Hoje em dia, o sinônimo de um piloto completo se resume a um corredor que seja habilidoso em determinadas situações, extremamente técnico dentro das pistas e ao mesmo tempo entenda de mecânica. No entanto, há alguns anos atrás o piloto para ser completo precisava de um algo a mais. Mario Andretti foi um piloto completo a moda antiga. Rápido em qualquer tipo de carro e pista, este ítalo-americano construiu uma história incrível não apenas dentro do automobilismo, onde é uma das poucas figuras dentro do automobilismo que é respeitada nos dois lados do Atlântico, mas também de vida, pois saiu de um campo de refugiados para se tornar uma pessoa rica e famosa pelo o que fazia dentro das pistas, inaugurando um legado que a família Andretti deixaria no automobilismo mundial pelas gerações seguintes a Mario. Completando 70 anos no dia de hoje, iremos conhecer um pouco mais da carreira deste piloto, na verdadeira acepção da palavra, completo.
Mario Gabriele Andretti nasceu no dia 28 de fevereiro de 1940 na cidade de Montona, a poucos quilômetros de Trieste, então uma pequena cidade da Itália, filho de um administrador de fazenda chamado Luigi, cuja esposa Rina era dona de casa, mas Mario não veio sozinho ao mundo, pois ele tinha um irmão gêmeo chamado Aldo. Apesar de ter nascido poucos meses antes de Mussolini ter colocado a Itália na Segunda Guerra Mundial, a família Andretti vivia de forma tranqüila e os irmãos gêmeos ainda nem conheciam as corridas, mas já imaginavam estar ao volante de um carro aos dois anos de idade usando os pratos de sua mãe. Quando tinham cinco anos de idade, Mario e Aldo construíram um carro de rolimã para descer nas ruas íngremes de Montona, brincando de corrida, mas infelizmente foi nesse ano que um fato mudaria para sempre o destino da família Andretti. Com o fim da guerra em 1945, o Tratado de Paris indicou que a península de Istria, onde estava localizada Montana, passaria a pertencer a Iugoslávia e os Andretti passariam a morar num país comunista. O patriarca Luigi passa três anos pensando em uma forma de voltar a sua Itália natal e primeiramente vai a Udine, junto com sua esposa, e seus três filhos (Mario e Aldo tinham uma irmã chamada Anna Maria), mas logo depois foram para um campo de refugiados políticos em Lucca e por lá viveram sete anos. Eles viviam em um único quarto, juntamente com outras famílias e as dificuldades eram enormes, mas ainda havia momentos de diversão e em 1954 Luigi levou seus dois filhos para assistirem ao Grande Prêmio da Itália de F1. Aos 14 anos, os irmãos ficavam cada vez mais apaixonados por corridas, até por que o esporte era o mais popular na Itália, com Ferrari, Maserati e Lancias dominando os circuitos e Mario teve a oportunidade de ver de perto seu grande ídolo na adolescência: o bicampeão mundial Alberto Ascari.
Tentando sair das imensas dificuldades que passavam, Luigi passou a tentar a imigração aos Estados Unidos junto ao consulado americano, mas foi apenas após várias tentativas que a família Andretti pode cruzar o Atlântico e tentar viver o sonho americano. Na manhã de 16 de junho de 1955 o navio Conte Biancamano chegou ao porto de Nova Iorque trazendo os cinco membros da família Andretti, que tinham apenas 125 dólares no bolso e não falavam inglês. Os Andretti foram morar na Pensilvânia, na pequena cidade de Nazareth e para surpresa dos irmãos Mario e Aldo, existia uma pista de corridas no lugar, mas era completamente diferente do que conheciam. Era um oval de apenas uma milha. Os gêmeos passaram então a tentar correr, mesmo que escondidos dos pais, e passaram a trabalhar como manobristas de um restaurante para conseguir dinheiro para construir um carro de corrida, pois comprar um estava fora de cogitação. Junto com alguns amigos, eles modificaram um Hudson Hornet 1948 e o transformaram num verdadeiro Stock Car, mas as dificuldades ainda continuavam. Com pouco dinheiro e sem apoio dos pais, Mario e Aldo compraram apenas um macacão e um capacete e os dois passaram a se revezarem nas corridas. Em março de 1959 eles começaram a competir no oval de Nazareth e os gêmeos tinham duas vitórias cada nas quatro corridas em que competiram, mas Aldo sofreu um sério acidente e não apenas o patriarca da família Andretti ficou sabendo da aventura dos filhos, como Aldo estava no hospital e ficou com seqüelas na sua visão, acabando com sua carreira no automobilismo. Mas Mario resolve continuar sua jornada no automobilismo, conquistando 21 vitórias em 46 corridas de stock-car em que disputou em 1960 e 1961. Contudo, aquele tipo de corrida não era o que interessava a Mario. Vindo da Europa e acostumado a outro tipo de carro e corrida, Mario estava de olho em outros projetos. “Aldo e eu estávamos ganhando corrida em Stock-Cars, mas o meu objetivo eram os monopostos”, falou Mario.
Em 1961, quando estava a ponto de abandonar os stock-cars, Mario se casa com Dee Ann, que tinha conhecido poucos anos antes e tinha lhe ensinado inglês. Tentando alcançar seu sonho, Mario passou a correr em sprint-cars, pequenas gaiolas com muita potência e porta de entrada para os monopostos da indy, a partir de 1962 e em 3 de março venceu sua primeira prova em Teaneck. No ano seguinte, Mario participou de mais de cem eventos de Midjets e em 1º de maio o italiano conseguiu a proeza de vencer as três corridas em que participou naquele dia. E em duas cidades diferentes! Porém, somente em 1964, quando conseguiu a cidadania americana, Mario pôde participar da temporada do Campeonato Nacional de sprint cars, mas sua fama já tinha chamado a atenção de alguns chefes de equipe da Formula Indy e em 19 de abril de 1964 Mario Andretti participou do seu primeiro evento da categoria em Trenton, onde largou em 16º e terminou a corrida em 11º, ganhando 526,90 dólares por sua participação. Ainda em 1964 Mario foi indicado ao veterano chefe de equipe Clint Brawner, que o contratou e ficaram juntos por seis anos. Após sua estréia em Trenton, Brawner queria inscrever Andretti na maior corrida americana, as 500 Milhas de Indianápolis, mas Mario surpreendeu ao declinar do convite, dizendo que ainda tinha pouca experiência para participar da grande corrida da temporada. Isso seria extremamente válido a Mario Andretti, pois em 1965 ele venceria sua primeira prova da Indy em Hoosier e terminaria em 3º lugar as 500 Milhas de Indianápolis, se tornando o rookie of the year da tradicional corrida. No final do ano, apenas em sua segunda temporada na Formula Indy, Mario Andretti se tornaria o mais jovem campeão da história da categoria até então com 25 anos de idade, algo que repetiria em 1966, quando venceu oito corridas e conquistou a pole nas 500 Milhas. Foi nesse ano que Mario retornou a Europa para participar das 24 Horas de Le Mans, com um Ford GT 40 MK II, em parceria com Lucien Bianchi, mas Andretti acabaria abandonando pela manhã. Andretti voltaria a Le Mans no ano seguinte e o ítalo-americano sofreria um grave acidente quando perdeu os freios do seu Ford e Mario acabaria no hospital.
