segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

O Rei das Montanhas

Numa época em que os pilotos participavam de todo tipo de corrida, Hans Stuck se tornou uma estrela dos Grandes Prêmios, mas seu maior destaque era nas corridas de Subida de Montanha, muito popular na Europa até o início da Segunda Guerra Mundial. Muito parecido com as etapas atuais do Mundial de Rally, a Subida de Montanha consistia em controlar um carro de mais de 500 cavalos numa pista com muita areia e abismos enormes esperando pelo menor dos erros. E foi nessa modalidade que Hans Stuck foi considerado rei! Usando sua amizade com Hitler, Stuck ajudou a criar a era dourada das "Flechas de Prata" nos anos 30 e foi um dos poucos pilotos da era Pré-Guerra a correrem na F1. Com sua morte fazendo 30 anos semana passada, vamos olhar um pouco mais a história deste grande piloto dos anos dourados do automobilismo alemão.

Hans Stuck nasceu no dia 27 de dezembro de 1900 em Varsóvia, na Polônia. Porém, o pequeno Hans nasceu na cidade polonesa por coincidência, pois seus pais moravam na Alemanha e estavam a negócios em Varsóvia. Mesmo com seus pais tendo ascendência suíça, Stuck preferiu assumir a cidadania alemã e lutou pelos germânicos na Primeira Guerra Mundial, em um regimento de artilharia no front oeste. Em 1918, seu irmão Walter foi morto durante uma batalha e Hans foi dispensado do serviço militar. No caminho para casa, Stuck foi dar a péssima notícia para uma família que o seu filho também tinha sido morto, mas Hans conheceu Ellen Hahndorff, e eles acabariam se casando em 1922.

Após a guerra Stuck se estabeleceu numa fazenda e vivia feliz com sua esposa, quando entrou em contato com o automobilismo de uma forma bastante peculiar. Todo o dia o começo da manhã, Stuck pegava o leite da sua fazenda e ia vender em Munique. E foi durante essas pequenas viagens que Stuck percebeu que guiava muito rápido e a entrega do leite nunca atrasava! Ele se uniu ao Clube de Automóvel de Munique e foi convencido pelos amigos a fazer uma corrida de Subida de Montanha em Baden-Baden no verão de 1923. E logo em sua estréia Stuck venceu em sua classe! Hans ficou animado com as corridas e passou a disputar várias provas, mas isso acabaria pondo fim no seu primeiro matrimônio.

Já pensando em se tornar piloto profissional, Stuck deixa de lado as entregas de leite a um amigo e chofer chamado Julius Schreck. Stuck e Schreck sempre caçavam juntos na fazenda e um dia Schreck chamou seu chefe para se juntar à caçada. Era 1925 e o nome do chefe de Schreck era um ardiloso político alemão chamado Adolf Hitler. Logo, Stuck e Hitler ficaram amigos.

Em 1926, Stuck comprou um Austro-Daimler para competir nas corridas de Subida de Montanha e graças a sua atuações, no ano seguinte Stuck seria piloto oficial da Austro-Daimler. Em 1929 Hans dominou o cenário das corridas de Subida de Montanha e recebeu o apelido que ficou marcado em sua carreira: Bergmeister, ou o Rei das Montanhas. Porém, a Austro-Daimler abandonou as competições em 1931 e Stuck se viu desempregado. Sabendo disso, Stuck foi falar com seu amigo Schreck e ele arranjou uma reunião entre Stuck e Hitler. A pauta da reunião era que o governo alemão investisse no automobilismo tedesco, transformando as corridas em instrumento de propaganda. Hitler adorou a idéia e quando tomou o poder em 1933, anunciou que a Alemanha competiria nas pistas de corrida do mundo para mostrar seu poder tecnológico. Inicialmente o dinheiro iria somente para a Mercedes, mas Hans Stuck e Ferdinand Porsche convenceram o Führer em dividir o bolo entre a Mercedes e a recém-formada Auto Union. E assim foi feito. Outro fator que a amizade entre Stuck e Hitler influenciou foi com relação a segunda esposa de Hans. Em 1932 Stuck conheceu Paula von Reznicek, uma conhecida tenista alemã e os dois pombinhos se casariam um ano mais tarde. O problema surgiu quando se descobriu que o avô de Paula era judeu. Se não fosse a intervenção pessoal de Stuck junto a Hitler, a família von Reznicek teria parado nos Campos de Concentração!

