Ele fez parte da única família que emplacou três gerações de pilotos na F1, além de ser o único chefe de equipe brasileiro na F1. Wilson Fittipaldi Junior foi um ótimo piloto no cenário nacional em meados dos anos 1960 e rapidamente se juntou ao seu irmão mais novo Emerson no sonho de alcançar a F1. Se não teve o mesmo sucesso de Emerson, Wilsinho conseguiu mostrar sua marca com boas corridas pela Brabham antes de embarcar no sonho de ter uma equipe genuinamente brasileira na F1, num período de muito aprendizado, mas também de injustiças e bastante duro para Wilson. Porém, isso não diminuiu seu amor ao automobilismo e viu seu filho Christian igualar seu feito na F1, além de fazer bastante sucesso na Indy e nas corridas de Endurance. Prestes a completar 80 anos, vamos ver um pouco da carreira do Tigrão, seu apelido nas pistas.
Wilson Fittipaldi Junior nasceu no Natal de 1943 em São Paulo, filho de um dos maiores jornalistas esportivos do Brasil na época, o Barão Wilson Fittipaldi. Especializado em automobilismo, o Barão não apenas cobriu corridas, como também promoveu e participou de algumas provas nos anos 1940 e 1950. Acompanhando o pai nas corridas, não foi surpresa que Wilsinho se interessasse pelas corridas e como consequência se tornar piloto, sendo acompanhado pelo seu irmão três anos mais novo Emerson. Sabendo dos perigos das corridas e das dificuldades da profissão, o Barão não se interessou muito em financiar a carreira dos seus rebentos, mas não os impediu de começar a correr de kart, construído por eles mesmos, em meados dos anos 1960. Para se manter correndo, Wilsinho e Emerson construíram uma fábrica de acessórios esportivos para carros, financiando o início de suas carreiras. Como era mais velho, Wilsinho começou a se destacar no automobilismo antes de Emerson, sendo campeão no kart. Em 1966, Wilsinho foi para a Europa participar de algumas corridas de F3, obtendo sucesso, mas retornando ao Brasil em menos de um ano para ser um dos principais pilotos do país, além de ver o vertiginoso crescimento do seu irmão Emerson, que em 1969 foi para a Europa construir sua história de sucesso. Os irmãos Fittipaldi tinham como característica construir seus próprios carros, projetando um carro de F-Vê e o famoso Fitti-Porsche. Essa característica permaneceria pelos anos seguintes.
Em 1970 Wilsinho retornaria à Europa, seguindo o caminho do irmão mais novo, mas o Tigrão teria alguns problemas adicionais. Se Emerson era pequeno e franzino, Wilsinho tem mais de 1,80m e pesava quase 90 kg quando chegou à Europa disputar o campeonato inglês de F3. Tendo que fazer um regime, Wilsinho perdeu peso e foi competitivo no seu ano na F3 Inglesa, vencendo uma corrida em Silverstone, derrotando na oportunidade seu compatriota e amigo José Carlos Pace. Com o sucesso de Emerson na F1, os irmão voltaram a correr juntos, dessa vez na F2 Europeia na equipe Bardahl-Fittipaldi, usando carros da Lotus. Wilsinho se tornou um dos principais pilotos da F2 em 1971 terminando o campeonato em sexto, com direito a um pódio em Hockenheim. Esses resultados fizeram com que Wilsinho chamasse a atenção de Bernie Ecclestone, que o contratou para a equipe Brabham de F1 para 1972. A equipe vivia um momento de transição, nos primeiros anos sob a chefia de Ecclestone, que trouxe Wilsinho de olho nos patrocinadores que o brasileiro trazia com ele. A primeira corrida de Wilsinho na F1 foi inesquecível. Antigamente os circuitos precisavam passar por uma corrida de homologação antes de estrearem oficialmente no calendário da F1 e em 1972 Interlagos, após ampla reforma, recebeu a F1 para homologar o circuito paulistano. Usando seu conhecimento do circuito, Wilsinho chegou em terceiro lugar numa prova marcada por um acidente que tirou uma vitória certa de Emerson. Contudo, o resto do ano foi complicado para Wilsinho. Em nenhuma corrida ele largou entre os dez primeiros e houveram muitos abandonos. A realidade era que a equipe Brabham focava mais no primeiro piloto Carlos Reutemann, restando pouca atenção à Wilsinho, que comemorou bastante o título de Emerson ao final da temporada, mesmo sem ter marcado nenhum ponto. A situação para 1973 não mudou muito. Reutemann recebia todas as atenções da Brabham, enquanto Wilsinho lutava. Logo na primeira corrida de 1973 Wilson conquistou seu primeiro ponto na F1 com um sexto lugar em Buenos Aires e em Mônaco o Tigrão vinha fazendo sua melhor corrida na F1, correndo em terceiro, antes de abandonar a prova já no final, com problemas de alimentação de combustível no seu Brabham. Wilsinho ainda marcaria mais dois pontos em Nürburgring, antes de sair da Brabham. E focar num sonho!
