Seguindo a biografia de pilotos germânicos, Hans Herrmann foi um dos pilotos mais versáteis do pós-guerra, disputando provas de F1, F2 e Esporte-Protótipos, onde era sua praia. Piloto júnior da Mercedes nos anos 50, Hermann teve o melhor momento da sua carreira na F1 interrompida pelo grande acidente ocorrido nas 24 Horas de Le Mans e a Mercedes, que o empregava na ocasião, saiu de cena nas corridas. Voltando aos tempos em que se destacava em carros esporte, Herrmann foi um ícone no Mundial de Esporte-Protótipos pela Porsche e só abandonou a carreira quando finalmente venceu as 24 Horas de Le Mans. Completando 80 anos neste final de semana, vamos olhar um pouco mais a carreira deste grande piloto alemão.
Hans Herrmann nasceu no dia 28 de fevereiro de 1928 em Stuttgart, na Alemanha. Após passar sua infância na sombra da Segunda Guerra Mundial, Herrmann se tornou um padeiro, mas logo o vírus pela velocidade picou o jovem alemão. Suas primeiras corridas foram em Sport-Cars, onde Herrmann participou de provas internacionais reconhecidas, como a Mille Miglia, Targa Florio e a Carrera Panamericana. Durante a edição de 1954 da Mille Miglia, Herrmann ficou conhecido após escapar de um acidente peculiar. Correndo com um Porsche 550 Spyder, Herrmann estava à toda nas estradas italianas quando uma cancela se aproximava. E estava fechando, pois o trem estava se aproximando! Sem ter tempo para frear o seu carro, Herrmann resolveu acelerar tudo e passou pela linha do trem, instantes antes da cancela se terminar o seu curso, numa cena de fazer inveja a Spielberg. Por esses causos e por ter escapado inteiro de vários acidentes, Herrmann recebeu o apelido de Hans im Glück , ou Hans, o sortudo.
Piloto da Porsche na maioria das corridas do Mundial de Marcas, Herrmann acabou chamando a atenção de Alfred Neubauer, o lendário chefe de equipe da Mercedes dos anos 30. A montadora alemã planejava voltar aos Grandes Prêmios e Neubauer preparava um carro revolucionário com esse intuito. O modelo W196 era um assombro tecnológico e todos os demais carros da F1 ficaram defasados de uma hora para outra. Hans Herrmann também participava de corridas de F2 e fez sua estréia na F1 em um Veritas F2 no Grande Prêmio da Alemanha de 1953, porém Neubauer queria fazer uma equipe nos moldes da antiga escuderia dos anos 30, donde havia grandes pilotos internacionais, mas também jovens pilotos alemães. Por isso Herrmann foi contratado pela Mercedes para ser o piloto júnior da equipe, que já contava com a estrela Juan Manuel Fangio e o experiente Karl Kling.
O carro da Mercedes não ficou pronto para o início da temporada de 1954 e assim a estréia das Flechas de Prata ficou para o Grande Prêmio da França. O carro, totalmente diferente dos demais visualmente, deixou todas as equipes estupefatas com a sua performance na estréia, com Fangio e Kling fazendo dobradinha na primeira fila, enquanto Herrmann ficava na sétima posição. Na corrida, as Mercedes deram uma surra na concorrência, com Fangio vencendo com Kling logo atrás, como se estivessem dando um passeio no parque, numa primavera francesa. Herrmann marcou a única melhor volta de sua carreira na corrida francesa, mas teve que abandonar com o motor quebrado quando aparecia na terceira posição.
A Mercedes continuou seu domínio e Herrmann se aproveitou disso para marcar pontos, enquanto Fangio vencia o campeonato pela segunda vez. Após ficar de fora do Grande Prêmio da Inglaterra e ter problemas em casa, Herrmann consegue seu melhor resultado na F1 com um terceiro lugar no Grande Prêmio da Suíça. Com mais um quarto lugar no Grande Prêmio da Itália, Herrmann termina seu campeonato de estréia pela Mercedes na sexta posição. Hans permaneceria na Mercedes em 1955, mas participaria mais do Mundial de Marcas. A temporada 1955 da F1 começou com o Grande Prêmio da Argentina, onde Herrmann conquista um quarto lugar no carro compartilhado com Karl Kling e o novo xodó da Mercedes, Stirling Moss. Durante os treinos para o Grande Prêmio de Mônaco, Hans sofre um sério acidente e fica de fora das pistas por longos quatro meses. Durante esse tempo, a maior tragédia do automobilismo acontece. Durante as 24 Horas de Le Mans, um acidente envolvendo a Mercedes de Pierre Levegh causa a morte de mais de 80 pessoas, além de Levegh, levando a Mercedes a abandonar o automobilismo de competição por mais de trinta anos.