Mario Andretti continuava sua doce rotina de vitórias nos E.U.A. e ficando cada vez mais rico e famoso, não importando qual carro fosse. Seu capacete cinza se tornava lendário nas pistas americanas e o dinheiro que estava amealhando lhe fazia passar longe das dificuldades que teve na Itália, fazendo dos Estados Unidos seu verdadeiro lar. Porém, Mario ainda tinha triunfos a conquistar nas pistas americanas. O piloto acabaria voltando a Stock-Car em 1967, participando da principal corrida da Nascar, as 500 Milhas de Daytona, e correndo pela tradicional equipe Hoosier, Andretti acabaria vencendo a famosa prova da Nascar e, semanas depois, venceria as 12 Horas de Sebring com um Ford GT40 ao lado de Bruce McLaren, mas acabaria perdendo o título da Formula Indy para A.J. Foyt na última corrida da temporada em Riverside, mas todos os feitos conquistados ao longo do ano garantiram a Mario Andretti o prêmio de piloto do ano em 1967. Mesmo estabelecido nos Estados Unidos, Mario ainda lembrava-se da sua infância e dos modernos carros de Grande Prêmio na Europa. Durante as 500 Milhas de Indianápolis de 1965, Mario Andretti conheceu Colin Chapman, famoso dono da equipe Lotus que acabaria vencendo as 500 Milhas daquele ano com Jim Clark, e contou ao inglês seu sonho de correr um dia de F1. “Quando você se sentir pronto, é só me ligar,” falou Chapman. No final de 1968 Andretti fez a ligação e Chapman preparou um terceiro carro para Andretti no Grande Prêmio dos Estados Unidos em Watkins Glen. Para espanto de todos, Mario conquista a pole. O que ninguém sabia era que, mesmo correndo há anos nos Estados Unidos, Andretti nunca tinha andando em Watkins Glen, mas uma quebra na embreagem pôs um fim prematuro a primeira corrida de Mario na F1, mas isso fez do ítalo-americano um nome a ser observado para a categoria. Porém, Andretti ainda não estava pronto para as corridas na F1 e ainda tinha um objetivo a conquistar: vencer as 500 Milhas de Indianápolis. Mesmo já tendo conquistado duas poles, Andretti ainda não havia vencido a famosa prova, mas esse ‘problema’ acabaria em 1969, quando ele liderou 116 das 200 voltas e bateu o recorde de melhor volta quinze vezes durante a corrida, vencendo a prova de forma dominadora. Ao longo do ano, Mario Andretti ainda conquistaria nove vitórias e cinco poles e ganharia seu terceiro título da Formula Indy, terminando a década de 1960 com 30 vitórias e 29 poles em 111 largadas. Provando sua versatilidade, Andretti venceria a tradicional prova de subida de montanha em Pikes Peaks ainda em 1969, provando que não importava o carro e o terreno, que Mario Andretti poderia vencer.
Na primeira metade da década de 70, Andretti foi um viajante costumeiro de Concorde, onde atravessava o Atlântico para disputar corridas na Europa, mas não se esquecendo dos seus compromissos nos Estados Unidos. Com todos os títulos e vitórias possíveis já em suas mãos nos Estados Unidos, Andretti precisava de um novo desafio e as corridas européias pareciam bem atraentes, fora que ainda realizaria um sonho de infância, que era participar dos famosos Grandes Prêmio que acompanhava quando criança. Em 1970, Andretti consegue um contrato de algumas corridas com a equipe oficial da March e em sua segunda corrida pelo time, consegue terminar sua primeira corrida na F1. E logo com um pódio, terminando em 3º. Porém, o carro da March, que estreava na F1, não tinha a confiabilidade como maior atributo e essa seria a única vez que Andretti veria a bandeirada numa corrida de F1 naquele ano. Porém, ainda em 1970, Mario conquista sua segunda vitória em Sebring e realiza o sonho de todo menino italiano: correr pela Ferrari. Andretti prefere ficar morando nos Estados Unidos e por isso não participaria de todas as etapas do Mundial de F1, mas logo em sua primeira corrida pela Ferrari, no Grande Prêmio da África do Sul de 1971, Mario vence e nas duas corridas seguintes, em duas provas não-oficiais nos Estados Unidos, Andretti também vence, mas o americano resolve se dedicar as corridas na América do Norte. A Ferrari passava por um momento turbulento na F1 e Andretti consegue poucos resultados positivos em 1972, mas ao lado de Jacky Ickx, Mario consegue várias vitórias no Mundial de Esporte-Protótipos, com triunfos em provas importantes, como nas 6 Horas de Daytona e os 1000 km de Brands Hatch. Após essa experiência com a Ferrari, Andretti fica dois anos de fora da F1, onde conquistaria o bi-vicecampeonato do Campeonato Americano de F5000 em 1974 e 1975. No final de 1974, a equipe americana Parnelli, que dominava os campeonatos de F5000 e F-Indy, resolveu participar do Campeonato Mundial de F1 e convida Andretti, único piloto americano em atividade com prévia experiência na F1, a participar do projeto. As primeiras corridas do novo time seriam nas provas norte-americanas da temporada de 1974 e Andretti impressiona a todos novamente ao ficar em 3º lugar no grid do Grande Prêmio dos Estados Unidos, mas um problema de embreagem ainda na largada faz a corrida do americano acabar ali mesmo. Mesmo numa equipe nova, a perspectiva para Andretti era boa para 1975, onde finalmente poderia fazer sua primeira temporada completa, porém o carro ainda padecia de problemas de noviciado e quebrava bastante. Com todo o seu talento, Mario conseguia colocar o carro em boas posições no grid e no Grande Prêmio da Espanha, o americano largou em 4º e liderou algumas voltas até abandonar com a suspensão quebrada. No cômputo final, Mario Andretti marcaria cinco pontos no campeonato, enquanto ainda competia na Formula Indy, principalmente nas 500 Milhas de Indianápolis.
