Há poucas unanimidades na Fórmula 1, como é o caso do nosso personagem de hoje. Qualquer lista dos cinco maiores pilotos de todos os tempos contém, em sua enorme maioria, o nome de Jim Clark. Dono de uma velocidade inerente e de um controle de corrida impressionante, Clark deu início, juntamente com Graham Hill, a linhagem dos grandes pilotos britânicos na F1, culminando em Lewis Hamilton. Em companhia com o gênio Colin Chapman, formou uma das parcerias mais vitoriosas na F1, mas Clark não venceu apenas na categoria máxima do automobilismo e uma de suas principais características é justamente como ele se adaptava (e ganhava) em qualquer tipo de carro. Completando hoje quarenta anos de sua morte, vamos dar uma olhada numa das biografias mais ricas e impressionantes de um piloto de corridas.
James Clark Jr. nasceu no dia 4 de março de 1936 em Kilmany, na Escócia, na fazenda dos seus pais. Jimmy era a quinta criança na família e o primeiro menino. Em 1942 a família se mudou para outra fazenda, próximo a Berwickshire e começou a estudar na escola preparatória de Chifton Hall, perto da capital escocesa, Edimburgo. Como único filho homem, a família Clark esperava que Jim tomasse frente nos negócios da família, mas o jovem escocês já tinha se interessado por outro tipo de negócio. Desde os 15 anos de idade, Jim Clark começou a se interessar por corridas e dois anos depois ele passou a disputar eventos amadores de rally, com um Sunbream-Talbot. E com sucesso! No dia 16 de Junho de 1956, quando ele completou vinte anos, idade mínima para se correr na Grã-Bretanha na época, e contra a vontade dos seus pais, Clark participou de sua primeira corrida em Crimond, na Escócia, ao volante de um DKW.
Em 1958, Jim passou a correr por uma pequena equipe de sua cidade, a Border Reivers Team, e Clark passou a ter contato com carros como o Jaguar Tipo D e Porsches. Jimmy venceu 18 corridas nesse ano e pela primeira vez saiu da Grã-Bretanha para fazer uma corrida internacional, em Spa, pista em que não lhe agradou nenhum pouco desde o primeiro encontro até o final de sua vida. No final de 1958, Clark conhece um jovem construtor cheio de idéias novas e com muita ambição: Colin Chapman. Não restam dúvidas que esse encontro entrou para a história do automobilismo e, já impressionado com o incrível cartel como piloto amador, Chapman convocou Clark para fazer uma corrida pela equipe, a Lotus. Com um modelo Elite, Clark participa da primeira corrida com a equipe Lotus no dia 26 de dezembro e Jim termina a prova em segundo lugar.
Isso chama a atenção de Chapman e a partir de então, os nomes Clark e Lotus praticamente se tornam sinônimos. Em 1959, Clark estréia nas 24 Horas de Le Mans e com o mesmo Lotus Elite, Jim chega em segundo lugar na sua categoria e no final ano participa de sua primeira corrida em monopostos, em um Gemini de Fórmula Junior. Nesse momento o principal foco de Colin Chapman era a F1 e convence Clark a participar de categorias de base na Inglaterra como preparação para a F1. Em 1960, Clark disputou dois campeonatos de Fórmula Junior na Inglaterra e faturou ambos. Em seu primeiro teste com um F1 em Brands Hatch, Clark tinha tanta confiança em seu taco que ele resolveu usar uma tática interessante para impressionar quem não o conhecia. Jim dava tudo de si nas curvas que não podiam ser vistas dos boxes e pilotar mais lentamente nos locais visíveis. Quando encostou no box da Lotus, um mecânico disse que os tempos estavam muito bons, mas que ele poderia ser mais rápido. “Então vá ver as curvas atrás dos boxes”, retrucou Clark.
Com mais de cinqüenta vitórias nos mais variados tipos de carros e corrida, Chapman fica convencido que Jim estava mais do que preparado para estrear na F1 e Clark viaja para a Holanda, com o intuito de participar do seu primeiro Grande Prêmio em Zandvoort. O Lotus 18 ainda era um carro a ser desenvolvido, mas já conquistava os primeiros triunfos para Colin Chapman. Innes Ireland, companheiro de equipe de Clark, venceu o Grande Prêmio dos Estados Unidos de 1960 e teve a honra de ser o primeiro piloto a vencer pela equipe Lotus. Anos depois, Ireland insinuou que Chapman apostava tanto em Clark que o boicotou na equipe. Porém, o talento de Clark era evidente e logo na sua primeira temporada, o escocês conseguiu seu primeiro pódio, com um terceiro lugar no Grande Prêmio de Portugal. Mais adaptado em seu segundo ano de F1, Clark começa a impressionar o circo da F1, mesmo não tendo carro para enfrentar as Ferraris, que dominaram em 1961. Jimmy não corria apenas de F1 e conseguia várias vitórias em corridas de F2 e Esporte-Protótipos, mas era na F1 que o seu talento ficava mais aparente. Durante o Grande Prêmio da Holanda, Clark brigou de igual para igual com a Ferrari de Phil Hill e durante o Grande Prêmio da Itália, em Monza, Clark consegue uma boa largada e brigava com a Ferrari do alemão Wolfgang von Trips, que disputava com Hill pelo título daquele ano. No final da segunda volta, Clark e von Trips se enroscam na temida curva Parabólica e o piloto da Ferrari acaba voando em direção a um barranco cheio de espectadores. Wolfgang von Trips, grande piloto alemão da época, líder do campeonato e favorito ao título faleceu na hora, juntamente com quatorze espectadores. A imprensa italiana apontou o dedo para Clark, que assumiu toda a culpa. Mesmo achando que von Trips tinha sido muito otimista naquela manobra.
