamos de gentleman driver. Bira usava óculos e sempre estava de bom humor, fazendo que se tornasse muito popular entre os demais pilotos. Com a situação do seu país mais tranqüila, Bira voltou a Tailândia, mas passava muito tempo na Europa, cuidando dos seus negócios. Infelizmente, no dia 23 de dezembro de 1985, Prince Bira estava no metrô de Londres e sentiu-se mal. Era um infarto mortal e um dos pilotos mais exóticos da história do automobilismo estava morto.
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Bira
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É o sangue azul no automobilismo. Grande Prince Bira!
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