Wilsinho tinha conhecido o lado político da F1 e percebera que dificilmente poderia ser competitivo numa equipe inglesa, chegando a conclusão que ele poderia tentar um projeto ousado. Lembrando os tempos em que vencia usando seus próprios carros, Wilsinho decidiu montar uma equipe totalmente brasileira, tendo como projetista seu amigo Ricardo Divila. O ano de 1974 foi todo dedicado à nova equipe, enquanto Wilsinho prospectava apoio dentro do Brasil. Naquele ano Emerson Fittipaldi conquistava o bicampeonato e o Brasil vivia o chamado 'Milagre Econômico'. Na F1, dizia-se que precisava de um câmbio Hewland, pneus Goodyear e motores Cosworth para se montar uma equipe. Valendo desse cenário, Wilsinho Fittipaldi mostrou o Copersucar FD01 em Brasília, onde faria a estreia do primeiro carro brasileiro em 1975. O carro tinha um desenho bastante aerodinâmico e tinha várias peças feitas no Brasil, além de apoio da Embraer. Os mecânicos eram praticamente todos brasileiros e o carro foi construído nas imediações de Interlagos. A primeira corrida foi em Buenos Aires e o início não foi dos melhores, com o primeiro carro da equipe pegando fogo, sendo necessário um novo carro para a corrida seguinte em Interlagos. Wilsinho fez toda a temporada como piloto e não marcou nenhum ponto, com a equipe ainda sofrendo com as dores do crescimento. Porém, a equipe sofreria uma guinada para 1976. Emerson Fittipaldi estava com dificuldades para renovar seu contrato com a McLaren e num rompante ideológico, surpreendeu o mundo ao se juntar à Wilsinho no sonho da equipe brasileira de F1. Com a chegada do irmão, Wilsinho passou a focar unicamente no papel de chefe de equipe, terminando sua carreira na F1 com 35 corridas e três pontos conquistados.