Para enfrentar o poderio da Ferrari, Colin Chapman constrói o Lotus 25 para 1962. Claramente inspirado na aviação, o modelo 25 tinha soluções totalmente inéditas até então, como o primeiro carro com monocoque e estrutura tubular e pensando no equilíbrio do veículo, Chapman praticamente fez com que Clark pilotasse o carro deitado, reduzindo a seção transversal e a resistência aerodinâmica. Foi a primeira obra-prima de Chapman e Clark seria o primeiro a usufruí-lo. Após fazer as primeiras corridas extra-campeonato daquele ano com um Lotus 24, um modelo híbrido, Clark estreou o modelo 25 na primeira etapa daquele mundial, em Zandvoort. O potencial do carro ficou claro com a terceira posição de Clark no grid e o terceiro lugar de Trevor Taylor na corrida. Clark liderou o Grande Prêmio seguinte, em Mônaco, mas problemas na embreagem impediram o sonho da primeira vitória. Por ironia do destino, o primeiro triunfo de Clark na F1 viria na pista que mais odiava, em Spa. Durante o Grande Prêmio da Alemanha, Clark larga mal e perde várias posições, mas numa recuperação surpreendente, consegue ultrapassar 17(!) concorrentes na primeira volta em Nürburgring, debaixo de muita chuva. O interessante foi que Clark não venceu essa prova, terminando-a em quarto lugar. O Lotus 25, como todo novo carro, quebrava muito e isso acabou atrapalhando Clark na luta pelo título, mas quando o carro agüentava até o fim, Jimmy na maioria das vezes vencia. A decisão do campeonato seria no Grande Prêmio da África do Sul, em East London, com Graham Hill, da BRM, ainda na liderança, mas o favoritismo era todo de Clark, que marcou uma pole sensacional e liderou a maior parte da prova, até abandonar com um vazamento de óleo. Depois se descobriu que um dos mecânicos da Lotus se esqueceu de apertar um parafuso e todo o óleo do motor Clímax se esvaiu no asfalto sul-africano, juntamente com o sonho do primeiro título de Clark.
Porém, Jim não se abate e parte para 1963 mais motivado do que nunca, sabendo que o Lotus 25 era o carro que podia lhe dar o título mundial. Mesmo com o abandono no primeiro Grande Prêmio do ano, em Monte Carlo, quando liderou a maior parte da prova e teve o câmbio quebrado no fim, Jimmy usou seu talento para vencer os quatro Grandes Prêmios seguintes com o mesmo jogo de pneus e só não venceu o quinto, na Alemanha, por que teve problemas no motor e só se contentou com a segunda posição. Em Monza, ainda hostilizado pelo público pelo acidente de von Trips, Clark vence a corrida após uma enorme briga com a Ferrari de John Surtees, a BRM de Graham Hill e o Brabham de Gurney. A oitava vitória de Clark significava que o piloto da Lotus se tornava, até então, o piloto mais novo a vencer um Campeonato de Pilotos, com 27 anos, e ainda deu primeiro título de Construtores para a Lotus. O total de pontos conquistados por Clark em 1963, 73 pontos (sendo que 54 válidos) foi um recorde que só foi superado em 1985 por Alain Prost. Nos Estados Unidos, Clark faz uma corrida sensacional e após ter problemas na largada e perder uma volta para todos os seus adversários, Clark termina a prova em terceiro e reclamando, pois não ganharia o beijo da Miss da corrida. Fora a corrida em Watkins Glen pela F1 naquele ano, Clark iniciava uma belíssima história com o país norte-americano.
Em 1962 Chapman foi convidado por Dan Gurney para assistir a edição daquele ano das 500 Milhas de Indianápolis. O dono da Lotus fica impressionado com duas coisas envolvendo a corrida. Primeiro era o atraso dos carros americanos com relação aos europeus e o segundo era o enorme prêmio dado ao vencedor da corrida. Chapman ficou altamente animado e resolve participar das 500 Milhas de 1963 com um Lotus de motor traseiro para Jim Clark e Dan Gurney. Os americanos fizeram pouco de um carro tão compacto, mas Clark fez uma belíssima corrida e liderou a maior parte da prova, mas numa corrida que ficou conhecida como a “Marmelada Americana”, Parnelli Jones venceu a prova mesmo com seu carro soltando muito óleo na pista. Isto era claramente irregular, mas como Parnelli era tão americano quanto a Casa Branca, nada foi feito e Clark chegou em segundo, conquistando o prêmio de Novato do Ano. Clark e Chapman ficaram furiosos e só para mostrar que a Lotus tinha o melhor carro, eles foram a Milwakee em agosto e Clark venceu com enorme facilidade, com apenas A.J. Foyt e Dan Gurney não levando uma volta. O recado tinha sido dado.