A equipe Parnelli fecha as portas no início de 1976, mas Andretti ainda mantinha contato com Colin Chapman e quando o americano fica livre do seu contrato com a Parnelli, Chapman o contrata para o resto da temporada. A Lotus passava por uma enorme crise e ainda não tinha encontrado um carro bom o suficiente para substituir o mítico modelo 72, mas desde o final de 1975 Colin Chapman pesquisava um carro que utilizasse o efeito-solo, timidamente utilizada pela March em 1972 e nos Estados Unidos. Mario Andretti chegou a dizer que o carro da Lotus era um dos piores que havia guiado, mas sua experiência em acertar carros e seu talento fizeram com que o modelo 77 fosse evoluindo durante a temporada e os resultados não tardaram a aparecer, culminando com a vitória no chuvoso Grande Prêmio do Japão de 1976. O novo carro da Lotus, o modelo 78, era o primeiro carro a utilizar os desenvolvimentos do efeito-solo e Andretti se aproveita disso de forma empolgante, se tornando um dos pilotos de ponta da F1 em 1977, ao lado de Niki Lauda (Ferrari) e Jody Schecker (Wolf). Após um início de campeonato complicado, Andretti vence o Grande Prêmio de Long Beach de 1977, numa ultrapassagem histórica sobre Scheckter nas últimas voltas, e se torna o único americano a vencer a tradicional corrida de rua na F1. Na prova seguinte, Andretti mostra sua boa forma ao triunfar no Grande Prêmio da Espanha, mas uma série de acidentes e quebras fizeram com que Mario Andretti, mesmo tendo conquistado mais vitórias no ano (ainda venceria na França e conquistaria uma emotiva vitória em Monza, lugar onde viu um F1 pela primeira vez 24 anos antes), ficasse apenas em 3º lugar no Mundial de Pilotos. Após dois anos de uma convivência pacífica ao lado do sueco Gunnar Nilsson, Andretti teria como companheiro de equipe o espetacular Ronnie Peterson em 1978. Porém, Chapman tinha ficado extremamente grato com Andretti, quando o americano chegou num momento ruim da Lotus e teve paciência com o desenvolvimento do carro, e ainda antes da temporada começar, cravou que Mario seria o primeiro piloto, enquanto Peterson só venceria quando Andretti não tivesse chances. Peterson vivia, naquela época, das suas espetaculares atuações de anos anteriores, pois vinha de resultados ruins na March e na Tyrrell, mas mostrando que ainda podia mostrar seu talento, o sueco andava no ritmo de Andretti e muitas vezes foi impedido de poder tentar a vitória por ordens de equipe. O novo carro da Lotus, o modelo 79, só ficou pronto na quinta etapa de 1978 e era uma clara evolução do carro anterior. Logo em sua estréia, Mario Andretti levou o carro a vitória em Zolder, algo que repetiria na corrida seguinte, em Jarama. Na verdade, o carro era muito superior aos demais e Andretti ainda venceria mais três corridas (França, Alemanha e Holanda) antes de chegar a Monza, para o Grande Prêmio da Itália. Andretti chegou a Monza com 12 pontos de vantagem sobre Peterson e poderia ser campeão em sua casa espiritual. Na largada, James Hunt (inglês que Andretti não se dava bem) foi tocado pelo jovem e impetuoso Ricardo Patrese e o inglês foi jogado para cima de Peterson, que bateu fortemente contra o guard-rail. O Lotus do sueco pegou fogo e o próprio Hunt, juntamente com Patrick Depailler e Clay Regazzoni, tiraram Peterson das labaredas. A corrida foi interrompida e Andretti, que tinha largado na pole, foi a cena do acidente e pegou o capacete de Peterson de volta. O acidente tinha sido assustador, mas Peterson parecia ter ‘apenas’ fraturas nas pernas e queimaduras leves, fazendo com que Andretti participasse normalmente da segunda largada e acabando a prova em primeiro na pista, mas punido mais tarde por ter queimado a largada. Com esses resultados, Mario Andretti se tornava o segundo piloto americano a ser Campeão Mundial de F1, mas no dia seguinte a situação de Peterson piora e ao invés de comemorar o título, Andretti teria que enterrar o amigo.
Naquele momento, o que ninguém imaginava era que a vitória em Zandvoort seria a última vitória de Mario Andretti na F1. O americano já contava com 39 anos de idade quando a temporada de 1979 iniciou-se e a Lotus tentou evoluir ainda mais o conceito do efeito-solo, tentando transformar o modelo 80 numa asa invertida sobre rodas, porém o tiro saiu pela culatra e o resultado foi uma péssima temporada para a equipe e Andretti, que só conseguiu poucos resultados ao longo do ano. Frustrada com o novo carro, a Lotus voltou a utilizar o Lotus 79 ainda em 1979, mas as demais equipes já tinham construído seus próprios carros-asa e Andretti esteve longe de poder defender seu título. Para 1980, Andretti tem como companheiro de equipe Elio de Angelis, que tinha quase a metade de sua idade e mesmo não sendo agressivo, De Angelis superou de longe Andretti, que se transferiu no final do ano para a Alfa Romeo. A equipe italiana tentava com Andretti extrair do americano a experiência necessária para o carro poder evoluir e Mario consegue superar com facilidade seu companheiro de equipe Bruno Giacomelli no início do ano, mas quando o carro finalmente começou a andar na frente, Mario já pensava na sua aposentadoria, anunciada no final de 1981, enquanto Giacomelli, utilizando as melhorias pensadas por Andretti, consegue um pódio no final do ano. Porém, 1981 não foi um ano totalmente perdido para o americano. Mesmo correndo em tempo integral na F1, Andretti não perdia uma edição das 500 Milhas de Indianápolis e ficou muito próximo de conquistar sua segunda vitória em 1981. Mario terminou a corrida em segundo, 8s atrás de Bobby Unser, mas o piloto da Penske teria feito uma ultrapassagem sobre bandeira amarela e foi punido com uma volta. Isso significou que Mario Andretti foi declarado o vencedor daquela edição, mas Roger Penske e Bobby Unser fizeram um protesto e quatro meses depois a vitória voltou às mãos de Unser. Na verdade, Andretti voltaria aos Estados Unidos após sete temporadas completas na F1 pela equipe Patrick no novo campeonato da Cart, mas o americano ainda voltaria à F1 em 1982. Aos 42 anos de idade, Andretti foi chamado pela Williams para substituir o recém-aposentado Carlos Reutemann no Grande Prêmio de Long Beach. Numa pista que já havia ganhado, Mario faz uma prova discreta até abandonar, mas ainda assim Frank Williams tentou convencer Mario fazer o resto da temporada, algo que o veterano não quis, chegando a indicar seu filho Michael, que estava estreando na Formula Indy naquele ano. Porém, já no final do ano, a Ferrari precisava de um piloto para substituir o machucado Didier Pironi e Andretti, sabendo que seriam poucas corridas e ainda correria pela Ferrari novamente, aceitou participar das duas últimas etapas do ano. Em Monza, lugar onde viu um F1 pela primeira vez, Mario Andretti faz um retorno triunfal e emocionante quando consegue a pole e termina a corrida em 3º. Os tifosi foram a loucura e Andretti, mesmo morando há anos nos Estados Unidos, se emocionou com a forma como os italianos o trataram naquele dia. Em Las Vegas, Mario Andretti faria sua última corrida pela F1, encerrando sua carreira definitivamente na principal categoria do automobilismo. Foram 128 Grandes Prêmios, 12 vitórias, 18 poles, 10 melhores voltas, 19 pódio, 180 pontos e o título mundial de 1978.
