Se uma corrida pudesse resumir o que foi a temporada 2023 da F1, basta olhar o que aconteceu em Yas Marina. Max Verstappen exerce um domínio tão grande sobre a F1 atual, que até mesmo antigos rivais sentem receio de ataca-lo, pois sabem que o troco virá rapidamente e será definitivo. Max foi magnânimo mais uma vez em Abu Dhabi e com mais um desfile no chatíssimo circuito no Oriente Médio, venceu pela décimo nona vez nesse ano. Dezenove corridas consistia o calendário de muitas temporadas da segunda década desse século, quando a F1 começou sua expansão desenfreada. Leclerc tentou um ataque sobre Max na primeira volta, mas o monegasco estava mais preocupado em dar à Ferrari o segundo lugar no Mundial de Construtores e quase conseguiu, mas não obteve ajuda de Sainz e a Mercedes ficou com a posição, num dos poucos pontos ainda pendentes dessa longuíssima temporada.
A expectativa de uma corrida em Abu Dhabi sempre é baixa, mesmo com as reformas recentes terem deixado a pista no Emirado menos horrorosa. Mesmo com todos os efeitos, iates bonitos e a hospitalidade que há em Abu Dhabi, a sensação que se passa é de artificialismo no circuito que recebe sempre a última etapa do campeonato pagando uma grana altíssima para a F1. Com praticamente tudo definido com relação ao campeonato, a edição de 2023, a décima quinta em Abu Dhabi, foi um porre de dar sono. Max Verstappen pode não ter se sentido confortável com seu Red Bull nos treinos livres, mas ficou com a pole e dominou a corrida de uma forma atordoante. A única leve ameaça que Max teve na corrida foi exatamente na primeira volta. Seu antigo rival do kart Charles Leclerc largou claramente melhor e chegou a emparelhar na primeira curva, mas Verstappen contornou por fora muito bem, mas não demorou muito para Leclerc colocar por dentro outras duas vezes, mas em ambas, Max se sobressaiu. Depois da corrida Leclerc confessou que não teria como se sustentar na frente de Verstappen se executasse a ultrapassagem e muito provavelmente pensou mais no Mundial de Construtores do que no ganho pessoal. Por saber disso, para que se arriscar em demasia, se sabemos o resultado? A partir de então, Verstappen administrou a corrida a seu bel-prazer, controlando no primeiro stint com pneus médios para depois aumentar o ritmo com os pneus duros, chegando praticamente 18s na frente de Leclerc. Saindo de nono, Pérez fez mais uma corrida de recuperação no ano, recebendo a bandeirada em segundo, mas por ter alargado demais na ultrapassagem sobre Norris, Checo foi punido e teve que se conformar com a quarta posição. Mesmo tendo em mãos o já lendário Red Bull RB19, Pérez sempre passa a sensação que ficou devendo alguma coisa e mesmo completando a dobradinha para a Red Bull no campeonato, algo inédito para a equipe, o mexicano deixou a desejar.
A grande briga que aconteceu na corrida foi na verdade a luta pelo segundo lugar no Mundial de Construtores, com a Mercedes apenas quatro pontos na frente da Ferrari quando ambas aportaram em Yas Marina. Leclerc fez sua parte e fez o que lhe era possível: terminar em segundo, atrás do dominante Verstappen. No entanto o monegasco passou a prova perguntando o que poderia fazer e até mesmo abriu caminho para Pérez para que ele abrisse os suficientes 5s de frente para Russell e a Ferrari terminasse em segundo, mas faltaram apenas 1,1s para que Leclerc conseguisse o objetivo. Porém, não se pode negar a corrida horrorosa de Carlos Sainz, que mal apareceu e ainda foi atrapalhado por uma estratégia bizarra da Ferrari, que sonhou por um Safety-Car que estava na cara que não iria aparecer, vide a forma conservadora de que a maioria do grid se comportou nessa corrida final. Com Sainz zerado, a Ferrari perdeu a segunda posição para a Mercedes por apenas três pontos. Russell superou a dupla da McLaren ao final do primeiro stint, ultrapassando Piastri e se valendo de um erro no pit-stop de Norris para ser terceiro. Leclerc ficou ao alcance de George no retorno do ferrarista dos dois pit-stops, mas Leclerc teve um grande final de semana e Russell, adoentado e tudo, conseguiu mais um pódio. Hamilton teve uma corrida errática num final de semana medíocre e após um toque com Gasly, teve que se conformar com uma opaca nona posição, sendo que Lewis teve que ser motivado por Toto Wolff em pessoa. Mesmo completando dois anos sem vitórias, Hamilton ainda garantiu um ótimo terceiro lugar no Mundial de Pilotos, mas as últimas corridas do heptacampeão deixaram bem a desejar.