Clark já tinha se transformado na maior estrela da F1 e era o grande favorito para vencer em 1964, mas o Lotus 25 começava a mostrar sinais de cansaço. Mesmo com duas vitórias na Holanda e na Bélgica com o confiável modelo 25, Chapman resolveu lançar o novíssimo Lotus 33 no Grande Prêmio da Alemanha. Como tinha acontecido com o Lotus 25, Clark teria muito trabalho para acertar o carro e deixa-lo confiável. Jimmy consegue duas poles nas últimas provas de 1964, mostrando a evolução do Lotus 33 e mesmo com os problemas durante o ano, ainda tinha chances de vencer o campeonato. Clark disparou na frente no Grande Prêmio do México e com esse resultado conseguia o bicampeonato, mas num golpe de azar parecido com East London/62, um vazamento de óleo, faltando menos de duas voltas para o fim, fez com que Clark abandonasse a prova e visse John Surtees vencer o campeonato de forma polêmica, após seu companheiro de equipe na Ferrari, Lorenzo Bandini, acertar de propósito a BRM de Graham Hill. Se não deu para conquistar o título na F1, Clark continuava mostrando seu talento em outras categorias, conseguindo a pole para as 500 Milhas de Indianápolis e vencendo o Campeonato Britânico de Turismo com um Lotus Cortina.
Se 1964 foi apenas regular para o elevado padrão de qualidade de Jim Clark, 1965 foi quase perfeito. No início daquele ano, Clark viajou para a Oceania para participar da Tasman Series, um campeonato de pré-temporada com todas as estrelas da época com seus carros do ano anterior. Com o Lotus 33 cada vez mais acertado, foi campeão. Era o recado para os adversários. Foram seis vitórias seguidas em nove etapas do Mundial de F1 e em todas as corridas no ano largou na primeira fila. Naquela época, somente os seis melhores resultados das dez provas que constituíam o Campeonato Mundial de F1 eram válidos e o máximo de pontos possível que se poderia conseguir eram 54. Exatamente o número de pontos conquistados por Clark! Algumas dessas vitórias foram históricas, como no Grande Prêmio da Inglaterra. Clark tinha uma enorme vantagem sobre seus adversários, quando observou que estava perdendo óleo do motor. Com enorme maestria, Clark passou a desligar seu carro nas curvas, para economizar óleo e religar o carro novamente nas retas, recebendo a bandeirada ainda com tranqüilidade. Para quem observou com atenção, percebeu que Clark não participou de todas as dez etapas do Mundial de 1965. É que no dia do Grande Prêmio de Mônaco (corrida que Clark nunca venceu, mesmo tendo liderado várias vezes essa prova) estavam marcadas as 500 Milhas de Indianápolis e a vingança de Clark e Chapman. O Lotus 38, bastante parecido com o Lotus 33, foi especialmente preparado para Clark vencer e o escocês não desperdiçou a oportunidade, liderando 190 das 200 voltas, vencendo com quase uma volta sobre o segundo colocado e se tornou o primeiro europeu a derrotar os norte-americanos nas 500 Milhas de Indianápolis desde 1913. Mesmo a F1 não sendo tão popular nos Estados Unidos, Clark se tornou um mito no lado de cá do Atlântico, chegando a ser capa da revista Time. Para coroar este ano extremamente especial para Clark, ele venceu também o Campeonato Francês de F2, único campeonato regular da categoria e com a presença de todas as estrelas da época.
Após um ano tão espetacular, a F1 ficou com medo de se transformar numa F-Clark ou F-Lotus. Com enorme pressão da Ferrari, os motores de 1.5l seriam substituídos pelos propulsores de três litros em 1966. A equipe italiana atingiu a Lotus em cheio, pois a equipe de Colin Chapman não tinha motores desta capacidade e teve que usar na metade inicial do campeonato um motor Clímax adaptado e na metade final, um motor BRM totalmente antiquado. Porém, Clark não passou o ano em branco e venceu, de forma surpreendente, o Grande Prêmio dos Estados Unidos. Voltando a Indianápolis para defender a sua vitória, Clark termina a prova em segundo após salvar o seu Lotus de um acidente certo, numa manobra até hoje lembrada por quem viu. Ainda em 1966, Clark participou pela primeira de um Rally após dez anos e não fez feio, liderando o famoso Rally do RAC até o seu Lotus Cortina quebrar. Jim Clark era uma super-estrela na Inglaterra, mas os impostos pagos a rainha tinham que ser cobrados de qualquer um, até mesmo de Clark. Podendo ser preso pelos problemas que tinha com o fisco, Jimmy se mudou para Paris no final de 1966 e deixou de participar de alguns testes com a Lotus. Inclusive com a nova obra-prima de Colin Chapman.
Chapman sabia que teria que arranjar um motor 3l se quisesse vencer novamente. Quando venceu as 500 Milhas em 1965, Chapman entrou em contato com a Ford e convenceu a montadora americana em investir em um motor a ser construído pela Cosworth, de dois ex-funcionários da Lotus nos anos 50, Mike Costin e Keith Duckworth. Enquanto isso, Chapman construía o Lotus 49, em total interação com o novo motor Ford-Cosworth. Quando o carro ficou pronto no início de 1967, Clark não pôde participar dos treinos por causa dos seus problemas com o fisco inglês. Graham Hill, que tinha se juntado à Lotus, ficou encarregado dos testes e novo o carro foi mandado para Zandvoort, segunda etapa do Mundial de F1. Clark tomou contato com o carro pela primeira vez na pista holandesa e não consegue uma boa posição no grid, mas numa prova bem calculada, Clark vence a corrida e inaugura uma era na F1. O Lotus 49-Cosworth DFV era tão superior aos demais, que Hill e Clark combinavam antes das corridas quem iria vencer. Porém, o carro sofreu alguns problemas de noviciado e os pilotos da Lotus não brigaram mais seriamente pelo título. Porém, ainda houve tempo para a maior exibição da carreira de Jim Clark e possivelmente uma das maiores atuações individuais da história da F1.