Stuck esperou até outubro de 1933 para que o novo Auto Union, projetado por Porsche, ficasse pronto para o primeiro teste. O carro fez sua estréia no dia 27 de maio de 1934 em Avus e Stuck chegou a colocar um minuto de vantagem sobre o segundo colocado, quando abandonou com a embreagem quebrada. Mas o potencial do carro era claro. Stuck conduziu a Auto Union contra Mercedes e Alfa Romeo-Ferrari e venceu os Grandes Prêmios da Alemanha, Suíça e Tchecoslováquia. Se um campeonato fosse organizado em 1934, não restavam dúvidas de que Stuck seria o campeão. Mas no Campeonato Alemão de Subida de Montanha de 1934, Stuck foi imbatível, vencendo em Felsberg, Kesselberg, Freiburg e Mt. Hillclimbs de Ventoux, se tornando campeão de forma inapelável. Para completar a o melhor ano da carreira de Stuck, o alemão quebrou os recordes de velocidade nas distâncias de 1km, 1 milha, 50 milhas e 100 km.
Para 1935 a Auto Union tinha fabricado um novo chassi com linhas bem aerodinâmicas, com o intuito de melhorar os recordes de velocidade. Stuck tinha como companheiros de equipe Archille Varzi e o estreante Bernd Rosemeyer. Durante a temporada, a Auto Union foi superada pela Mercedes, liderada por Rudolf Caracciola, e dentro da equipe, Stuck era obscurecido por Rosemeyer, que se tornara o xodó da torcida alemã graças a belíssima atuação do alemão durante o Grande Prêmio da Alemanha em Nürburgring. A única vitória de Stuck em 1935 seria o Grande Prêmio da Itália. E seria também a última vitória em Grandes Prêmios do Alemão.

Stuck permanecia como uma lenda viva das Corridas de Subida de Montanha, vencendo o Campeonato Europeu da modalidade em 1935 e 1936. Mas dentro da Auto Union as coisas não iam bem para Stuck. Ele foi completamente superado por Rosemeyer, que venceu cinco corridas, enquanto os melhores resultados de Stuck foram um segundo lugar no Grande Prêmio da Alemanha e dois terceiros lugares em Mônaco e na Suíça. Em 1937 Stuck participou do V Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro, no antigo circuito de Gávea, com um Auto Union Tipo C e terminou a corrida em segundo lugar, atrás do italiano Carlo Pintacuda, com Alfa Romeo. Outro segundo lugar no Grande Prêmio da Bélgica foi tudo que Stuck mostrou em 1937 e no final do ano ele acabou demitido pela equipe que ajudou a fundar. Dizem as más línguas que o motivo real da demissão foi ciúmes que Stuck tinha com relação à Rosemeyer. Mas quando Rosemeyer morreu no início de 1938 e Stuck foi ter uma conversinha com Hitler, a Auto Union prontamente recontratou o já experiente piloto.

Com o início da Segunda Guerra Mundial em 1939, todas as corridas foram canceladas e Stuck partiu para a Suíça. Com o fim da guerra, Stuck começou a competir com cidadania austríaca, pois os alemães ficaram proibidos de correr até 1950. Hans passou a se concentrar em corridas de turismo, até que se juntou à fábrica alemão A.F.M. em 1949 e passou a disputar corridas de F2. Com mais de 50 anos de idade, Stuck já não tinha a mesma garra de antes e não participou mais ativamente do novo Campeonato Mundial de F1, só fazendo parte dos Grandes Prêmios da Itália de 1951, Suíça em 1952, Alemanha e Itália em 1953. Em 1954 Stuck voltou a correr no Brasil no Circuito da Gávea, mas desta vez não conseguiu se destacar com um Porsche 550 RS. Mesmo com todos os perigos, Stuck nunca desistiu de fazer parte das Corridas de Subida de Montanha e se sagrou Campeão Alemão da modalidade até 700 cc, com um BMW, em 1960. Sua última vitória foi nas 6h de Hockenheim de 1960, com um BMW, e ele abandonou as corridas no final do mesmo ano. "Queria acabar ainda no auge," falou Stuck.

Com mais de 60 anos de idade e outros 30 de experiência, ele se tornou instrutor de pilotagem de Nürburgring. Após se separar de Paula von Reznicek em 1948, Stuck se casou com Christa Thielmann no mesmo ano. O detalhe é que Hans conheceu Christa em 1939, quando ela era noiva do irmão mais velho de Paula! O filho deles, Hans-Joachim, nasceu em 1951 e ele resolveu seguir a carreira do pai, se tornando um piloto com algum sucesso. Graças aos ensinamentos do pai, Hans-Joachim Stuck foi um grande piloto em Nürburgring, vencendo várias corridas lá em carros de turismo e obtendo bons resultados quando lá correu na F1. Mesmo conseguindo melhores resultados que o pai na F1 (dois terceiros lugares na Áustria e na Alemanha em 1977), Hans-Joachim esteve longe de superar a fama do seu pai. Hans Stuck faleceu no dia oito de fevereiro de 1978 em Grainau, na Baviera, Alemanha, ao pé das montanhas dos Alpes, onde o grande ele conseguiu suas maiores vitórias.

Um comentário:

  1. Eu acho que às vezes, combinamos telepáticamente. Quando estava a fazer o meu post sobre o Stuck, tu também tinhas acabado de o fazer! Como é obvio, usei as tuas fontes para fazer o meu post, devidamente reconhecido.


    E já agora, passa por lá. Estou em comemorações...

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