Contudo, a carreira de Mario estava longe de acabar. Após um ano na Patrick Racing em 1982, o veterano se transferiu para a nova equipe Newman-Hass, formada pelo ator Paul Newman e chefe de equipe Carl Hass. Andretti conquistaria a primeira vitória da equipe em Elkhart Lake, ainda em 1983, mas a maior emoção naquela temporada não seria nos Estados Unidos. Seu filho mais velho, Michael, já havia estreado com sucesso na Cart e começava a se destacar, mas ambos realizaram o sonho de correrem juntos nas 24 Horas de Le Mans de 1983, com um carro não-oficial da Porsche e ao lado do francês Philippe Alliot, terminando a prova em 3º lugar. Mostrando que ainda podia ser muito veloz, Mario Andretti conquistou seu quarto título na Formula Indy em 1984 aos 44 anos de idade, onde venceu seis corridas e conseguiu oito poles. Pela terceira vez na carreira, o veterano piloto consegue ser nomeado como o Piloto do Ano, sendo o único a conseguir a proeza em três décadas diferentes (1969, 1978 e 1984). Andretti continuou competitivo ao longo da década de 80 e por duas vezes ficou próximo de uma segunda vitória em Indianápolis. Em 1985, teve uma briga memorável com Danny Sullivan, com o americano o ultrapassando nas últimas voltas. Dois anos depois, Andretti dominou todos os treinos, conseguiu sua terceira pole na pista de Indiana e liderou 170 das 177 primeiras voltas da corrida, quando um motor quebrado tirou Mario da corrida na volta 180. Mesmo com sua vitória em 1969, o azar da família Andretti em Indianápolis entrou para a história, pois não apenas Mario teve azar várias vezes ao longo das 29 edições em que fez parte, como Michael foi o piloto que mais liderou em Indianápolis e não venceu a prova. Em 1989, Michael foi contratado pela Newman-Hass e pela primeira vez na história do automobilismo, pai e filho seriam companheiros de equipe, com Mario sempre andando no mesmo ritmo de Michael, na época considerado o piloto mais agressivo da categoria. No ano seguinte, o outro filho de Mario, Jeff, estrearia na F-Indy ao mesmo tempo em que o filho de Aldo, John, fazia o mesmo. Na primeira corrida de 1990, em Milwakee, quatro integrantes da família Andretti estavam na pista e repetindo o que fizeram seu pai e seu irmão, Jeff Andretti foi o melhor estreante das 500 Milhas de Indianápolis de 1990. Em 1991, Mario teve a enorme felicidade de ver Michael Andretti ser campeão da Indy e o patriarca da família começou a cavar uma vaga para Michael na F1, após várias tentativas isoladas. Depois de várias negociações, Michael estrearia na F1 pela McLaren em 1993, mas as esperanças de suceder o pai foram por água abaixo quando Michael não se entendeu com o carro e foi dispensado antes do final da temporada. Até hoje, quando um piloto vai do automobilismo americano para a F1, sempre vem em mente como será a trajetória do piloto. Igual a Mario ou Michael Andretti?
Com mais de 50 anos de idade, Mario Andretti ainda tinha tempo de conquistar alguns recordes, como o de maior número de poles e de corridas, em 1992, mas foi nesse ano que Mario sofreu o seu mais sério acidente em Indianápolis, quando quebrou os dois tornozelos. Treze anos após ver a estréia de Nigel Mansell na F1 na Lotus, Mario Andretti agora via o inglês como Campeão Mundial de F1 chegando na Newman-Hass em 1993 e o resultado foi uma convivência difícil, onde Mario foi superado com larga vantagem por Mansell, mas Andretti ainda venceria as 200 Milhas de Phoenix, sua 52º e última vitória na Formula Indy. O último recorde de Mario Andretti seria nos treinos para as 500 Milhas de Michigan, quando conseguiu a pole com a incrível média de 377,029 km/h, recorde mundial em circuito fechado, só superado por Gil de Ferran sete anos depois. Após uma temporada estressante ao lado de Mansell, Mario anuncia que o ano de 1994 seria sua última na carreira, logo intitulada de ‘Arrivederci’. Foi um ano cheio de homenagens e saudações em todas as corridas do ano e quando a temporada chegou em Laguna Seca, local da última prova, o mundo se despediu de uma das maiores lendas do automobilismo mundial. Foram impressionantes 407 largadas na Formula Indy, com 52 vitórias, 66 poles e quatro títulos (1965, 1966, 1969 e 1984).
Mario pode ter se afastado das corridas de forma profissional, mas sempre se manteve próximo da pista. Ou dentro dela. Refazendo a sua parceria com o filho Michael, Mario Andretti voltou a Le Mans em 1996 e conseguiu seu melhor resultado nas 24 Horas, com um 2º lugar. Em 2003, já com 63 anos de idade, Mario surpreendeu a todos quando foi escolhido para substituir o machucado Tony Kanaan na equipe do seu filho Michael nos testes para as 500 Milhas de Indianápolis. No dia 24 de abril, Mario vinha na reta oposta, atrás do carro de Kenny Brack, quando uma peça do carro do sueco se soltou e Andretti passou por cima da mesma, fazendo com que seu carro alçasse vôo e desse várias piruetas no ar. Por sorte, o carro caiu com as quatro rodas no chão e Mario pôde sair do carro ileso, mas o susto lhe valeu como aviso de que mesmo em forma, não podia encarar mais as corridas atuais. Apesar da vontade! Hoje, Mario Andretti ainda vive em Nazareth com Dee Ann, numa mansão próxima de Michael e acompanha não apenas a equipe do filho, como vê com orgulho nascer a terceira geração da família, com Marco Andretti estreando na equipe do pai e, seguindo a tradição da família, ficando com a título de novato do ano nas 500 Milhas de Indianápolis de 2006. Apesar do sangue quente italiano correr por suas veias, Mario Andretti sempre mostrou uma frieza formidável atrás do volante, além de um forte espírito competitivo. Piloto honesto, Mario conseguiu a amizade e o respeito por onde passou, sendo o único piloto a ter vitórias em cinco décadas diferentes e obter sucesso tantos nos Estados Unidos, onde foi escolhido o piloto do século no ano 2000, como também na F1, um enorme tabu para a maioria dos pilotos americanos, quebrado com facilidade por Andretti. Patriarca de uma família que respira automobilismo, Mario tem o que se orgulhar ao ver sua vida ter começado em meio a muitas dificuldades e mesmo assim ainda ter realizado seu sonho.
