É interessante como um piloto reconhecido como um destruidor de carros pôde ficar tanto tempo na F1, mesmo tendo um enorme patrocínio por trás. Andrea de Cesaris passou treze anos na F1 mostrando uma boa dose de velocidade, mas seus acidentes, principalmente no seu começo na F1, fizeram com que esse italiano de sangue quente ficasse mais conhecido pelos prejuízos que ele dava aos seus chefes de equipe. Completando 50 anos no dia de amanhã, iremos conhecer um pouquinho mais das (muitas) histórias de Andrea.
Andrea de Cesaris nasceu no dia 31 de maio de 1959 na cidade de Roma. Filho de um importante representante da Marlboro, De Cesaris teve tudo de bom e do melhor e graças aos contatos do seu pai, Andrea teve muitas portas abertas. Inicialmente, De Cesaris teve um ótimo início de carreira, vencendo vários campeonatos de kart na Itália, meca da categoria na Europa. Seu sucesso nos micro-bólidos de corrida fizeram com que o italiano fosse ainda bastante jovem para a Inglaterra disputar o reconhecido Campeonato Inglês de F3. Com os bons resultados que tinha no kart e o dinheiro da Marlboro, De Cesaris estreou na F3 em boas equipes, mas suas trapalhadas obscureceram a sua grande velocidade mostrada nas pistas. Andrea tinha tudo para ser campeão logo na estréia, mas ele acabou perdendo o título para o brasileiro Chico Serra. Para aumentar ainda mais a sua fama, De Cesaris se envolveu em um acidente com Nigel Mansell onde o inglês quebrou o pescoço e passou algum tempo no hospital. Ron Dennis possuía na época uma das melhores equipe de F2 e como tinha um forte relacionamento com a Marlboro, contratou De Cesaris para participar do Campeonato Europeu de F2 pela já famosa equipe Project Four. O romano teria ao seu lado Chico Serra e Dennis tinha o apoio da BMW, mas a equipe Toleman dominou o ano com Brian Henton e Teo Fabi. De Cesaris terminou o campeonato em quinto lugar e uma vitória em Misano.
Andrea poderia facilmente ficar mais um ano na F2, mas Ron Dennis tinha comprado parte da McLaren no final de 1980 e manteria toda a sua atenção na F1, enquanto De Cesaris tinha o valioso patrocínio da Marlboro, que lhe garantiu a estreia na F1 ainda em 1980, substituindo o veterano Vittorio Brambilla na equipe Alfa Romeo. Com apenas 21 anos de idade, De Cesaris fez sua primeira corrida na F1 no Grande Prêmio do Canadá, mas o italiano abandonou após poucas voltas. Contudo, Andrea impressionou a todos por ter largado entre os dez primeiros nas duas provas em que fez em 1980 pela F1 e por isso (e o dinheiro da Marlboro), De Cesaris foi contratado pela McLaren para 1981. Foi o começo da 'lenda'. De Cesaris mostrava uma boa velocidade e sempre andava próximo do seu experiente companheiro de equipe John Watson, porém seus vários acidentes colocaram tudo a perder. E não foram poucos. Os números de Andrea em seu primeiro ano da F1 é de fazer corar até mesmo o mais ganancioso corretor de seguros de carros. Ele destruiu 22 chassis ao longo de 1981, a ponto dos mecânicos terem se recusado a consertá-los durante certa parte do ano. O detalhe foi que naquele ano houveram 14 corridas. Um piada frequente na época era de que Andrea ficou com o número 8 a fim de permitir aos comissários de pista identificá-lo quando o carro dele estivesse de cabeça para baixo. Conta a lenda que Ron Dennis ficou tão traumatizado com De Cesaris que ele prometeu a si mesmo nunca mais contratar um piloto italiano para sua equipe, algo comprovado em 2001, quando poderia ter contratado Fisichella, mas preferiu Raikkonen.
