domingo, 25 de novembro de 2018

Desrespeito

Para os baixos padrões de qualidade em Abu Dhabi, a corrida desse domingo foi até animada. Teve uma acidente perigoso logo nas primeiras curvas, estratégias diferentes, ultrapassagens em todos os pelotões e até mesmo chuva no deserto. Além de tudo isso, a F1 viu a despedida de Fernando Alonso, além de outros menos votados. Houve também reunião de Hamilton, Vettel e Alonso na reta dos boxes dando zerinhos com seus carros na frente do público que delirava. Por que desrespeito? Simplesmente porque ninguém no Brasil viu essa cena final, pois a Rede Globo fez o enorme favor de não passar o pódio e toda a emoção de várias corridas finais para muitos pilotos para voltar ao Esporte Espetacular. Uma notícia bombástica? Não teremos o segundo jogo da final da Libertadores? Não, simplesmente para mostrar repórteres em estádios vazios antevendo uma rodada em que até as puídas vigas de São Januário sabem que o Palmeiras serão campeão.

Uma lástima! Foi um desrespeito enorme para o ainda grande número de fãs de F1 no Brasil. Se quinze dias atrás o desrespeito foi apenas para quem mora no Ceará, pois a classificação não foi transmitida para cá, hoje o desrespeito foi nacional. Simplesmente sem motivo algum para não mostrar um momento tão solene como o pódio da corrida e principalmente a despedida de vários personagens, seja das suas equipes ou até mesmo da F1, como foi o caso destacado de Fernando Alonso. O mundo inteiro também queria ver como se comportaria Daniel Ricciardo depois de sua última corrida pela Red Bull, como Sainz se comportaria em sua despedida da Renault, o mesmo acontecendo até mesmo com Vandoorne, Gasly e Leclerc. O tradicional recado que Galvão Bueno sempre dá nas corridas finais de cada temporada foi devidamente cortado, inclusive para constrangimento do narrador global, que pareceu surpreso ter que encerrar de forma tão abrupta a transmissão da F1. 

Se a corrida de hoje teve vários momentos de simbolismos, essa falta de respeito da Globo para com o seu fiel telespectador da F1 também contém uma bela carga de simbolismo. Sem nenhum brasileiro para 'torcer', a Globo vai deixando a F1 de lado e situações como a de hoje podem se repetir cada vez mais, até chegar o momento da F1 se mudar definitivamente para o canal fechado, que por sorte pode ser o Sportv, pois ESPN e FOX Sports se concentram tanto em futebol, que não seria surpresa que as corridas não fossem transmitidas ao vivo por essas emissoras. 

Falando um pouco da corrida, mesmo com tantas intempéries, a prova teve no vencedor um nome comum nas últimas provas: o pole Lewis Hamilton. Das últimas onze corridas de 2018, oito foram vencidas pelo inglês da Mercedes, que se consolidou como piloto dominante desta temporada, mesmo que muitas vezes tendo que usar seu talento acima dos demais, mesmo um tetracampeão como Sebastian Vettel. Hamilton aproveitou o safety-car virtual pela quebra de Raikkonen para fazer sua única parada, mas a sensação foi que o pit-stop acontecera cedo demais e que Lewis poderia até mesmo fazer uma segunda parada. Falsa expectativa. Hamilton cuidou bem dos pneus para ver todos os seus rivais pararem nos pits e retornar à ponta com certa vantagem, não sendo pressionado pelo segundo colocado. Aventou-se a possibilidade da Mercedes devolver a vitória de Bottas, que foi tirada do nórdico na Rússia, mas o finlandês novamente não ajudou. Em outra corrida horrorosa, Bottas perdeu rendimento, provavelmente por causa de problemas de freios, e foi sendo ultrapassado por todos os seus rivais até cair para quinto, último colocado da F1 da elite. Vettel aproveitou-se para subir para segundo e com pneus mais novos, tentar um ataque em cima de Hamilton, mas o máximo que o alemão fez foi tirar 3s da desvantagem que tinha. Já Verstappen conseguiu ultrapassar Bottas na marra, batendo rodas com a Mercedes para garantir um lugar no pódio e ainda ultrapassar o obscuro finlandês na classificação final do campeonato. Raikkonen, que abandonou cedo, terminou sua passagem pela Ferrari com um terceiro lugar. Outro que se despediu bem foi Ricciardo, que esticou ao máximo sua parada, na tentativa da chuva molhar a pista, mas o calor é tão forte que o asfalto ficou seco e o australiano terminou sua passagem pela Red Bull em quarto, mas sem abandonos dessa vez.