Parabéns!
Mario Andretti
Mario Gabriele Andretti nasceu no dia 28 de fevereiro de 1940 na cidade de Montona, a poucos quilômetros de Trieste, então uma pequena cidade da Itália, filho de um administrador de fazenda chamado Luigi, cuja esposa Rina era dona de casa, mas Mario não veio sozinho ao mundo, pois ele tinha um irmão gêmeo chamado Aldo. Apesar de ter nascido poucos meses antes de Mussolini ter colocado a Itália na Segunda Guerra Mundial, a família Andretti vivia de forma tranqüila e os irmãos gêmeos ainda nem conheciam as corridas, mas já imaginavam estar ao volante de um carro aos dois anos de idade usando os pratos de sua mãe. Quando tinham cinco anos de idade, Mario e Aldo construíram um carro de rolimã para descer nas ruas íngremes de Montona, brincando de corrida, mas infelizmente foi nesse ano que um fato mudaria para sempre o destino da família Andretti. Com o fim da guerra em 1945, o Tratado de Paris indicou que a península de Istria, onde estava localizada Montana, passaria a pertencer a Iugoslávia e os Andretti passariam a morar num país comunista. O patriarca Luigi passa três anos pensando em uma forma de voltar a sua Itália natal e primeiramente vai a Udine, junto com sua esposa, e seus três filhos (Mario e Aldo tinham uma irmã chamada Anna Maria), mas logo depois foram para um campo de refugiados políticos em Lucca e por lá viveram sete anos. Eles viviam em um único quarto, juntamente com outras famílias e as dificuldades eram enormes, mas ainda havia momentos de diversão e em 1954 Luigi levou seus dois filhos para assistirem ao Grande Prêmio da Itália de F1. Aos 14 anos, os irmãos ficavam cada vez mais apaixonados por corridas, até por que o esporte era o mais popular na Itália, com Ferrari, Maserati e Lancias dominando os circuitos e Mario teve a oportunidade de ver de perto seu grande ídolo na adolescência: o bicampeão mundial Alberto Ascari.
Tentando sair das imensas dificuldades que passavam, Luigi passou a tentar a imigração aos Estados Unidos junto ao consulado americano, mas foi apenas após várias tentativas que a família Andretti pode cruzar o Atlântico e tentar viver o sonho americano. Na manhã de 16 de junho de 1955 o navio Conte Biancamano chegou ao porto de Nova Iorque trazendo os cinco membros da família Andretti, que tinham apenas 125 dólares no bolso e não falavam inglês. Os Andretti foram morar na Pensilvânia, na pequena cidade de Nazareth e para surpresa dos irmãos Mario e Aldo, existia uma pista de corridas no lugar, mas era completamente diferente do que conheciam. Era um oval de apenas uma milha. Os gêmeos passaram então a tentar correr, mesmo que escondidos dos pais, e passaram a trabalhar como manobristas de um restaurante para conseguir dinheiro para construir um carro de corrida, pois comprar um estava fora de cogitação. Junto com alguns amigos, eles modificaram um Hudson Hornet 1948 e o transformaram num verdadeiro Stock Car, mas as dificuldades ainda continuavam. Com pouco dinheiro e sem apoio dos pais, Mario e Aldo compraram apenas um macacão e um capacete e os dois passaram a se revezarem nas corridas. Em março de 1959 eles começaram a competir no oval de Nazareth e os gêmeos tinham duas vitórias cada nas quatro corridas em que competiram, mas Aldo sofreu um sério acidente e não apenas o patriarca da família Andretti ficou sabendo da aventura dos filhos, como Aldo estava no hospital e ficou com seqüelas na sua visão, acabando com sua carreira no automobilismo. Mas Mario resolve continuar sua jornada no automobilismo, conquistando 21 vitórias em 46 corridas de stock-car em que disputou em 1960 e 1961. Contudo, aquele tipo de corrida não era o que interessava a Mario. Vindo da Europa e acostumado a outro tipo de carro e corrida, Mario estava de olho em outros projetos. “Aldo e eu estávamos ganhando corrida em Stock-Cars, mas o meu objetivo eram os monopostos”, falou Mario.
Em 1961, quando estava a ponto de abandonar os stock-cars, Mario se casa com Dee Ann, que tinha conhecido poucos anos antes e tinha lhe ensinado inglês. Tentando alcançar seu sonho, Mario passou a correr em sprint-cars, pequenas gaiolas com muita potência e porta de entrada para os monopostos da indy, a partir de 1962 e em 3 de março venceu sua primeira prova em Teaneck. No ano seguinte, Mario participou de mais de cem eventos de Midjets e em 1º de maio o italiano conseguiu a proeza de vencer as três corridas em que participou naquele dia. E em duas cidades diferentes! Porém, somente em 1964, quando conseguiu a cidadania americana, Mario pôde participar da temporada do Campeonato Nacional de sprint cars, mas sua fama já tinha chamado a atenção de alguns chefes de equipe da Formula Indy e em 19 de abril de 1964 Mario Andretti participou do seu primeiro evento da categoria em Trenton, onde largou em 16º e terminou a corrida em 11º, ganhando 526,90 dólares por sua participação. Ainda em 1964 Mario foi indicado ao veterano chefe de equipe Clint Brawner, que o contratou e ficaram juntos por seis anos. Após sua estréia em Trenton, Brawner queria inscrever Andretti na maior corrida americana, as 500 Milhas de Indianápolis, mas Mario surpreendeu ao declinar do convite, dizendo que ainda tinha pouca experiência para participar da grande corrida da temporada. Isso seria extremamente válido a Mario Andretti, pois em 1965 ele venceria sua primeira prova da Indy em Hoosier e terminaria em 3º lugar as 500 Milhas de Indianápolis, se tornando o rookie of the year da tradicional corrida. No final do ano, apenas em sua segunda temporada na Formula Indy, Mario Andretti se tornaria o mais jovem campeão da história da categoria até então com 25 anos de idade, algo que repetiria em 1966, quando venceu oito corridas e conquistou a pole nas 500 Milhas. Foi nesse ano que Mario retornou a Europa para participar das 24 Horas de Le Mans, com um Ford GT 40 MK II, em parceria com Lucien Bianchi, mas Andretti acabaria abandonando pela manhã. Andretti voltaria a Le Mans no ano seguinte e o ítalo-americano sofreria um grave acidente quando perdeu os freios do seu Ford e Mario acabaria no hospital.
