Para quem viveu sua juventude no começo desse milênio e não tinha muito o que fazer na semana à noite, um dos programas que passava na TV era o 'Programa do Ratinho'. Extremamente sensacionalista e com toques de pastelão, o ápice do programado que era transmitido no SBT era o 'Teste de DNA', quando uma 'moça' exigia que um cidadão assumisse que era o 'pai' do seu filho e por isso, era pedido o famoso exame de DNA para tirar a dúvida. Só que até que o resultado saísse, o pau quebrava no palco do Ratinho, que muitas vezes atiçava a confusão, enquanto uma musiquinha rolava ao fundo: "Vamos quebrar tudo, vamos, vamos..." Hoje, essa musiquinha poderia ter rolado no pós-corrida em Interlagos. Max Verstappen já é um personagem que mesmo sendo ainda coadjuvante, consegue atrair toda a atenção para si por motivos que sempre lhe envolvem durante as corridas. Além de extremamente rápido e talentoso, Verstappen também é um piloto de personalidade forte e muitas vezes é tão agressivo fora como é dentro da pista. Só que até a corrida de hoje, a agressividade de Max fora das pistas só era vista com palavras, mas hoje vimos algumas ações bastante agressivas do holandês.
A corrida desse domingo em Interlagos foi uma das melhores do ano, com muitas disputas entre os seis pilotos de ponta da temporada, mesmo que a esperada chuva não desse as caras. Mercedes, Ferrari e Red Bull estavam bem parelhas, mas o diferencial foi mesmo Max Verstappen. Casando muito bem com a pista em que sempre andou muito bem, o piloto da Red Bull foi ganhando posições na pista, ultrapassando simplesmente todos os demais pilotos de ponta, com exceção de Daniel Ricciardo, que largou mais atrás por causa de punição e também fez uma bela corrida. Verstappen ultrapassou as duplas de Ferrari e Mercedes na pista com ultrapassagens decididas sempre na freada do 'S' do Senna. Após ultrapassar um fragilizado Lewis Hamilton, que sofreu muito com os pneus hoje, Max Verstappen controlava a corrida e partia para uma vitória enfática e até mesmo não esperada, vide que o enorme setor de aceleração de Interlagos entre a Junção e a freada do 'S' do Senna não ajuda muito a Red Bull. Max vinha fazendo sua melhor corrida. Isso, até encontrar o figurão da corrida de hoje.
Esteban Ocon não vinha tendo um final de semana feliz com a Force India e tinha tomado uma volta, enquanto ocupava a modesta 14º posição, porém o francês estava com pneus supermacios novos e estava rápido. Por motivos que somente Deus e Ocon vão saber, o piloto da Force India resolveu que podia tirar uma volta ultrapassando o líder Verstappen, que vinha administrando a prova. Na freada do 'S' do Senna, lugar onde Verstappen tinha conseguido suas manobras de ultrapassagem, o holandês foi surpreendido por Ocon, o deixando lado a lado com o retardatário na segunda perna da esse. Mesmo por dentro, o lógico era Ocon recuar, pois estava ao lado do líder, mas o francês insistiu na manobra e acertou Max no meio, decidindo a corrida de forma estúpida e inacreditável!
Verstappen só foi ultrapassado por Hamilton, mas o estrago no seu assoalho era muito grande. Mesmo com Lewis sofrendo com bolhas nos pneus nas últimas voltas, já que tinha parado muito cedo, Verstappen foi incapaz de alcançar o inglês e cruzou a linha de chegada apenas 1.4s atrás do vencedor Hamilton. No rádio, Verstappen avisou: se o encontrar, vou tirar satisfação com ele (Ocon). A cara de Max no pódio indicava que ele iria procurar brigar, como realmente procurou. Numa imagem da TV francesa, Verstappen foi para cima de Ocon e deu vários empurrões no francês, que ficou com cara de Poliana, como se não acreditasse no que estava ocorrendo. Mesmo punido por um stop and go de 10s, o que Ocon fez foi imperdoável e sua reação depois da corrida pode ter queimado-o ainda mais, lembrando que o francês está praticamente fora do grid em 2019. Ao ser empurrado diversas vezes, Ocon não esboçou nenhuma reação, abrindo os braços como se quisesse posar de vítima. O francês errou bisonhamente três vezes. O primeiro dentro da pista, ao acertar o líder da corrida como retardatário. O segundo foi não aceitar que errou. E finalmente o terceiro, ter ficado impassível enquanto era empurrado por Verstappen, demonstrando uma fraqueza de caráter muito grande. Já Verstappen mostrou ser um piloto à antiga. A maioria dos pilotos em sua situação, com certeza iria lamentar numa entrevista escolhendo bem as palavras para depois desabafar no Instagram. Max teve uma atitude personalista. Saiu do pódio sem estourar o champanhe e tomou satisfação com o seu antigo rival de F3. Do mesmo modo como um Alan Jones ou Keke Rosberg fariam. Max pode não ter ganhado a corrida (e olha que ele merecia demais vencer hoje), mas ganhou muitos fãs com sua atitude, ao contrário acontecendo com Ocon.