Outra briga interessante foi pelo quarto lugar no Mundial de Pilotos. Após um início de ano promissor, Fernando Alonso caiu junto com a Aston Martin, mas nem por isso o espanhol deixou de mostrar sua magia e com um sétimo lugar, garantiu a quarta posição, empatado com Leclerc, mas com vantagem de ter mais pódios, principalmente na primeira metade do ano. Contudo, não se pode negar que se Alonso sonhou com vitórias e até mesmo um vice-campeonato, um quarto lugar nada mais é que um prêmio de consolação. Sainz terminou o ano tão ruim que acabou superado por Leclerc e caiu três posições em apenas uma corrida. Lando Norris fez uma segunda metade de temporada muito forte, colecionou pódios e foi sexto colocado, apenas um ponto atrás de Alonso e Leclerc. A McLaren obteve uma das maiores evoluções dentro de uma temporada, saindo das profundezas do pelotão para ser a segunda força em muitas corridas, mas que não foi o caso em Abu Dhabi, com Norris não tendo ritmo para chegar em Leclerc e Russell. Piastri conseguiu um ótimo ano de estreia, superou Norris na classificação, mas em ritmo de corrida o australiano ainda deve um pouco, mas sua curva de aprendizagem ainda é íngreme a ponto de vermos em Oscar Piastri num piloto de ponta em potencial. Nem que isso bagunce um pouco o coreto dentro da McLaren, com Norris tendo finalmente um piloto muito forte ao seu lado. A Aston Martin deu uma encostada na McLaren no Mundial de Construtores com os resultados de Las Vegas, mas em Abu Dhabi os 'verdes' nem de longe chegaram perto dos 'laranjas', com o time do feudo de Stroll se conformando mesmo com a quinta posição. Pouco para quem foi a segunda força no começo do ano e sonhou com vitórias. Destaque para a terceira corrida consecutiva decente de Lance Stroll. Muito se especulou que o canadense teria percebido que não tem talento e estofo para ser campeão mundial e por isso Lance estaria para sair da F1, mas os recentes bons resultados, como a décima posição desse domingo após um último stint bem forte, aplacou essas especulações, mas não se pode negar que há um verdadeiro abismo entre os pilotos da Aston Martin.
Após conseguir sua melhor posição de grid na F1, Yuki Tsunoda fez uma bela corrida, liderou uma prova pela primeira vez na carreira e a primeira de um nipônico desde Takuma Sato, e com um oitavo lugar garantiu bons pontos para a Alpha Tauri, que deverá mudar de nome no final desse ano. A equipe filial da Red Bull conseguiu uma bela evolução durante o ano e a chegada de Daniel Ricciardo no lugar do decepcionante Nyck de Vries ajudou bastante. No fim, a Alpha Tauri ficou apenas um ponto atrás da Williams, que terminou em sétimo lugar no Mundial de Construtores e não brilhou em Abu Dhabi. Gasly passou o primeiro stint na zona de pontuação, mas o toque levado na traseira por Hamilton estragou o difusor do carro de Pierre e a corrida do gaulês foi por água abaixo. Com Ocon também de fora dos pontos, a Alpine se despede da F1 em 2023 com muita gente esperando bem mais de uma equipe de fábrica tradicional. A Alfa Romeo se despede mais uma vez da F1 com outra corrida medíocre, o mesmo acontecendo com a Haas, que tem uma diferença entre ritmo de classificação e de corrida assustadora.
A corrida em Abu Dhabi foi um belo resumo do que foi a temporada 2023 da F1. Max Verstappen dominou a corrida e a temporada de uma forma nunca antes vista e com o triunfo desse domingo, o neerlandês se isolou como o terceiro maior vencedor da história da F1. Max se tornou inevitável e o que ele fez em 2023 entrou para a história da F1, mesmo que a categoria não lembrará com muita saudade dessa temporada, que em boa parte foi modorrenta, como a corrida de hoje.
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