Mario Andretti continuava sua doce rotina de vitórias nos E.U.A. e ficando cada vez mais rico e famoso, não importando qual carro fosse. Seu capacete cinza se tornava lendário nas pistas americanas e o dinheiro que estava amealhando lhe fazia passar longe das dificuldades que teve na Itália, fazendo dos Estados Unidos seu verdadeiro lar. Porém, Mario ainda tinha triunfos a conquistar nas pistas americanas. O piloto acabaria voltando a Stock-Car em 1967, participando da principal corrida da Nascar, as 500 Milhas de Daytona, e correndo pela tradicional equipe Hoosier, Andretti acabaria vencendo a famosa prova da Nascar e, semanas depois, venceria as 12 Horas de Sebring com um Ford GT40 ao lado de Bruce McLaren, mas acabaria perdendo o título da Formula Indy para A.J. Foyt na última corrida da temporada em Riverside, mas todos os feitos conquistados ao longo do ano garantiram a Mario Andretti o prêmio de piloto do ano em 1967. Mesmo estabelecido nos Estados Unidos, Mario ainda lembrava-se da sua infância e dos modernos carros de Grande Prêmio na Europa. Durante as 500 Milhas de Indianápolis de 1965, Mario Andretti conheceu Colin Chapman, famoso dono da equipe Lotus que acabaria vencendo as 500 Milhas daquele ano com Jim Clark, e contou ao inglês seu sonho de correr um dia de F1. “Quando você se sentir pronto, é só me ligar,” falou Chapman. No final de 1968 Andretti fez a ligação e Chapman preparou um terceiro carro para Andretti no Grande Prêmio dos Estados Unidos em Watkins Glen. Para espanto de todos, Mario conquista a pole. O que ninguém sabia era que, mesmo correndo há anos nos Estados Unidos, Andretti nunca tinha andando em Watkins Glen, mas uma quebra na embreagem pôs um fim prematuro a primeira corrida de Mario na F1, mas isso fez do ítalo-americano um nome a ser observado para a categoria. Porém, Andretti ainda não estava pronto para as corridas na F1 e ainda tinha um objetivo a conquistar: vencer as 500 Milhas de Indianápolis. Mesmo já tendo conquistado duas poles, Andretti ainda não havia vencido a famosa prova, mas esse ‘problema’ acabaria em 1969, quando ele liderou 116 das 200 voltas e bateu o recorde de melhor volta quinze vezes durante a corrida, vencendo a prova de forma dominadora. Ao longo do ano, Mario Andretti ainda conquistaria nove vitórias e cinco poles e ganharia seu terceiro título da Formula Indy, terminando a década de 1960 com 30 vitórias e 29 poles em 111 largadas. Provando sua versatilidade, Andretti venceria a tradicional prova de subida de montanha em Pikes Peaks ainda em 1969, provando que não importava o carro e o terreno, que Mario Andretti poderia vencer.
Na primeira metade da década de 70, Andretti foi um viajante costumeiro de Concorde, onde atravessava o Atlântico para disputar corridas na Europa, mas não se esquecendo dos seus compromissos nos Estados Unidos. Com todos os títulos e vitórias possíveis já em suas mãos nos Estados Unidos, Andretti precisava de um novo desafio e as corridas européias pareciam bem atraentes, fora que ainda realizaria um sonho de infância, que era participar dos famosos Grandes Prêmio que acompanhava quando criança. Em 1970, Andretti consegue um contrato de algumas corridas com a equipe oficial da March e em sua segunda corrida pelo time, consegue terminar sua primeira corrida na F1. E logo com um pódio, terminando em 3º. Porém, o carro da March, que estreava na F1, não tinha a confiabilidade como maior atributo e essa seria a única vez que Andretti veria a bandeirada numa corrida de F1 naquele ano. Porém, ainda em 1970, Mario conquista sua segunda vitória em Sebring e realiza o sonho de todo menino italiano: correr pela Ferrari. Andretti prefere ficar morando nos Estados Unidos e por isso não participaria de todas as etapas do Mundial de F1, mas logo em sua primeira corrida pela Ferrari, no Grande Prêmio da África do Sul de 1971, Mario vence e nas duas corridas seguintes, em duas provas não-oficiais nos Estados Unidos, Andretti também vence, mas o americano resolve se dedicar as corridas na América do Norte. A Ferrari passava por um momento turbulento na F1 e Andretti consegue poucos resultados positivos em 1972, mas ao lado de Jacky Ickx, Mario consegue várias vitórias no Mundial de Esporte-Protótipos, com triunfos em provas importantes, como nas 6 Horas de Daytona e os 1000 km de Brands Hatch. Após essa experiência com a Ferrari, Andretti fica dois anos de fora da F1, onde conquistaria o bi-vicecampeonato do Campeonato Americano de F5000 em 1974 e 1975. No final de 1974, a equipe americana Parnelli, que dominava os campeonatos de F5000 e F-Indy, resolveu participar do Campeonato Mundial de F1 e convida Andretti, único piloto americano em atividade com prévia experiência na F1, a participar do projeto. As primeiras corridas do novo time seriam nas provas norte-americanas da temporada de 1974 e Andretti impressiona a todos novamente ao ficar em 3º lugar no grid do Grande Prêmio dos Estados Unidos, mas um problema de embreagem ainda na largada faz a corrida do americano acabar ali mesmo. Mesmo numa equipe nova, a perspectiva para Andretti era boa para 1975, onde finalmente poderia fazer sua primeira temporada completa, porém o carro ainda padecia de problemas de noviciado e quebrava bastante. Com todo o seu talento, Mario conseguia colocar o carro em boas posições no grid e no Grande Prêmio da Espanha, o americano largou em 4º e liderou algumas voltas até abandonar com a suspensão quebrada. No cômputo final, Mario Andretti marcaria cinco pontos no campeonato, enquanto ainda competia na Formula Indy, principalmente nas 500 Milhas de Indianápolis.