Durante o Grande Prêmio da Itália, Jim Clark liderava a corrida no seu início quando sofreu um furo no pneu na volta 14. Para azar de Clark, o pneu furou logo depois da saída dos boxes e Jimmy teve que fazer uma volta completa com o pneu dechapado. Quando chegou nos boxes, Clark já tinha perdido uma volta para os líderes e tinha poucas chances de vitória. Tanto que Chapman mandou tirar um pouco de gasolina, para deixar o carro um pouco mais leve e veloz. Mesmo conhecendo seu pupilo a quase dez anos, parecia que Chapman ainda subestimava seu piloto. Como um gênio da velocidade, Clark partiu feroz para a pista italiana e Monza viu seu recorde ser quebrado volta após volta. Clark recuperou a volta que tinha de desvantagem, igualou o tempo da pole (1:28.5) e se aproximava dos líderes. Para surpresa de todos no circuito, Clark assumiu a liderança da corrida na volta 58, dez para o final. Jimmy estava à frente de Jack Brabham e John Surtees, mas quando Clark completou a penúltima volta, o motor Ford-Cosworth DFV engasgou. Pane seca. Nem mesmo o poderio do Lotus 49 foi o suficiente para tanta genialidade e uma exibição de gala com aquela. Clark ainda terminou em terceiro e venceu as duas últimas provas de 1967, se credenciando como favorito absoluto para conquistar o tricampeonato em 1968.
Mesmo sendo ainda jovem, Clark já pensava em parar de correr para cuidar de suas fazendas na Escócia e casar. Porém, Clark partiu para o início da temporada de 1968 confiante e logo de cara venceu o primeiro Grande Prêmio daquela temporada, em Kyalami e colocava definitivamente seu nome na história, ao superar o número de vitórias de Fangio, se tornando o maior vencedor de Grandes Prêmios até aquele momento. Depois da África do Sul, Clark foi para a Oceania participar da Tasman Series e venceu novamente o torneio. Ao vencer a corrida em Wigram, Nova Zelândia, Clark se tornava o primeiro piloto a vencer uma corrida de F1 com um carro patrocinado, com a lendária marca de cigarros Gold Leaf. Sempre correndo pela Lotus, Jimmy vencia o terceiro título no Novíssimo Mundo e com as quatorze vitórias no total, também se tornava o maior vencedor da série.
Jim Clark estava no auge da carreira e detinha praticamente todos os recordes da F1 até então. Como a segunda etapa do Mundial só seria em maio, Clark participava de outros eventos e na sua agenda estava marcado no dia 7 de abril de 1968 uma corrida de Esporte-Protótipo em Brands Hatch, mas graças a obrigações contratuais com a Firestone, Clark é forçado a ir para Hockenheim disputar uma etapa do Europeu de F2. O circuito alemão era ainda mais veloz que circuito pré-reforma de 2002 e não tinha guard-rails, fazendo que uma simples escapada de pista fosse extremamente perigosa. Clark não gosta do que vê e para piorar, estava chovendo na hora da largada. Como tinha treinado pouco no Lotus 48, o carro estava totalmente sem acerto e Jimmy completou a primeira volta em sexto. Na sétima volta ele perdeu uma posição na reta dos boxes e partiu para cima do seu adversário. De forma abrupta, o Lotus saiu da pista e o que todos temiam aconteceu. O Lotus foi à alta velocidade para cima das árvores e atingiu uma em cheio. O carro ficou totalmente destruído e Clark morreu na hora.
Foi um verdadeiro terremoto para a comunidade do automobilismo mundial, somente comparável com a morte de Senna, 26 anos depois. Chris Amon ficou tão chocado que disse “Se isso pôde acontecer a ele, qual a chance para nós?” Colin Chapman ficou tão arrasado que pensou seriamente em abandonas as corridas e como sinal de respeito, andou de luto por um mês. Graham Hill, grande amigo de Clark, juntou forças e venceu o Mundial de F1 daquele ano com a Lotus. O cartel de Jim Clark na F1 era impressionante e tinha 72 Grandes Prêmios, 25 vitórias, 33 pole positions, 28 melhores voltas, 32 pódios, 274 pontos e dois títulos mundiais. Fora isso, tinha uma vitória nas 500 Milhas de Indianápolis e várias outras em diferentes carros. Algumas vezes, Clark não entendia o motivo dos outros pilotos não serem tão rápidos como ele e após sua morte, o seu pai confidenciou que o único piloto que Jimmy realmente temia era o americano Dan Gurney. Vários recordes estabelecidos por Jimmy na F1 foram quebrados vários anos depois, como o número de vitórias (Stewart em 1973), poles (Senna em 1989) e melhores voltas (Prost em 1988). Jim Clark foi enterrado na cidade de Chirnsire, em Berwickshire e um monumento foi erguido em Hockenheim, bem no local do acidente dele há quarenta anos atrás. Na sua cidade-natal, Kilmany, foi erguida uma estátua em tamanho natural em homenagem à Jimmy e um museu foi feito em sua honra em Duns.
Particularmente, sempre respeitei muito que acham de Jim Clark e um documentário me marcou bastante anos atrás. Era o ano de 1999 e várias enquetes eram feitas para saber “O melhor do século” em várias modalidade, esportivas ou não. Nesse documentário, um veterano jornalista inglês disse que se Clark não tivesse morrido tão novo, com 32 anos de idade, essas enquetes seriam inúteis. A resposta estariam nos impressionantes resultados do “Escocês Voador”.
