A pré-temporada da F1 raramente mostra o real quadro da temporada vindoura, apesar de que alguns indícios apareçam nos treinos. Mesmo vindo de seis títulos consecutivos a Mercedes não dormiu nos louros e criou o engenhoso 'DAS', onde os pilotos empurram o volante e permite que a cambagem do carro mude no meio das retas. Como sempre o aparato criou muito celeuma entre as equipes e se a Mercedes conquistar uma real vantagem, Ferrari e Red Bull reclamarão. No entanto a F1 não vive numa bolha e o incrível avanço do Coronavírus pode afetar decisivamente a F1, muito além da etapa adiada na China. MotoGP, F-E, Mundial de Motocross e Superbike tiveram seus calendários duramente afetados pelo traiçoeiro vírus gripal que está assustando o mundo como a muito não se via.
Na Itália, terra de Ferrari e Alpha Tauri e país europeu mais afetado no momento, ninguém entra e ninguém sai. Com os países europeus sendo cada vez mais afetados, as restrições para a entrada de italianos, ingleses e outros vai aumentando na medida em que o calendário da F1 se dirige para o oriente nesse início de ano, lugar de origem do novo Coronavírus. Até o momento apenas a China teve sua etapa adiada, que pode se transformar em cancelamento em breve. Bahrein e Vietnã tem sérias medidas restritivas e estão sob ameaça, da mesma forma dos países europeus, onde a doença vai se espalhando de forma alarmante, podem ter mais restrições nos próximos dias. Não será impossível que veremos uma temporada diferente, com menos corridas e mais espaçadas.
Enquanto isso ainda é uma conjectura bastante real, a F1 chegou em Melbourne para a sua primeira corrida tentando entender se a Mercedes tem toda a força mostrada nos treinos e se alguém terá condições de bater os alemães. Se nos últimos anos a Ferrari foi a mais rápida nos treinos, dessa vez essa primazia coube a Mercedes, mas quem esteve presente viu os prateados muito fortes em todas as condições (classificação e corrida). Tendo ainda Lewis Hamilton um elemento desequilibrador, a Mercedes já surge como grande favorita para conquistar seu sétimo título consecutivo e Hamilton se igualar a Schumacher como o maior campeão da história. Resta saber se a Mercedes terá algum rival à altura. Ao contrário dos anos anteriores, as apostas recaem mais na Red Bull do que na Ferrari. Os italianos não mostraram uma grande velocidade em nenhum momento e antes mesmo do ano começar, a crise já bate na porta de Maranello. A Red Bull também não foi um assombro de velocidade, mas se fala que em nenhum momento a trupe de Christian Horner usou os limites do carro e tem em Max Verstappen, cada vez mais focado, um elemento que pode desequilibrar.
No já afamado pelotão intermediário, a esperança é que as equipe se aproximem um pouco das grandes. Quem saiu na frente nesse quesito foi a Racing Point, que claramente copiou o carro da Mercedes de 2019 e foi muito rápida nos testes, até mesmo incomodando a Ferrari. Já em seu último ano com esse nome, a Racing Point já entra como favorito a ser a quarta força, mas que deve gerar muitas reclamações das rivais. Cyril Abiteboul já está ficando sem desculpas para a Renault não engrenar e finalmente entregar um bom carro para Daniel Ricciardo, que esse ano terá a companhia de Esteban Ocon. Quarta colocada ano passado, a McLaren passará por um ano de evolução enquanto espera ter o motor Mercedes ano que vem. Alfa Romeo e Hass disputarão entre si quem melhor copiou a Ferrari, enquanto a Alpha Tauri, antiga Toro Rosso, andou no mesmo ritmo da Red Bull, indicando que copiar as equipes mais fortes está sendo muito mais jogo do que o normal. A Williams tentará ficar mais perto do pelotão intermediário liderado por George Russel, enquanto Nicholas Latifi pagará as contas.
Essa temporada será um ano de transição para a grande mudança de regulamento de 2021, onde a Liberty espera uma F1 mais sustentável e equilibrada, sendo que isso jamais aconteceu na história da categoria. Da mesma forma que poderemos ver equipes 'abandonando' 2020 para pensar no carro do ano que vem, muitos pilotos estarão livres no final desse ano e terão que mostrar serviço. Hamilton ficará livre no final de 2020 e muito se fala no inglês encerrando sua gloriosa carreira na Ferrari, que já não nutre muitas esperanças em Vettel, que já se fala em aposentadoria desde meados do ano passado. Ricciardo é outro piloto de ponta livre no mercado e se não fizer um algo mais nesse ano, será bem complicado Bottas se segurar mais um ano na Mercedes.
Dependendo do que ocorrer em Melbourne nesse final de semana, haverão muitos indicativos de como será a temporada da F1, além das notórias reclamações de equipes, principalmente em cima de Mercedes e Racing Point. No entanto, tudo isso poderá ficar secundário pelo alastramento do Coronavírus, que pode transformar essa temporada de 2020 numa das mais atípicas da história.