Ainda jovem Herrmann retorna para a Porsche, mas como a montadora alemã não participava ativamente da F1, o alemão praticamente não fez mais nada na categoria máxima do automobilismo, disputando apenas corridas eventuais até o final da década de 50. Na Porsche, o objetivo passa a ser a vitória em Le Mans e Herrmann encarna essa luta, participando várias vezes da famosa corrida. E sempre batendo na trave. Em 1960, Herrmann consegue duas vitórias importantes na sua carreira, sempre à bordo de um Porsche 718 RS/60. Ao lado de Jo Bonnier, Hans venceu a Targa Florio e ao lado de Olivier Gendebien, venceu às 12 Horas de Sebring. Nesse mesmo ano, a Porsche resolveu entrar na F1 e Herrmann usou sua experiência para ajudar a marca de Stuttgart. Durante o Grande Prêmio da Itália, Herrmann marca seu último ponto na carreira da F1 com um sexto lugar. Em 1961 Herrmann faz mais três corridas na F1, sem muito sucesso, encerrando sua curta carreira na categoria. Foram 17 Grandes Prêmios, 10 pontos, uma volta mais rápida e um pódio.
No Mundial de Marcas, a Porsche não tem um bom ano em 1961 e Herrmann sai da equipe alemã, se juntando à equipe Abarth no início de 1962. A pequena equipe italiana não corria nos grandes eventos, mas dominava nas categorias menores, como Sport Cars até 1600cc. Herrmann era o único piloto a ser pago pela Abarth e por isso fazia todo o desenvolvimento da equipe, sempre testando e correndo em vários circuitos italianos. Quando o seu primeiro filho nasceu em 1965, Herrmann decidiu sair da Abarth e se mudar para uma equipe mais próxima de casa e assim poder acompanhar o crescimento do filho. Hans Herrmann já tinha 37 anos de idade e não tinha mais idade para ser piloto júnior de qualquer equipe.
A Porsche estava investindo num programa para vencer as 24 Horas de Le Mans, se metendo na famosa briga Ferrari x Ford, que marcou os anos 60 do Mundial de Marcas. Herrmann voltou para a equipe com sede de vitória e de conseguir a sonhada vitória em Sarthe. O Porsche 907 ainda era um carro a ser desenvolvido e Herrmann usou sua larga experiência para ajudar a sua equipe. Somente em 1968, após dois da entrada de Herrmann na Porsche, é que os resultados começaram a aparecer. Com o modelo 907 já entrando no panteão dos favoritos, Herrmann venceu as 24 Horas de Daytona com Rolf Stommelen, Vic Elford e Jo Siffert, e as 12 Horas de Sebring, com Jo Siffert. Em 1969, o Porsche 908 era o favorito em Le Mans e Herrmann estava determinado a vencer os Ford GT40. Numa corrida histórica, Herrmann e Ickx, da Ford, disputaram os últimos momentos da longa corrida como se fosse uma corrida sprint, e o belga venceu Herrmann com apenas 120 metros de distância. Numa corrida de 24 Horas!
Para 1970, a Porsche teria o modelo 917, para muitos, o melhor carro de corrida já construído. Depois de conquistar um terceiro lugar nos 1000 km de Brands Hatch e um segundo lugar nos 1000 km de Nürburgring, Herrmann foi para Le Mans tentando esquecer da decepção do ano anterior. A Porsche também estava desesperada para vencer em Le Mans, após vários anos de tentativa. E aí, como se diz aqui no Ceará, é o mesmo que juntar o mel com a cabaça. Ao lado de Richard Attwood, Hans Herrmann conquistou sua primeira vitória nas 24 Horas de Le Mans, dando a primeira (de muitas) vitórias para a Porsche na corrida francesa. Após realizar o seu sonho, Herrmann decidiu que estava na hora de parar e se aposentou no ápice da carreira, com 42 anos de idade. Cansado de ver tantos amigos mortos, Herrmann se desligou totalmente das corridas, mas não dos carros, pois Hans construiu uma companhia de autopeças de muito sucesso, mas infelizmente esse sucesso levou Herrmann a ser seqüestrado nos anos 90 (Já pensou se ele mora no Brasil?). Hoje Herrmann vive na Alemanha, onde ainda participa de encontros de carros antigos e só assim Hans pode matar a saudade do Mercedes W196 e do Porscher 917. Dois carros lendários, que Herrmann teve o prazer de dirigir.
Parabéns!
Hans Herrmann
Muito bom texto Joao Carlos
ResponderExcluirEssa Mercedes W196 era realmente inovadora (uma das grandes inovaçoes da F1).
Continue fazendo essas biografias
Valeu
É bom saber que foste alternativo, pois andei estes dias todos a fazer a biografia do Alain Prost. Acabei agora, e foi exaustivo. Ufa! Nâo embarco mais numa coisa destas...
ResponderExcluirPodes ir ver, e dar a tua opinião. E já agora, gostei a do Hermann, provavelmente o melhor alemão naquele deserto que foi entre o Von Trips e o Schumacher (não incluo o Bellof, pois era uma classe à parte...)