James Clark Jr. nasceu no dia 4 de março de 1936 em Kilmany, na Escócia, na fazenda dos seus pais. Jimmy era a quinta criança na família e o primeiro menino. Em 1942 a família se mudou para outra fazenda, próximo a Berwickshire e começou a estudar na escola preparatória de Chifton Hall, perto da capital escocesa, Edimburgo. Como único filho homem, a família Clark esperava que Jim tomasse frente nos negócios da família, mas o jovem escocês já tinha se interessado por outro tipo de negócio. Desde os 15 anos de idade, Jim Clark começou a se interessar por corridas e dois anos depois ele passou a disputar eventos amadores de rally, com um Sunbream-Talbot. E com sucesso! No dia 16 de Junho de 1956, quando ele completou vinte anos, idade mínima para se correr na Grã-Bretanha na época, e contra a vontade dos seus pais, Clark participou de sua primeira corrida em Crimond, na Escócia, ao volante de um DKW.
Em 1958, Jim passou a correr por uma pequena equipe de sua cidade, a Border Reivers Team, e Clark passou a ter contato com carros como o Jaguar Tipo D e Porsches. Jimmy venceu 18 corridas nesse ano e pela primeira vez saiu da Grã-Bretanha para fazer uma corrida internacional, em Spa, pista em que não lhe agradou nenhum pouco desde o primeiro encontro até o final de sua vida. No final de 1958, Clark conhece um jovem construtor cheio de idéias novas e com muita ambição: Colin Chapman. Não restam dúvidas que esse encontro entrou para a história do automobilismo e, já impressionado com o incrível cartel como piloto amador, Chapman convocou Clark para fazer uma corrida pela equipe, a Lotus. Com um modelo Elite, Clark participa da primeira corrida com a equipe Lotus no dia 26 de dezembro e Jim termina a prova em segundo lugar.
Isso chama a atenção de Chapman e a partir de então, os nomes Clark e Lotus praticamente se tornam sinônimos. Em 1959, Clark estréia nas 24 Horas de Le Mans e com o mesmo Lotus Elite, Jim chega em segundo lugar na sua categoria e no final ano participa de sua primeira corrida em monopostos, em um Gemini de Fórmula Junior. Nesse momento o principal foco de Colin Chapman era a F1 e convence Clark a participar de categorias de base na Inglaterra como preparação para a F1. Em 1960, Clark disputou dois campeonatos de Fórmula Junior na Inglaterra e faturou ambos. Em seu primeiro teste com um F1 em Brands Hatch, Clark tinha tanta confiança em seu taco que ele resolveu usar uma tática interessante para impressionar quem não o conhecia. Jim dava tudo de si nas curvas que não podiam ser vistas dos boxes e pilotar mais lentamente nos locais visíveis. Quando encostou no box da Lotus, um mecânico disse que os tempos estavam muito bons, mas que ele poderia ser mais rápido. “Então vá ver as curvas atrás dos boxes”, retrucou Clark.
Com mais de cinqüenta vitórias nos mais variados tipos de carros e corrida, Chapman fica convencido que Jim estava mais do que preparado para estrear na F1 e Clark viaja para a Holanda, com o intuito de participar do seu primeiro Grande Prêmio em Zandvoort. O Lotus 18 ainda era um carro a ser desenvolvido, mas já conquistava os primeiros triunfos para Colin Chapman. Innes Ireland, companheiro de equipe de Clark, venceu o Grande Prêmio dos Estados Unidos de 1960 e teve a honra de ser o primeiro piloto a vencer pela equipe Lotus. Anos depois, Ireland insinuou que Chapman apostava tanto em Clark que o boicotou na equipe. Porém, o talento de Clark era evidente e logo na sua primeira temporada, o escocês conseguiu seu primeiro pódio, com um terceiro lugar no Grande Prêmio de Portugal. Mais adaptado em seu segundo ano de F1, Clark começa a impressionar o circo da F1, mesmo não tendo carro para enfrentar as Ferraris, que dominaram em 1961. Jimmy não corria apenas de F1 e conseguia várias vitórias em corridas de F2 e Esporte-Protótipos, mas era na F1 que o seu talento ficava mais aparente. Durante o Grande Prêmio da Holanda, Clark brigou de igual para igual com a Ferrari de Phil Hill e durante o Grande Prêmio da Itália, em Monza, Clark consegue uma boa largada e brigava com a Ferrari do alemão Wolfgang von Trips, que disputava com Hill pelo título daquele ano. No final da segunda volta, Clark e von Trips se enroscam na temida curva Parabólica e o piloto da Ferrari acaba voando em direção a um barranco cheio de espectadores. Wolfgang von Trips, grande piloto alemão da época, líder do campeonato e favorito ao título faleceu na hora, juntamente com quatorze espectadores. A imprensa italiana apontou o dedo para Clark, que assumiu toda a culpa. Mesmo achando que von Trips tinha sido muito otimista naquela manobra.