O que seria um sonho em poder contar com um bicampeão mundial em suas fileiras, acabou se tornando um problema para a equipe Copersucar. Ainda em seu segundo ano e aprendendo todas as diretrizes de uma categoria complexa como a F1, o time comandado por Wilsinho teria a enorme pressão de dar um bom carro a um piloto que vinha de dois títulos e dois vice-campeonato nos últimos quatro anos. Qualquer resultado ruim de Emerson e a conta seria debitada no carro. Juntando a isso, havia uma imprensa sem conhecimentos técnicos e de alguma forma sensacionalista. O que se seguiu foi uma luta para dar um bom carro à Emerson Fittipaldi, comandado por Wilsinho Fittipaldi, que não mediu esforços para fazer a equipe Copersucar desabrochar. Após dois anos complicados, a Copersucar teve seu melhor ano em 1978 com o modelo F05, com Emerson chegando num inesquecível segundo lugar em Jacarepaguá, além de terminar o campeonato num bom décimo lugar, marcando várias posições pontuáveis no processo. Porém, aquele ano foi marcado pelo domínio da Lotus com o carro-asa e por isso era urgente construir um, se a equipe quisesse ser competitiva na F1. Wilsinho contratou Ralph Bellamy, um dos projetistas do Lotus 78, saindo da sua prancheta o F06. O carro tinha linhas elegantes e foi chamado de Concorde pelo bico fino. Era o carro mais caro da história da equipe. E o mais fracassado. O F06 era difícil se guiar e com bastante torção, fazendo com que a equipe tivesse um ano horroroso. Para piorar, o Copersucar tirou o patrocínio no final de 1979, mas nem assim Wilsinho mediu esforços para manter a agora equipe Fittipaldi forte e comprou os espólios da equipe Wolf, que tinha sido vice-campeã em 1977. Junto da Wolf, vieram Keke Rosberg, Harvey Postlethwaite e um estagiário chamado Adrian Newey. O chefe dos mecânicos era Peter Warr, que fizera a mesma função no título de Emerson pela Lotus, sucedendo o mexicano Jo Ramírez. A equipe ainda contava com Divila e Emerson Fittipaldi, que garantia alguns privilégios de motores e pneus. Havia muito potencial, mas com o dinheiro rareando, a equipe Fittipaldi foi perdendo mais e mais força, patrocinada por uma imprensa que ridicularizava de forma cruel e injusta uma equipe que trazia resultados decentes. Emerson fez seu último ano como piloto em 1980, se tornando dirigente da equipe ao lado de Wilsinho. Os anos de 1981 e 1982 foram ainda mais duros para a equipe, que fechou as portas de forma melancólica no final de 1982.
O sonho de uma equipe própria havia terminado para os irmãos Fittipaldi, os deixando até mesmo com dificuldades financeiras naquele início dos anos 1980. A situação foi melhorar quando uma geada atingiu inúmeras plantações de laranja nos Estados Unidos e como a família Fittipaldi tinha uma fazenda enorme em Araraquara, eles voltaram a ganhar muito dinheiro. Enquanto Emerson refazia sua fama na F-Indy, Wilsinho fazia algumas corridas em categorias nacionais, mas seu foco estava em outro lugar. Mais especificamente no kart. Seu filho Christian começara a correr no final da década de 1970 e a partir da década seguinte se tornou um dos principais pilotos de kart do Brasil ao lado de Rubens Barrichello. Por sinal, se tornaram célebres as brigas entre Wilsinho e Rubão Barrichello fora das pistas por causa dos filhos, que eram amigos. Wilsinho conseguiu o apoio necessário para Christian fazer uma bela carreira de base na Europa, mas só tendo feito três temporadas honestas na F1 por equipes pequenas. Haviam algumas chances de Christian conseguir um lugar numa equipe maior, mas com a Indy fazendo sucesso tremendo no Brasil em meados dos anos 1990, Christian cruzou o Atlântico e fez uma carreira de destaque na Indy. Na ocasião, Wilsinho pôde acompanhar tanto seu filho, como seu irmão, presenciando vários acidentes de Emerson e Christian na época. Em 1994 Wilsinho venceu uma Mil Milhas Brasileiras em Interlagos junto de Christian e no ano seguinte ele fez um ano na Stock Car.
Em 2004, numa espécie de reparação histórica, a Dana patrocinou a reforma dos modelos FD01 e FD04 da equipe Copersucar Fittipaldi. Wilsinho se emocionou várias vezes pelas muitas e merecidas homenagens pelo seu desprendimento por realizar seu sonho de ter um carro de F1 brasileiro. Em 2008, Wilsinho teve a última oportunidade de correr ao lado de Emerson na GT3 Brasileira. Mesmo não obtendo o mesmo sucesso do irmão mais novo, nunca se viu uma reclamação de Wilsinho Fittipaldi por não ter tido o mesmo êxito. Completando 80 anos de idade nesse Natal, Wilsinho Fittipaldi teve alguns problemas de saúde recente, mas felizmente está bem melhor, podendo comemorar mais uma primavera com seus filhos e netos.
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