A equipe Parnelli fecha as portas no início de 1976, mas Andretti ainda mantinha contato com Colin Chapman e quando o americano fica livre do seu contrato com a Parnelli, Chapman o contrata para o resto da temporada. A Lotus passava por uma enorme crise e ainda não tinha encontrado um carro bom o suficiente para substituir o mítico modelo 72, mas desde o final de 1975 Colin Chapman pesquisava um carro que utilizasse o efeito-solo, timidamente utilizada pela March em 1972 e nos Estados Unidos. Mario Andretti chegou a dizer que o carro da Lotus era um dos piores que havia guiado, mas sua experiência em acertar carros e seu talento fizeram com que o modelo 77 fosse evoluindo durante a temporada e os resultados não tardaram a aparecer, culminando com a vitória no chuvoso Grande Prêmio do Japão de 1976. O novo carro da Lotus, o modelo 78, era o primeiro carro a utilizar os desenvolvimentos do efeito-solo e Andretti se aproveita disso de forma empolgante, se tornando um dos pilotos de ponta da F1 em 1977, ao lado de Niki Lauda (Ferrari) e Jody Schecker (Wolf). Após um início de campeonato complicado, Andretti vence o Grande Prêmio de Long Beach de 1977, numa ultrapassagem histórica sobre Scheckter nas últimas voltas, e se torna o único americano a vencer a tradicional corrida de rua na F1. Na prova seguinte, Andretti mostra sua boa forma ao triunfar no Grande Prêmio da Espanha, mas uma série de acidentes e quebras fizeram com que Mario Andretti, mesmo tendo conquistado mais vitórias no ano (ainda venceria na França e conquistaria uma emotiva vitória em Monza, lugar onde viu um F1 pela primeira vez 24 anos antes), ficasse apenas em 3º lugar no Mundial de Pilotos. Após dois anos de uma convivência pacífica ao lado do sueco Gunnar Nilsson, Andretti teria como companheiro de equipe o espetacular Ronnie Peterson em 1978. Porém, Chapman tinha ficado extremamente grato com Andretti, quando o americano chegou num momento ruim da Lotus e teve paciência com o desenvolvimento do carro, e ainda antes da temporada começar, cravou que Mario seria o primeiro piloto, enquanto Peterson só venceria quando Andretti não tivesse chances. Peterson vivia, naquela época, das suas espetaculares atuações de anos anteriores, pois vinha de resultados ruins na March e na Tyrrell, mas mostrando que ainda podia mostrar seu talento, o sueco andava no ritmo de Andretti e muitas vezes foi impedido de poder tentar a vitória por ordens de equipe. O novo carro da Lotus, o modelo 79, só ficou pronto na quinta etapa de 1978 e era uma clara evolução do carro anterior. Logo em sua estréia, Mario Andretti levou o carro a vitória em Zolder, algo que repetiria na corrida seguinte, em Jarama. Na verdade, o carro era muito superior aos demais e Andretti ainda venceria mais três corridas (França, Alemanha e Holanda) antes de chegar a Monza, para o Grande Prêmio da Itália. Andretti chegou a Monza com 12 pontos de vantagem sobre Peterson e poderia ser campeão em sua casa espiritual. Na largada, James Hunt (inglês que Andretti não se dava bem) foi tocado pelo jovem e impetuoso Ricardo Patrese e o inglês foi jogado para cima de Peterson, que bateu fortemente contra o guard-rail. O Lotus do sueco pegou fogo e o próprio Hunt, juntamente com Patrick Depailler e Clay Regazzoni, tiraram Peterson das labaredas. A corrida foi interrompida e Andretti, que tinha largado na pole, foi a cena do acidente e pegou o capacete de Peterson de volta. O acidente tinha sido assustador, mas Peterson parecia ter ‘apenas’ fraturas nas pernas e queimaduras leves, fazendo com que Andretti participasse normalmente da segunda largada e acabando a prova em primeiro na pista, mas punido mais tarde por ter queimado a largada. Com esses resultados, Mario Andretti se tornava o segundo piloto americano a ser Campeão Mundial de F1, mas no dia seguinte a situação de Peterson piora e ao invés de comemorar o título, Andretti teria que enterrar o amigo.
Naquele momento, o que ninguém imaginava era que a vitória em Zandvoort seria a última vitória de Mario Andretti na F1. O americano já contava com 39 anos de idade quando a temporada de 1979 iniciou-se e a Lotus tentou evoluir ainda mais o conceito do efeito-solo, tentando transformar o modelo 80 numa asa invertida sobre rodas, porém o tiro saiu pela culatra e o resultado foi uma péssima temporada para a equipe e Andretti, que só conseguiu poucos resultados ao longo do ano. Frustrada com o novo carro, a Lotus voltou a utilizar o Lotus 79 ainda em 1979, mas as demais equipes já tinham construído seus próprios carros-asa e Andretti esteve longe de poder defender seu título. Para 1980, Andretti tem como companheiro de equipe Elio de Angelis, que tinha quase a metade de sua idade e mesmo não sendo agressivo, De Angelis superou de longe Andretti, que se transferiu no final do ano para a Alfa Romeo. A equipe italiana tentava com Andretti extrair do americano a experiência necessária para o carro poder evoluir e Mario consegue superar com facilidade seu companheiro de equipe Bruno Giacomelli no início do ano, mas quando o carro finalmente começou a andar na frente, Mario já pensava na sua aposentadoria, anunciada no final de 1981, enquanto Giacomelli, utilizando as melhorias pensadas por Andretti, consegue um pódio no final do ano. Porém, 1981 não foi um ano totalmente perdido para o americano. Mesmo correndo em tempo integral na F1, Andretti não perdia uma edição das 500 Milhas de Indianápolis e ficou muito próximo de conquistar sua segunda vitória em 1981. Mario terminou a corrida em segundo, 8s atrás de Bobby Unser, mas o piloto da Penske teria feito uma ultrapassagem sobre bandeira amarela e foi punido com uma volta. Isso significou que Mario Andretti foi declarado o vencedor daquela edição, mas Roger Penske e Bobby Unser fizeram um protesto e quatro meses depois a vitória voltou às mãos de Unser. Na verdade, Andretti voltaria aos Estados Unidos após sete temporadas completas na F1 pela equipe Patrick no novo campeonato da Cart, mas o americano ainda voltaria à F1 em 1982. Aos 42 anos de idade, Andretti foi chamado pela Williams para substituir o recém-aposentado Carlos Reutemann no Grande Prêmio de Long Beach. Numa pista que já havia ganhado, Mario faz uma prova discreta até abandonar, mas ainda assim Frank Williams tentou convencer Mario fazer o resto da temporada, algo que o veterano não quis, chegando a indicar seu filho Michael, que estava estreando na Formula Indy naquele ano. Porém, já no final do ano, a Ferrari precisava de um piloto para substituir o machucado Didier Pironi e Andretti, sabendo que seriam poucas corridas e ainda correria pela Ferrari novamente, aceitou participar das duas últimas etapas do ano. Em Monza, lugar onde viu um F1 pela primeira vez, Mario Andretti faz um retorno triunfal e emocionante quando consegue a pole e termina a corrida em 3º. Os tifosi foram a loucura e Andretti, mesmo morando há anos nos Estados Unidos, se emocionou com a forma como os italianos o trataram naquele dia. Em Las Vegas, Mario Andretti faria sua última corrida pela F1, encerrando sua carreira definitivamente na principal categoria do automobilismo. Foram 128 Grandes Prêmios, 12 vitórias, 18 poles, 10 melhores voltas, 19 pódio, 180 pontos e o título mundial de 1978.