Para enfrentar o poderio da Ferrari, Colin Chapman constrói o Lotus 25 para 1962. Claramente inspirado na aviação, o modelo 25 tinha soluções totalmente inéditas até então, como o primeiro carro com monocoque e estrutura tubular e pensando no equilíbrio do veículo, Chapman praticamente fez com que Clark pilotasse o carro deitado, reduzindo a seção transversal e a resistência aerodinâmica. Foi a primeira obra-prima de Chapman e Clark seria o primeiro a usufruí-lo. Após fazer as primeiras corridas extra-campeonato daquele ano com um Lotus 24, um modelo híbrido, Clark estreou o modelo 25 na primeira etapa daquele mundial, em Zandvoort. O potencial do carro ficou claro com a terceira posição de Clark no grid e o terceiro lugar de Trevor Taylor na corrida. Clark liderou o Grande Prêmio seguinte, em Mônaco, mas problemas na embreagem impediram o sonho da primeira vitória. Por ironia do destino, o primeiro triunfo de Clark na F1 viria na pista que mais odiava, em Spa. Durante o Grande Prêmio da Alemanha, Clark larga mal e perde várias posições, mas numa recuperação surpreendente, consegue ultrapassar 17(!) concorrentes na primeira volta em Nürburgring, debaixo de muita chuva. O interessante foi que Clark não venceu essa prova, terminando-a em quarto lugar. O Lotus 25, como todo novo carro, quebrava muito e isso acabou atrapalhando Clark na luta pelo título, mas quando o carro agüentava até o fim, Jimmy na maioria das vezes vencia. A decisão do campeonato seria no Grande Prêmio da África do Sul, em East London, com Graham Hill, da BRM, ainda na liderança, mas o favoritismo era todo de Clark, que marcou uma pole sensacional e liderou a maior parte da prova, até abandonar com um vazamento de óleo. Depois se descobriu que um dos mecânicos da Lotus se esqueceu de apertar um parafuso e todo o óleo do motor Clímax se esvaiu no asfalto sul-africano, juntamente com o sonho do primeiro título de Clark.
Porém, Jim não se abate e parte para 1963 mais motivado do que nunca, sabendo que o Lotus 25 era o carro que podia lhe dar o título mundial. Mesmo com o abandono no primeiro Grande Prêmio do ano, em Monte Carlo, quando liderou a maior parte da prova e teve o câmbio quebrado no fim, Jimmy usou seu talento para vencer os quatro Grandes Prêmios seguintes com o mesmo jogo de pneus e só não venceu o quinto, na Alemanha, por que teve problemas no motor e só se contentou com a segunda posição. Em Monza, ainda hostilizado pelo público pelo acidente de von Trips, Clark vence a corrida após uma enorme briga com a Ferrari de John Surtees, a BRM de Graham Hill e o Brabham de Gurney. A oitava vitória de Clark significava que o piloto da Lotus se tornava, até então, o piloto mais novo a vencer um Campeonato de Pilotos, com 27 anos, e ainda deu primeiro título de Construtores para a Lotus. O total de pontos conquistados por Clark em 1963, 73 pontos (sendo que 54 válidos) foi um recorde que só foi superado em 1985 por Alain Prost. Nos Estados Unidos, Clark faz uma corrida sensacional e após ter problemas na largada e perder uma volta para todos os seus adversários, Clark termina a prova em terceiro e reclamando, pois não ganharia o beijo da Miss da corrida. Fora a corrida em Watkins Glen pela F1 naquele ano, Clark iniciava uma belíssima história com o país norte-americano.
Em 1962 Chapman foi convidado por Dan Gurney para assistir a edição daquele ano das 500 Milhas de Indianápolis. O dono da Lotus fica impressionado com duas coisas envolvendo a corrida. Primeiro era o atraso dos carros americanos com relação aos europeus e o segundo era o enorme prêmio dado ao vencedor da corrida. Chapman ficou altamente animado e resolve participar das 500 Milhas de 1963 com um Lotus de motor traseiro para Jim Clark e Dan Gurney. Os americanos fizeram pouco de um carro tão compacto, mas Clark fez uma belíssima corrida e liderou a maior parte da prova, mas numa corrida que ficou conhecida como a “Marmelada Americana”, Parnelli Jones venceu a prova mesmo com seu carro soltando muito óleo na pista. Isto era claramente irregular, mas como Parnelli era tão americano quanto a Casa Branca, nada foi feito e Clark chegou em segundo, conquistando o prêmio de Novato do Ano. Clark e Chapman ficaram furiosos e só para mostrar que a Lotus tinha o melhor carro, eles foram a Milwakee em agosto e Clark venceu com enorme facilidade, com apenas A.J. Foyt e Dan Gurney não levando uma volta. O recado tinha sido dado.
Clark já tinha se transformado na maior estrela da F1 e era o grande favorito para vencer em 1964, mas o Lotus 25 começava a mostrar sinais de cansaço. Mesmo com duas vitórias na Holanda e na Bélgica com o confiável modelo 25, Chapman resolveu lançar o novíssimo Lotus 33 no Grande Prêmio da Alemanha. Como tinha acontecido com o Lotus 25, Clark teria muito trabalho para acertar o carro e deixa-lo confiável. Jimmy consegue duas poles nas últimas provas de 1964, mostrando a evolução do Lotus 33 e mesmo com os problemas durante o ano, ainda tinha chances de vencer o campeonato. Clark disparou na frente no Grande Prêmio do México e com esse resultado conseguia o bicampeonato, mas num golpe de azar parecido com East London/62, um vazamento de óleo, faltando menos de duas voltas para o fim, fez com que Clark abandonasse a prova e visse John Surtees vencer o campeonato de forma polêmica, após seu companheiro de equipe na Ferrari, Lorenzo Bandini, acertar de propósito a BRM de Graham Hill. Se não deu para conquistar o título na F1, Clark continuava mostrando seu talento em outras categorias, conseguindo a pole para as 500 Milhas de Indianápolis e vencendo o Campeonato Britânico de Turismo com um Lotus Cortina.