No meio de uma cena que não víamos já fazia mais de vinte anos (Michael Schumacher invadindo o boxe da McLaren para tirar satisfação com David Coulthard em Spa/1998), a corrida ficou totalmente de lado. O que foi injusto, pois foi mais uma bela prova em Interlagos. Hamilton ganhou a corrida com a sorte de pentacampeão, ao ver Ocon tendo a diarreia mental bem à sua frente e tirando do caminho justamente o seu rival que estava nitidamente mais rápido. Sofrendo com os pneus, Lewis segurou o rojão nas últimas voltas com o dianteiro direito cheio de bolhas para vencer mais uma vez na temporada. Raikkonen fez uma corrida sólida, onde com uma estratégia parecida com a de Hamilton, teve mais pneus no final, mas teve que segurar Ricciardo, que fez uma bela corrida de recuperação para terminar próximo do pódio após largar em 11º. A Ferrari alegou problemas em Vettel e por isso sua corrida tão pobre, quando tinha pinta que era o favorito a vencer a prova de hoje por a Ferrari ter largado com pneus macios, enquanto Mercedes e Red Bull largaram com supermacios. Com certeza 2018 não será um ano que Vettel guardará com carinho em sua mente, pois dá para dizer que hoje foi outra vitória desperdiçada, mas se serve de consolo, pelo menos não foi culpa do alemão. À frente de Vettel chegou Bottas, já podendo ser considerado o pior dos seis pilotos de ponta da atualidade. O finlandês foi ultrapassado diversas vezes e teve que parar duas vezes, enquanto seu companheiro de equipe vencia com uma tática diferente. Apesar de ser comparado com Hamilton ser uma missão difícil, é nítido que outros pilotos poderiam fazer um trabalho melhor do que Bottas na Mercedes. Até mesmo Ocon, que dizem, substituíra Bottas no final do ano que vem.
O melhor do resto ficou em mãos merecidas. Charles Leclerc já tinha feito uma classificação maravilhosa ao melhorar seu tempo no Q2 com a pista escorregadia e hoje fez uma prova sólida, terminando em sétimo, não muito longe de Bottas e Vettel. Antes das paradas, o monegasco estava apenas 3s da briga que tinha Bottas como 'freio de mão'. Leclerc deverá ser um bom rival para Verstappen no futuro. Ericsson conseguiu sua melhor posição de largada na carreira, mas só caiu até abandonar. Se o sueco esperava mostrar a Sauber que havia sido um erro lhe dispensar, hoje a equipe suíça tem a certeza que fez o certo. A Haas deu pinta que seria a melhor do resto, mas a sua dupla foi superada pelo talento de Leclerc, contudo os americanos puderam vibrar com outro final de semana ruim da Renault, que não pontuou. Sérgio Pérez salvou um pouco a honra da Force India com a décima posição, enquanto a Toro Rosso ficou perto de pontuar, mas com Hartley, enquanto Gasly ficou para trás. Fernando Alonso andou por um bom tempo em último, mas conseguiu ultrapassar Stroll, porém, seu final de carreira não está sendo dos mais felizes, o mesmo acontecendo com a McLaren, que vem sendo alcançada pela cambaleante Williams no posto de pior equipe da F1 atual. Alonso já anunciou que voltará às 500 Milhas em 2019 junto com a McLaren. Talvez tenham melhores resultados.
Numa corrida das mais animadas, o que chamou atenção não foi mais uma vitória de Hamilton ou o quinto título consecutivo do Mundial de Construtores da Mercedes, confirmado nesse final de semana. Já houveram várias brigas na F1, mas a maioria não foi vista. Piquet x Salazar e Schumacher x Coulthard foram os últimos que foram flagrados pelas câmeras. Verstappen mostrou na pista que é mesmo um piloto de ponta, mas mostrou sua personalidade fora das pistas ao não levar desaforo para casa. Inversamente proporcional aconteceu com Ocon, que diminuiu dentro e, principalmente, fora da pista. Pela asneira feita, os empurrões tomados ficaram baratos!
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