Enquanto todos apontam categoricamente que a briga pelo título será apenas um afazeres doméstico dentro do box da Brawn, Sebastian Vettel tratou de mudar um pouco essa história ao conseguir uma vitória dominadora, praticamente de ponta a ponta em Suzuka, nessa madrugada brasileira. Porém, o que o jovem alemão pode aspirar de forma mais concreta neste momento é tirar o vice-campeonato de Rubens Barrichello, pois Jenson Button fez outra prova cautelosa e levou seu carro a um bom oitavo lugar, logo atrás do seu companheiro de equipe, que fez outra prova sem brilho. Com apenas um ponto descontado, Button segue firme rumo ao seu primeiro título mundial e, seguindo a lógica, deverá ser conquistado em Interlagos, para profundo desgosto de Barrichello e sua torcida.
A corrida no Japão foi longe de ser emocionante. Mesmo Suzuka sendo um circuito espetacular e um dos mais emocionantes para pilotos e público, houve poucas mudanças de posição e os carros ficaram bastante espalhados pela pista. Mesmo com Hamilton conseguindo ultrapassar Trulli na largada, o inglês não foi páreo a Vettel, com o jovem alemão aumentando sua vantagem a cada volta, mesmo com o carro mais pesado em comparação ao inglês, como comprovado nas primeiras paradas. O piloto da Red Bull conseguiu a proeza, num tempo de pit-stops, de liderar todas as voltas da corrida e simplesmente não deu chance a ninguém. Pena que essa bela apresentação tenha ocorrido um pouco tarde demais e sua inconstância tenha feito que essas exibições ocorressem com tão pouca frequência. Com a perspectiva de subida de McLaren e Ferrari em 2010, com suas ótimas duplas de pilotos, dificilmente Vettel conseguirá repetir o que fez hoje no ano que vem. Enquanto isso, ele se aproveita para encostar em Barrichello e ter suas parcas chances de título aumentadas.
De aposta da Red Bull, Mark Webber se transformou em um fantasma de si próprio nesse final de campeonato. O australiano já tinha começado mal o final de semana ao não participar da Classificação após espatifar seu carro no muro no terceiro treino livre e seus mecânicos não consertarem seu carro a tempo. O final de semana terminou com uma corrida medonha, com várias paradas nos boxes e até mesmo a proteção do seu pescoço se soltou. O australiano se aproxima de uma fase perigosa de sua carreira, pois aos 33 anos, começará a ter dificuldades de acompanhar um Vettel cada vez mais maduro e rápido e como não é mais nenhum garoto, seu tempo como piloto de ponta terminará mais rápido do que ele pensava. A Toro Rosso teve um final de semana promissor terminando com prejuízos com três fortes acidentes no final de semana. Buemi, com um ótimo desempenho nos treinos, foi o primeiro a abandonar e Alguersuari teve seu primeiro final de semana atrapalhado na F1, ao bater forte duas vezes no final de semana, sendo que o espanhol fazia uma corrida sólida até perder o controle do seu carro na saída da rápida curva 130R. Alguersuari saiu de ambulância do local do acidente, mas estava claramente bem, porém, sua maior participação na corrida foi ter agrupado o pelotão no final da prova.
Barrichello disse que esperava uma disputa limpa com Button pelo título, mas o brasileiro foi malandro após a relargada no final da prova. Rubens fez um péssimo segundo stint e era pressionando por Button nas últimas voltas, corroborando com a idéia deixada nos treinos livres em que o inglês tinha um ritmo de corrida mais forte. Tentando fazer com que Button perdesse algum pontinho, Rubinho retardou seu ritmo após a relargada e Button passou a ser fortemente pressionado por Kubica, com o polaco chegando a tentar manobras de ultrapassagem. O inglês, após não conseguir ultrapassar seu companheiro de equipe, segurou com braveza sua oitava posição e perdeu apenas um ponto com relação a Barrichello no campeonato. Na disputa pelo título, Button saí ainda mais fortalecido, pois fez o que tinha que fazer nessas duas corridas asiáticas: marcou Barrichello de perto. Num momento me que o brasileiro vinha num melhor momento, Button deu a volta por cima e foi teve um desempenho superior ao companheiro de equipe nas duas últimas provas, inclusive com uma bela ultrapassagem sobre Kubica no início da prova. Provando que um campeão também precisa de sorte, Button se aproveitou da disputa entre Sutil e Kovalainen, onde já estava perdendo tempo, e fez uma corrida em que marcou o 4º melhor tempo da prova e usou bastante a cabeça, podendo lhe dar um título que, se não foi brilhante pela segunda metade da temporada, foi ao menos merecido. Barrichello padeceu do memso mal que marcou toda sua carreira. O brasileiro sempre foi um piloto rápido e regular, mas nunca passou disso. Lampejos geniais fizeram com que ele conseguisse resultados históricos e vitórias inesquecíveis, mas no cômputo geral, esses momentos foram mais excessões do que regra e a corrida discreta em Cingapura e no Japão após as duas vitórias em Valência e Monza é a prova cabal disso. Da mesma forma que Button precisava marcar cinco pontos a mais em Suzuka para conquistar o título, agora é a vez de Rubens marcar cinco pontos a mais do que o companheiro de equipe para ainda se manter com chances de título. Pelo crescimento das demais equipes e pelo o que foi visto hoje, essa missão será muito difícil. Até um quarto lugar, com Button abandonando, será complicado. Rubens Barrichello, nesses momentos finais de carreira, mesmo não se aposentando nesse ano, provou que é um bom piloto, rápido, consistente, lutador e bom acertador de carros, mas que não passa disso.