Se 1964 foi apenas regular para o elevado padrão de qualidade de Jim Clark, 1965 foi quase perfeito. No início daquele ano, Clark viajou para a Oceania para participar da Tasman Series, um campeonato de pré-temporada com todas as estrelas da época com seus carros do ano anterior. Com o Lotus 33 cada vez mais acertado, foi campeão. Era o recado para os adversários. Foram seis vitórias seguidas em nove etapas do Mundial de F1 e em todas as corridas no ano largou na primeira fila. Naquela época, somente os seis melhores resultados das dez provas que constituíam o Campeonato Mundial de F1 eram válidos e o máximo de pontos possível que se poderia conseguir eram 54. Exatamente o número de pontos conquistados por Clark! Algumas dessas vitórias foram históricas, como no Grande Prêmio da Inglaterra. Clark tinha uma enorme vantagem sobre seus adversários, quando observou que estava perdendo óleo do motor. Com enorme maestria, Clark passou a desligar seu carro nas curvas, para economizar óleo e religar o carro novamente nas retas, recebendo a bandeirada ainda com tranqüilidade. Para quem observou com atenção, percebeu que Clark não participou de todas as dez etapas do Mundial de 1965. É que no dia do Grande Prêmio de Mônaco (corrida que Clark nunca venceu, mesmo tendo liderado várias vezes essa prova) estavam marcadas as 500 Milhas de Indianápolis e a vingança de Clark e Chapman. O Lotus 38, bastante parecido com o Lotus 33, foi especialmente preparado para Clark vencer e o escocês não desperdiçou a oportunidade, liderando 190 das 200 voltas, vencendo com quase uma volta sobre o segundo colocado e se tornou o primeiro europeu a derrotar os norte-americanos nas 500 Milhas de Indianápolis desde 1913. Mesmo a F1 não sendo tão popular nos Estados Unidos, Clark se tornou um mito no lado de cá do Atlântico, chegando a ser capa da revista Time. Para coroar este ano extremamente especial para Clark, ele venceu também o Campeonato Francês de F2, único campeonato regular da categoria e com a presença de todas as estrelas da época.
Após um ano tão espetacular, a F1 ficou com medo de se transformar numa F-Clark ou F-Lotus. Com enorme pressão da Ferrari, os motores de 1.5l seriam substituídos pelos propulsores de três litros em 1966. A equipe italiana atingiu a Lotus em cheio, pois a equipe de Colin Chapman não tinha motores desta capacidade e teve que usar na metade inicial do campeonato um motor Clímax adaptado e na metade final, um motor BRM totalmente antiquado. Porém, Clark não passou o ano em branco e venceu, de forma surpreendente, o Grande Prêmio dos Estados Unidos. Voltando a Indianápolis para defender a sua vitória, Clark termina a prova em segundo após salvar o seu Lotus de um acidente certo, numa manobra até hoje lembrada por quem viu. Ainda em 1966, Clark participou pela primeira de um Rally após dez anos e não fez feio, liderando o famoso Rally do RAC até o seu Lotus Cortina quebrar. Jim Clark era uma super-estrela na Inglaterra, mas os impostos pagos a rainha tinham que ser cobrados de qualquer um, até mesmo de Clark. Podendo ser preso pelos problemas que tinha com o fisco, Jimmy se mudou para Paris no final de 1966 e deixou de participar de alguns testes com a Lotus. Inclusive com a nova obra-prima de Colin Chapman.
Chapman sabia que teria que arranjar um motor 3l se quisesse vencer novamente. Quando venceu as 500 Milhas em 1965, Chapman entrou em contato com a Ford e convenceu a montadora americana em investir em um motor a ser construído pela Cosworth, de dois ex-funcionários da Lotus nos anos 50, Mike Costin e Keith Duckworth. Enquanto isso, Chapman construía o Lotus 49, em total interação com o novo motor Ford-Cosworth. Quando o carro ficou pronto no início de 1967, Clark não pôde participar dos treinos por causa dos seus problemas com o fisco inglês. Graham Hill, que tinha se juntado à Lotus, ficou encarregado dos testes e novo o carro foi mandado para Zandvoort, segunda etapa do Mundial de F1. Clark tomou contato com o carro pela primeira vez na pista holandesa e não consegue uma boa posição no grid, mas numa prova bem calculada, Clark vence a corrida e inaugura uma era na F1. O Lotus 49-Cosworth DFV era tão superior aos demais, que Hill e Clark combinavam antes das corridas quem iria vencer. Porém, o carro sofreu alguns problemas de noviciado e os pilotos da Lotus não brigaram mais seriamente pelo título. Porém, ainda houve tempo para a maior exibição da carreira de Jim Clark e possivelmente uma das maiores atuações individuais da história da F1.