Foi nessa época que Andrea passou a ser também conhecido como "De Crasheris", mas por incrível que pareça, o italiano nunca se machucava em seus acidentes e seu ímpeto nunca diminuía. Mesmo tendo conquistado um ponto no Grande Prêmio de San Marino, Andrea foi devidamente demitido da McLaren ao final do ano, mas graças a Marlboro, ele pôde retornar para a Alfa Romeo para 1982. Foi a melhor fase da carreira do italiano. Andrea queria apagar a fama de trapalhão e mostrar que tinha muita velocidade. Para isso, ele marcou sua única pole-position no Grande Prêmio de Long Beach, se tornando na época, o mais jovem a conseguir esse feito, além de ter devolvido a Alfa Romeo o gostinho de uma pole após exatos trinta anos. Na corrida, De Cesaris lideraria várias voltas, mas quando era pressionado por Niki Lauda, ele se desconcentrou ao ultrapassar o retardatário Raul Boesel e acabou perdendo a ponta, sofrendo um acidente logo depois. No Grande Prêmio de Mônaco, De Cesaris ficou muito próximo da vitória quando, numa das corridas mais esquisitas da história da F1, onde parecia que ninguém queria ganhar. Após o abandono de Prost e a rodada de Patrese na penúltima volta, Andrea assumia a segunda posição, mas seu Alfa ficou sem combustível na última volta, enquanto a Ferrari do líder Pironi tinha destino semelhante mais à frente. Se serviu de consolo, Andrea conseguiu seu primeiro pódio na carreira, mas a impressão que se tinha do italiano era de um piloto rápido, mas muito irregular e ainda muito propenso a acidentes. Na largada para o Grande Prêmio da Áustria, ele jogou seu companheiro de equipe, Bruno Giacomelli, para o muro, para em Detroit largar novamente na primeira fila. De Cesaris também mostrava ser um especialista em circuitos de rua.
Para 1983, a Alfa Romeo teria motores turbo e Andrea pôde brigar ainda mais à frente no pelotão. Normalmente largando entre os dez primeiros, De Cesaris lutava constantemente pelos pontos e em determinadas ocasiões, pelo pódio. No Grande Prêmio da Bélgica, na volta da F1 a Spa-Francorchamps, De Cesaris largou na primeira fila e tomou a ponta de Prost ainda na largada, liderando a maior parte da corrida, mas um pit-stop ruim arruinou sua corrida e alguns voltas depois o motor Alfa lhe deixou na mão. Na Alemanha, De Cesaris voltaria a subir no pódio com um 2º, mesmo tendo dado várias fechadas perigosas durante a prova, mas seu gênio forte lhe causava alguns problemas, como na Holanda, quando quase saiu no tapa com Patrese. Na última corrida do ano, em Kyalami, Andrea fez uma corrida sólida e com o abrandamento do ritmo de Piquet, que se encaminhava para o seu segundo título, De Cesaris pôde terminar novamente em segundo e mostrar a todos que tinha condições de andar entre os primeiros. Porém, a administração da equipe Alfa Romeo havia mudado e o patrocínio da Marlboro tinha ido embora, trocada pela Benetton. Mesmo no melhor momento da carreira, a Alfa não se interessou em De Cesaris e contratou Patrese e Eddie Cheever para 1984. Como a única equipe patrocinada pela Marlboro era a McLaren e Dennis ainda tinha viva em sua memória a temporada 1981, De Cesaris teve que usar apenas seu talento para conseguir uma nova equipe.
O italiano conseguiu abrigo na Ligier, que tinha feito uma péssima temporada em 1983, mas teria os motores turbo da Renault. Ao lado do estreante François Hesnault, De Cesaris mostrou maturidade ao conseguir um 5º lugar no Grande Prêmio da África do Sul logo em sua segunda corrida, mas o carro francês se mostrou fraco demais e De Cesaris só conseguiria mais um ponto no final do ano. Apesar dos parcos resultados, De Cesaris permaneceria mais um ano na Ligier em 1985 e agora teria a companhia de Jacques Laffite, um piloto experiente que poderia levar novamente a Ligier a bons resultados. Apesar do conjunto ser praticamente o mesmo, Andrea conseguiu resultados melhores, como um 4° lugar em Mônaco, mas os acidentes ainda faziam parte da carreira do italiano e uma das histórias mais conhecidas dele aconteceu no Grande Prêmio da Áustria de 1985. Ainda no início da prova, De Cesaris saiu da pista, que estava com a grama molhada por causa da chuva pela manhã, bateu num bump e o que seguiu foi uma das capotagens mais conhecidas da história da F1. Andrea emergiu do seu carro ileso, mas Guy Ligier estava furioso com um acidente e demitiu o italiano quando ele chegou aos boxes. "Não posso mais pagar pelos serviços desse rapaz!", explicou Ligier o motivo de sua decisão.
Já afamado pela sua predileção por acidentes, De Cesaris não tinha muitas alternativas para 1986 e por isso teve que usar o seu também famoso patrocínio da Marlboro para conseguir uma vaga na pequena e pouco financiada equipe Minardi. O carro era pesado e motor italiano Motori Moderni estava longe de ser dos mais potentes, mas o que marcou a passagem por De Cesaris na equipe foi ter sido derrotado de forma inapelável pelo seu companheiro de equipe Alessandro Nannini, que estreava na F1. Apesar dos pesares, ninguém duvidava da velocidade de Andrea, mas nem isso o italiano poderia se apegar. Para piorar, pela primeira vez na F1 De Cesaris passou a temporada sem marcar pontos, mas o italiano ainda tinha um ás na manga. Era um ás vermelho e branco e recheado de dinheiro. A equipe Brabham, apesar de ainda ser controlada por Bernie Ecclestone, não passava por um bom momento e o chefe de equipe estava mais preocupado na briga com Balestre, enquanto controlava a FOCA. Nas vésperas da primeira corrida de 1987, o Grande Prêmio do Brasil, De Cesaris levou o patrocínio da Marlboro e acabou sendo contratado pela Brabham. Seu primeiro teste na nova equipe seria no primeiro treino livre em Jacarepaguá e após três rodadas, ficou claro que o velho Andrea continuava na mesma forma!