No pelotão intermediário, a grande estrela foi Alonso. Vindo de alguns incidentes na primeira volta, fora nítido que Alonso largou com extremo cuidado e a partir daí fez sua corrida final dentro das pobres possibilidades da McLaren. Com um carro que só decaiu ao longo do ano, Alonso ainda ficou perto de pontuar, mas teve que se conformar com a 11º posição, mas não faltaram homenagens merecidas ao espanhol. Seu substituto na McLaren fez uma corrida de destaque, com Sainz levando seu Renault para a sexta posição, sendo o melhor do resto. Agora, Sainz levará sozinho a bandeira da Espanha na F1. Charles Leclerc deu outra mostra que deverá fazer um bom trabalho na Ferrari. Na primeira volta, o monegasco foi para cima de Ricciardo e ficou com a quinta posição, que logo virou quarto quando Raikkonen abandonou. Numa manobra discutível, a Sauber trouxe o piloto para os pits com o safety-car virtual de Kimi, relegando Leclerc para as últimas posições. Sem poder forçar, para não ter que parar novamente, Leclerc diminuiu o ritmo, mas ainda segurou uma sétima posição. Querendo mostrar a todos que a Sauber tinha perdido muito com a sua demissão, Ericsson fez outra corrida sem graça e abandonou. Com certeza a Sauber não está arrependida de sua decisão de trocar de piloto...

A Force India pontuou com apenas com Pérez, mas Ocon protagonizou outro entrevero com Verstappen. O holandês largou mal, com problemas de motor e não demorou para que os dois antigos rivais da F3 se encontrassem quinze dias depois da briga no pós-corrida em Interlagos. Ocon e Verstappen brigaram algumas voltas, até Max dar no meio do carro da Force India para ganhar a posição e rumar para o pódio. Vindo de um bom final de semana, Ocon se perdeu, foi superado por Pérez, a quem sobrepujou com sobras na classificação e desapareceu na corrida. Mesmo com essa afinada, é claro que Ocon tem muito mais chances de fazer um trabalho melhor na Mercedes do que Bottas. E enfrentar Verstappen com armas mais parecidas. Grosjean pontuou após se envolver no acidente com Hulkenberg na primeira volta, onde o alemão da Renault capotou e ficou com as rodas para o ar, sem ter como sair. Porém, o francês não foi culpado pela manobra, pois Hulk fez a curva como se Grosjean, sem espaço, não estivesse ali. A Haas terminou o ano muito bem, com seus dois carros pontuando. A Toro Rosso quase viu Gasly pontuar, mas o francês foi traído pelo motor Honda já no fim da corrida. Em outro simbolismo, Gasly estava prestes a tomar uma volta de Verstappen, que viu o motor que usará em 2019 explodir bem à sua frente. A Williams terminou lá atrás novamente, com Stroll superando o decepcionante Vandoorne, enquanto o chocado Sirotkin terminava em último. O russo sofreu um baque com a sua saída da F1, mas seus resultados não lhe ajudaram muito.

Para um circuito que parece ter sido feito com o troco do belo hotel que o rodeia, a corrida foi até legal. Muitas brigas e alternâncias de posições. Houve também despedidas emocionadas e até mesmo a presença inesperada da chuva. Porém, a parte final da última corrida do ano, que é sempre recheada de emoções, foi abruptamente cortada pela Rede Globo. Da mesma forma que houve vários momentos simbólicos durante a corrida, esse corte também foi bastante simbólico.   

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