Antes de focar no assunto, vou dar um exemplo do futebol para ilustrar. Hoje em dia o melhor jogador em atividade no Brasil é o Alex, craque de Palmeiras e Cruzeiro, mas que resolveu encerrar sua carreira no Coritiba e, até o momento, vem fazendo isso com muita dignidade, levando o clube paranaense a voos mais altos com o meia mostrando o fino da bola. Porém, Alex não teve muito sucesso na seleção brasileira. E não faltaram oportunidades ao meia cerebral e habilidoso, mas que algumas vezes parecia dormir em campo. Essa pecha de dorminhoco em campo pregou em Alex e por isso ele nunca foi a uma Copa do Mundo, mesmo todos sabendo que ele tinha capacidade para isso.
O automobilismo está cheio desse tipo de exemplos. Ano após ano surgem vários pilotos talentosos, que ganham títulos nas categorias menores, mas por motivos alheios a lógica, acaba não chegando à F1, o supra-sumo do automobilismo mundial. A revista inglesa Autosport publicou uma lista interessante de 50 pilotos que fizeram muito sucesso e/ou foram muito promissores em suas carreiras, mas acabaram por não entrar na F1. Vamos a ela, com alguns comentários:
50) Valentino Rossi - Um pouco de forçação de barra para o italiano. Apesar de uma lenda em duas rodas, suas tentativas na F1 nunca me pareceram sérias e chamou mais atenção pela parte mercadológica do que pelo real intento de correr na F1.
49) Bird Clemente - Considerado por muitos como o melhor piloto brasileiro nos anos 60, não tinha mais idade quando ocorreu o boom brasileiro da F1 na década seguinte. Porém, apesar de respeita-lo demais, por vezes acho Bird um pouco saudosista demais, tipo, 'na minha época é que era bom, agora está ruim'.
48) Carlos Sainz - Fera. Começou sua carreira no asfalto e chegou a correr de F-Ford Inglesa, mas logo se mudou para os ralis. Para sorte do WRC!
47) Nicolas Minassian - Talentoso, mas com alguns parafusos a menos. Há um episódio em que foi suspenso em seu tempo de F3 Inglesa por agressão a um retardatário após uma corrida.
46) James Courtney - Australiano muito promissor na década passada, mas a F3 foi seu limite.
45) Andy Wallace - Sei que foi campeão da F3 Inglesa, mas muitos outros também venceram na categoria, como Mario Haberfeld, Alan van der Merwe...
44) Alain Ferté - Certa vez pesquisei sobre a F3000 e percebi que Alain Ferté, que tinha um irmão que também corria na mesma época, foi destaque no primeiro ano da categoria. E do segundo. E do terceiro....
43) Gary Hocking - Fera do Mundial de Motovelocidade no início dos anos 60 e como era comum na época, tentou a mudança de duas para as quatro rodas, mas a morte foi mais rápida. Perda muito lamentada para quem o viu correr e, dizem, poderia tranquilamente fazer a mesma trajetória de John Surtees na F1.
42) Christophe Bouchut - Muito bem na F3000, mas enveredou para o turismo e de lá não saiu mais.
41) Jean-Pierre Jaussaud - Quando pesquisava sobre a F3 da antiguidade, Jaussaud sempre aparecia em destaque no começo da década de 70, mas o francês parou por ali.
40) Craig Lowndes - Surgiu na F3000 como um piloto promissor, mas apanhou de forma inapelável para Montoya e voltou para a Austrália com o rabo entre as pernas. Pelo menos acho que seu nome tem uma entonação muito forte.
39) Bertrand Fabi - Não o conhecia, mas soube que morreu muito jovem como bastante promissor.
38) Andre Lotterer - Rival de Courtney na F3 Inglesa, nenhum dos dois se destacaram a ponto de chamar a atenção da F1.
37) Rickard Rydell - Me lembro do sueco no BTCC com um Volvo muito bonito.
36) Alain Menu - Só lembro dele competindo no turismo.
35) Kenny Brack - Após um ano muito bom na F3000, Brack foi para os Estados Unidos e obteve um relativo sucesso por algum tempo, sendo um forte rival de Gil de Ferran nos últimos bons anos da CART, mas um terrível acidente na perigosa pista do Texas acabou com sua carreira.
34) Nicolas Lapierre - A França sempre foi boa em revelar pilotos nos últimos anos, mas a falta de apoio fez com que muitos ficassem pela caminho. Como o caso de Lapierre.
33) John Nielsen - O mesmo caso de Alain Ferté...
32) Jean-Luc Salomon - O mesmo caso de Bertrand Fabi.
31) Paul Warwick - Irmão mais novo de Derek Warwick, falavam maravilhas do inglês, que acabou morrendo numa obscura corrida da F3000 Inglesa. Como não correu na F3000 Internacional, é bem difícil dizer se Paul era isso tudo mesmo ou mais um exagero da parcial imprensa inglesa.
30) Jorg Müller - Dos campeões da F3000, Müller talvez seja o menos lembrado.
29) Gonzalo Rodriguez - Não vou esquecer da morte de Rodriguez, por que na manhã da morte dele, me lembrei do uruguaio. Até hoje não sei porque! Porém, não achava Gonzalo um piloto tão forte a ponto de subir na F1, tanto que ele estava correndo em Laguna Seca na Indy quando morreu.
28) Stephen South - Esse ao menos foi convidado a correr de F1, mas foi tão lento que não se classificou...