Tanto que a velocidade do italiano também parecia voltar, como provou seu 3º lugar no Grande Prêmio da Bélgica. O problema era que o Brabham era um carro muito inconfiável e estragava as corridas dos seus pilotos, a ponto de que o pódio em Spa tenha sido a única vez em que De Cesaris havia visto a bandeirada em 1987. Quando Ecclestone vendeu a equipe no final do ano e a Brabham passaria um ano sabático, mais uma vez Andrea teria que procurar emprego e o achou na nova equipe Rial, mas cujo dono, Günther Schmid, tinha dirigido por alguns anos a ATS na década de 1980. O carro era extremamente aerodinâmico, mas sua principal característica era o pequeno tanque de combustível, para aliviar o peso do carro e torná-lo ainda mais suave em suas curvas. Isso significava que muitas vezes Andrea teria que diminuir seu ritmo no final das provas para tentar completar as corridas, sendo que muitas vezes pontos preciosos foram desperdiçados com essa estratégia. Andrea ainda marcou um 4º lugar em Detroit, mas ficou duas vezes parado no final da prova com pane seca, quando poderia ter marcado pontos. Quando a Marlboro resolveu patrocinar a equipe Dallara em 1989, ela resolveu trazer De Cesaris para a equipe e com a ajuda dos pneus Pirelli, os primeiros resultados eram muito bons. Porém, Andrea atrapalharia alguns dos bons momentos da equipe.
Em Mônaco, onde sempre andava bem, De Cesaris vinha numa confortável 4º posição quando encontrou o retardatário Nelson Piquet em seu problemático Lotus. Pensando em não perder muito tempo, Andrea resolve ultrapassar o brasileiro no apertado hairpin Loews, mas como só se cabe um carro ali, o toque foi inevitável e De Cesaris perderia pontos preciosos. Tão preciosos que o italiano ficou totalmente transtornado dentro do carro, gesticulando para Piquet de forma agressiva. Novamente em um circuito de rua, Detroit, a equipe Dallara estava muito bem com seus dois pilotos, mas tudo começou a desandar quando De Cesaris foi ultrapassar Derek Warwick e acabou furando um pneu. Tendo que voltar lentamente aos boxes, o italiano voltou à pista nas últimas posições, sem chance de brigar por pontos. Então, viu (ou não) pelos retrovisores seu companheiro de equipe Alex Caffi, que ocupava um impressionante 3º lugar e estava a ponto de lhe colocar uma volta. Não se sabe o que deu na cabeça de Andrea, mas o italiano simplesmente colocou Caffi no muro, acabando com a corrida da Dallara, cujo boxe pegou fogo após a corrida! No entanto, De Cesaris deu um pouco de alegria a equipe na corrida seguinte em Montreal, quando se aproveitou de uma corrida confusa debaixo de muita chuva e conseguiu um terceiro lugar. A comemoração efusiva do romano no pódio chamou a atenção de todos, mas o que o romano não sabia era que não subiria mais ao pódio na F1.
Os bons resultados da Dallara não se repetiram em 1990 e como resultado De Cesaris não marcou um único ponto durante o ano, ficando de fora do Grande Prêmio da Alemanha. Em dez anos de F1, Andrea só havia conseguido a fama de uma calamidade ambulante, causando pânico aos pilotos com quem largava ao lado e um frio na espinha dos líderes, quando estes chegavam para colocar uma volta no italiano. Porém, o patrocínio da Marlboro ainda chamava muita atenção e quando Eddie Jordan, que foi um dos adversários de Andrea nos tempos de F3, lançou sua equipe de F1 em 1991, chamou o italiano como principal piloto. O Jordan 191 verde foi um dos carros mais marcantes do começo da década de 90 e com sua mecânica simples, fez com que De Cesaris pudesse mostrar mais velocidade do que acidentes desta vez. Marcando pontos de forma regular, o piloto da Jordan vinha em sua melhor temporada desde 1983 e mesmo após tanto tempo, teria uma chance de conseguir uma vitória. Antes do Grande Prêmio da Bélgica, o segundo piloto da Jordan Bertrand Gachot foi preso por causa de uma briga de trânsito e De Cesaris teria um novo companheiro de equipe: o desconhecido Michael Schumacher. O alemão começou sua passagem na F1 de forma arrasadora, derrotando Andrea na Classificação, mas abandonando ainda na primeira volta. Então De Cesaris resolve mostrar que também tinha velocidade para derrotar o atrevido alemão e durante a corrida vai subindo pelo pelotão até alcançar o segundo lugar, faltando apenas três voltas para o fim, com Ayrton Senna tendo sérios problemas no câmbio. Quando o italiano estava prestes a atacar Senna, o motor Ford explodiu, acabando com o sonho da primeira vitória do piloto da Jordan.
