E foi Márquez quem ajudou a definir o título a favor de Bagnaia. Jorge Martin saiu do Catar cuspindo maribondo em cima da Michelin, acusando a marca francesa de ter fornecido um material ruim para o espanhol, inclusive insinuando que tinha sido roubado. A semana foi de desmentidos por parte da Michelin, além de mostrar o descontrole de Martin nesse final de semana decisivo. Na corrida Sprint, Martin venceu e diminuiu a diferença de 21 para 14 pontos. Uma vantagem ainda confortável a favor de Bagnaia, mas perigosa. Logo pelo domingo de manhã, a situação de Bagnaia melhorou com Maverick Viñales sendo punido por desobediência aos comissários de pista e perdendo a pole, elevando Pecco ao primeiro posto no grid. Martin era apenas sexto, mas numa largada relâmpago, subiu para segundo, numa disputa direta com Bagnaia. O espanhol da Pramac estava numa situação clara de 'all in' e tentou uma manobra audaciosa em cima de Pecco, mas Martin foi o único prejudicado, saindo da pista e caindo para oitavo. Desesperado, Martin partiu para uma corrida de recuperação agressiva, mas que se mostraria curta.
Numa corrida emocional, Marc Márquez se despedia da Honda. No dia anterior, o espanhol se emocionou ao subir ao pódio da Sprint e queria um bom resultado nessa despedida pela Honda. O que Márquez não contava era com um Martin afoito em escalar o pelotão rapidamente e o choque entre os dois acabou com o campeonato. Com Martin zerado, Pecco Bagnaia era o campeão da temporada 2023 da MotoGP!
Não foi uma temporada linear de Pecco. No início do ano, não faltaram comparações com o domínio que Verstappen exercia na F1, pois Bagnaia vencia com facilidade as provas, não raro obtendo 100% dos pontos, vencendo também a Sprint. Porém, uma queda em Barcelona quase pôs tudo a perder. Bagnaia caiu na primeira volta e foi atingido nas pernas por Brad Binder. Milagrosamente Pecco não sofreu fraturas, mas ainda com dores, Bagnaia viu sua vantagem no campeonato derreter. Quem se aproveitou disso foi Jorge Martin. Campeão da Moto3 em 2018 e mais um espanhol talentoso que surgiu nos últimos dez anos, Martin já tinha feito um bom ano em 2022 e perdera o lugar que ele achava que era seu na equipe de fábrica da Ducati para Bastianini. Martin não escondeu seu descontentamento e com o infortúnio de Bagnaia, foi para uma tática de mostrar à Ducati que ele merecia o lugar que lhe foi negado e mesmo correndo com uma moto satélite, ele poderia vencer o campeonato, derrotando o principal piloto da fábrica.
Martin começou uma sequência incrível de vitórias, principalmente nas corridas Sprint, quando os pneus não fazem tanta diferença, no entanto, Jorge sofria nas corridas longas e deixou algumas vitórias certas pelo caminho, muito por causa dos pneus, como na Tailândia e principalmente na Austrália. Ficava claro que Martin estava numa fase melhor e era mais rápido, porém, Bagnaia era mais completo, principalmente nas corridas de domingo, com o italiano não se preocupando muito em fazer corridas pobres na Sprint. Algumas declarações de Martin também deixavam claras um quê de arrogância no espanhol, fazendo que, mesmo Martin estivesse em inferioridade em termos de equipe, houvesse uma maior simpatia por Bagnaia. A velocidade de Martin ficou clara em Valencia, mas no final Bagnaia foi mais completo. Pecco soube dosar suas energias quando mais importava, acertando sua moto para as corridas do domingo, além de mostrar mais serenidade, garantindo o título com uma vitória na etapa derradeira em Valencia, a sétima em 2023.
Havia uma promessa de que Martin subiria para a Ducati oficial em caso de título, mas como Bastianini deixou muito a desejar, sofrendo muitos acidentes, como hoje, essa troca ainda pode ocorrer. A KTM poderia ter vencido hoje com Binder e Miller pressionando Bagnaia, mas ambos erraram, facilitando a vida de Pecco. Próximo ano a KTM promoverá a estreia de Pedro Acosta, atual campeão da Moto2 e incensado como a próxima estrela da MotoGP. A Aprilia tem um piloto desenvolvedor (Espargaró) e outro talentoso (Viñales), mas o que sobra em um item para um, falto no outro. Se houvesse um misto dos dois espanhóis e a Aprilia estaria melhor servida de pilotos. As montadoras japonesas tiveram um ano horroroso. A Yamaha simplesmente não deu equipamento para Quartararo brilhar e nem de longe o talentoso francês pôde brigar mais à frente. Já a Honda construiu uma moto tão difícil, que simplesmente todos os seus pilotos sofreram alguma contusão ao longo do ano. Perdendo Márquez, a equipe tentará fazer com que Luca Marini, irmão de Rossi, seja uma espécie de ressurreição para a marca. E se a Yamaha não tomar tenência, poderá ver Quartararo fazer a mesma coisa de Márquez e procurar uma Ducati em 2025. A ideia da Sprint Race em todas as corridas foi polêmica e serviu para um recorde negativo para a MotoGP. Em nenhuma das corridas que compôs o calendário 2023, todos os 22 titulares estavam no grid, pois sempre havia alguém machucado. A Dorna não admite o fracasso da ideia da Sprint e ainda tenta uma virada de mesa para ajudar as montadoras japonesas, para desespero das europeias. Se a gestão da Liberty Media não é lá essas coisas, a Dorna não fica para trás...
A Ducati de Gigi Dall'Igna se mostrou uma moto dominadora, mas ao contrário da F1, onde Verstappen reinou sozinho, praticamente todos os pilotos da Ducati venceram uma corrida em 2023, seja de domingo ou Sprint. Bagnaia liderou o desenvolvimento da moto e também boa parte do campeonato, enquanto Martin usou muito bem do trabalho de Pecco e com sua velocidade, quase obteve o feito de ser campeão com uma equipe satélite, mas isso acabou não acontecendo muito pelo açodamento de Martin e por o espanhol enfrentar um piloto mais completo. E Bagnaia, mesmo não sendo um personagem vistoso, é merecedor do seu bicampeonato.
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