Trulli foi a boa surpresa desse domingo. A Toyota viveu uma montanha-russa de emoções nessa temporada e após um péssimo momento vivenciado durante o meio do ano, a equipe nipônica voltou a brilhar nesse final de temporada e mesmo dispensando seus dois pilotos (acho que a dispensa de Glock foi um erro!), conseguiu seu segundo pódio consecuutivo. Trulli foi um piloto marcado pela velocidade nos treinos e pela apatia nas corridas, mas, talvez querendo mostrar alguma coisa como recém-desempregado, o italiano fez sua melhor corrida nos últimos tempos e conseguiu repetir a mesma posição que largou, algo não muito comum na sua carreira. Principalmente quando perdeu o 2º posto para Hamilton na largada e parecia fadado a ficar ali o resto da corrida. Porém, o italiano não desanimou e continuou andando no mesmo ritmo do inglês e mesmo não conseguindo a ultrapassagem na primeira rodada de pit-stops, o fez na segunda rodada, para enorme alegria dos seus mecânicos. Este segundo lugar em casa pode ser importante para a permanência da Toyota na F1 num momento de clara indefinição na economia mundial e para a própria empresa. Glock, com a perna enfaixada pelo acidente de ontem, apenas assistiu a corrida dos boxes e mostrou que estava bem, mesmo com a compravação do erro.
A cara de Hamilton no pódio mostrava toda a sua decepção, pois o inglês esperava, assim como todos, brigar com Vettel pela vitória, mas o piloto da McLaren não apenas ficou longe da disputa pelo título, como ainda perdeu a segunda posição para Trulli no final da prova. A McLaren não esperava andar tão bem em Suzuka, uma pista bem diferente de Cingapura aonde venceu semana passada, mas após a boa posição de Hamilton no grid, ele esperava bem mais do que lugar mais baixo do pódio. Kovalainen fez outra prova medíocre, mesmo com a boa largada e ter segurado muito bem Sutil, mas o toque com o alemão durante uma briga por posição fez com que o finlandês perdesse posições e ainda mais ritmo no resto da corrida, fazendo com que Kova ficasse longe dos pontos e da renovação do contrato. Após o fiasco em Cingapura, a Ferrari voltou a andar de forma mais digna em Suzuka, mas apenas com Raikkonen. Vale destacar o profissionalismo do finlandês, pois, mesmo demitido, está fazendo ótimas provas pela equipe e conquistando pontos importante no Mundial de Construtores. Kimi chegou a ameaçar Hamilton na relargada, mas não teve ritmo para acompanhar a McLaren nas últimas voltas e resolveu se conformar com o 4º lugar. Fisichella está tão sem confiança que conseguiu a proeza de perder uma posição na saída dos boxes para o também dispensado Kovalainen. O sonho de se aposentar na Ferrari está se tornando, a cada corrida que passa, num martírio para o italiano.
Nico Rosberg provou que é a alma da Williams e sua saída da equipe, praticamente certa, fará uma enorme falta ao time. O alemão se posicionou bem na após a largada ao ficar próximo a Barrichello mesmo com o carro mais pesado, mas essa vantagem se provou mais visível na segunda parada, quando Nico se aproveitou da entrada do safety-car no acidente de Alguersuari para fazer sua última parada e ultrapassar Barrichello nos boxes, conseguindo um bom 5º lugar na prova, marcando pontos após a decepção em Cingapura. Ao contrário de Rosberg está Kazuki Nakajima, que nem correndo em casa e aos olhos do seu pai Satoru, é capaz de uma corrida minimamente decente e japonês ficou mais uma vez fora dos pontos e com sua carta de demissão em sa mesa, esperando apenas o final da temporada chegar para ser assinada. A BMW, nos seus momentos derradeiros, vem mostrando alguma competitividade com Heidfeld conseguindo um bom sexto lugar, sem grandes dificuldades por parte do alemão. Porém, Nick ainda atrapalhou Kubica, numa estratégia diferente, mas quando Nick saiu dos boxes à sua frente, estragou sua tática e o polonês amargou outra corrida fora dos pontos, mesmo tendo pressionado fortemente Button no final. A Force India só apareceu em outra atrapalhada de Sutil, que tentou uma ultrapassagem em Kovalainen, quando estava claramente mais rápido e leve, mas acabou tocado pelo finlandês na apertada chicane. O alemão rodou e com uma estratégia para quem largava na parte da frente do grid, acabou chegando nas últimas posições, juntamente com Liuzzi, praticamente invisível em todo o final de semana. A Renault sofreu todo o final de semana e Alonso viu seu talento ser desperdiçado em mais uma péssima corrida da equipe francesa, em que o espanhol sempre andou atrás e longe dos pontos, mesmo com apenas uma parada. Grosjean foi mal novamente e a Renault vai fazendo a caveira de mais um jovem piloto na F1...
Com apenas duas corridas para o fim do campeonato, a F1 vai terminando 2009 com três pilotos ainda na disputa, mas com Button já com uma mão no título. Pela forma inteligente que vem andando, provavelmente o campeonato será fechado em Interlagos, daqui a duas semanas. Suzuka mostrou que a Red Bull ainda teve forças para se manter no pelotão da frente, ao contrário da Brawn, e se não fosse a impetuosidade em excesso de Vettel, o alemão poderia estar brigando mais decisivamente pelo título. McLaren, Ferrari e Toyota foram ótimas coadjuvantes e acabaram sendo um fator importante no campeonato e poderão ser ainda mais, dificultando a vida de Barrichello na sua luta para se aproximar de Button no Brasil. Mas a tendência é que o inglês acabe com qualquer suspiro de esperança em Interlagos.
Vettel sabe que a chance é pequena e está na dele, Rubens sabe que a dele também é... Mas faz escarcel... pode?
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