Após um ótimo ano pela equipe Jordan, De Cesaris estava com um novo ânimo para 1992, mas Eddie Jordan estava precisando urgentemente de dinheiro e conseguiu um contrato com a tabaqueira Barclay, que foi logo avisando que não estava interessada em ter um piloto apoiado pela Marlboro. Mais uma vez De Cesaris teria que procurar emprego e encontrou na tradicional e decadente equipe Tyrrell, cuja a última vitória estava próxima de completar dez anos. Ken Tyrrell só contratou Andrea por causa dos seus patrocinadores, mas um 5º lugar no Grande Prêmio do México do italiano, logo em sua segunda corrida pela equipe, fez com que o velho chefe de equipe pensasse que poderia juntar o útil ao agradável. De Cesaris marcaria pontos em outras três oportunidades, mas quando a Tyrrell trocou o confiável motor Ilmor pelo financiado e pouco produtivo Yamaha, as chances de voltar a ter uma boa temporada acabaram para o italiano. O carro era ruim e o motor bastante inconfiável, fazendo com que De Cesaris não conseguisse nenhum ponto em 1993. Já contando com 34 anos e sem muitos resultados para mostrar, Andrea começou 1994 sem emprego, mas tudo mudaria no Grande Prêmio do Brasil. Eddie Irvine tinha provocado um perigoso acidente no final da Reta Oposta e acabou suspenso por três corridas e Jordan resolve chamar seu primeiro piloto novamente. Correndo no seu circuito preferido, Monte Carlo, De Cesaris consegue um ótimo quarto lugar, segurando a Ferrari de Jean Alesi no final da prova.
Nesse mesmo final de semana a Sauber havia perdido Karl Wendlinger num forte acidente nos treinos livres e vendo a boa atuação de Andrea, chama o veterano italiano para pilotar para eles até o austríaco voltar. Na sua primeira corrida pela Sauber, no Canadá, De Cesaris participa da sua corrida de número 200 e marcaria seu último ponto na F1 na prova seguinte, na França. Com as mudanças nos carros por causa das mortes de Ratzenberger e Senna, a Sauber modificou bastante seus carros e o seu desempenho piorou bastante. De Cesaris faz sua última corrida na F1 no Grande Prêmio da Europa, abandonando a categoria antes mesmo do final da temporada. Foram 208 Grandes Prêmios, uma pole, uma melhor volta, 5 pódios e 59 pontos conquistados. Além desses resultados, Andrea correu em nada menos do que dez equipe e teve que abandonar 148 corridas!
Andrea de Cesaris se afastou por completo das corridas após a F1, mas permaneceu no lugar aonde melhor andou em sua carreira, em Mônaco, onde se tornou um conhecido corretor. Bem de vida e de grana, o italiano passou a praticar windsurf e passa boa parte do ano no Havaí. Mais de dez anos após sair da F1, De Cesaris voltou às pistas no fracassado GP Masters, juntamente com outros pilotos de F1 da sua época. Andrea de Cesaris se tornou conhecido pelos acidentes e histórias pitorescas, mas sua velocidade nunca foi contestada, apesar de que essa sua vontade nunca pudesse ser controlada pelo seu instinto selvagem de correr. Apenas por curiosidade. Foram vários os acidentes, mas não houve registro de algo mais grave acontecendo com o aniversariante de hoje.
Parabéns!
Andrea de Cesaris
Parabéns pelo blog! Muito boas as informações!
ResponderExcluirLembrei da declaração que ele deu após conseguir o 3.º lugar em Montreal/1989: disse que ganharia uma corrida até o fina daquele ano, nem que tivesse que passar por cima de uma McLaren. Era bem o estilo dele...
ResponderExcluirLegal
ResponderExcluir2 textos sobre 2 pilotos que eu gosto: Al Unser e de Cesaris!
Um dos melhores textos do blog!!
ResponderExcluirParabéns JC!!!
Já tinha ouvido falar que ele estava surfando por aí.Mas não sabia que era verdade.Definitivamente,o de Cesaris é um fanfarrão.hahahahahahah
O Grande Prêmio da Bélgica de 1991 foi a grande corrida de Andrea de Cesaris no ano de estreia da equipe Jordan naquele campeonato.
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