Durante o Grande Prêmio da Itália, Jim Clark liderava a corrida no seu início quando sofreu um furo no pneu na volta 14. Para azar de Clark, o pneu furou logo depois da saída dos boxes e Jimmy teve que fazer uma volta completa com o pneu dechapado. Quando chegou nos boxes, Clark já tinha perdido uma volta para os líderes e tinha poucas chances de vitória. Tanto que Chapman mandou tirar um pouco de gasolina, para deixar o carro um pouco mais leve e veloz. Mesmo conhecendo seu pupilo a quase dez anos, parecia que Chapman ainda subestimava seu piloto. Como um gênio da velocidade, Clark partiu feroz para a pista italiana e Monza viu seu recorde ser quebrado volta após volta. Clark recuperou a volta que tinha de desvantagem, igualou o tempo da pole (1:28.5) e se aproximava dos líderes. Para surpresa de todos no circuito, Clark assumiu a liderança da corrida na volta 58, dez para o final. Jimmy estava à frente de Jack Brabham e John Surtees, mas quando Clark completou a penúltima volta, o motor Ford-Cosworth DFV engasgou. Pane seca. Nem mesmo o poderio do Lotus 49 foi o suficiente para tanta genialidade e uma exibição de gala com aquela. Clark ainda terminou em terceiro e venceu as duas últimas provas de 1967, se credenciando como favorito absoluto para conquistar o tricampeonato em 1968.
Mesmo sendo ainda jovem, Clark já pensava em parar de correr para cuidar de suas fazendas na Escócia e casar. Porém, Clark partiu para o início da temporada de 1968 confiante e logo de cara venceu o primeiro Grande Prêmio daquela temporada, em Kyalami e colocava definitivamente seu nome na história, ao superar o número de vitórias de Fangio, se tornando o maior vencedor de Grandes Prêmios até aquele momento. Depois da África do Sul, Clark foi para a Oceania participar da Tasman Series e venceu novamente o torneio. Ao vencer a corrida em Wigram, Nova Zelândia, Clark se tornava o primeiro piloto a vencer uma corrida de F1 com um carro patrocinado, com a lendária marca de cigarros Gold Leaf. Sempre correndo pela Lotus, Jimmy vencia o terceiro título no Novíssimo Mundo e com as quatorze vitórias no total, também se tornava o maior vencedor da série.
Jim Clark estava no auge da carreira e detinha praticamente todos os recordes da F1 até então. Como a segunda etapa do Mundial só seria em maio, Clark participava de outros eventos e na sua agenda estava marcado no dia 7 de abril de 1968 uma corrida de Esporte-Protótipo em Brands Hatch, mas graças a obrigações contratuais com a Firestone, Clark é forçado a ir para Hockenheim disputar uma etapa do Europeu de F2. O circuito alemão era ainda mais veloz que circuito pré-reforma de 2002 e não tinha guard-rails, fazendo que uma simples escapada de pista fosse extremamente perigosa. Clark não gosta do que vê e para piorar, estava chovendo na hora da largada. Como tinha treinado pouco no Lotus 48, o carro estava totalmente sem acerto e Jimmy completou a primeira volta em sexto. Na sétima volta ele perdeu uma posição na reta dos boxes e partiu para cima do seu adversário. De forma abrupta, o Lotus saiu da pista e o que todos temiam aconteceu. O Lotus foi à alta velocidade para cima das árvores e atingiu uma em cheio. O carro ficou totalmente destruído e Clark morreu na hora.
Foi um verdadeiro terremoto para a comunidade do automobilismo mundial, somente comparável com a morte de Senna, 26 anos depois. Chris Amon ficou tão chocado que disse “Se isso pôde acontecer a ele, qual a chance para nós?” Colin Chapman ficou tão arrasado que pensou seriamente em abandonas as corridas e como sinal de respeito, andou de luto por um mês. Graham Hill, grande amigo de Clark, juntou forças e venceu o Mundial de F1 daquele ano com a Lotus. O cartel de Jim Clark na F1 era impressionante e tinha 72 Grandes Prêmios, 25 vitórias, 33 pole positions, 28 melhores voltas, 32 pódios, 274 pontos e dois títulos mundiais. Fora isso, tinha uma vitória nas 500 Milhas de Indianápolis e várias outras em diferentes carros. Algumas vezes, Clark não entendia o motivo dos outros pilotos não serem tão rápidos como ele e após sua morte, o seu pai confidenciou que o único piloto que Jimmy realmente temia era o americano Dan Gurney. Vários recordes estabelecidos por Jimmy na F1 foram quebrados vários anos depois, como o número de vitórias (Stewart em 1973), poles (Senna em 1989) e melhores voltas (Prost em 1988). Jim Clark foi enterrado na cidade de Chirnsire, em Berwickshire e um monumento foi erguido em Hockenheim, bem no local do acidente dele há quarenta anos atrás. Na sua cidade-natal, Kilmany, foi erguida uma estátua em tamanho natural em homenagem à Jimmy e um museu foi feito em sua honra em Duns.
Particularmente, sempre respeitei muito que acham de Jim Clark e um documentário me marcou bastante anos atrás. Era o ano de 1999 e várias enquetes eram feitas para saber “O melhor do século” em várias modalidade, esportivas ou não. Nesse documentário, um veterano jornalista inglês disse que se Clark não tivesse morrido tão novo, com 32 anos de idade, essas enquetes seriam inúteis. A resposta estariam nos impressionantes resultados do “Escocês Voador”.
Foi um grande piloto, em todos os aspectos. Já agora, para além disso tudo que disseste, também há um Jim Clark Memorial, que faz parte do campeonato inglês de Ralies, e é corrida todos os anos.
ResponderExcluirParabéns pelo texto!
ResponderExcluirVc poderia dizer o nome do documentário?
Sinceramente não me recordo, mas acho que assisti na SporTV, mas não tenho certeza...
ResponderExcluirlindo texto sobre um dos 5 melhores de todos os tempos.abraço do emerson de santos sp
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