Contudo, a carreira de Mario estava longe de acabar. Após um ano na Patrick Racing em 1982, o veterano se transferiu para a nova equipe Newman-Hass, formada pelo ator Paul Newman e chefe de equipe Carl Hass. Andretti conquistaria a primeira vitória da equipe em Elkhart Lake, ainda em 1983, mas a maior emoção naquela temporada não seria nos Estados Unidos. Seu filho mais velho, Michael, já havia estreado com sucesso na Cart e começava a se destacar, mas ambos realizaram o sonho de correrem juntos nas 24 Horas de Le Mans de 1983, com um carro não-oficial da Porsche e ao lado do francês Philippe Alliot, terminando a prova em 3º lugar. Mostrando que ainda podia ser muito veloz, Mario Andretti conquistou seu quarto título na Formula Indy em 1984 aos 44 anos de idade, onde venceu seis corridas e conseguiu oito poles. Pela terceira vez na carreira, o veterano piloto consegue ser nomeado como o Piloto do Ano, sendo o único a conseguir a proeza em três décadas diferentes (1969, 1978 e 1984). Andretti continuou competitivo ao longo da década de 80 e por duas vezes ficou próximo de uma segunda vitória em Indianápolis. Em 1985, teve uma briga memorável com Danny Sullivan, com o americano o ultrapassando nas últimas voltas. Dois anos depois, Andretti dominou todos os treinos, conseguiu sua terceira pole na pista de Indiana e liderou 170 das 177 primeiras voltas da corrida, quando um motor quebrado tirou Mario da corrida na volta 180. Mesmo com sua vitória em 1969, o azar da família Andretti em Indianápolis entrou para a história, pois não apenas Mario teve azar várias vezes ao longo das 29 edições em que fez parte, como Michael foi o piloto que mais liderou em Indianápolis e não venceu a prova. Em 1989, Michael foi contratado pela Newman-Hass e pela primeira vez na história do automobilismo, pai e filho seriam companheiros de equipe, com Mario sempre andando no mesmo ritmo de Michael, na época considerado o piloto mais agressivo da categoria. No ano seguinte, o outro filho de Mario, Jeff, estrearia na F-Indy ao mesmo tempo em que o filho de Aldo, John, fazia o mesmo. Na primeira corrida de 1990, em Milwakee, quatro integrantes da família Andretti estavam na pista e repetindo o que fizeram seu pai e seu irmão, Jeff Andretti foi o melhor estreante das 500 Milhas de Indianápolis de 1990. Em 1991, Mario teve a enorme felicidade de ver Michael Andretti ser campeão da Indy e o patriarca da família começou a cavar uma vaga para Michael na F1, após várias tentativas isoladas. Depois de várias negociações, Michael estrearia na F1 pela McLaren em 1993, mas as esperanças de suceder o pai foram por água abaixo quando Michael não se entendeu com o carro e foi dispensado antes do final da temporada. Até hoje, quando um piloto vai do automobilismo americano para a F1, sempre vem em mente como será a trajetória do piloto. Igual a Mario ou Michael Andretti?
Com mais de 50 anos de idade, Mario Andretti ainda tinha tempo de conquistar alguns recordes, como o de maior número de poles e de corridas, em 1992, mas foi nesse ano que Mario sofreu o seu mais sério acidente em Indianápolis, quando quebrou os dois tornozelos. Treze anos após ver a estréia de Nigel Mansell na F1 na Lotus, Mario Andretti agora via o inglês como Campeão Mundial de F1 chegando na Newman-Hass em 1993 e o resultado foi uma convivência difícil, onde Mario foi superado com larga vantagem por Mansell, mas Andretti ainda venceria as 200 Milhas de Phoenix, sua 52º e última vitória na Formula Indy. O último recorde de Mario Andretti seria nos treinos para as 500 Milhas de Michigan, quando conseguiu a pole com a incrível média de 377,029 km/h, recorde mundial em circuito fechado, só superado por Gil de Ferran sete anos depois. Após uma temporada estressante ao lado de Mansell, Mario anuncia que o ano de 1994 seria sua última na carreira, logo intitulada de ‘Arrivederci’. Foi um ano cheio de homenagens e saudações em todas as corridas do ano e quando a temporada chegou em Laguna Seca, local da última prova, o mundo se despediu de uma das maiores lendas do automobilismo mundial. Foram impressionantes 407 largadas na Formula Indy, com 52 vitórias, 66 poles e quatro títulos (1965, 1966, 1969 e 1984).
Mario pode ter se afastado das corridas de forma profissional, mas sempre se manteve próximo da pista. Ou dentro dela. Refazendo a sua parceria com o filho Michael, Mario Andretti voltou a Le Mans em 1996 e conseguiu seu melhor resultado nas 24 Horas, com um 2º lugar. Em 2003, já com 63 anos de idade, Mario surpreendeu a todos quando foi escolhido para substituir o machucado Tony Kanaan na equipe do seu filho Michael nos testes para as 500 Milhas de Indianápolis. No dia 24 de abril, Mario vinha na reta oposta, atrás do carro de Kenny Brack, quando uma peça do carro do sueco se soltou e Andretti passou por cima da mesma, fazendo com que seu carro alçasse vôo e desse várias piruetas no ar. Por sorte, o carro caiu com as quatro rodas no chão e Mario pôde sair do carro ileso, mas o susto lhe valeu como aviso de que mesmo em forma, não podia encarar mais as corridas atuais. Apesar da vontade! Hoje, Mario Andretti ainda vive em Nazareth com Dee Ann, numa mansão próxima de Michael e acompanha não apenas a equipe do filho, como vê com orgulho nascer a terceira geração da família, com Marco Andretti estreando na equipe do pai e, seguindo a tradição da família, ficando com a título de novato do ano nas 500 Milhas de Indianápolis de 2006. Apesar do sangue quente italiano correr por suas veias, Mario Andretti sempre mostrou uma frieza formidável atrás do volante, além de um forte espírito competitivo. Piloto honesto, Mario conseguiu a amizade e o respeito por onde passou, sendo o único piloto a ter vitórias em cinco décadas diferentes e obter sucesso tantos nos Estados Unidos, onde foi escolhido o piloto do século no ano 2000, como também na F1, um enorme tabu para a maioria dos pilotos americanos, quebrado com facilidade por Andretti. Patriarca de uma família que respira automobilismo, Mario tem o que se orgulhar ao ver sua vida ter começado em meio a muitas dificuldades e mesmo assim ainda ter realizado seu sonho.
Parabéns!
Mario Andretti
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