27) Satoshi Motoyama - Oriundo da F3000 Japonesa ou F-Nippon, Motoyama venceu quatro vezes o forte campeão japonês. Que também revelou Yuji Ide...
26) Jason Watt - Contemporâneo de Gonzalo Rodriguez, o dinamarquês tinha tudo para subir para a F1, quando sofreu um acidente banal de moto, testando para uma revista, e acabou paralítico. Corre até hoje em carros adaptados.
25) Tony Stewart - Para quem vê Stewart apenas um piloto balofo na Nascar, é bom refrescar a memória. Ele foi o principal piloto dos primórdios da IRL e sua velocidade atraiu várias equipes americanas da Indy, mas Stewart preferiu a Nascar, onde mostra seu talento, carisma e força de vontade até hoje. Acho Stewart um dos pilotos mais corajosos da atualidade.
24) Paul Tracy - Entra na mesma categoria de Nicolas Minassian. Sem tirar, nem pôr!
23) Klaus Ludwig - Piloto dos tempos de vacas magras do automobilismo alemão, onde o bom mesmo era correr de turismo. Se possível, pela Mercedes, como foi o caso de Ludwig.
22) Frank Matich - Prazer em conhecê-lo, Frank.
21) Will Power - Tenho uma curiosidade enorme em ver Power, um dia, na F1. O australiano é sem sombra de dúvidas o piloto mais rápido da Indy em circuitos mistros, mesmo com sua atual má fase. Bastante agressivo, Power precisa também um pouquinho de sorte, pois três vices seguidos é um pouco demais...
20) Gerry Birell - Segundo Emerson Fittipaldi, um dos melhores pilotos das categorias de base da sua época, mas morto num acidente de F2.
19) Scott Dixon - O neozelandês sempre viveu um pouco à sombra de Dario Franchitti, mas tem um longa história na Indy pela Ganassi, andando forte em todos os tipos de circuito, além de competitivo em todo ano.
18) Adam Carroll - Muito talento e pouco dinheiro. Assim se pode resumir a carreira de Carroll.
17) Emmanuel Collard - Eterno piloto de testes na F1, mas sem chances de participar de uma corridinha sequer.
16) Al Unser Jr - Lenda viva. Foi protagonista na Indy em seus melhores anos.
15) Greg Moore - Perdi uma garota no dia que ele morreu por causa dele. Daria um trabalho enorme a Gil de Ferran na Penske, com a diferença de ser jovem e com a sensação de ainda não termos visto o seu melhor. Que fatalmente o levaria a F1 pelo talento que tinha.
14) Jamie Green - Patriotada incrível dos ingleses.
13) Don Parker - Quem?
12) Dan Wheldon - Piloto mais popular fora do que dentro de casa. O inglês Wheldon foi um piloto de ponta na Indy na transição de uma categoria caipira que só corria em ovais para o atual estágio da categoria. Quando já tinha passado o seu melhor momento, ganhou uma 500 Milhas de Indianápolis inesquecível, sua segunda na carreira, mas acabaria morrendo em um acidente, ao mesmo tempo, terrível e banal.
11) Gil de Ferran - Fera. Perdeu uma chance na F1 por detalhes, mas mostrou toda a sua categoria nos Estados Unidos. É somente uma opinião, a minha, mas o acho o melhor piloto brasileiro desde a morte de Ayrton Senna.
10) Laurent Aiello - Grande piloto de turismo... e nada mais a acrescentar.
9) Walter Röhrl - Lenda do rali, mas quando se aventurava no asfalto, impressionou...
8) Gary Paffett - Ótimo piloto e eterno piloto de testes da McLaren na F1 e da Mercedes no DTM. Muito pouco para estar no top-10.
7) Parnelli Jones - Fera. Destaque da Indy nos anos 60 e 70.
6) Dave Coyne - Forçação de barra.
5) Rick Mears - Rei dos Ovais. Porém, para quem acha que Mears só se destacava nos ovais, há notícias de um teste pela Brabham em 1981, ano do primeiro título de Piquet, onde o americano teria sido mais rápido que Nelsão. Porém, um acidente em 1984 destruiu seu pés e ele nunca mais pode se destacar em mistos. Mas seu reinado continuou por muitos anos mais nos ovais!
4) A.J. Foyt - Lenda viva. Uma carreira inigualável deste americano que pouco se lixou para a Europa.
3) Dario Franchitti - O escocês parece vinho, pois mesmo muito talentoso desde que aportou nos Estados Unidos, Dario só conseguiu os títulos e as glórias quando passou dos 35 anos. Quatro títulos da Indy e três vitórias na Indy 500 mostra bem o quão sucesso o escocês obteve.
2) Sebastien Loeb - Mito. Lenda viva. Histórico. Todos esses adjetivos, combinados, caem bem para esse francês que dominou como poucos na história do esporte, o rali o seu metiê.
1) Tom Kristensen - Outro mito. Multi-campeão em Le Mans, Kristensen chegou a correr bem em categorias de base como a F3000, mas foi na Audi em que ele encontrou a imortalidade.
Como toda lista, ainda mais com ordem, há sempre incoerências e polêmicas. Na minha opinião, faltou Tony Kanaan (bem melhor do que Castroneves, também fora dessa lista e da minha também) e Jeff Gordon (fez um teste muito bom com a Williams em 2003). Porém, diria que 90% dos pilotos que apareceram por aqui, mereciam ao menos ter tido uma oportunidade na F1.
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